O simples ato de caminhar pelas ruas de grandes cidades brasileiras pode ser revolucionário, ou no mínimo contra cultura. Muito da lógica de engenharia que constrói rodovias é ainda hoje aplicada no desenho e planejamento para a fluidez do espaço de circulação urbano.
Entender e definir trajetos para o fluxo de pessoas e cargas sempre foi uma necessidade urbana, mas um aspecto fundamental ficou de fora quando se institucionalizou o rodoviarismo urbano com prática padrão. Esquecemos das ruas como um componente vital de zonas urbanas, estrutas que impactam diretamente a qualidade de vida da população local.
A importância de marcadores de qualidade para o trânsito pedestre é tão fundamental que é preciso lembrar da lógica dos shoppings centers. Em cidades com primazia do transporte motorizado sobre os deslocamentos humanos, centros de compras que são locais adequados para circulação e contemplação e funcionam como ilhas de tranquilidade cercadas de estacionamentos lotados por todos os lados.
Descobrir os caminhos dos pedestres
Para entender e planejar a mobilidade é preciso “descer ao nível pedestre”, caminhar e descobrir o movimento de quem se desloca a pé. Descobrir barreiras, tais como qualidade do piso, calçadas estreitas, posts, placas, comércio ambulante, abrigos de ônibus, falta de sinalização e iluminação focada no pedestre, falta de acessibilidade, cruzamentos inseguros, caminhos indiretos, desrespeito às linhas de desejo, invasões e interferências na calçada através de carros estacionados ou obras etc.
O pedestre requer mais do que linhas e planos traçados em escritórios com ar condicionado, entender as necessidades de deslocamento urbano a pé requer um profundo conhecimento do espaço urbano, seus caminhos e seus locais de pausa.
Sinergias entre bicicletas e pedestres
Por ser veículo e por ser compatível com velocidades humanas a bicicleta é um excelente colonizador para espaços urbanos desgastados por excessos rodoviaristas. Com um mínimo de adequação do viário existente é possível incluir mais pessoas pedalando o que invarialmente torna as ruas mais agradáveis para caminhar e gera um círculo virtuoso de promoção à qualidade de vida.
Utopias e o futuro da mobilidade
Vai acontecer em Viena, na Áustria o Walk21, um conferência mundial realizada por uma rede de organizações e pessoas que promovem a mobilidade a pé. A idéia é inspirar e envolver as pessoas através da disseminação de boas práticas e implementação de soluções que criem espaços de circulação para que mais pessoas escolham caminhar. Por mais pedestres, caminhando com mais conforto mais vezes.
Saiba mais:
– Vale conferir os projetos inspiradores enviados para a seleção.
– Leia o manual de desenho urbano para pedestres elaborado pelo governo inglês.
Oportuna a abordagem do tema aí na Transporte Ativo. Entretanto sugiro que o termo “trânsito pedestre” ou simplesmente “pedestre” que não projetam uma idéia de sistema de mobilidade, seja substituído pelo termo “Mobilidade a Pé” . De acordo com a ANTP quase 40% das viagens diárias brasileiras são realizadas totalmente a pé – ou seja, a pé sem ônibus, a pé sem bicicleta, a pé sem automóvel. Somente caminhada.