Superpoderes Ciclísticos: Pontualidade

Os motivos para adotar a bicicleta como meio de transporte são os mais variados, no entanto um deles merece enorme destaque, a pontualidade. Mas esse conceito pode parecer um pouco misterioso para quem ainda não pedala.

A lógica no entanto é muito simples: um ciclista na cidade viaja a uma velocidade média de aproximadamente 15 km/h. Mais do que um dado científico, trata-se acima de tudo de uma comprovação empírica vivida por qualquer ciclista urbano no seu dia a dia.

A experiência cotidiana ensina de maneira definitiva que se um lugar está a 5 quilômetros de distância o ciclista vai precisar de 20 minutos para completar o trajeto sem pressa. Um semáforo fechado a mais ou a menos, a chuva ou o calor, tudo isso interfere pouco. As variações vão sempre cair dentro de uma margem de erro razoável.

O domínio quase que absoluto sobre as variáveis distância e tempo acabam por tornar o ciclista um ser humano capaz de ser mais pontual que a média dos habitantes da cidade. Com as facilidades trazidas pelos mapas disponíveis na internet um ciclista precisa apenas definir uma rota para saber a distância e depois fazer um cálculo matemático simples para aferir o tempo necessário para o deslocamento pretendido.

Com ou sem congestionamentos motorizados, durante as horas de pico, ou no meio da madrugada quem pedala vai sempre saber quanto tempo demora para ir do ponto A ao ponto B dentro da sua cidade. Com os problemas enfrentados rotineiramente por quem depende dos motores para se locomover na cidade, o ciclista urbano torna-se um pouco uma figura mítica. É capaz de prever quanto tempo irá demorar para se deslocar até mesmo na ultracongestionada São Paulo.

Estacionamentos e Qualidade de Vida

O estacionamento da ASCOBIKE começou como solução de um problema simples na cidade de Mauá na Região Metropolitana de São Paulo. As bicicletas ao redor da estação da CPTM eram um problema. Hoje mais do que uma solução para um problema, o estacionamento é um instrumento de promoção ao uso da bicicleta e de dignidade para os ciclistas da região. Além da possibilidade de estacionar bicicletas a preços módicos, o projeto se tornou uma excelente maneira de incentivar que mais pessoas utilizem a bicicleta mais vezes e acima de tudo tenham benefícios e incentivos por faze-lo.

No Brasil a bicicleta é um veículo promotor da igualdade social. Cidadãos com menor poder aquisitivo podem economizar dinheiro e beneficiar a própria saúde simplesmente optando por pedalar. Valorizar ciclistas que muitas vezes não sabem do benefício que trazem a sociedade é sem sombra de dúvidas uma atividade digna de destaque e o vídeo feito pela Streetfilms.org de Nova Iorque comprova a importância e a excelência do que foi feito e tem sido feito em Mauá.

Ser Ciclista é Ser Andorinha

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Ser ciclista em São Paulo é ser um pouco do contra, é viver a vida como em um poema de Mário Quintana. É ser andorinha antes da chegada do verão. Não se está sozinho, mas o momento histórico ainda não chegou ao ápice das andorinhas voando em grandes massas.

O fato de estarmos no hemisfério sul talvez seja uma explicação razoável. Na Europa cada dia mais vive-se uma “primavera ciclística” com as ruas das cidades cada vez mais sendo pensadas para bicicletas e pedestres. Lá em breve chegará o verão e as andorinhas juntas em forma de bicicleta dominaram a paisagem. Nós cá mais ao sul estamos talvez no outono e a moda da bicicleta ainda está para chegar as massas e ganhar totalmente as ruas.

Felizmente o momento cada dia mais é favorável para se pedalar nas cidades. Trata-se de uma tendência irreversível que ganha volume a cada dia. Ainda que muitas vezes a realidade das ruas possa ser dura e um ciclista urbano tenha de se deparar com situações desagradáveis, os motivos individuais e coletivos para a bicicleta seja mais utilizada estão dados. Os benefícios das pedaladas cotidianas são de fundamental importância para uma mudança de rumo necessária para as pessoas e a sociedade como um todo.

Fica a homenagem ao colega ciclista Vitor do nossoquintal.org que passou um aperto hoje.

POEMINHA DO CONTRA
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
Mário Quintana

O Papel dos Ônibus

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Apesar da eficiência em transportar grandes volumes de passageiros, os trens costumam ser responsáveis por menos viagens do que os ônibus. Seja em Londres ou em São Paulo. A dinâmica da cidade e o planejamento urbano das últimas décadas acabaram por favorecer o transporte sobre pneus.

No entanto o mesmo asfalto por onde passam os ônibus, fica congestionado com um volume crescente de veículos motorizados particulares. A perda para a cidade é evidente, já que um transporte público lento e superlotado acaba levando mais pessoas a optar pelo transporte individual motorizado. Um círculo vicioso que pode e deve ser quebrado.

Uma solução encampada por Curitiba nos anos 1970 e que ganhou o mundo já está no papel na cidade de São Paulo. Tendo sido posto em prática em algumas partes da capital. São os chamados corredores exclusivos de ônibus, ou Bus Rapid Transit (BRT) como ficaram famosos ao redor do mundo os ônibus em canaletas exclusivas de Curitiba.

Priorizar o transporte público para grandes distâncias e integra-lo as bicicletas é sem sombra de dúvidas o melhor caminho para a construção da sustentabilidade urbana. Planejamento Cicloviário é a solução para inserir a bicicleta nas cidades e os corredores de ônibus são a melhor maneira de racionalizar o transporte motorizado sobre pneus. Tudo sempre na lógica de custos menores e resultados maiores, onde a meta maior é a qualidade de vida da população.

Saiba Mais:
O corredor de Ônibus na Berrini (ecologiaurbana)
Ônibus mais rápido que automóvel (Jornal Destak)

Encruzilhada Urbana

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Foto André Pasqualini.

Um acostamento a beira da Marginal Pinheiros acabou gerando grande repercussão e um debate dentro da esfera municipal e entre os cicloativistas. A discussão foi além da transformação de uma faixa de acostamento da via expressa em faixa de rolamento.

Vias expressas são locais inadequados para o compartilhamento entre ciclistas e o restante do tráfego, mas para os “apocalípticos” o acostamento acabava sendo o único caminho. E como tem sido notório, o número de ciclistas que pedalam “apesar de qualquer condição desfavorável” tem aumentado constamente em São Paulo.

A evidência da presença crescente das bicicletas nas ruas e a notória imobilidade urbana que acomete São Paulo aos poucos colocam a cidade diante de uma escolha que remete a mesma encruzilhada macroeconomica mundial. Qual o tipo de desenvolvimento que podemos e queremos ter?

Economicamente o automóvel a a indústria automobilística tiveram um importante papel para a geração de riqueza para o Brasil e principalmente para a região metropolitana de São Paulo. Hoje o mesmo dinheiro que fez e faz girar a economia na cidade é responsável pelos congestionamentos que imobilizam a população, independente do meio de transporte escolhido.

Bogotá nos provou que mais do que dinheiro, o desenvolvimento urbano precisa de vontade política para traçar seus rumos. São Paulo e seus administradores precisam decidir se seguem rumo a promoção da qualidade de vida e da mobilidade sustentável ou se irá continuar a ser privilegiada a “Velha Mobilidade” e os efeitos negativos que conhecemos.

Saiba Mais:
Carta Aberta aos Secretários de Transporte e Meio Ambiente da cidade de São Paulo.