Um bate-papo sobre bicicletas fixas

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Como parte da exposição Ciclo Rotas, no Studio-X tem acontecido apresentações temáticas seguidas de debates. Estes encontros acontecem nas terças às 18h30 e já tivemos o primeiro, cujo tema foi Como posso transformar minha cidade.

Na próxima terça-feira, 20 de agosto, será sobre bicicletas fixas e para contar um pouco sobre elas, convidamos uma das debatedoras, a Beatriz Folly, para apresentar o tema.

Afinal o que é uma bicicleta fixa?

Da esquerda para a direita: Renato, Beatriz, Ciro e Naldinho. Abaixo: Zack, o cachorro fixo.

Da esquerda para a direita: Renato, Beatriz, Ciro, Naldinho e Zack, o cachorro fixo.

 Ao contrário da roda livre, a fixa é uma bicicleta sem marchas, que possui o pinhão fixo, de modo que enquanto as rodas estiverem girando, os pedais também estarão. Por exemplo, quando o ciclista desmonta da bike e a leva pelo guidom enquanto anda, os pedais estarão girando como se ainda houvesse um ciclista invisível sob ela.

Leva um pouco de tempo para se acostumar, principalmente na hora de descer ladeiras, onde se alcança uma velocidade que obriga o ciclista a dar muitos giros no pedal, mas quando se pega o costume, é difícil largar. Pedalar sem parar dá um sentimento de que você faz parte da bicicleta de alguma maneira. O que na teoria parece ser mais desgastante, na prática é algo que lhe faz empurrar seus limites. Torna-se simplesmente natural.

Bicicletário da Vulp, um bici-café em Porto Alegre.

Bicicletário da Vulp, um bici-café em Porto Alegre.

As bicicletas tendem a ser bastante coloridas porque muitas vezes são montadas peça por peça pelos ciclistas ao invés de compradas completas na loja.

Foi um tanto previsível que o mercado se apropriasse dessas tendências e hoje podemos observar o surgimento de modelos de fixas no mercado bem coloridas e feitas para o uso urbano.

Essa popularização traz a tona uma discussão sobre se as fixas foram tão absorvidas pelo mercado que se tornaram somente um hype da moda ao invés de um estilo de vida autêntico. Quando uma coisa vem de uma cultura de utilidade e se transfere para uma cultura de commodity, é inevitável que haja alguma rivalidade entre os dois, o que não significa que não existam momentos nos quais ambos possam coexistir em harmonia.

Os 4 sócios e entregadores da Ciclocourier.

Os 4 sócios e entregadores da Ciclocourier.

Nesse 20 de agosto, falaremos sobre a cena das fixas no Rio de Janeiro e os frutos que elas nos deram, tais como o grupo carioca de fixas RJFG, o bike polo carioca, cicloentregas e  tudo mais que achamos de interessante nesse mundo de gente estranha com bicicleta esquisita.

Deixo-lhes com uma pequena citação:

“Eu ainda acho que marchas são apenas para pessoas acima de 45 anos.
Não é melhor triunfar pela força de seus músculos do que pelo artifício da tecnologia?
Nós estamos ficando moles… Para mim, me dê uma fixa!”

-Henri Desgrange, fundador do Tour de France

 

O Studio-X sempre tem um projeto bacana acontecendo e fica na Praça Tiradentes, 48, no centro do Rio de Janeiro. Mas tem evento no facebook? Tem.

 

Um pequeno dicionário das fixas:

  1. Fixeiro: Ciclista que anda de fixa.
  2. Skid: Freiar somente travando os pés na fixa, deslizando por um pequeno trecho com as rodas sem girar.
  3. Bike polo: Esporte similar ao polo regular, mas ao invés de andar a cavalos, os praticantes pedalam bicicletas durante o jogo.

Beatriz Folly é carioca, designer e claro, fixeira!

Pensar e fazer

O estímulo ao uso da bicicleta como meio de transporte permeia muitas áreas e muitas técnicas diferentes. Felizmente quem labuta nessa área tem a seu favor o aspecto conciliador e amigável de uma agenda positiva. Ser a favor de algo tende a conquistar mais adeptos e simpatizantes para uma causa do que a abordagem da crítica e da reclamação, mas claro que esta não deve ser ignorada ou menosprezada.
No Rio de Janeiro, há muitos anos que o poder público, algumas empresas, coletivos e indivíduos já tomam iniciativas positivas para incentivar e respaldar aqueles que querem se locomover pedalando. Enquanto muitos discutem e reclamam sobre o que deve ser feito, alguns simplesmente fazem. E os resultados são irrefutáveis, embora ainda haja um caminho longo a percorrer.
Na semana passada, o Setor de Educação da CET-Rio começou a programar painéis de trânsito, móveis e fixos para exibirem a mensagem ‘Respeite o ciclista’, exclusivamente ou alternadamente com as informações de trânsito. Pode parecer pouco, mas uma mensagem direta funciona para muitas pessoas, e sem dúvida é mais uma prova de que o papel da bicicleta no trânsito não para de crescer, já está na pauta do dia de muitos formadores de opinião, gestores públicos e empresários.
Adote a bicicleta, compartilhe a via com os ciclistas e seja parte da transformação de nossas ruas em espaços realmente coletivos.

Ficam proibidos os capacetes para ciclistas

Será que promover o capacete é promover a segurança?

Será que promover o capacete é promover a segurança?

O capacete para ciclistas é e deveria continuar a ser uma opção pessoal de cada ciclista. Mas infelizmente a fé de alguns contamina a percepção e faz com que diversos ciclistas acreditem que é possível promover o uso da bicicleta e ao mesmo tempo os capacetes de isopor para os ciclistas.

Por isso é fundamental que seja extinto o capacete de qualquer peça publicitaria em favor da bicicleta. Alguns motivos:

  1. Não retrata a realidade, afinal nas contagens de ciclistas realizadas Brasil afora, nem 1% dos ciclistas hoje nas ruas usam.
  2. Estigmatiza a bicicleta e o ciclista, afinal se a promoção ao uso da bicicleta é sempre focada no capacete, quem não usa (a maioria dos ciclistas brasileiros) é colocado de fora do modelo divulgado.
  3. O vínculo entre bicicleta e capacete reforçado em peças publicitárias comunica ao público não ciclista que a bicicleta é perigosa e por isso precisa de equipamentos de proteção.
  4. O capacete carrega a noção de que pedalar é coisa de atleta (que normalmente usa capacete).
  5. A presença do capacete na publicidade ajuda a culpabilizar os ciclistas “sem equipamentos de proteção” nas ruas.

Fica portanto o marketing e a promoção ao uso do capacete como função exclusiva dos fabricantes de capacete e não dos que esperam que nossas ruas estejam cada vez mais repletas de ciclistas. Sem distinção de equipamentos.

Ps.: 

Aos amantes do capacete que aqui expressaram suas opiniões pessoais.

Indicamos dois links da European Cyclists Federation (Federação Européia de Ciclistas) – ECF, sobre o assunto:

Porque o capacetes não são eficientes na redução de ferimentos em ciclistas” (em inglês).

Porque a Federação Européia de ciclistas defende o capacete como opção individual e é contra a promoção do medo na publicidade de capacetes (em inglês).

Litoral que Pedala

Em outubro de 2012 a micro empresária Gabriela Binatti e seu companheiro Roberto Dias fizeram uma mudança na vida, partiram da cidade maravilhosa para viver na tranquila e histórica cidade de São Francisco do Sul, situada ao norte de Santa Catarina.

O trajeto foi realizado de bicicleta. foram cerca 1000 km percorridos em 20 dias, num ritmo de viagem tranquilo que permitiu ao casal observar, além da linda paisagem do litoral brasileiro, o quanto a cultura de bicicleta esta disseminada em nosso país, basta abrirmos os olhos para enxergar.

A saída do Rio foi através da integração trem+bicicleta, disponível aos finais de semana. Em direção ao sul, pela BR-101, diversas ciclovias na orla das cidades e na própria rodovia.

As cidades com ciclovias na orla foram: Angra dos Reis, Paraty, Ubatuba, Guaratuba, São Sebastião, Santos, Guarujá, Peruíbe e Pontal do Sul. Já as cidades onde foi possível pedalar em ciclovias na rodovia foram: Caraguatatuba, Ubatuba e São Sebastião.

Ciclovia na rodovia em Caraguatatuba

Além das ciclovias e ciclofaixas presentes no caminho, o dois puderam contar com sinalização sobre a presença de ciclistas nas vias em praticamente todo o percurso.

Via do litoral sul paranaense, entre Pontal do Sul e Guaratuba

Que Copenhagen o que, Santos é aqui!
O litoral de Santos foi o que mais chamou a atenção do casal, com uma extensa ciclovia ao longo da orla e nas principais vias que cortam a cidade e excelente sinalização para ciclistas, pedestres e motoristas, além da balsa gratuita e exclusiva para os ciclistas e suas bicicletas movidas a pedaladas.

O alto fluxo de ciclistas nas vias exclusivas nos horários de pico é um problema para os usuários, pois estas já se encontram saturadas, tamanho o número de ciclistas que por lá circulam diariamente, certamente falta ampliar a malha cicloviária da baixada santista. Para atender à demanda e expandir o uso da bicicleta.

Nas balsas em todo litoral de São Paulo, exceto na travessia de Cananéia para a Ilha do Cardoso, os pedestres e ciclistas tem embarque gratuito garantido e são muito bem tratados pelos que fornecem tal serviço.

Balsa exclusiva para ciclistas na Travessia Guaruja-Santos

O padrão europeu das cidades movidas a bicicleta ainda esta longe da nossa realidade, mas basta um olhar um pouco mais observador para percebermos o quanto a cultura de bicicleta esta presente no nosso cotidiano, o que falta é reconhecer e valorizar.

Nem só de ciclovias se faz um ciclista

Além da infraestrutura da qual puderam usufruir por muitos momentos do trajeto, o respeito dos motoristas e a acolhida dos moradores sentida pelos ciclistas são imensuráveis. Por incrível que pareça e por mais que a mídia em geral tenha o costume de disseminar apenas “acidentes”, fatalidades e atrocidades ocorridas no trânsito entre ciclistas e veículos motorizados, os dois são enfáticos, há sim muito respeito entre ciclistas e motoristas no trânsito brasileiro.

Mais informações sobre a jornada do casal podem ser vistas na Hospedaria da Bicicleta.

Como diz o mestre: Pedalemos!