Ciclos do Diamante

Uma viagem de bicicleta durante 7 dias pela Serra Geral (do Espinhaço), no Norte de Minas. Agora, quase 12 meses depois, ficou pronta a página que mistura muitas fotos com bastante informação sobre a cicloviagem e as cidades visitadas.

Só para aguçar a curiosidade:

– Itacambira, primeira cidade, foi uma feitoria do bandeirante Fernão Dias. A cidade fica incrustada na Serra Resplandecente. Uma serra lendária que brilhava ouro e esmeraldas e que atraiu o bandeirante para a região.

– A Lagoa Vapabussu fica ali. O terreno de quartzito da serra fez com que os corpos enterrados se mumificassem naturalmente; múmias na Matriz de Itacambira – a mesma igreja de batismo de Diadorim, que está nas últimas páginas do “Grande Sertão: Veredas” de João Guimarães Rosa.

Foram 7 dias na estrada, mas em aproximadamente 20 minutos pode-se ler tudo e ver algumas das fotos do trio. Vale o convite para os que tiverem a oportunidade algum dia, repitam a aventura. Pedalando serra acima, morro abaixo, vida adentro.

Visite a página da viagem “Ciclos do Diamante“.

“Não se tem onde se acostumar os olhos, toda firmeza se dissolve. Isto é assim. Desde o raiar da aurora, o sertão tonteia.”

João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas

Imobilidade pode ser vício

De acordo com o autor suíço Siro Spörli, o automóvel é tão perigoso quanto uma droga e proporciona aos seres humanos uma forte sensação de poder, sedução e tesão. O carro então adquire um significado diferente, não mais apenas um mero meio de transporte, mas um simulacro de felicidade e prazer. Homens e mulheres tentam encontrar um momento de plenitude em suas vidas estressadas.

Nenhuma campanha que vise reduzir o uso do carro particular terá sucesso se não levar em consideração a “dependência automobilística”. São necessárias algumas das eficazes táticas de combate aos vícios empregadas em campanhas como o anti-tabagismo e o alcoolismo. Iniciativas apelativas, que apontam o dedo na cara dos “malvados motoristas”, podem ser contraproducentes, uma vez que a resposta típica das pessoas para os alertas de um futuro sombrio e condenando é sentir-se oprimido, com sentimentos do abandono e desespero.

Como se cura um vício?

Uma característica importante das campanhas anti-fumo foi o foco em crianças. Embora haja várias técnicas para se lidar com hábitos, a maioria dos peritos concorda que a melhor solução é nunca adquiri-los. Segue então que a melhor maneira de tratar o uso desnecessário do carro é, antes de tudo, nunca começar a usá-lo desnecessariamente.

Um estudo feito na Inglaterra em 1995 descobriu que as crianças são tão dependentes dos carros quanto seus pais, pois 90 por cento das meninas e 75 por cento dos meninos disseram que encontrariam dificuldade em ajustar seu estilo de vida sem um carro. Tentativas devem ser feitas para impedir que gerações futuras se tornem viciadas em carro, é importante ter como alvo as crianças que ainda não assimilaram a propaganda pró-carro. O estudo sugere que, quando crianças atingem 13 anos, já está demasiado tarde; por meio de condicionamentos sociais elas já foram influenciadas pela cultura do automóvel.

Estas e outras desafiadoras idéias estão presentes no artigo “Viciados em carros”, traduzido do original inglês “Hooked on cars”, que se encontra na Revista Carbusters.

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Há outros textos e artigos acadêmicos nesta mesma linha, que considera o uso do carro como vício.

Disponível na página da Transporte Ativo:
* Como Curar a dependência do Carro.
* Uma campanha que ensina a:
Dieta de redução no uso do carro“.

Em Inglês:
* Autoholicos Anônimos.
* Dez Maneiras de Reduzir a Dependência do Automóvel.

Três indicações bibliográficas também em inglês:

* Kicking the habit – part 1
Kicking the habit – part 2
* The most dangerous addiction of all: the car
* Driving passion

A Importância dos Estacionamentos

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Não basta a paisagem.

Foto Edu

A falta de confiança na bicicleta como meio de transporte tem basicamente dois grandes motivos: a insegurança no trânsito (e aqui se incluem maus motoristas, incivilidade do brasileiro, falta de ciclovias) e a ausência de locais seguros para guardar a bicicleta. Este segundo problema é o mais fácil de ser atacado tanto pelo poder público quanto pela iniciativa privada.

Contudo, mesmo quando há boas intenções e a prefeitura ou loja/escola/clube instala um paraciclo, o que temos geralmente é uma péssima tradição de instalar suportes mal-feitos, uns trem bem xinfrim e pobrim, feitos de vergalhão e que mal prendem o pneu da frente de uma bicicleta.

Como ativistas e defensores, devemos bater firme nesta tecla e divulgar a cultura não só de “ciclovias” mas de paraciclos bem feitos e bem instalados. O suporte tipo inglês (ou Sheffield) é aprovado por associações de ciclistas tanto na Inglaterra quanto nos EUA. Para irmos na mesma linha, foi traduzido o folheto “Bicicletários” do Sustran-UK. Com a mesma intenção, já foi iniciada a tradução de outro texto técnico semelhante: o folheto da Associação Americana de Pedestres e Ciclistas Profissionais, cujo original em inglês já está na página da TA.

Estes dois folhetos contém tanto explicações claras e precisas sobre o que fazer e o que não fazer, bem como trazem especificações técnicas muito úteis para que possamos sair do bla-bla e ajudar efetivamente na prática. O que me falta apenas é saber qual seria o custo de um suporte deste, aqui no Brasil. Antes de finalizar a próxima tradução, irei numa serralheria para colher preços aproximados. Se tivesse preços de outras cidades, poderíamos fazer uma média nacional e adaptarmos os folhetos para nossa realidade, que tal?

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Paraciclo adotado como padrão pela Prefeitura do Rio de Janeiro.
Foto do dia em que foi apresentado à TA.

Zé Lobo