Pedalar nos mostra o óbvio

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Placa proíbe pedalar em ciclopassarela. Foto: Renata Falzoni/Bike é Legal

Um flagrante jornalístico em São Paulo mostrou com clareza a mudança de visão que uma bicicleta é capaz de causar. Na inauguração de uma “ciclopassarela”, o prefeito de São Paulo deparou-se com a placa de “proibido pedalar na passarela”. Placa da mesma natureza das “pare e desça da bicicleta” que ainda são vistas nas cidades brasileiras.

Governar o mundo através de placas parece ser um vício brasileiro. É possível encontrar regras afixadas em locais públicos exigindo uma imensa diversidade de comportamentos. A bicicleta nesse contexto é o veículo perfeito para marcar o óbvio, tal e qual a água que escorre pelo caminho mais rápido e confortável, o ciclista procura ser sempre ágil e minimizar o próprio esforço.

O planejamento cicloviário sofre ainda hoje para enxergar, de dentro dos gabinetes, o ser humano que irá conduzir a bicicleta. Acima do que se deseja como conduta, é preciso entender a necessidade de sermos simples.

No caso da ciclopassarela foi preciso o prefeito da cidade mostrar o óbvio, do contrário seguranças estariam de prontidão para reforçar a regra imposta pela placa. E o que talvez seja pior, haveria uma enormidade de ciclistas dispostos a cumprir a regra simplesmente porque foi escrita uma placa.

Assista o momento da descoberta do óbvio:

Veja também como foi a inauguração da ciclopassarela.

Dez ciclistas por minuto em Copacabana

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A ciclovia da orla de Copacabana é certamente um dos locais mais movimentados no Rio de Janeiro e certamente no Brasil. Até o dia 17 de agosto de 2014 não havíamos parado para contar. E foi num domingo de sol em pleno inverno carioca que foi pra rua a Eco-Counter para definir com precisão a quantidade de ciclistas que passaram por ali ao longo de um dia. E novamente na quarta-feira 20 de agosto a contagem foi repetida.

Vale destacar alguns percentuais. Enquanto nas ruas internas de Copacabana 8% dos ciclistas são mulheres, na orla esse percentual é de 27%. Números se invertem em relação as bicicletas de serviço 36% nas ruas internas e 7% na orla. Mas mesmo assim é possível derrubar um mito 48% dos ciclistas na orla se deslocavam para trabalho ou estudo.

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Total de ciclistas na orla de Copacabana:

Escolher inicialmente o domingo foi proposital para ter como base comparativa com um dia de semana. Nos domingos há ainda a possibilidade de utilizar a área de lazer, o que ajudou a aumentar o número total. Em menos de 12 horas, foram cerca de 7.496 bicicletas que cruzaram o mesmo ponto, um fluxo de 625 ciclistas por hora ou 10 por minuto. Um trânsito intenso, com uma bicicleta a cada 6 segundos.

Do total, exatos 5.850 trafegavam na ciclovia ou 487 ciclistas por hora.

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Naturalmente que ao longo da quarta-feira os números foram menores, mas ainda assim impressionantes. Pelo mesmo ponto, passaram 3.894 ciclistas quase 325 ciclistas por hora. Ou 5,5 por minuto. A turística praia de Copacabana além de ser um excelente espaço de lazer aos domingos é também um importante eixo de deslocamento durante a semana. Um espaço para cruzar com tranquilidade a praia que é cartão postal brasileiro.

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Contagens automáticas de ciclistas

Os testes com o equipamento de contagem ciclistas no Brasil foram certamente pioneiros e parte do interesse da Transporte Ativo em entender e quantificar o uso da bicicleta nas cidades. Uma ferramenta pela valorização do mais prazeroso, prático, eficiente e agradável meio de transporte jamais inventado.

Claro que o hábito e o prazer das contagens fotográficas de ciclistas também aconteceu dessa vez. Justamente desse levantamento que vieram as belas imagens que ilustram esse post.

As contagens automatizadas através do Eco-Counter foram uma parceria com a Sacis Soluçōes Ambientais que representa o equipamento no Brasil.

Baixe o relatório completo.

Um mapa com 1.000 pontos

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O Mapa Cicloviário Unificado do Rio de Janeiro é uma construção coletiva e sempre atualizada que visa facilitar o dia a dia de quem pedala pelas ruas, ciclovias e e avenidas cariocas. Mas vai além, de Japeri à São Gonçalo, estão assinaladas as ciclovias, ciclofaixas, calçadas compartilhadas, vias compartilhadas, vias proibidas, estações de bicicletas públicas, bicicletários, além de lojas e oficinas.

Mais do que um mapeamento colaborativo, o mapa é um empurrão necessário para entender a cidade do ciclista e ajudar a melhorá-la. A iniciativa já foi replicada em outras cidades do Brasil e representa um esforço crescente de quem já pedala em difundir informação e facilitar a vida de quem pedalar e ainda não sabe bem por onde começar.

Saiba mais:

 

Uma rede latinoamericana em prol da bicicleta

Ciclovia na calçada em Bogotá

Ciclovia na calçada em Bogotá

Em julho a Transporte Ativo foi convidada a participar do “Seminario Desarollo Sostenible e Integral de la Movilidad – Miradas a Europa e América Latina” em Bogotá, para falar sobre promoção da mobilidade por bicicleta no Rio de Janeiro, juntamente com outras cidades e países da América Latina.

Este encontro foi resultado de um projeto enviado em 2012 para o BID que tem como objetivo fortalecer o uso da bicicleta na América Latina. Recentemente o BID aceitou a proposta e aconteceu então o primeiro encontro para tratar do tema em Bogotá. A ideia central é que se forme uma rede entre as cidades de Bogotá, Ciudad do México, Rio de Janeiro e Rosário.

Seminário em Bogotá

Seminário em Bogotá

Nosso papel durante a estada em Bogotá foi de mostrar a realidade e a evolução carioca na promoção ao uso da bicicleta. A curiosidade e inspiração sobre o que tem acontecido no Rio de Janeiro deixaram a certeza de que a cidade tem um potencial enorme para difundir boas e más experiências.

Apresentação sobre as bicicletas no Rio de Janeiro

Apresentação sobre as bicicletas no Rio de Janeiro

Muitos foram os questionamentos com relação a participação da sociedade no planejamento dos espaços para ciclistas cariocas. Chilenos e Bogotanos, vivem um momento de dúvidas com relação as melhores soluções de infraestrutura voltadas a bicicleta a serem adotadas para suas realidades. As vias segregadas nas calçadas já estão obsoletas em Bogotá, e os cruzamentos e padrões de planejamento a serem adotados são pauta atual no Ministério da Vivenda e Urbanismo chileno. O que mais uma vez nos mostra que o Rio está realmente a frente em diversos aspectos e pode contribuir em muito para a promoção da mobilidade por bicicleta na América Latina.

Além dos aspectos mais gerais, as bicicletas públicas também mereceram destaque. Principalmente por seu poder de alcance e mudança nas cidades e na percepção das pessoas sobre a bicicleta como meio de transporte.

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Outro destaque positivo foi a experiência da cidade de Rosário, na Argentina. Por lá, muito tem sido feito para promover a mobilidade por bicicleta. Soluções simples, que cabem no orçamento do município. Iniciativas que partem de uma iniciativa governamental, contam com a participação da sociedade civil e são reforçadas como prioridade coletiva via votações do orçamento participativo local.

Trabalhar através de um olhar o na escala latino-americana é maravilhoso. É possível ver muitas semelhanças e acima de tudo, sentir as pessoas fervilhando e curiosas com o que está por vir.

Para ler mais:

– Eldiario.es – Lo imposible sucede cada día en todas partes

Hacer de un lunes un sábado

– “Cobrar por usar bicicletas es ir en contra del mundo”: Pedro Bravo

El uso de la bicicleta puede transformar ciudades

Ocho fórmulas para mejorar la movilidad en Bogotá

Um retrato do cicloativismo no Brasil

O cicloativismo no Brasil segue ainda necessário, mas cada vez mais tem se mostrado capaz de ser mais do que uma atitude de um nicho de pessoas em busca do confronto e atitudes pouco efetivas. Organizado em São Paulo pelo BikeAnjo em parceria com oGangorra, o “Papo Reto: Como vai o CICLOATIVISMO no BRASIL?” mostrou através da participação do público a necessidade de “Estratégias de campanha e incidência política” com o que mais faz falta ao “cicloativismo”.

De certa forma, é o desejo quase óbvio que o “ativismo” alcance o status de elemento de ampla conscientização pública e transformação social. Resultados que só são alcançáveis com estratégias de ação e consistência, um trabalho duro e de médio/longo prazo. “Mais ação de rua” e “mais pesquisa” também são demandas mencionadas com algum destaque, mas que certamente se enquadram dentro de campanhas de grupos e organizações em prol da bicicleta.

O Papo Reto pode ser (re)visto na íntegra:

Destaque também para dois documentos fundamentais para entender como vai a promoção ao uso da bicicleta no Brasil lançados durante o evento: – “Mapeamento da Rede Bike Anjo” e “Mapeamento de quem promove a bicicleta no Brasil” Quem promove a bicicleta no Brasil

Foram mapeados 527 organizações e movimentos Brasil afora que se esforçam por um país mais amigo da bicicleta. Transporte Ativo e Ciclocidade mostraram-se dois nódulos de destaque nessa rede nacional em construção. Além é claro do BikeAnjo, UCB, Cicloiguaçu e o Vá de Bike site de referência sobre mobilidade em bicicleta.

O destaque negativo no entanto é que a maioria absoluta das iniciativas ainda está focada em pedaladas recreativas/esportivas. São 245 grupos, ou 31%, que agem dessa forma. Certamente a maneira mais divertida de promover a bicicleta, mas também uma das que tem menor impacto de transformação. Parte do que “mais faz falta”, os grupos que praticam incidência política são apenas 54 no Brasil todo, ou apenas 7% de todas as iniciativas mapeadas. Há ainda um longo caminho a ser pedalado.