Canção de um novo mundo

8 de dezembro, Dia Internacional do Ciclista. Vamos comemorar! Qualquer mudança é difícil, mas possível. E mudanças culturais, que abalam hábitos, vícios e estilos de vida são bem mais difíceis.
Aos que desejam um mundo novo, diferente do que está aí, é preciso compromisso, dedicação, força de vontade. E sonhar! Tirar os pés do chão para ver o horizonte ao longe. Depois retornar ao chão, com a certeza de seguir e para onde ir adiante.

O poeta britânico Arthur O’Shaugnessy soube expressar isto bem no poema Ode. São famosos os primeiros versos “We are the music makers/ And we are the dreamer of dreams”, e a Ode destina-se a todos os poetas, profetas e artífices, que vislumbram e fazem um mundo melhor, “a sonhar e a cantar, Incansáveis e indomáveis”!

Ode
Arthur O’Shaugnessy

Nós somos os fazedores da música,
Somos o sonhador de sonhos
que vaga por rochedos solitários beira mar,
E senta-se aos pés de riachos desolados;
Perdedores de tudo e esquecidos pelo mundo,
a lua pálida brilha em nossa pele:
E assim somos os que agitam e movem
o mundo para sempre, parece.

Com maravilhosas cantigas imortais,
Construímos grandes cidades mundiais,
E contando uma fabulosa história
Dos reinos nós modelamos a glória:
Um homem com um sonho, quando sonha,
Seguirá adiante e conquistará uma coroa;
E três, com os versos de uma nova canção,
Podem pisotear um império ao chão.

(…)
Mas nós, a sonhar e a cantar,
Incansáveis e indomáveis nós somos!
Agarrando a glória que está perto
Do glorioso futuro que avistamos,
Nossas almas tocam divinos sons;
Ó homens! É mesmo preciso que nós,
Em nossas canções e quimeras, vivamos
Um pouco distante de vós.

Porque estamos ao longe com o alvorecer
E com os sóis ainda não surgidos
E de dentro da manhã infinita
Vocês nos ouvem gritar intrépidos –
Pois, apesar do desprezo dos homens,
O futuro que Deus traz está próximo
Outra vez, e diante de nós já está o aviso
que vosso passado deve morrer.

Tempestade! nós gritamos pelos cais
Da praia deslumbrante e desconhecida;
Traga mais perto de nós seu sol e seus verões,
E renove nosso mundo como em outras eras;
Ensina-nos as novas notas da sua canção,
E tudo o que não sonhamos antes;
Vem! apesar de um sonhador que dorme apenas,
E um cantor que não canta mais.

Mais:

Confira o poema na íntegra

Arthur O’Shaughnessy (wikipedia)

Mobilidade e o Futuro das Cidades

Nas grandes metrópoles o trânsito caótico parece ser um problema insolúvel pela proporção que atingiu, em outras cidades a situação é menos dramática. Medidas podem ser tomadas antes que a situação fuja ao controle.
É isto que mostra o projeto “Melhorias e incentivo ao uso da bicicleta como meio de transporte” elaborado pela Prefeitura de Montes Claros, MG, com apoio e consultoria técnica da TA.
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Montes Claros tem cerca de 400 mil habitantes; é a 5ª cidade de Minas em população; possui a única fábrica de insulina do país; a Unimontes é considerada uma das melhores universidades brasileiras; e é a terra natal de terra de Darcy Ribeiro e Beto Guedes.

Por tradição e condição sócio-econômica do município, o número de ciclistas é muito grande na cidade. A atual gestão tem como diretriz a governança solidária e decidiu voltar os olhos para as bicicletas. Se por um lado vai atender a maior parte da população, por outro lado é uma medida inteligente, que procura prever e conter o caos urbano: as estreitas ruas centenárias da cidade, desenhadas na dimensão das pessoas, já estão saturadas de automóveis.

O projeto prevê as seguintes medidas:

  • Rotas e sinalização específica para bicicletas
  • Campanhas de educação dos ciclistas
  • 350 vagas em bicicletários modelo inglês
  • uma vez por mês, ruas de tráfego exclusivo para bicicletas [medida pioneira no Brasil.]
  • Mesmo de longe se vê no horizonte os montes que circundam e batizaram a cidade. Com a recente implantação de um moderno sistema de transporte coletivo e, agora, com medidas de valorização e incentivo ao uso da bicicleta, Montes Claros mostra que as soluções existem e podem ser adotadas preventivamente. A cidade coloca-se voltada para seu horizonte, em busca de um futuro melhor para todos.

  • Mais:
  • Projeto Cicloviário
    Cidades para bicicletas, cidades de futuro – Manual da Comissão Européia

    Um dia sem carros, por quê?

    O dia 22 de setembro se aproxima. Foi escolhida como a data simbólica para um mundo em busca da mobilidade urbana sustentável. Notícias nos jornais e comentários na internet já mostram a agitação que a data provoca. As duas maiores cidades do país, Rio e São Paulo, aderiram formalmente. A mobilidade sustentável é algo amplo e complexo, mas o refrão é “Dia Mundial Sem Carros”.

    Ao lançar uma campanha contra os carros pode-se causar efeito inverso, gerando uma sensação de desamparo na maioria das pessoas, em estágio avançado de dependência do automóvel. Tal como quando o boato “vai faltar água” se espalha e todos começam a encher baldes e bacias.

    Quando se fala em mobilidade, o alerta tem de ser feito. Os malefícios causados pelo automóvel na coletividade são bem maiores que os benefícios que ele proporciona a seus proprietários individualmente.

    Cidades são sistemas complexos e a política urbana adotada na sociedade ocidental, ao valorizar em demasia o individualismo do transporte por automóveis, só fez piorar a situação a um ponto insustentável. Há uma rede de conexões entre o aumento do uso e da quantidade de automóveis e sua influência negativa no ambiente das áreas urbanas.

    Em março deste ano foi publicado o documento The Urban Environment pela Royal Commission on Environmental Pollution, do Reino Unido. Eles identificaram uma teia de problemas maléficos causados pelos automóveis nas cidades. O diagrama foi traduzido para o português e encontra-se disponível na página da TA.

    Para uma teia de problemas, há uma árvore de soluções. Neste cenário caótico e aparentemente sem saída da dependência dos automóveis, a bicicleta apresenta-se como alternativa viável para mobilidade nas cidades. É uma forma de transporte individual ecologicamente limpo, silencioso, que ocupa pouco espaço urbano. Além disso, ainda melhora a saúde e aproxima as pessoas.

    Em busca de melhor qualidade de vida, de um planeta mais limpo e um futuro garantido para as novas gerações, as cidades precisam que todos nós façamos uma opção ativa pelo transporte coletivo, andar a pé, de skate, patins ou bicicleta.

    • Mais:

    > No blog:
    Outra São Paulo
    Dia Sem Carro no Rio

    > No site:
    artigo: Viciados em carro

    > Repórter Social.com.br
    Bicicleta na cidade: contra o caos urbano

    A importância dos bicicletários

    “Eu iria de bicicleta para o trabalho se lá encontrasse um local seguro para estacioná-la”.

    A frase acima pode ser vista na capa do Guia para Bicicletários da Association of Pedestrian and Bicycle Professionalsapbp e sintetiza um dos principais problemas enfrentados por quem usa a bicicleta como meio de transporte.

    Fala-se em ciclovias, ou a falta que elas fazem e os bicicletários vão para segundo plano. Seria como se os motoristas tivessem vias largas e seguras, mas não encontrassem lugar para estacionar seus automóveis. Certamente não haveria tantos carros nas ruas.

    Uma curiosidade, no Japão por exemplo, para adquirir um carro é obrigatório apresentar um certificado de estacionamento com o qual comprova-se a existência de vaga própria para o automóvel na residência e no local de trabalho.

    [photopress:bici_caida.jpg,resized,centered]Foto do autor

    A falta de um local seguro para estacionar impede muitas pessoas de usarem suas bicicletas como meio de transporte básico. (Guia da apbp)

    Além da falta de bicicletários nas cidades, também são raros os textos técnicos sobre eles. Pensando nisto, a Transporte Ativo obteve autorização e acaba de traduzir para o português o guia da apbp. Com diretrizes para escolha e instalação do melhor bicicletário, o original em inglês [PDF] e a versão em português [PDF] estão disponíveis em nossa página. Ambos podem ser usados livremente, citando-se as fontes.

    Nossa biblioteca sobre bicicletários conta também com a versão traduzida do folheto informativo FF37 da Sustrans. Além disso, nesta semana, foram acrescentados dois novos textos técnicos, em inglês, produzidos pela Prefeitura de Londres. Um dos documentos foi trazido pelo ciclista brasileiro e presidente da TA que esteve na Europa junto com a delegação brasileira que participou do VeloCity 2007 em Munique. Confira!

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    Foto Zé Lobo

    Deixar uma bicicleta sem vigilância, mesmo por curtos períodos, pode facilmente resultar em danos ou roubo. Encontrar um bicicletário que não seja adequado ou que não esteja convenientemente localizado pode provocar uma experiência frustrante. (Guia da apbp)

    A Transporte Ativo, ao fazer estas traduções ou coletando textos técnicos atualizados, busca reafirmar que a existência de bicicletários seguros e bem localizados é essencial para incentivar o uso da bicicleta como meio de transporte.

    • Mais:

    > Estacionamento para bicicletas – Sustrans [PDF]
    > Workplace Cycle Parking Guide, Transport for London – TFL [PDF]
    > O dilema das ciclovias

    O dilema das ciclovias

    As cidades chegaram ao seu limite e agora todos buscamos soluções. Precisamos fazer escolhas decisivas e mudar de rumo com certa urgência e isto causa ansiedade. Causa também confusão. A mais comum é achar que ciclovias vão resolver o problema do trânsito e das cidades, fazendo com que mais pessoas adotem a bicicleta como meio de transporte. Ciclovias são apenas parte da solução.

    Por que há pouco uso de bicicletas nas grandes cidades brasileiras? Identificamos três causas:

    1. insegurança no trânsito;
    2. falta de infra-estrutura;
    3. por resistência pessoal.

    As ciclovias solucionam a falta de segurança e de infra-estrutura, mas apenas em parte. Para melhorar a segurança, por exemplo, é preciso também educação, fiscalização e punição.

    Da mesma forma, pouco adianta construir vias exclusivas para bicicletas se não há bicicletários adequados e seguros para estacioná-las no local de destino.

    Ciclovias pensadas fora de um planejamento cicloviário são apenas vias de lazer ou esporte e vão contribuir minimamente para melhorar o trânsito engarrafado das metrópoles. Pior que isto, se mal planejadas, mal construídas ou mal conservadas – vício comum em nosso país – podem até aumentar o número de acidentes envolvendo bicicletas.

    Incrementar o uso da bicicleta pode reduzir o uso excessivo de automóveis, com isto minimizar o efeito estufa e diminuir problemas urbanos como sedentarismo, estresse, engarrafamentos e sobretudo uso das verbas públicas para beneficiar apenas uma classe, os donos de carros. Mas para fazer crescer o uso da bicicleta é preciso atuar em frentes distintas.

    Além de pressionar os governos para aumentarem a infra-estrutura cicloviária, temos que fortalecer ainda mais as campanhas educativas e de conscientização. Com elas, podemos reduzir a violência, abrandar a discriminação social contra os biciclistas e enfraquecer o preconceito contra a bicicleta até reduzi-lo a zero. Com ações diretas, como a Bicicletada, o Dia 22 de Setembro e as Vagas Vivas podemos atuar diretamente junto às pessoas que são até simpáticas à bicicleta, mas na prática, oprimidas pela automovelcracia, demonstram resistência ao uso da bicicleta como veículo de transporte no dia-a-dia para ir e voltar ao trabalho, escola, compras.

    Todas estas idéias estão estruturadas no diagrama “Uso da Bicicleta: árvore do problema“, disponível na página da Transporte Ativo.

    O conceito de árvore do problema é uma metodologia simplificada de planejamento estratégico situacional que identifica um problema e relaciona suas causas e efeitos em um fluxograma, de forma a mapear os pontos críticos onde se deve atuar para solucionar o problema com o menor esforço e o melhor resultado possível.

    O documento está aberto à discussão, críticas e melhorias. Pode ser usado e copiado, citando-se a fonte.

    • Mais

    > The Bikeway Controversy – John Forrester
    > What about striped bike lanes?
    > Cycle Facility of the Month