A faixa de pedestres no meio do caminho

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O respeito a uma faixa de pedestres sem sinal de trânsito (farol, sinaleira, dependendo de onde você vive) demanda uma série de fatores mas, acima de tudo, civilidade. Algo que pode ser bem raro hoje em dia. Por vezes parece que a faixa de pedestres é como uma pedra no meio do caminho do trânsito que não poderá fluir à vontade, levando as pessoas de bem para seus compromissos importantes e que ela, a faixa, está lá para atrapalhar quem trabalha e gera desenvolvimento para a cidade, para o estado e para o país.

Caminhar é a forma mais simples de transitar, é o modal de mobilidade mais acessível, barato e democrático. É, portanto, o mais utilizado e por uma lógica simples é ele que mais contribui para o desenvolvimento da cidade. Veja bem, ainda que usemos carros, motos e ônibus, sempre teremos que caminhar um trecho até pegar o transporte ou depois de descer/estacionar. Sem a caminhada inicial ou final os demais modais perdem o sentido, o trajeto fica incompleto, afinal de contas é raríssimo que um trajeto seja feito apenas com o modal motorizado, do início ao destino final, de porta a porta. É preciso caminhar para estudar, trabalhar, fazer compras, consulta médica, lazer, namorar, casar.

No caso das cargas, também. Ainda que elas sejam transportadas por caminhões, VUCs, vans e não a pé, muitos consumidores chegam a pé para comprar as mercadorias e as levam embora… também a pé, ou para o transporte que as levará para casa. E se pedir entrega em casa, parte desse trajeto poderá feito a pé pelo entregador se ele usar um veículo motorizado.

Assim, se a faixa de pedestres está lá para garantir que o pedestre chegue em segurança até o outro lado da rua e consiga cumprir com seu trajeto até o seu destino, ela faz parte do sistema de transportes que garante a mobilidade dos cidadãos. Ela não é uma pedra no caminho, mas a mais simples forma de explicitar que todos os modais estão interligados à simples caminhada. Respeitemos a faixa de pedestres, inclusive quando estivermos de bicicleta, pois um dia também vamos precisar dela. A vida em sociedade e a civilidade precisa da faixa de pedestres todo dia.

A importância da bicicleta para o mundo só aumenta

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As bicicletas ainda são as mesmas, com as mesmas qualidades. São leves, silenciosas, fáceis de usar, não engarrafam o trânsito, nem emitem poluentes e ainda são fáceis de estacionar. Também são baratas de comprar e de consertar, muito seguras e promovem a saúde do usuário – quatro virtudes exclusivas das bicicletas convencionais. Mas a relevância de seu uso está crescendo devido ao novo contexto da mobilidade motorizada, com aumento da eletrificação e do uso de motores híbridos (combustão + eletricidade).

A cultura do automóvel segue viva e muito ativa, apesar de todos os indícios inquestionáveis que a mobilidade por carros é um modelo retrógrado e fracassado. O espaço nas ruas está cada vez menor, já que hoje os carros são maiores e cada vez mais numerosos. Para se ter uma ideia, segundo o site do DETRAN-RJ, em 2024 e apenas na cidade do Rio de Janeiro, uma média de 300 novas licenças são emitidas diariamente! A poluição do ar, provocada principalmente por veículso com motor a combustão, é uma das principais causas de mortes evitáveis. Os sinistros de trânsito resultam em feridos, inválidos, mortos, e crescem num ritmo estarrecedor. Os prejuízos financeiros de todos os danos do uso excessivo do carro (engarrafamentos, atrasos, doenças, feridos, mortos) estão na casa dos bilhões de reais por ano.

Ainda assim estão lançando mão de tecnologias supostamente ecológicas para “pintar de verde” a imagem dos carros e motos. Por exemplo, com a hibridização que é mais complexa e cara, tanto para comprar como para manutenção, e que só reduz um pouco o consumo de combustível e a poluição. Mas alguns estados podem estar anulando essa vantagem ao dar incentivos exagerados a esses modelos. Desconto de 50 a 100% no IPVA e liberação do rodízio estão na contramão de medidas de redução do uso do carro nas cidades. A poluição e a perda de tempo deverão aumentar, pois mais carros nas ruas resultam em… mais engarrafamentos.

Já no transporte público a bola da vez é a eletrificação total da frota, as possibilidades e oferta de energia elétrica são enormes, mas seu armazenamento e distribuição tem se mostrado precários para as necessidades cada vez maiores. Além do que, novas tecnologias são caras, favorecem os favorecidos e desfavorecem os demais. Os ônibus elétricos novos são caríssimos e ao entrarem no circuito, não eliminam o alto potencial de emissões dos ônibus antigos a diesel, que acabam indo para cidades menores ou para países em desenvolvimento, onde seguem poluindo da mesma forma, apenas em outro local.

Guerras e mudanças climáticas não nos permitem mais aguardar e buscar soluções que em sua grande maioria tem sido pensadas para manter o estilo de vida que temos hoje. Políticas públicas para o futuro, devem ser voltadas para soluções diversificadas, de baixo custo e alta eficiência, para que a transição energética possa ser justa e de fácil adaptação. Precisamos ir além e pensar soluções que realmente resolvam ou amenizem o futuro difícil que está se desenhando.

Por isso que cada vez mais aquelas vantagens da bicicleta listadas lá no começo estão cada vez mais importantes. Toda vez que você pedala para o trabalho, para a escola ou por qualquer motivo, você não só está reduzindo o engarrafamento, a poluição, o barulho, o estresse e a insegurança das ruas, está ajudando a resistir a uma cultura que só tem beneficiado uma parcela pequena da população, ao passo que prejudica cada vez mais pessoas, inclusive as que realmente precisam muito usar um carro para se deslocar.

Quanto mais bicicletas nas ruas melhor para todos, até para quem não as utiliza.

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Entre Museus Acessíveis – Setembro de 2024

No mês de setembro tivemos a 4ª e 5ª rodadas do Entre Museus Acessíveis uma pedalada entre o Museu do Amanhã e o Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói. No total levamos 14 pessoas entre surdos e cegos para vivenciar as virtudes de passear de bicicleta entre as duas cidades, contando com uma bela travessia da Baía de Guanabara. De bicicleta, mesmo com um dia quente é possível encontrar ativamente uma sombra em cada local de parada. Também exercitamos a cidadania causando um impacto visual e de acalmia de trânsito por onde passamos. A equipe de apoio conquista o respeito e o suporte dos motoristas para que as bicicletas tandens e convencionais circulem com segurança e conforto nos poucos trechos sem ciclovia do nosso trajeto em Niterói.

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Os educadores do Museu sempre nos lembram da necessidade de acessibilidade e respeito à mobilidade ativa seja nas ruas ou em um transporte público como a Barca. Pouco a pouco vamos nos ajudando a encontrar mais humanidade e civilidade nas ruas e nos transportes, esclarecendo direitos e deveres que aumentam a qualidade de vida a todos que vivem em grandes cidades e precisam/desejam se movimentar com mais qualidade, segurança e baixo custo.

Cerimônia de entrega do XI Prêmio Promovendo a Mobilidade por Bicicleta

A culminância do Prêmio Promovendo a Mobilidade por Bicicleta é a cerimônia de entrega dos troféus, certificados e kits aos escolhidos pela comissão avaliadora. A TA sempre procura realizar a entrega em um evento marcante e com público especial para que os agraciados sejam reconhecidos por quem mais sabe da importância de seus projetos.

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E neste ano a melhor oportunidade para isso foi o 11º Bicicultura (Encontro Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta e Cicloativismo) realizado em Brasília concomitante ao 13º Fórum Mundial de Bicicleta. Contamos com uma platéia composta de participantes de todo o Brasil e de outros países.
Os representantes dos Projetos Vencedores e Menções Honrosas receberam os prêmios das mãos de Ana Carboni, Claudiléia Pinto e Joyce Ibiapina.

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O encontro dos premiados é sempre uma ocasião especial, pois reunimos ali algumas das melhores iniciativas de promoção ao uso da bicicleta para a mobilidade humana e plantamos a semente para que no próximo ano, novos e impactantes projetos e empreendimentos se inscrevam para inspirar todos os que, como nós, trabalham e desejam que mais pessoas pedalem mais vezes.

Agradecemos aos organizadores do evento que nos acolheu muito bem proporcionando um momento muito especial para todos!

Parabéns aos vencedores e a todos os participantes e até 2025!

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Infraestrutura cicloviária e a requalificação urbana

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Uma ciclofaixa com bueiro “eincaixa roda” e que termina subitamente num trecho cheio de tachões.

A inauguração de uma ciclofaixa em uma rua de grande fluxo de veículos é sempre uma boa atitude da Prefeitura. Será?

As cidades brasileiras são dominadas pela antiquada cultura do automóvel que praticamernte monopoliza o planejamento urbano e os investimentos públicos. O predomínio do uso do carro particular como transporte nos limitados espaços urbanos é uma prática retrógrada, superada e que não atende às necessidades modernas de mobilidade. Mas não há uma solução simples de engenharia para resolver os problemas provocados por essa cultura. Não basta pintar umas faixas e algumas bicicletas brancas no chão para iniciar uma transformação na sociedade que resulte em respeito mútuo e compartilhamento do espaço público.

Se não houver ampla divulgação de informações sobre as desvantagens do automóvel e vantagens da bicicleta as pessoas não estarão preparadas para as mudanças no ordenamento urbano do tráfego. A municipalidade precisa investir em informação e sensibilização para que a população entenda o que está em curso, saiba da importância de compartilhar as ruas, em especial com pedestres e ciclistas, e que há leis de trânsito que devem ser respeitadas para regular o uso do novo espaço.

Não há nada mais sustentável que caminhar

Por outro lado, muitas calçadas não são adequadas para o mínimo conforto e segurança dos pedestres, situação esta que perdura por décadas, muito antes da bicicleta ganhar força como opção para a mobilidade sustentável. Pedestres e ciclistas precisam da mesma atenção dos gestores públicos. É relativamente fácil e bem mais visível fazer uma ciclofaixa que melhorar e alargar uma calçada. Hoje a relação custo-benefício (político) da infraestrutura cicloviária é enorme, talvez perdendo apenas para o metrô e o BRT. As calçadas e os pedestres não tem vez.

Caminhando e pedalando de mãos dadas

Mas não há sentido numa disputa por espaço entre ciclistas e pedestres. Os modais são aliados na mobilidade ativa e sustentável. A municipalidade que entender essa relação rica e próspera pode evoluir na gestão urbana, indo além de pintar ciclofaixas. As cidades precisam requalificar espaços públicos para que pedestres e ciclistas tenham prioridade sobre o transporte individual motorizado. Pintar uma ciclofaixa, reduzindo um pouco o espaço do carro, melhorando em nada as calçadas é desperdiçar uma oportunidade de agregar pés e pedais para devolver as cidades às pessoas.

É preciso dar fluidez, conforto e segurança ao pedestre e ao ciclista, eliminando o zigue-zague do traçado das calçadas e ciclovias, além de corrigir buracos, obstáculos, e impedir invasões de motociclistas e motoristas. O pedestre e o ciclista não precisam de muito, basta um espaço justo, de qualidade e em todas as ruas. Teremos mais pessoas usando esses modais, deixando espaço nas ruas para aqueles que realmente precisam do carro e da moto de modo a requalificar também a relação humana no espaço democrático das ruas.

bueiroBueiros do tipo “encaixa roda” ao longo de ciclofaixa e desenho da calçada que impõe zigue-zague ao pedestre para garantir apenas 3 vagas de carro. A ciclofaixa foi feita, mas a calçada segue com menos de 1 metro de largura.

Hoje as bicicletas fazem parte do cenário da Cidade e planejar para elas pode ser de grande valia, pois o sucesso da mobilidade urbana depende da combinação de diversas opções de transporte e do uso de menos energia. Cidades que investem em facilidades para pedestres e ciclistas são beneficiadas com mais qualidade de vida, saúde da população, redução da poluição, dinamismo e diversificação econômica e oferecem mais alternativas de transporte urbano.

Para alcançar esse sucesso é necessária a criação de ambientes favoráveis ao uso da bicicleta e dos modos ativos de transporte.

Por mais pessoas a pé e de bicicleta mais vezes!