A paixão pela bicicleta é o que nos move – Velo-City 2016

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O primeiro dia de Velo-City é o que dita o ritmo para os demais com a abertura oficial recheada de falas inspiradoras em painéis que reúnem todo o público presente ao evento. Em Taipei, nesse 27 de fevereiro de 2016 não foi diferente.

A maior inspiração para o público presente, em especial aos brasileiros, foi certamente a fala de King Liu presidente e fundador da Giant, maior fabricante mundial de bicicletas.

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Em sua fala o empresário mostrou que é “da bicicleta”. Atualmente com 82 anos, King Liu comemorou oito décadas de vida sobre pedais. Foram mais de 300 km cruzando a ilha Formosa (Taiwan).

Sua maior realização no entanto foi bancar a implementação do sistema de bicicletas públicas na capital taiwanesa, Taipei. Chamado de U-bike, o serviço é tão eficiente que conta com a aprovação de mais de 90% dos usuários.

Já durante o primeiro dia de evento, os participantes do Velo-City puderam testar as bicicletas e ficaram impressionados com a rapidez para destravar uma magrela e sair pedalando.

Foi preciso primeiro agir em favor da causa da bicicleta, com resultados vindo na esteira. Mesmo sem saber dos impactos possíveis de um sistema da bicis públicas, a Giant bancou a implementação. Os números hoje comprovam o acerto. Cidades com sistemas de compartilhamento pedalam mais e compram muito mais bicicletas.

A paixão pela bicicleta no entanto precisa no entanto ser integrada e é isso que faz a diferença e o sucesso de qualquer iniciativa. As bicicletas públicas de Taipei (e qualquer outro sistema) precisam de integração e, principalmente, estar acima das expectativas ao ser simples de ser utilizado, com bicicletas perfeitas e 24 horas no ar, 7 dias por semana.

Restrição ao espaço da mobilidade individual motorizada

Tema que esteve presente no painel de abertura e que se manteve forte ao longo do primeiro dia de Velo-City foi o da restrição ao uso do automóvel.

A cidade do futuro é a que conseguir ter 50% dos seus deslocamentos a pé ou em bicicleta, 40% através do uso de transporte público e os 10% restantes para as viagens individuais motorizadas. Administrar uma cidade hoje é portanto o desafio de adequar as políticas públicas para contemplar essa lógica.

As diretrizes do governo federal brasileiro inclusive já contemplam, em teoria, essa lógica. Resta colocar na prática os orçamentos para se adequarem à expansão de infraestrutura para beneficiar as pessoas nas cidades.

No painel “Urban Challenges for Smart Cities” (Desafios urbanos para cidades inteligentes) foram feitas apresentações de Xangai na China, Los Angeles nos EUA e Gronigen na Holanda, três cidades em estágios diferentes de transição para o futuro de humanização urbana.

Há um consenso mundial de que as cidades do futuro serão de restrição à mobilidade individual motorizada e de promoção ao uso eficiente dos espaços de circulação em benefício das pessoas tendo ainda o incremento de espaços públicos de qualidade.

Até mesmo em Los Angeles o caminho para aumentar o número de pedestres e ciclistas é por meio de políticas de restrição ao uso dos automóveis. Já em Gronigen, na Holanda todo o centro histórico é inacessível para quem está de carro.

As resistências estarão sempre presentes em qualquer implementação que beneficia as pessoas. Mas depois das melhorias consolidadas, o resultado é que as pessoas não querem voltar ao passado de privilégio motorizado.

O uso de dados para favorecer a bicicleta

No painel “The Data we Have, The Data we Use” (Os dados que temos, os dados que usamos), foi apontada a necessidade para que quem planeja para a bicicleta, quem promove seu uso e que administra precisa trabalhar junto. A produção de dados atualizados e confiáveis é a melhor maneira de apontar os rumos da implementação de infraestruturas cicloviárias e corrigir eventuais desvios ao longo da trajetória.

Resumão do primeiro dia de Velo-City 2016, Taipei

Renata Falzoni, do Bike é Legal conduziu um bate-papo com a delegação brasileira presente ao Velo-City desse ano:

Leia mais:

VELO-CITY GLOBAL TAIPEI 2016 – DAY 01
Menos Carros = Mais Espaço para Pessoas – Velo-City 2016

A inauguração da mais bela das ciclovias

“Imaginação é a faculdade de criar a partir da combinação de ideias; criatividade.”

Quem poderia imaginar uma ciclovia como a que foi feita ao lado da Avenida Niemeyer no Rio de Janeiro? Contornando o costão rochoso entre os bairros de Leblon e São Conrado ela será inaugurada dia 17/01/2016 como a primeira etapa da futura ligação cicloviária completa de toda a orla carioca.

A criação e ampliação da malha cicloviária carioca não é fruto da imaginação de ninguém, apenas uma adequação urbana aos novos tempos. Pedalar em ciclovias faz parte do cotidiano carioca desde os anos 1990 e como a cidade tem uma beleza natural famosa  as bicicletas circulam com paisagens belíssimas ao fundo. Mas a da Niemeyer extrapolou essa qualidade da capital fluminense. Quem imaginaria que a mobilidade urbana carioca acrescentaria uma obra com tamanha capacidade de gerar empatia (e antipatia também) no Rio, no Brasil e mundo afora?

Feliz a cidade que explora os novos tempos de liberdade de opinião para discutir abertamente a validade e qualidade da ciclovia da Niemeyer. A (polêmica) ciclovia ganhou cores fortes, opiniões apaixonadas, declarações de amor ao Rio e de ódio a quem construiu. Há quem queira vir de outros estados para pedalar e há quem pense que a hora é de se mudar do Rio de mala e cuia.

Nossa imaginação pode nos permitir sonhar com o dia em que a bicicleta será uma unanimidade e que a ciclovia da Niemeyer será o ícone dessa nova matriz urbana, voltada mais para as pessoas que para veículos motorizados. Mas como toda a unanimidade é burra quem pedalar pela nova e mais bonita pista da cidade o fará não só com a vista deslumbrante, mas também com a certeza que pode debater de forma aberta e democrática como será a cidade que queremos.

Para lembrar

A avenida Niemeyer foi palco do famoso vídeo “Como ultrapassar mais de 100 carros em 5 minutos”. Um desafio apocalíptico em uma avenida que só agora permite o acesso seguro e confortável para quem pedala.

Bicicletas para crianças: saúde, diversão e trânsito

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Após o lançamento da versão impressa já está disponível online o livro “Bicicletas para crianças: saúde, diversão e trânsito”.

Uma pequena fábula sobre o nascimento da Cidade abre a história que depois mergulha em aspectos técnicos e práticos. Desde a discussão sobre o direito das crianças à cidade, passando por uma reinvenção da educação viária chegando a uma mobilidade urbana na perspectiva da criança e o futuro urbano da infância.

Mas nem tudo são soluções e otimismo. A publicação também lança luz sobre a mortalidade do trânsito motorizado e como ele vitima as crianças além de abordar o sedentarismo infantil e seu vínculo com a epidemia global de obesidade.

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Apesar dos percalços, há esperança no que está por vir. Serão os mais jovens humanos que nos darão inspiração para modificar o presente, mas acima de tudo, através dos ensinamentos da infância reinventaremos o planeta urbano com mais humanidade.

Modificar estruturas rígidas requer maleabilidade, e a humildade de ser pequeno. Assim pode ser com nossas cidades, aparentemente tão rígidas e definitivas, mas aptas à transformação. Alguns dos passos sugeridos estão no livro, mas como nas receitas nele contidas, o importante é a diversidade e principalmente a sensibilidade de praticar valores humanos.

Saiba mais:

– Dowload em pdf:


Bicicletas para Crianças: Saúde, Educação e Trânsito

Outras publicações sobre mobibilidade e bicicletas para crianças no site.

Quem são os ciclistas brasileiros

Foto: Carlos Aranha

Foto: Carlos Aranha

A Transporte Ativo, em parceria com outras 9 organizações em defesa da bicicleta, está realizando um levantamento do perfil dos ciclistas brasileiros. O objetivo é entender o que motivou as pessoas a começarem a pedalar e o que as faz seguir em frente. Com base na pesquisa, será possível  direcionar com maior eficiência os esforços de promoção ao uso da bicicleta

A iniciativa faz parte da “Parceria Nacional pela Mobilidade por Bicicleta” que busca mapear o Brasil que pedala. Serão levantadas idade, renda, motivação para usar a bicicleta, o tempo médio do principal trajeto feito em bicicleta, para onde é esse trajeto, se ela é combinada com outros meios de transporte. Além disso, as organizações parceiras poderão escolher até 4 perguntas específicas para suas cidades.

A quantidade de entrevistados varia de acordo com o tamanho da população, em São Paulo serão 1.784 questionários aplicados por 9 pesquisadores. E em todas as cidades o levantamento será feito nas áreas centrais, intermediárias e periféricas  em pontos que já possuem infraestrutura cicloviária, pontos que ainda não possuem e os chamados “pontos de intermodalidade”, nos quais a bicicleta se relaciona com outros modais de transporte.

Relatos de uma pesquisa de campo em bicicleta

Mais do que dados a serem planilhados, a pesquisa acaba mergulhando em histórias. São ciclistas já idosos que nem ao menos lembram quando pedalaram pela primeira vez ou histórias de neófitos desbravando a cidade com prazer e vento no rosto.

Para enxergar um pouco do que não será tabulado, Marina Harkot, pesquisadora pela Ciclocidade em São Paulo compartilhou duas histórias de pessoas que usam a bicicleta na mais populosa cidade brasileira.

esse é o Julião. ele mora na rua há tanto tempo que já nem lembra mais até que série estudou. faz de tudo um pouco e acha que a melhor coisa da bicicleta é conseguir carregar suas poucas posses de cima pra baixo, pela cidade inteira. pedala desde sempre, não consegue pensar em um período de tempo exato.
quando pedi pra tirar uma foto sua, demorou uns 5 minutos pra se arrumar – tirou o boné, soltou os cabelos e se escondeu atrás dos óculos escuros. pediu para ver a foto, achou que tinha ficado escura e disse que era pra eu “comprar um celular melhorzinho”. foi embora tão sorrateiramente quanto chegou – e nem me deu tempo para agradecer a conversa e dizer o quanto que gente como ele me faz sentir viva.

O triciclo de Lineu, por Marina Harkot

O triciclo de Lineu, por Marina Harkot

o dono desse triciclo é o Lineu. ele tem ataxia cerebelar – uma doença degenerativa – e começou a usar a bicicleta para recuperar massa muscular (disse que hoje em dia tem “até bunda de novo”).
Lineu deixa uma cadeira de rodas “estacionada” no bicicletário da estação Sé e usa o triciclo pra rodar por aí – visita a família na Freguesia do Ó pedalando desde a Barra Funda, em duas horas de caminho.
quando chega na Sé, troca o triciclo pela cadeira de rodas e segue de metrô para a Leste, onde mora. amanhã está de volta aqui pelo centro.

Cada pessoa em bicicleta merece sempre os maiores incentivos. Por vezes ouvir suas histórias já representa um carinhoso agradecimento. Fica o convite para que as pesquisadoras e pesquisadores Brasil afora compartilhem conosco seus relatos e seus personagem.

Por mais pessoas felizes em bicicleta.

Saiba mais:

A “Parceria Nacional pela Mobilidade por Bicicleta” é uma iniciativa da Transporte Ativo, com patrocinio do Banco Itaú e parceria com as organizações Ciclocidade (São Paulo), Mobicidade (Porto Alegre), BH em Ciclo (Belo Horizonte), Rodas da Paz (Brasília), Ameciclo (Recife), Bike Anjo Salvador, Ciclourbano (Aracaju), Pedala Manaus, Mobilidade NiteróiPROURBObservatório das Metrópoles , ITDP Brasil.

Menos isopor, mais bicicletas

Mais bicicletas nas ruas trazem um enorme benefício para as cidades e toda a sociedade, ainda assim, existem pessoas que insistem em colocar o uso da bicicleta como uma atividade insegura e cheia de riscos, como se pedalar fosse equivalente à prática de esportes radicais.

O tema do capacete para ciclistas já esteve presente algumas vezes aqui no blog, mas a cultura do medo sobrevive. Portanto nasceu mais um texto publicado na Folha de São Paulo que reproduzimos parcialmente aqui, antes de mais nada, vale destacar o absurdo que é a coerção contra quem eventualmente pega a bicicleta ganha as ciclovias, ruas e avenidas da própria cidade.

É moralmente inaceitável e legalmente injustificável atacar o uso da bicicleta como uma atividade de alto risco e que necessita do uso obrigatório de equipamentos de proteção individual. É fundamental levantar alguns dos motivos para que os próprios ciclistas, as autoridades e a sociedade em geral deixe de lado o capacete para bicicleta e se engaje para que mais pessoas pedalem cada vez mais.

Abaixo dez motivos para pensar sobre o uso do capacete para ciclistas.

  1. Uso do capacete não é um ítem obrigatório pela legislação brasileira
  2. Ciclistas estão MENOS expostos a ferimentos e traumas na cabeça do que pedestres, motociclistas e até motoristas de carro
  3. Obrigar o uso do capacete é a pior forma de promover o uso de bicicleta e produz efeito inverso ao desejado
  4. Capacetes são inócuos para proteger sua cabeça
  5. Capacetes e equipamentos de proteção individual desviam a atenção dos problemas reais
  6. Paises com maiores índices de uso de bicicleta têm os mais baixos índices de uso de capacete
  7. Uso de capacete aumenta o comportamento de risco
  8. Um capacete salvou minha vida! (será?)
  9. Usar capacete = levar mais finas!
  10. Indústria automobilística incorporou, desconfie.

Confie mais na bicicleta

Esperamos que os dados, estatísticas, estudos e evidências aqui detalhados possam esclarecer um pouco mais o debate sobre o uso do capacete e, mais do que isto, que possam diminuir a animosidade causada pelo preconceito, falta de dados e pelo senso comum emburrecedor.

Da próxima vez que você ouvir “cadê o capacete?” pare, dialogue e mostre os fatos. Desconstruir um senso comum é um processo educativo longo e deve ser encarado com respeito e serenidade.

Pedalemos, pedalemos! Com ou sem capacete. Mas que a escolha seja integralmente sua.

Saiba mais:

Entenda por que o capacete para ciclistas é apenas um boné de isopor sem qualquer poder mágico