De acordo com o autor suíço Siro Spörli, o automóvel é tão perigoso quanto uma droga e proporciona aos seres humanos uma forte sensação de poder, sedução e tesão. O carro então adquire um significado diferente, não mais apenas um mero meio de transporte, mas um simulacro de felicidade e prazer. Homens e mulheres tentam encontrar um momento de plenitude em suas vidas estressadas.
Nenhuma campanha que vise reduzir o uso do carro particular terá sucesso se não levar em consideração a “dependência automobilística”. São necessárias algumas das eficazes táticas de combate aos vícios empregadas em campanhas como o anti-tabagismo e o alcoolismo. Iniciativas apelativas, que apontam o dedo na cara dos “malvados motoristas”, podem ser contraproducentes, uma vez que a resposta típica das pessoas para os alertas de um futuro sombrio e condenando é sentir-se oprimido, com sentimentos do abandono e desespero.
Como se cura um vício?
Uma característica importante das campanhas anti-fumo foi o foco em crianças. Embora haja várias técnicas para se lidar com hábitos, a maioria dos peritos concorda que a melhor solução é nunca adquiri-los. Segue então que a melhor maneira de tratar o uso desnecessário do carro é, antes de tudo, nunca começar a usá-lo desnecessariamente.
Um estudo feito na Inglaterra em 1995 descobriu que as crianças são tão dependentes dos carros quanto seus pais, pois 90 por cento das meninas e 75 por cento dos meninos disseram que encontrariam dificuldade em ajustar seu estilo de vida sem um carro. Tentativas devem ser feitas para impedir que gerações futuras se tornem viciadas em carro, é importante ter como alvo as crianças que ainda não assimilaram a propaganda pró-carro. O estudo sugere que, quando crianças atingem 13 anos, já está demasiado tarde; por meio de condicionamentos sociais elas já foram influenciadas pela cultura do automóvel.
Estas e outras desafiadoras idéias estão presentes no artigo “Viciados em carros”, traduzido do original inglês “Hooked on cars”, que se encontra na Revista Carbusters.
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Há outros textos e artigos acadêmicos nesta mesma linha, que considera o uso do carro como vício.
Disponível na página da Transporte Ativo:
* Como Curar a dependência do Carro.
* Uma campanha que ensina a:
“Dieta de redução no uso do carro“.
Em Inglês:
* Autoholicos Anônimos.
* Dez Maneiras de Reduzir a Dependência do Automóvel.
Três indicações bibliográficas também em inglês:
* Kicking the habit – part 1
Kicking the habit – part 2
* The most dangerous addiction of all: the car
* Driving passion
Penso que ainda vai levar um bom tempo até que o poder público adote essa abordagem, mas, de fato, a meneira como se utiliza o automóvel é um problema de saúde pública.