Um encontro em prol da bicicleta no Brasil

Foto: Luciano Aranha - Ciclourbano

Foto: Luciano Aranha – Ciclourbano

O workshop “A promoção ao uso da bicicleta no Brasil” começou com doze horas de contagem de ciclistas. Foi trabalho, mas também socialização e aprendizado dentre as 15 organizações participantes.

Durante a contagem, foi possível que os participantes pudessem se conhecer e conhecer também um pouco de como a Transporte Ativo trabalha, com simplicidade e eficiência.

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O primeiro dia de palestras começou com a participação do poder público municipal. Conversamos com o secretário Municipal de Transportes Carlos Osório e o subsecretário do Meio Ambiente Altamirando Moraes. Ambos falaram sobre a importância que a bicicleta ganhou nos últimos anos para a cidade e também sobre o papel fundamental que a sociedade civil tem como impulsionadora da mobilidade em bicicleta.

Ainda na manhã do primeiro dia aprendemos sobre a vibração que produz mudanças com o Luiz Felipe Carvalho da PUC-Rio, soubemos como funcionam as parcerias entre organizações do terceiro setor com Clarisse Linke do ITDP-Brasil e por fim Carolina Rivas nos falou sobre como o banco Itaú-Unibanco, patrocionador do evento, forma parcerias com atores relevantes do terceiro setor.

A tarde do primeiro dia foi reservada para a apresentação de quem faz a Transporte Ativo bem como de algumas das metodologias de trabalho.

O segundo dia premiou a todos com as apresentações dos quatro grupos selecionados para participar do workshop com todas as despesas pagas. Eles trouxeram um pouco da sua realidade local e o papel que buscam desempenhar em suas cidades para aumentar o número de ciclistas nas ruas.

Ao final do dia, alguns dos ciclistas fizeram um tour da infraestrutura cicloviária da Tijuca, na Zona Norte do Rio, numa pedalada de aproximadamente 30 quilômetros por ruas, ciclovias e ciclofaixas cariocas.

O evento agora segue, e cabe a cada um dos participantes disseminar aquilo que aprendeu para os ciclistas em suas cidades. Reforçar os caminhos corretos percorridos até aqui e a força que temos juntos para mudar a realidade atual.

A sociedade civil tem uma força fundamental e com foco, parcerias e organização, é capaz de impulsionar as mudanças que tantos querem, e precisam, na realidade das nossas cidades, sem esperar passivamente os esforços governamentais, mas pressionar para que a administração pública abrace cada vez mais a bicicleta.

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Leia como foi a contagem na Figueiredo de Magalhães. Leia a cobertura no portal Mobilize, o relato da Ciclo Urbano e o relato do Kiko Zaninetti – Btt Geraes.

Como duplicar o número de mulheres pedalando

Contagem coletiva na Figueiredo Magalhães

Contagem coletiva na Figueiredo Magalhães

Como parte das atividades do Workshop: “A Promoção da Mobilidade por Bicicleta no Brasil”, foi realizada uma contagem de ciclistas em um dos mais movimentados cruzamentos da cidade.

Na esquina da avenida Nossa Senhora de Copacabana com a rua Figueiredo de Magalhães a contagem em 2009, antes de qualquer infraestrutura cicloviária, contabilizou 1420 ciclistas. Sendo 91, ou apenas 6%, mulheres.

Esses números representaram que o fluxo de bicicletas na manhã era de 5% do trânsito motorizado e de 12% no pico da tarde.

Já em 2013 foram contabilizados 1528 ciclistas, um aumento de 7,5%. Dentre esse total, 210 foram mulheres, ou 14% do total para um aumento de 134% em relação à 2009.

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O grande aumento no número de mulheres é certamente algo a ser comemorado e tem relação direta com a infraestrutura cicloviária. Afinal as mulheres tem uma lógica de “desejos de viagem” que é mais conservadora no que se refere à segurança e mais dinâmica em em relação ao número de viagens.

O workshop segue amanhã com a missão de aumentar o conhecimento dos participantes sobre a promoção ao uso da bicicleta e discutir o que foi aprendido na prática durante as 12 horas de contagem em Copacabana.

Confira o relatório completo da segunda contagem de ciclistas da Figueiredo de Magalhães.

Construção da segurança

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O enfrentamento mais decisivo em curso para quem usa e promove a bicicleta está além das ruas. Está no discurso que se propaga sem saber, está no preconceito que se manifesta velado ou explícito. Nas palavras que se repetem, que constroem e reforçam barreiras que impedem a humanização dos espaços públicos de circulação e das próprias cidades.

Durante o século das duas guerras mundiais, as carruagens motorizadas saíram em massa das linhas de montagem para ganhar as ruas. Os mortos e feridos contaram-se aos milhares em um embate que tirou à força as crianças e adultos das ruas para que os automóveis pudessem circular na maior velocidade possível.

E não foi em silêncio que as famílias velaram seus mortos. Houve um processo de demonização do automóvel, imediamente percebido como um ator destrutivo nas ruas das cidades. Para que as linhas de montagem continuassem a produção foi preciso promover um novo conceito, o de que os veículos motorizados, o novo ator no trânsito urbano, eram seguros e adequados para as ruas.

O esforço da industria automobilística para viabilizar o uso intensivo de seus produtos nas cidades foi imenso e frutífero. Em poucas décadas, o século XX tornou-se o século do automóvel e as ruas perderam muito do seu caráter histórico de espaço público, uma construção social de 5 mil anos.

Mortos e feridos nas ruas contam-se às dezenas de milhares. No Brasil o número gira ao redor dos 50.000 mortos por ano. Sendo as pessoas fora dos automóveis, em especial os pedestres, as maiores vítimas.

Ator consolidado nas ruas do século XXI, o automóvel deixou de ser diretamente responsabilizado pelas perdas de vidas humanas que gera. Encarado como fato consumado nas cidades o trânsito motorizado é conversa de elevador e suas vítimas geralmente veladas em silêncio.

A segurança das ruas é acima de tudo uma construção social. Hoje essa construção permite que pedestres e ciclistas sejam tratados como vítimas a serem responsabilizadas. A reversão do discurso que aceita os mortos e feridos no trânsito como casualidades é uma necessidade do século XXI. Enquanto o embate do século XX foi entre a demonização do automóvel e a industria automobilística, o embate atual é da qualidade de vida contra a degradação do espaço público das cidades.

A vilanização dos motores acabou derrotada e hoje as cidades são bem diferentes de como eram em 1900. As cidades de 2100 certamente serão outras e para que façam sentido e possam abrigar grandes populações humanas que gerem prosperidade, é preciso promover o uso racional e seguro do automóvel em ruas que possam garantir mais fluidez para as pessoas que utilizam transportes ativos e os transportes motorizados coletivos.

Mapa para ciclistas no iPhone

O Mapa Cicloviário Unificado do Rio de Janeiro é uma iniciativa colaborativa que nasceu para ajudar os ciclistas cariocas.

Dentro do espírito colaborativo, o amigo Hendi Coelho utilizou o banco de dados do mapa e construiu um aplicativo completo que traz todos os pontos do mapa. Com o celular na mão é possível achar a estação de bicicleta pública mais próxima, a oficina mecânica e até um local para calibrar os pneus.

As ciclovias e toda a infraestrutura cicloviária da cidade ainda está sendo aplicada no mapa e no futuro será possível ter também as rotas de circulação.

Faça o download gratuito do aplicativo cicloviaRio e explore a cidade. O aplicativo permite o envio de dúvidas e correções diretamente para os colaboradores responsáveis pelo mapa cicloviário.

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Veja mais aplicativos para os ciclistas que utilizam celulares Android.

Como criar um mapa cicloviário

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Cidades cicláveis são construções coletivas e o Mapa Cicloviário Unificado do Rio de Janeiro foi nossa pequena contribuição para ajudar os ciclistas cariocas.

Agora, por iniciativa do Arlindo Pereira, temos uma receita completa de como levar a iniciativa para qualquer cidade.

Nas palavras do Arlindo:

A história do projeto data de 2011, quando eu e outros ciclistas do Rio tínhamos diferentes iniciativas de mapear os bicicletários e lojas de bicicleta da cidade. Em 2012 a Transporte Ativo tomou frente e unificou os mapas (daí o nome, Mapa Cicloviário Unificado) numa só interface, e no final do ano o projeto tomou corpo com a minha contratação.

Graças a contribuição dos ciclistas o mapa carioca está cada vez mais completo, mas a iniciativa pode e deve ser copiada Brasil afora em prol de mais construções coletivas de conhecimento.