Agradecimento aos destemidos pedestres e ciclistas

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Aos caminhantes, bicicleteiros, usuários da sola do sapato e das duas rodas com pedais:

Obrigado pela saudável desobediência civil. Com vocês o trânsito da cidade é mais humano e respeitoso, pois a qualquer instante uma pessoa que está atrás do volante poderá ser surpreendida por outra atravessando a rua, ou pedalando entre os carros, o que demanda uma atenção redobrada no volante.

Obrigado por não esperar 3 ou 4 insanos minutos para fazer a travessia de uma avenida, bizarramente condicionada a dar mais tempo e fluidez às máquinas do que às pessoas.

Obrigado aos ciclistas por seguirem pela contra mão ao invés de aumentar seu caminho em centenas de metros por conta da convenção motorizada das ruas de fluxo unidirecional.

Nossos agradecimentos também aos que desbravam novas rotas pedalando na calçada de grandes avenidas ou onde o trânsito motorizado é muito opressivo. São vocês que irão reorientar a dinâmica do espaço viário em favor dos fluxos humanos.

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Essa é uma carta escrita à quatro mãos e que tem mais informações, dados e explicações no post:
Carta aberta aos destemidos pedestres e ciclistas.

A importância das brincadeiras de rua

Ilustração: Nicolas Viot - no livro "O Passeio da Fleur"

Ilustração: Nicolas Viot – no livro “O Passeio da Fleur” – disponível em nossa bicicloteca infantil.

Muitos adultos tem lembranças afetivas de sair para brincar nas calçadas e nas rua durante a infância. O calçamento pouco importava, podia ser asfalto, pedras ou terra. Para as crianças atualmente a história é bastante diferente, mas não precisa ser.

Com um pouco de planejamento e imaginação, “brincar na rua” pode ser uma parte importante da vida de nossos filhos também.

Pesquisas na Inglaterra atestam que 90% dos adultos brincavam regularmente em suas ruas na infância. A maioria das crianças hoje gostaria de fazer o mesmo, mas um terço da população inglesa entre 7-14 anos não brinca ou nem ao menos frequenta sua rua.

Brincadeiras de rua são um degrau fundamental para crianças e adultos responsáveis na jornada do brincar supervisionado da primeira infância para a vida independente dos adolescentes.

A ONG inglesa “Playing Out”, que ajuda moradores a organizarem suas oficinas comunitárias, elaborou uma lista de benefícios das brincadeiras de rua:

  • é semi-supervisionado – as crianças podem brincar enquanto os adultos se dedicam as atividades domésticas;
  • encoraja o brincar livre – as crianças seguem suas próprias idéias e interesses;
  • é fácil de organizar e na porta de casa – crianças gostam de brincar perto de cada e não é necessário levá-las a lugar nenhum;
  • provê espaço para grandes e enérgicas brincadeiras – a maioria das praças é pequena demais para pedalar uma bicicleta ou andar de patinete e muitas crianças não tem acesso a um parque de maneira independente;
  • desenvolve um maior espírito comunitário onde vizinhos zelam uns pelos outros;
  • as crianças encontram e fazem amizade com crianças de outras escolas e faixas etárias.

Por onde começar

No começo, você pode querer ficar por perto enquanto seus filhos brincam. É possível se dedicar ao jardim, para os que moram em casa, ou  conversar com vizinhos. Busque envolver-se o mínimo possível na brincadeira dos pequenos – deixe que eles decidam o que fazer e como fazê-lo.

Convide crianças vizinhas e seus responsáveis para se juntarem à brincadeira quando sentir segurança para isso e deixe-as brincar na calçada enquanto você está em casa. É importante estabelecer barreiras sobre onde elas podem e não podem ir e lembrá-las de ficarem atentas ao trânsito motorizado. Deixe a porta entreaberta para poder ouvir as crianças e conferir de vez em quando o andamento da brincadeira.

Idéias de brincadeiras de rua

As crianças muito provavelmente irão preferir inventar seus próprios jogos de rua, ou tentar algumas das idéias abaixo:

  • rodas – crianças adoram a oportunidade de usar suas bicicletas, patins e patinetes na rua;
  • giz – crianças inventam são capazes de fazer lindos desenhos no asfalto que embelezam a rua;
  • bolas – um jogo de queimada, ou até uma partida de futebol são excelentes possibilidades;
  • jogos de rua tradicionais – brincadeira velha é brincadeira boa – as crianças irão amar conhecer as brincadeiras que seus pais e avós brincavam.

Quem precisa lembrar ou ter novas idéias de brincadeiras tradicionais, vale conferir algumas mapeadas pelo projeto Território do Brincar.

Uma opção interessante é organizar “sessões de brincadeira de rua”, abrindo as ruas para as crianças e limitando o trânsito motorizado por algumas horas no contraturno escolar. Dessa maneira as crianças podem brincar na pista e também nas calçadas.

Moradores podem ter acesso com seus automóveis e até mesmo deixá-los estacionados na rua. Restrições de trânsito podem ter requisitos burocráticos ou no mínimo sinalização viária com cones para lidar com os automóveis. As crianças devem ser encorajadas a fazer o que sentirem vontade: elas podem pintar o asfalto com giz, jogarem futebol, ou brincar com suas bicicletas e patinetes.

Festas de rua

Uma festa de rua é um pequeno evento particular organizado por moradores para moradores e que envolve comidas, bebidas, brincadeiras e música. Em geral envolve o fechamento da rua para trânsito motorizado e fazer um requerimento formal para as autoridades locais. Pode ainda ser necessária uma autorização para tocar música ao vivo ou comercializar bebidas.

Uma festa de rua é uma maneira maravilhosa para:

  • encontrar e conhecer seus vizinhos;
  • aproveitar a rua livre de carros;
  • dar às crianças a chance de experimentar brincar na rua em um ambiente seguro, sem tráfego e com muitos adultos para supervisioná-las.

Festas de rua são excelentes eventos teste para a implementação de ruas de lazer, uma política municipal de abertura do espaço viário para pessoas que já é lei em diversas cidades brasileiras.

O projeto Prioridade Absoluta tem modelos de como fazer uma requisição para uma rua de lazer. Além disso, a organização inglesa “Streets Alive” oferece uma série de informações sobre como organizar uma festa de rua.

Para todas as idades, as ruas foram feitas para brincar

 

Esse post é uma tradução adaptada do texto: Street play and events disponível na página da Sustrans.

 

O que aconteceria se ciclistas respeitassem todas as leis de trânsito

 

“Precisamos entender urgentemente que as leis de trânsito foram redigidas de maneira cuidadosa e criteriosa em busca da segurança de todos. As mesmas regras que se aplicam aos motoristas, aplicam-se aos ciclistas. Certamente nada pode dar errado.”

 

O comentário irônico acima foi escrito pelo perfil satírico de “Bob Gunderson”, mas infelizmente existem pessoas que efetivamente acreditam na letra fria das leis de trânsito como regras canônicas pensadas para resguardar a segurança geral. Doce ilusão.

Todo o arcabouço jurídico que busca organizar a circulação viária foi pensado da mesma maneira que as ruas foram construídas ao longo do século XX, garantir a maior fluidez motorizada possível. Tendo a velocidade como valor sagrado dessa tal de “modernidade”.

Exacerbar o rídiculo de tentar aplicar para as bicicletas leis de trânsito criadas para a circulação de motores foi a excelente iniciativa de um grupo de ciclistas em São Francisco na Califórnia. Por lá, condutores devem parar completamente nos cruzamentos sinalizados com a placa PARE. Em uma infeliz decisão, a autoridade de trânsito local resolveu punir infratores dessa regra que estiverem em bicicleta.

Gastar tempo e recursos humanos preciosos para punir ciclistas é a pior decisão possível. Ainda mais ao se saber que na busca de zerar ocorrências de trânsito com mortos e feridos com sequelas, a famosa visão zero, a cidade californiana tem buscado punir com rigor as 5 infrações que mais impacto negativo tiveram na letalidade viária.

Ciclistas conscientes da própria vulnerabilidade no trânsito sabem adaptar sua conduta para promover a própria segurança. Adaptações legais são portanto uma iniciativa eficiente para realmente garantir que as regras promovam o bem estar geral, sem privilegiar os deslocamentos de carruagens de aço em detrimento das pessoas.

O absurdo carrocentrico fica explícito no vídeo abaixo:

Já a lógica ciclista fica manifesta no “Idaho STOP”, legislação estadual em Idaho que permite aos ciclistas tratarem placas e semáforos dentro da lógica mais simples.

As regras de trânsito precisam de mais atenção às experiências dos usuários e menos engenharia de trânsito. Do contrário pedestres deverão ter habilitação para atravessar a rua, ou pior, semáforos que privilegiam automóveis virão com manual de instrução para quem se movimenta por modos suaves.

Saiba mais:

This Is What Happened When Bicyclists Obeyed Traffic Laws Along The Wiggle Yesterday

New SFPD Park Station Captain’s Bike Crackdown Won’t Make Streets Safer

Full Bike Compliance With the Stop Sign Law: An Effective Spectacle

Menos isopor, mais bicicletas

Mais bicicletas nas ruas trazem um enorme benefício para as cidades e toda a sociedade, ainda assim, existem pessoas que insistem em colocar o uso da bicicleta como uma atividade insegura e cheia de riscos, como se pedalar fosse equivalente à prática de esportes radicais.

O tema do capacete para ciclistas já esteve presente algumas vezes aqui no blog, mas a cultura do medo sobrevive. Portanto nasceu mais um texto publicado na Folha de São Paulo que reproduzimos parcialmente aqui, antes de mais nada, vale destacar o absurdo que é a coerção contra quem eventualmente pega a bicicleta ganha as ciclovias, ruas e avenidas da própria cidade.

É moralmente inaceitável e legalmente injustificável atacar o uso da bicicleta como uma atividade de alto risco e que necessita do uso obrigatório de equipamentos de proteção individual. É fundamental levantar alguns dos motivos para que os próprios ciclistas, as autoridades e a sociedade em geral deixe de lado o capacete para bicicleta e se engaje para que mais pessoas pedalem cada vez mais.

Abaixo dez motivos para pensar sobre o uso do capacete para ciclistas.

  1. Uso do capacete não é um ítem obrigatório pela legislação brasileira
  2. Ciclistas estão MENOS expostos a ferimentos e traumas na cabeça do que pedestres, motociclistas e até motoristas de carro
  3. Obrigar o uso do capacete é a pior forma de promover o uso de bicicleta e produz efeito inverso ao desejado
  4. Capacetes são inócuos para proteger sua cabeça
  5. Capacetes e equipamentos de proteção individual desviam a atenção dos problemas reais
  6. Paises com maiores índices de uso de bicicleta têm os mais baixos índices de uso de capacete
  7. Uso de capacete aumenta o comportamento de risco
  8. Um capacete salvou minha vida! (será?)
  9. Usar capacete = levar mais finas!
  10. Indústria automobilística incorporou, desconfie.

Confie mais na bicicleta

Esperamos que os dados, estatísticas, estudos e evidências aqui detalhados possam esclarecer um pouco mais o debate sobre o uso do capacete e, mais do que isto, que possam diminuir a animosidade causada pelo preconceito, falta de dados e pelo senso comum emburrecedor.

Da próxima vez que você ouvir “cadê o capacete?” pare, dialogue e mostre os fatos. Desconstruir um senso comum é um processo educativo longo e deve ser encarado com respeito e serenidade.

Pedalemos, pedalemos! Com ou sem capacete. Mas que a escolha seja integralmente sua.

Saiba mais:

Entenda por que o capacete para ciclistas é apenas um boné de isopor sem qualquer poder mágico

CTB de Bolso – 10ª Edição

FullSizeRenderEm 2014, o CTB bolso, campeão de downloads neste site, foi impresso por nove diferentes organizações de promoção ao uso da bicicleta, de norte a sul do país, resultando em mais de 120 mil exemplares distribuídos. O destaque ficou no Paraná, onde além da impressão feita pela Ciclo Iguaçu para distribuição durante o IIIFMB, esta mesma organização conseguiu que o DETRAN-PR imprimisse 200 mil exemplares para serem distribuídos em ações educativas e principalmente ao final dos cursos de reciclagem para motoristas infratores.

Como boas iniciativas, se prestam a ser replicadas, através de um esforço do programa Rio Estado da Bicicleta o DETRAN-RJ é o mais novo órgão a imprimir a cartilha. Com o mesmo objetivo que o DETRAN-PR, distribuição em eventos e na reciclagem de motoristas infratores. Esperamos que o livreto alcance um número ainda maior de pessoas na busca por um trânsito que compreenda melhor o ciclista, tornando nossas ruas e estradas locais mais seguros pra circularmos em nossas bicicletas.

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O CTB de Bolso Paranaense é o único com formato diferente, mas com o mesmo conteúdo.

Conheça abaixo as organizações que já imprimiram o CTB de Bolso:

Transporte Ativo – Rio de Janeiro
Pedala Manaus – Manaus
Ciclo Iguaçu – Curitiba
Salvador vai de Bike – Salvador
Mobilicidade – Juiz de Fora
ITDP Brasil
Banco Itaú
CET-Rio
Detran-PR
Detran-RJ

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