Ou porque parei de falar de carros e passei a amar mais a bicicleta.
Trocar idéias sobre bicicletas, trânsito, espaço urbano e cidades em geral pode ser um grande desafio na esfera doméstica. Eventualmente em um jantar de família irão surgir perguntas sobre “indústria da multa, radares, ciclovias…” Eis que então surge o desafio.
Impactos do automóvel na organização das cidades
Antes de mais nada é preciso entender o papel da popularização do transporte individual motorizado na organização urbana. O viés histórico rende muitas horas de conversa e naturalmente teses de mestrado e doutorado.
Foi exatamente para simplificar a discussão e exemplificar as transformações em prol das pessoas em Amsterdã que a canadense radicada na Holanda, Cornelia Dinca, mergulhou em fotografias antigas da cidade paraíso para as bicicletas. Daí nasceu a tese para seu mestrado em planejamento urbano. A idéia foi explorar a conexão, muitas vezes esquecida, entre transporte e planejamento urbano.
Automóvel, luxo, privilégio ou necessidade?
Invarialmente, apontar os malefícios do uso desenfreado do automóvel nas cidades gera reações adversas. A tese de que a mobilidade individual motorizada é um privilégio soa agressivo para quem por ventura nasceu e cresceu vendo no carro particular um símbolo de status, ascenção social e principalmente de conveniência. Mas do que seu valor simbólico, as carruagens com motor carregam aspectos práticos das pessoas que sentem como imutável suas escolhas de mobilidade.
Exatamente pelos riscos de confronto, o caminho mais confortável para repensar a mobilidade em conversas no ambiente doméstico é deixar de lado a história e a sociologia do planejamento urbano e trazer à tona os aspectos práticos. Ao olhar para qualquer grande cidade brasileira, Amsterdã pode parecer utopia, mas como provam as fotos desse post, a cidade holandesa já foi muito parecida com a distopia urbana em que milhões de brasileiros vivem hoje.
Os custos sociais da mobilidade individual
Tema ainda mais espinhoso é o dos custos sociais do uso do carro particular, uma conta que passa por cima e extrapola IPVA, IPI e qualquer outra fonte de arrecadação. O governo dinamarquês, através da sua “Embaixada da Bicicleta”, calcula periodicamente o quanto custa para todas as pessoas as decisões de mobilidade de cada uma delas.
Para se chegar ao total os métodos são complexos, a lógica é simples. Cada quilômetro pedalado, economiza dinheiro de todos pelos benefícios individuais e coletivos que gera. Por outro lado, cada quilômetro percorrido em automóvel gera prejuízos sociais imensos, que passa pelos congestionamentos, poluição do ar, mortes no trânsito etc.
Qual o modelo de cidade que queremos?
Certamente não somos dinamarqueses, muito menos holandeses e como define a mestranda Cornelia: “Não se trata de tornar todas as cidades iguais à Amsterdã. Trata-se de tornar cada cidade uma versão melhorada delas mesmas”.
Então, da próxima vez que surgir o assunto mobilidade urbana no jantar de família ou no almoço de Páscoa, tenha na memória as origens e os processos de desenvolvimento urbano, mas leve a conversa para o lado da esperança, trazendo as mudanças possíveis na sua cidade para que ela venha a ser melhor a cada dia.
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