Visibilidade

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Números podem esconder dimensões humanas. Quantidade não pode medir felicidade ou satisfação. Centenas de milhares de paulistanos vão e vem para o trabalho todos os dias pedalando. Economia, talvez. Pelo meio ambiente, quem sabe. Pelo prazer, certamente. No entanto muito há para ser feito para induzir mais viagens em bicicleta por mais pessoas, mais vezes.

São Paulo ganhou pintura nova em grandes avenidas de uma área nobre da cidade. Uma grande bicicleta estampada no asfalto e a indicação de dia e horário. Domingo das 7h às 12h. Pouco ainda, um projeto piloto apenas. Mas uma iniciativa que já reverbera na grande mídia e que ajuda a cumprir uma missão hérculea para todos os que promovem a qualidade vida: dar visibilidade aos ciclistas.

Visibilidades se somam. O poder público age em seu próprio ritmo e a sociedade civil pressiona, demanda e até mesmo viabiliza iniciativas que aos poucos reverberam e promovem a qualidade de vida para todos. Sem líderes e sempre em consenso, a Bicicletada Paulistana em sua edição de agosto tomou o rumo do parque das Bicicletas para preencher os espaços vazios no asfalto sinalizado com bicicletas de verdade.

Números apontam 4 milhões de bicicletas esquecidas em garagens na cidade de São Paulo. São também mais de 300 mil viagens por dia em bicicleta e 700 mil aos fins de semana. Mas quando os números ganham as ruas em uma massa coesa, a alegria toma conta.

Seja a Mudança

Um texto curto escrito pelo colega Palmas na lista de discussão da bicicletada paulista:

Sou uma pessoa que tenho sobrando uma vontade tremenda de mudar o mundo para melhor e por livre e espontânea vontade, faço a doação, gratuitamente, de um pouco dessa boa vontade, transferindo desde já a você toda posse, ação e domínio para que seja a diferença que você quer ver no mundo, em vez de esperar que algum poder externo faça o trabalho por nós.

Fica o convite, sejamos um pouco como Ghandi que moldou seu mundo. Fica um outro exemplo em vídeo do Doutores da Alegria.

Encruzilhada Urbana

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Foto André Pasqualini.

Um acostamento a beira da Marginal Pinheiros acabou gerando grande repercussão e um debate dentro da esfera municipal e entre os cicloativistas. A discussão foi além da transformação de uma faixa de acostamento da via expressa em faixa de rolamento.

Vias expressas são locais inadequados para o compartilhamento entre ciclistas e o restante do tráfego, mas para os “apocalípticos” o acostamento acabava sendo o único caminho. E como tem sido notório, o número de ciclistas que pedalam “apesar de qualquer condição desfavorável” tem aumentado constamente em São Paulo.

A evidência da presença crescente das bicicletas nas ruas e a notória imobilidade urbana que acomete São Paulo aos poucos colocam a cidade diante de uma escolha que remete a mesma encruzilhada macroeconomica mundial. Qual o tipo de desenvolvimento que podemos e queremos ter?

Economicamente o automóvel a a indústria automobilística tiveram um importante papel para a geração de riqueza para o Brasil e principalmente para a região metropolitana de São Paulo. Hoje o mesmo dinheiro que fez e faz girar a economia na cidade é responsável pelos congestionamentos que imobilizam a população, independente do meio de transporte escolhido.

Bogotá nos provou que mais do que dinheiro, o desenvolvimento urbano precisa de vontade política para traçar seus rumos. São Paulo e seus administradores precisam decidir se seguem rumo a promoção da qualidade de vida e da mobilidade sustentável ou se irá continuar a ser privilegiada a “Velha Mobilidade” e os efeitos negativos que conhecemos.

Saiba Mais:
Carta Aberta aos Secretários de Transporte e Meio Ambiente da cidade de São Paulo.

A Importância dos Apocalípticos

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Os dados completos da pesquisa de Origem e Destino em São Paulo (Especial no Estadão) foram divulgados na semana passada. Através dele, ficou comprovado o enorme crescimento da bicicleta como meio de transporte principal de milhares de paulistanos irem e voltarem do trabalho.

Os motivos para o uso da bicicleta são os mais diversos, mas cada ciclista que ganha as ruas evidencia o quanto a cidade precisa pensar e planejar uma nova mobilidade.

O trânsito e o simples “ir e vir” na maior cidade brasileira se tornaram dramas cotidianos que atingem a todas as camadas da população. E nas palavras de Enrique Peñalosa, a mobilidade é um problema que não se resolve com mais dinheiro. Quanto mais rica é uma sociedade melhor tende a ser seu sistema de saúde, mas o mesmo não se aplica a mobilidade de sua população. Investimentos milionários em infraestrutura viária acabam não sendo a melhor solução.

A melhoria da qualidade de vida e da mobilidade dos cidadãos é do interesse de todos mas em São Paulo tem ganho força cada dia mais a união de ciclistas que utilizam as magrelas para ir e vir por toda a cidade. Apesar das deficiências estruturais, das dificuldades enfrentadas pedalar tem feito parte de cada dia mais paulistanos. Eles e elas são os “apocalípticos”, aqueles que já contabilizaram os ganhos que a bicicleta traz para suas vidas e ganharam as ruas em cima do selim.

Todo grupo minoritário deseja ser ouvido e respeitado. Por hora os ciclistas paulistanos ainda são poucos, mas uma ruidosa minoria que ao pedalar no dia a dia reforça que a cidade é possível. Eles e elas mostram que agir em prol da bicicleta é agir olhando para um grupo que hoje é pequeno, mas cujo crescimento leva a um horizonte de melhoria na qualidade das cidades.

Um grande cidade com mais ciclistas é automaticamente uma cidade melhor para todos. Pedalar é arejar o ambiente urbano. É pensar a cidade pela sua maior riqueza, o contato com outros seres humanos. É valorizar o contato das pessoas com os espaços construídos sejam parques, praças, belos prédios ou o horizonte.

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– Mais no Blog:
Apocalípticos e Integrados
Formas de Ação

Ativismo Ciclonudista

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Pedalar pelado pode parecer uma má idéia. Expor-se aos elementos, a mídia, a repressão policial. No entanto pelo segundo ano consecutivo isso foi feito pelos cicloativistas em São Paulo. Os números são imprecisos, mas eram algumas centenas na II Pedalada Pelada. Versão Brasileira do World Naked Bike Ride. E para não deixar ninguém pelado, a polícia destacou meia centena de policiais militares.

O ativismo que se faz nas ruas através da Massa Crítica é em anárquico por exelencia e buscando libertar-se ao menos da repressão policial, os ciclistas reunidos, e vestidos, na paulista dispersaram ao final da avenida. Manobra evasiva que obteve sucesso e possibilitou que os mais aventurados mostram-se suas vergonhas no ponto de encontro combinado. O famoso movimento dos Bandeirantes, ou simplesmente “Empurra-Empurra”, as portas do parque do Ibirapuera.

Do Ibirapuera a massa de pelados e semi-nus seguiu por ruas e avenidas. Com sua presença mostraram duas coisas: em São Paulo existem muitos ciclistas e destes, uns tantos dispõem-se até a tirar a roupa em público para chamar a atenção para a bicicleta e a importância do veículo que utilizam.

O Movimento Cicloatista paulistano aprende com seus erros e acertos e cada vez mais consegue infiltrar seu discurso na mídia. Grande ou pequena. Ao mesmo tempo é capaz de pacificamente evidenciar tensões junto as autoridades. Levando ao limite o conceito de que bicicletas são parte do trânsito e portanto não devem ser tratadas com ostensiva repressão policial quando estão em uma grande concentração.


Mais:
Pedalando pelado (exceto na Avenida Paulista) – Mario Amaya
Pedalada Pelada São Paulo – NakedWiki