Prefeito, devolva minha ciclovia

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Nas rodas da vida e da bicicleta muitas vezes os altos e baixos fazem parte do ciclo. Nos últimos anos a bicicleta apareceu e ganhou força em cidades ao redor do Brasil e do mundo. São Paulo e Rio de Janeiro ajudaram a inspirar políticas públicas em favor de quem pedala e quer pedalar.

A grande ciclovia Tim Maia ao largo da Avenida Niemeyer no Rio caiu, matou ciclistas e está até hoje fechada. Foi ainda removida, no centro, a ciclofaixa da Avenida Graça Aranha. Ao mesmo tempo São Paulo já teve vias para bicicletas removidas e a prefeitura já anuncia que vem mais por aí. Mas para tentar confundir, as remoções serão para colocar ciclo rotas no lugar. Sabe aquelas pinturas no chão que cicloativistas faziam lá em 2008 e a prefeitura fez em algumas ruas em administrações passadas? Parece que agora o jogo virou e agora a inspiração vem de João Pessoa para as duas capitais do sudeste. Por lá o prefeito já removeu, mas o povo quer de volta.

Depois do boom de ciclovias, com o conforto, segurança e tranquilidade que representam para quem pedala, parece que 2017 será um ano “ladeira acima”. Mas como bem sabemos, há alegria de descer uma ladeira e também a dignidade de pedalar na subida.

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Pedalemos cada vez mais, seja no giro rápido ou socando a bota nos pedais. Por hora nos resta assinar a petição de João Pessoa, orar por São Paulo e olhar pra subida à frente como Armstrong olhou nos olhos do Ullrich nos Alpes.

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Sistemas de Bicicletas Compartilhadas e a experiência Latino-Americana

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Estação EcoBici, Sistema de Bicicletas Públicas da Cidade do México

Dentre as atividades prévias ao Sexto Fórum Mundial da Bicicleta, mas já dentro da programação oficial do evento, ocorreram algumas oficinas voltadas a funcionários públicos. No dia 18 de abril ocorreu a Oficina “Sistemas de Bicicletas Compartidas, realidades y retos hacia uma política de movilidad sustentable” promovida pelo WRI México, onde participamos não apenas como ouvintes, para aprender mais sobre a realidade dos sistemas latino-americanos seus desafios e futuro, mas também como expositores compartilhando sobre a realidade e experiência brasileira.

Modelos de aquisição, operação e negócio, novas tecnologias, mecanismos de financiamento, políticas públicas, legislação, uso de dados abertos estiveram dentre os temas abordados na oficina.  Que contou com a participação de especialistas, gestores, cidadãos e empresas de tecnologia e operação de sistemas de bicicletas compartilhadas da América Latina, Estados Unidos e Europa. Um espaço de trocas, perguntas e debates que se estendeu ao longo do dia.

Casos exitosos como EcoBici da cidade do México e inovadores como de Rosário na Argentina foram apresentados e debatidos, respectivamente, entre os presentes. O caso brasileiro, incluindo a recente anunciada troca de operador de alguns sistemas do país, foi amplamente comentado e discutido durante o painel Modelos de Aquisição, operação e Manutenção e mecanismos de implementação, que contou com a participação de representantes da empresa Serttel e TemBici (antiga CompatBike), que operam sistemas no Brasil, e da Transporte Ativo enquanto sociedade civil atuante e envolvida com a temática.

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Rodrigo Vitório da Transporte Ativo fala durante o painel “Modelos de Aquisición, Operación y Mantenimiento, mecanismos de implementación”

Dentre o conteúdo abordado pontuou-se que as cidades que querem ter um sistema de bicicletas compartilhadas, espacialmente no caso latino-americano, precisam primeiramente entender as necessidades da cidade, saber o que querem, o que pretendem com a implementação um sistema de bicicletas compartilhadas (SBC).

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Gabriela Binatti da Transporte Ativo fala durante o painel “Ciudades en Movimiento. La bicicleta en otras latitudes, como transporte público y privado.” Foto: WRI Ciudades

Quando o tema é políticas públicas para promoção do uso da bicicleta, incluir os sistemas de bicicletas públicas dentro dos planos de mobilidade pode ser peça chave para garantir sua implementação e continudade.

Posicionar a bicicleta como parte integrante do sistema público de transporte, considerar e entender a experiência dos seus usuários – apropriação social do sistema –, garantir o marco legal e criar capacidade institucional – formar equipes técnicas capacitadas – também são pontos chave para o êxito e sustentabilidade ao longo do tempo de um SBC.

Como Impulsionar o Ciclismo Urbano

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Na América Latina, as cidades e seus adminstradores estão cada vez mais interessados em promover a bicicleta como meio de transporte diário e resgatar o valor que esta tem para a comunidade em geral. Sabemos que isso pode fortalecer um estilo de vida de baixo carbono, reduzir os congestionamentos e os tempos de viagem, incentivar encontros entre cidadãos, evitar emissão de gases poluentes e ruído, melhorar a saúde das pessoas, e promover a equidade. Os governos locais têm ainda respondido à crescente popularidade do uso da bicicleta, criando infra-estrutura e realizando atividades promocionais. No entanto, em muitos casos, as políticas e medidas revelaram-se fracas e descoordenadas, pois não têm sido sustentáveis e integradas, devido à fraca capacidade institucional e a falta de fontes de financiamento a médio prazo.

Buscando uma solução para isso, a Universidad de Los Andes, em parceria com o BID, acaba de lançar o guia, em espanhol, Cómo impulsar  el ciclismo urbano: recomendaciones para las instituciones de América Latina y el Caribe.

Baixe o Guia clicando aqui ou na imagem abaixo.cicuA TA trabalhou por dois anos nesse projeto, coletando informações e realizando oficinas e pesquisas sobre o Rio de Janeiro. A base de dados da publicação pode ser vista aqui.

Campanhas Educativas

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Para ler a mensagem do painel clique na imagem.

Se todos fossemos cordiais e educados no trânsito, certamente as infraestruturas segregadas para bicicletas só seriam necessárias em vias expressas. Mas não é o caso. Daí a importância das campanhas educativas. Elas até ocorrem, mas são muito pontuais quando deveriam ser permanentes. Em geral acontecem apenas aos finais de semana, com orçamento restrito e curta duração, alcançando seu objetivo por apenas um breve período de tempo para um público pequeno. A seguir, um panorama de boas campanhas que vem rolado no Rio de Janeiro ao longo deste século. Algumas mais abrangentes, outras menos, todas com potencial para serem permanentes, mas sempre transitórias.

Vamos começar pela campanha Pedale Legal de 2006, talvez uma das mais completas. Foi realizada em diferentes bairros, com uma rodada no domingo e outra na quarta feira, atingindo diferentes tipos de público. Foi direcionada para ciclistas, pedestres e motoristas, buscando educar todos aqueles que fazem parte do trânsito da cidade. Setenta painéis como o da foto acima foram expostos pela cidade, pena que durou apenas 60 dias. A TA deu prosseguimento à campanha por alguns anos, levando o painel para diversas atividades, além de imprimir e distribuir os folhetos. Como o poder público tem data e hora pra encerrar as campanhas, a sociedade civil tenta preencher esta lacuna.

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2006                                                                                 2009

Em 2011, a campanha educativa Rio Capital da Bicicleta percorreu diversos bairros. Foram mais de 10 edições, mas sempre na orla ou em áreas de lazer e apenas aos domingos. As barracas eram bem completas, e as atividades iam desde brincadeiras para crianças até dicas de manutenção para ciclistas. A iniciativa uniu os centros de educação da Secretaria de Meio Ambiente e da CET Rio, com participação permanente da TA. Quando novas ciclovias eram inauguradas na cidade, a campanha era realizada lá no dia da inauguração. Mais uma vez o mesmo problema, apesar de ir a vários bairros, se restringia aos domingos e áreas de lazer, passava por lá uma vez e nunca mais voltava. Apesar de ser muito boa, teve alcance pequeno e restrito a algumas áreas. Uma pena!

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2011 – Para ver a mensagem do cartaz, clique na imagem.

Em 2012, através do programa Rio Estado da Bicicleta, a Secretaria Estadual de Transportes fez uma campanha simples e barata voltada aos motoristas, e que poderia ser permanente. Além dos 300 BusDoors que circularam bem à vista dos motoristas, 10.000 adesivos forma impressos e distribuídos pela cidade.

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2012

Em 2013 o departamento de educação para o trânsito da CET Rio programou diversos painéis eletrônicos com uma mensagem simples e importante. Mais uma campanha que poderia ser permanente.

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2013

A CET Rio voltou a usar BusDoors, uma mídia bastante eficiente para este tipo de campanha, pois circula pela cidade e o motorista pode apreciar seu conteúdo enquanto está engarrafado.

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2014

Mais uma campanha da CET Rio voltada aos motoristas, nesta houveram conversas com motoristas de ônibus e cartilha educativa para eles, ciclistas puderam conhecer os pontos cegos dos ônibus, onde devem evitar se posicionar. Estas faixas também foram usadas por um periodo, por agentes de trânsito em alguns cruzamentos da cidade, que as expunham aos motoristas quando o sinal fechava.

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2015

As campanhas pontuais do Dia Mundial sem Carro poderiam causar efeito pois eram realizadas anualmente em setembro, mas infelizmente sumiram há alguns anos. As atividades do Dia Mundial sem Carro já foram grandes no Rio de Janeiro, novas Zonas 30 chegaram a ser lançadas anualmente nestas datas, mas a cada ano vem diminuindo seu alcance e aparentemente o interesse em se manter a campanha.

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Campanhas permanentes, por toda a cidade, todos os dias do ano, seriam um sonho. De certa forma algumas empresas vem fazendo isso, como em mais um exemplo simples e eficiente deste ônibus executivo abaixo, que roda o ano inteiro e divulga a mensagem em todo o seu trajeto.

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A sociedade civil também faz a sua parte, e às vezes é mais eficiente que o poder público. É o caso da iniciativa premiada da ONG Ciclourbano Bike Blitz e do CTB de Bolso da Transporte Ativo, que distribuiu 180 mil livretos e ainda teve mais de 130 mil downloads do pdf pelo site e mais de 10 mil do aplicativo para android.

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Seguimos em busca de um trânsito mais humano e seguro, divulgando informações para o maior número possível de pessoas. Além de sensibilizar o poder público para que invista em campanhas permanentes voltadas a todos os atores do trânsito de nossas cidades.

Enquanto isso não acontece, relembramos alguns BusDoors de Carnaval elaborados pela CET Rio. Eles não estão mais por aí, como as campanhas pontuais, mas destacamos aqui para que a mensagem siga adiante e cada vez mais pessoas usem meios de transporte com menor impacto em nossa cidade!

Um carnaval 2017 com trânsito seguro para todos! E que mais campanhas educativas, eficientes e duradouras surjam por aí!

Seis razões porque as bicicletas de carga são uma grande ideia

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Foto: Chris Bruntlett

Tradução e adaptação do artigo: 6 reasons why cargo bikes are the next big thing, de Chris Bruntlett and Melissa Bruntlett publicado originalmente em grist.org

Há cinco anos sem automóvel, os canadenses Chris e Melissa começaram a experimentar diversas maneiras de usar a bicicleta na cidade, inclusive o hábito de viajar com toda família usando a bicicleta como modo de transporte. Nesse contexto, nada tem sido tão transformador como a compra de uma bicicleta de carga. Com ela é possível não só levar as crianças, mas também as compras, os alimentos, eletrodomésticos e, até mesmo, a árvore de Natal da família.

Chris e Melissa moram em Vancouver, cidade que oferece estrutura cicloviária. Nos últimos cinco anos, a experiência de pedalar pela cidade os fez pensar sobre como o uso de bicicletas de carga poderia mudar a vida de outras pessoas, especialmente em cidades que estão investindo no desenvolvimento de infraestrutura para bicicletas. Com isso em mente, reuniram uma lista com seis motivos que apontam para uma grande revolução nos modos de transporte a partir da popularização das bicicletas de carga.

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Foto: Mikael Colville-Andersen

  1. Bicicletas de carga: Os novos caminhões de entrega
Um estudo realizado em 2013 pelo Cyclelogistics estimou que 51% de todas as viagens motorizadas para transporte de bens poderiam ser efetivamente realizadas por bicicletas de carga. Diante desse cenário, a DHL, empresa de logística que atua em diversos países, substitui 10% da frota holandesa (33 vans) por bicicletas de carga. Com essa ação, cerca de 152 toneladas de CO2 deixaram de ser lançados na atmosfera gerando uma economia de 485 mil dólares por ano. Dá pra pensar o quanto mais segura e agradável seria uma cidade se 10% dos caminhões de entrega fossem substituídos por bicicletas?

 

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Foto: Melissa Bruntlett

  1. A minivan da próxima geração
Com duas crianças, as bicicletas de carga se mostram como uma excelente opção de deslocamento na cidade, podendo, em muitos casos, dispensar o uso de um carro da família. Com uma bicicleta de carga não é preciso gastar com combustível, seguro e a baixa manutenção pode, muitas vezes, ser realizada pelo próprio dono. Na experiência de Chris e Melissa, a bicicleta de carga se mostra mais eficiente do que um reboque para levar uma criança pequena. “Basta colocar seus sapatos, sentar as crianças no bagageiro e começar a pedalar. As vezes, encontrar estacionamento seguro pode ser um desafio, mas algumas cidades estão começando a oferecer soluções criativas, e com certeza, é muito mais barato do que estacionar um carro”, explicam.

 

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Foto: Mo

  1. Eles já não custam tão caro
Encontrar uma boa bicicleta de carga não é uma tarefa fácil e o preço alto é uma barreira para muitas pessoas. Todavia, o mercado está oferecendo uma variedade cada vez maior de modelos e preços. Uma boa bicicleta de carga pode custar caro, mas nem se compara ao preço e custos de manutenção de um automóvel como oficina, estacionamento e combustível. Em alguns países como o Canadá, e cidades como Munique, é possível alugar bicicletas de carga através de um sistema de compartilhamento como o Spinlister, que tem funcionamento semelhante ao do Airbnb, que vincula pessoas com bicicletas para alugar, incluindo bicicletas de carga, com interessados em locações. Essa pode ser a solução para quem pretende usar esporadicamente uma bicicleta de carga.

 

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Foto: Butchers and Bicycles

  1. A melhor maneira de viajar
Uma bicicleta de carga pode proporcionar uma experiência incrível para conhecer lugares como Copenhague, quem nunca desejou conhecer a cidade como um morador local? Mas se estiver com duas crianças pequenas, o que fazer? Existem modelos de bicicleta de carga específicos para o transporte de crianças, elas vão bem acomodadas dentro de um grande cesto e podem desfrutar da viagem e aprender mais sobre as cidades ao redor do mundo.

 

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Foto: Elly Blue

  1. Refeições em rodas
Os truck foods, caminhões que vendem comida,  tem seus dias de fama,  são  considerados uma alternativa mais barata aos restaurantes tradicionais. Agora, a próxima tendência na venda de alimentos de rua é a bicicleta, ela consegue superá-los em todos os níveis. Diversos novos negócios sob duas rodas estão surgindo em todos os lugares – seja para vender café, cerveja, pizza, sorvetes e produtos frescos direto do produtor. Com custo inicial baixo, um pequeno empreendedor pode entrar no mercado e começar a ganhar dinheiro imediatamente. Um sonho para novos empresários.

 

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Foto: Will Vanlue

  1. A bicicleta de carga como veículo de emergência

Bicicletas de carga oferecem resposta rápida em situações de emergência, guerra ou até mesmo colapsos climáticos. Em 2012, quando o furacão Sandy devastou a costa leste dos Estados Unidos e outros países como a Jamaica, Cuba, Bahamas, Haiti, República Dominicana, fotos de pessoas usando bicicletas para fugir de áreas atingidas circularam a Internet. Em antecipação ao “Big One”, o possível terremoto que poderá destruir a Costa do Pacífico, cidades canadenses como Portland e Victoria, estão organizando ensaios com a população sobre como usar bicicletas de carga para buscar suprimentos médicos, alimentos, água e até mesmo pessoas feridas. A revolução das bicicletas de carga está chegando! Agora tudo o que precisamos são de políticas públicas para incentivar seu uso, como o desenvolvimento de infraestrutura segura para o deslocamento de quem prefere ir de bicicleta.

O Contexto brasileiro

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Foto: Fábio Nazareth

O uso de bicicletas de carga no Brasil está praticamente relacionado ao comércio, que há tempos já descobriu que, no cenário urbano, elas são muito mais eficientes e economicamente mais rentáveis do que outros modos de transporte. Nesse contexto, os triciclos de carga, muito usados por lojas que vendem colchões, gelo e material de contrução, conseguem transporter cargas com volumes maiores e mais pesadas do que a capacidade de uma motocicleta e ainda não disputam vagas de estacionamento.
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Foto: Zé Lobo

O que ainda falta por aqui é o cidadão comum, usuário de bicicletas ou não, despertar o interesse no uso de bicicletas de carga no ambiente familiar. Entretanto, já é possível perceber novos modelos de bicicletas de carga rodando pelas cidades. Algumas pessoas estão incorporando as bicicletas de carga em suas rotinas, como idas ao supermercado, à feira e no transporte de crianças no trajeto de casa para escola.
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