Em meio aos preparativos e expectativas para Copa do Mundo e Olimpíadas uma transformação em curso nas ruas do Rio tem o potencial de deixar marcas para o futuro do Rio de Janeiro. As pressões pela melhoria do transporte público e a expansão da malha metroviária estão longe de serem atendidas. E antes das mudanças grandiosas com obras vultosas, a bicicleta foi capaz de entrar na agenda de transformação urbana pela sutileza.
O Rio de Janeiro sonha em ser metrópole mundial. O metro quadrado absurdamente caro já tornou esse lado perverso das grandes cidades mundiais uma realidade. As pressões e dificuldades para que a população se adapte estão postas nas ruas, avenidas e nas expansões urbanas mais vistosas. Novamente a bicicleta surge, sutil. Toda cidade “de classe mundial”, capaz de influenciar o futuro urbano do planeta adotou a bicicleta. Nos sonhos cariocas portanto, impossível não promover as pedaladas.
No embate entre sutileza e grandes obras, há muito debate necessário a ser travado. Mas é preciso sempre lembrar que gratuita e acessível para todos, a bicicleta é aquela ferramenta sutil anti-gentrificação. Veículo que precisa da diversidade de gente, de negócios e moradias. A cidade da bicicleta, aquelas de classe mundial e tudo o mais, integra melhor seus moradores ao tecido urbano com moradias e empregos próximos e claro, uma população com uma renda suficiente para ser capaz de arcar com os custos de moradia.
A invasão das bicicletas no centro do Rio de Janeiro traz consigo uma meio de subverter uma cidade sonhada somente para quem pode pagar (caro) por ela.
Sou um entusiastas do ciclismo urbano há mais de 20 anos. Pedalo para todas as partes do Rio de Janeiro a trabalho e a lazer e a sensação de liberdade e independência que a bicicleta transmite é indescritível. Pena que, igualmente indescritível, é minha frustração com a falta de programas do governo, dos DETRAN’s e da iniciativa privada para conscientização de motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres quanto a seus comportamentos uns para com outros em todas as formas de vias públicas (ruas, estradas, passarelas, faixas de sinal, ciclofaixas, ciclovias, etc.), com a falta de conservação e sinalização de ciclovias e ciclofaixas e com a falta de segurança e de um cadastro nacional que permita a criação de um banco de dados de bicicletas atreladas ao CPF dos usuários, acabando (ou reduzindo drasticamente) o número de furtos e roubos na cidade.
Apesar de meu amor à bicicleta, infelizmente não posso sugerir a amigos e parentes que adotem meu estilo de vida, porque pedalo até hoje ciente de todos os riscos que corro, inclusive já tendo me envolvido em 3 acidentes leves causados inteiramente por pedestres ou motoristas desatentos.
Continuarei lutando por melhorias, pressionando as autoridades e esperançoso de que parte da população carioca catequizada pela filosofia americanizada de que possuir um carro é ter status social se dê conta da insensatez que é insistir no carro para rodar em distâncias médias e curtas, quando podemos lutar por transporte público de qualidade e integrado a meios de transporte com tração humana (bicicletas, patins, skates, etc.), agregando qualidade de vida, melhoria na qualidade do ar e redução do uso de recursos não renováveis (como os combustíveis fósseis).
Pedalemos!