Bicicletas e Aviões

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“Ciclistas não voam Gol”¹

Foto Zé Lobo

Dizem que só se conhece um local quando se vai pessoalmente e viajar é a maneira que o ser humano usa pra descobrir lugares. Aventurar-se por outro mundo e conhecer outras pessoas não só aumenta a cultura, como ajuda a refletir sobre a vida de uma maneira que a rotina impede.

Usar a bicicleta para viajar é uma maneira especial de conhecer um lugar, as pessoas e a cultura local. É mais uma situação em que este fascinante veículo tem sua imagem colocada à prova. É possível colecionar histórias de apreço e desprezo, respeito e desrespeito, amor e ódio.

Não há como negar que uma bicicleta no saguão de um aeroporto é uma bagagem inusitada. Mais ainda quando já está acomodada numa mala apropriada. Olhares curiosos e cochichos especulativos sobre o conteúdo da mala são notados com frequência.

Um primeiro incômodo: ao despachar o mala-bike com a magrela a Polícia Federal pode pedir para abrir a bolsa, pois o trambolho não passa no raio X de bagagens. Tudo bem, é mais uma oportunidade de mostrar a versatilidade da bicicleta e bater um papo sobre o uso dela em qualquer situação.

No desembarque carregadores e seguranças vão ficar mais curiosos com a sua bicicleta que com aquele violoncelo que passa na esteira. Mas a mesma simpatia não será revelada pela administração do aeroporto que vai preferir que você e seu veículo sumam o quanto antes.

O mesmo tratamento é esperado dos taxistas. Afinal, será um passageiro a menos caso o ciclista decida usufruir de seu veículo logo na saída do terminal.

Para os familiares e amigos, chegar de bicicleta certamente não será algo usual e a iniciativa será motivo de debate e assunto recorrente durante alguns dias.

Mesmo com seus altos e baixos e as reações dúbias, foi um enorme prazer pedalar de casa para o aeroporto e do aeroporto para casa. Mais um ponto pra bicicleta, veículo capaz de transformar-se em bagagem e meio de transporte. Cidade de origem e cidade destino tornam-se assim a extensão uma da outra.

  • Mais:
  • ¹A Gol Transportes Aéreos é a opção menos indicada para os ciclistas. Consideram as magrelas “bagagem especial” e cobram R$ 100,00 independente do peso. Confira as normas de transporte da Gol.

    Sobre Portas e Janelas

    Acordar, fazer o desjejum, se lavar, pegar chave, pasta, celular e carteira. Nos primeiros metros porta afora ele se depara com o primeiro desafio do dia. Não é novidade para ele, mas passa-lhe um rápido pensamento de como aquela parede de carros presos no engarrafamento matinal é chata. Mas não há como fugir. Tem que enfrentar.

    Cruza a calçada com cuidado e atento ao trânsito se junta a tantas pessoas em deslocamento. Ao mesmo tempo em que pensa sobre chegar inteiro ao trabalho, já alinha seu veículo no mesmo sentido dos demais… Porém a sua bicicleta é mais estreita e ele se posiciona de frente para o longo e livre corredor à direita dos veículos parados, como uma janela aberta ao lado de uma porta fechada. Prudente, segue numa velocidade compatível, suficientemente lento pra observar que, às 7 da manhã, algumas pessoas já aparentam cansaço, enfado ou irritação e até agressividade. O pensamento o faz sentir um desconforto, aliviado pelo vento no rosto num momento de maior segurança em que imprime maior velocidade.

    Ao sinal amarelo uma lenta frenagem, sem trancos e a parada com o pé esquerdo no meio fio, é uma oportunidade para ler as manchetes na banca da esquina.

    O sinal abre, mas dois carros demoram alguns segundos para arrancar e, caminho livre à frente, nenhum carro ao lado e aquela parede momentaneamente deixada pra trás o fazem refletir que realmente Deus fecha uma porta e abre uma janela. Cabe a nós saber identificar quando as portas se fecham e quando as janelas se abrem.

    Fim da reflexão, ele olha pra frente e segue tranqüilo e seguro para os seus compromissos. Naquele trajeto de poucas quadras, não voltou a ver os carros que lentamente ultrapassou. Pode ser que os veja amanhã no mesmo horário e local, mas ele preferia ter a companhia de outros ciclistas para usar aquela janela.

    O sonho de todo o ciclista é estar sempre bem acompanhado.

    Mini-curso para Ciclistas

    Neste sábado os ciclistas do Rio de Janeiro terão a oportunidade de aprender reparos e regulagens rápidas com um especialista. Além das dicas de mecânica, serão dadas também explicações sobre pilotagem e uso da bicicleta na cidade.

    A ajuda que as magrelas dão em nossas vidas as torna apaixonantes. Parte desse amor pode ser transformado em cuidados em manutenção. Manter a bicicleta limpa, lubrificada e regulada são deveres do usuário. Afinal os benefícios de um veículo bem cuidado se refletem tanto no prazer de pedalar, quando em durabilidade.

    Portanto, saber cuidar da própria bicicleta pode ser uma excelente maneira de desenvolver um gosto ainda maior pelas pedaladas, um passatempo ou mesmo uma maneira de economizar dinheiro evitando seguidas e complexas visitas ao mecânico. Afinal, não estamos na terra do Super-Homem, onde o “Super-Mecânico de Bicicleta” do Monty Python, salva ciclistas indefesos.

    O mini-curso se divide nos tópicos abaixo:
    – Conheça a bicicleta
    – Ajustes e regulagens básicas
    – Uso dos componentes e pilotagem
    – Dicas para pedalar pela cidade.

    Data: 21 de julho sábado.

    Horário: 13 às 18 horas.

    Local: Recicloteca – Rua Paissandú, 362 – Laranjeiras, Rio de Janeiro.

    Inscrições e informações entre em contato.

    Audax 200 km Niterói – Saquarema – Niterói

    Percorrer 200 km de bicicleta dentro do tempo de 13 horas e 30 minutos, equivalente à velocidade média de 15 km/h, pode não parecer uma atividade saudável, agradável ou mesmo útil, visto que a chegada é no mesmo local da largada. Mas o gosto pela mobilidade por bicicleta pode transformar uma prova de Audax, um tipo maratona não competitiva promovida em todo o planeta, num dia único, para os que souberem aproveitá-lo.

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    Foto: Gustavo

    Quando um grupo de amigos percorreu um trecho do trajeto da prova algumas semanas antes, puderam perceber quão dura poderia ser a viagem e também que o companheirismo ajudaria a amolecer as dificuldades. Que pedalar em grupo é ótimo ninguém nega, mas que tal percorrer 170 dos 200 km do tal Audax num grupo de 4 amigos, que juntos enfrentaram o dia mais quente do ano no Rio de Janeiro, paralelepípedo, terra, vento contra e até uma estrada movimentada à noite?

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    Foto: Bruno

    Na manhã do dia 10 de março deste ano 37 ciclistas de quatro estados alinharam pra largada do Audax 200 km Niterói – Saquarema – Niterói e treze horas e meia depois, 34 haviam completado o percurso. Qualquer veículo a propulsão humana pode participar de uma prova de Audax e isto inclui, patins, skates e patinetes, mas a bicicleta é unanimidade visto que é mais eficiente para este tipo de desafio.

    Após uma manhã inteira de pedaladas administrando o calor, a poeira, os buracos, a preocupação com o trajeto, a localização e horário dos Postos de Controle e a ansiedade pela metade final da prova, chegamos a Saquarema para o almoço. Quase todos almoçaram no mesmo lugar e parecia mesmo um grande passeio entre amigos. Só parecia, pois depois do almoço as mesmas dificuldades da ida estavam bem piores na volta. Só as belas paisagens ainda eram as mesmas.

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    Foto: Bruno

    Foi aí que os 4 amigos puderam vivenciar um Audax diferente de quem pedalava sozinho, pois a esta altura já estavam num ritmo semelhante e decididos a ir juntos até o fim. A bicicleta aproxima as pessoas e deve ser por isso que tantos amigos ou conhecidos decidem enfrentar a estrada juntos. Pedalar em grupo é ótimo e ninguém nega, mas percorrer 170 dos 200 km do Audax num grupo de 4 amigos enfrentando asfalto, terra, paralelepípedo, vento contra, o dia mais quente do ano e chegar à noite, em último, cruzando a linha de chegada lado a lado é inesquecível.

    Bicicleta na estrada

    Muitos usuários da bicicleta como meio de transporte acabam, mais cedo ou mais tarde, caindo na estrada com a magrela. Uma viagem turística ou apenas de deslocamento soa, para muitos, como loucura. É verdade que a velocidade dos veículos automotores é muito maior nas estradas e os acidentes costumam ser graves. Porém há estradas e estradas. Parte do processo de viajar de bicicleta inclui o planejamento das distâncias, paradas e a escolha da rodovia. Estradas secundárias com acostamento e pouco trânsito são as mais seguras e prazerosas aos que viajam a pedal. Mesmo estradas principais podem ser uma boa escolha quando já conhecidas pelo ciclista por sua tranqüilidade e pela sinalização.

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    Rodovia Santos Dumont (Rio – Teresópolis).
    Foto Edu

    Um atrativo a mais é a solidariedade que se pode encontrar na estrada, principalmente de caminhoneiros, que ao entenderem que aquela bicicleta com alforjes está sendo usada numa viagem se identificam com o ciclista que tem gosto pela estrada. A bicicleta, aliás, é muito mais querida na estrada do que na cidade e é um cartão de visita capaz de quebrar barreiras de comunicação e aproximar as pessoas do viajante.

    Para quem quer começar a dica é escolher estradas mais calmas e procurar um companheiro mais experiente. Depois é só curtir os finais de semana em viagens curtas no entorno de sua cidade.

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    Estrada secundária na região de Vassouras RJ.
    Foto Edu

    Se o ciclista já estiver acostumado com a sua bicicleta pode experimentar uma viagem curta sozinho, se bem planejada será uma viagem memorável. Quando já estiver mais tarimbado pode começar a se aventurar em viagens mais longas, com alguns dias de duração e por lugares inóspitos onde o contato com a natureza e o auto-conhecimento são ainda maiores. Para isso o planejamento deve ser ainda mais detalhado e a companhia de amigos já conhecidos de outras pedaladas é muito importante pra concluir a viagem sem aborrecimentos e com boas histórias e fotos para mostrar.

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    Travessia da Praia do Cassino no Rio Grande do Sul.
    Foto Marcelo Kulevicz Bartoszeck

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