Tranque sua Bicicleta

Uma bicicleta bem trancada é garantia de uma visita tranqüila. No entanto, não basta investir numa boa tranca. É preciso antes de mais nada escolher bem onde e como trancar o veículo.

Sempre tenha a certeza de que o quadro está preso a um objeto firme e que não haja como tirar a bicicleta sem abrir a tranca. Isso pode parecer um conselho bobo, mas um poste baixo ou uma grade solta podem ser perfeitos para um gatuno levar a bicicleta sem esforço. Além disso, jamais prenda a magrela em uma árvore. Em nome da saúde de ambas e em caso de um tronco fino, ainda há a possibilidade de um prejuízo ecológico e financeiro.

Com os chamados “quick-releases” (as peças que prendem rodas e canotes de selim) trocar pneus ficou bem mais fácil. Mas isso também facilitou a vida de oportunistas que levam poucos segundos para roubarem uma roda ou um selim e seu canote. Portanto sempre prenda também esses dois componentes fundamentais com um cabo de aço.

bici bem trancadaLevar consigo partes da bicicleta é sempre uma solução. Foto Zé Lobo

Segundo a American Association of Pedestrians & Bicycle Professionals o valor da tranca deve ser igual a no mínimo 20% do valor da bicicleta. Vale como um seguro que você só paga uma vez e usa todas as vezes que prende a bicicleta. O ideal para ter a garantia de a bici irá estar no mesmo lugar na volta, é usar duas trancas de tipos diferentes. Assim serão duas técnicas a serem usadas pelo eventual gatuno que certamente irá atrás de uma oportunidade mais fácil. Os dois tipos são: um cabo e uma tranca em forma de “U”.

Não custa lembrar que nem mesmo as melhores trancas, podem impedir de levarem sua bici (ou parte dela) se elas não forem bem usadas.

Um exemplo audiovisual avalia quão bem trancadas estão as bicicletas nas ruas de Nova Iorque. Vale como uma preciosa dica, mesmo para quem não fala inglês. Produzido pela “bikeTV

Bicicleta e Ecologia

O Aquecimento Global e novas formas de energia têm sido temas recorrentes na agenda mundial. No entanto o problema ambiental que tanto se noticia precisa ser encarado de uma maneira menos pontual. Não haverá solução mágica sem que se pense no conjunto de situações que nos trouxeram ao atual estágio. O que não significa que devamos retroceder à idade da pedra.

Usar a bicicleta e estimular outros a faze-lo no atual contexto não é simplesmente ser “ecologicamente correto”, trata-se de uma inserção numa nova necessidade da espécie humana. Cada vez mais nos tornamos dependentes de recursos naturais distantes para nossa própria sobrevivência, quanto melhor soubermos usar o que já temos à disposição, mais equilibrada será a sobrevivência do “bicho homem”.

Não temos outra opção que não seguir à frente. Tanto a bicicleta, quanto a vida não tem marcha a ré. Além disso, o que nos mantém vivos é a mesma força que mantém de pé a bicicleta, o constante movimento.

Integração Interestadual

A missão: levar a bicicleta BTT que estava quebrando um galho no Rio de volta para São Paulo.

O que a princípio poderia ser uma tarefa bem simples, trouxe uma sombra de dúvida: como chegar até a rodoviária Novo Rio pedalando, uma vez que não cabe em táxi (caber, até cabe, mas dá um trabalhão) e o metrô do Rio, infelizmente, só aceita bicicletas aos domingos e feriados? E chegando lá, me deixariam embarcar com a bicicleta no ônibus para Sampa?

Após algumas dicas pelo telefone, dei uma olhada no Bikely para ter uma noção de onde passava o caminho. Pus a mochila nas costas e segui pela ciclovia da Lagoa, curtindo a paisagem. Porém, do Humaitá pra frente, era terreno ciclístico desconhecido. Ainda sem costume com o comportamento do trânsito carioca, fui com cautela. Redescobrindo parte da paisagem da cidade em cima de meu selim, passei ainda por Botafogo, Laranjeiras, Catete, Glória, Lapa, Centro até chegar na enorme Avenida Presidente Vargas, único trecho de pedal não tão prazeroso, dado o grande movimento.

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Percurso Leblon – Rodoviária Novo Rio no Bikely.com

Cheguei numa boa na rodoviária depois de 50 minutos de pedal. Empurrei a bici pelo saguão em direção ao guichês destino São Paulo e o vendedor de passagens gritava e gesticulava do guichê: “Primeiro ônibus pra São Paulo, saindo agora. Preço promocional!”. Encostei com a bicicleta e perguntei se havia algum problema para embarcar. Disse que não. Para meu espanto, embarquei a bicicleta tranquilamente, apesar dos relatos de muitos cicloturistas que tiveram problemas no embarque das magrelas em ônibus.

Por esse motivo, o Clube de Cicloturismo do Brasil está coletando assinaturas para a definitiva regulamentação do transporte das magrelas em ônibus intermunicipais. Coloquei minha companheira de pé dentro do bagageiro, presa por um extensor de borracha.

Seis horas, um filme e alguns cochilos depois, desembarquei com a bici na rodoviária do Tietê às 22 horas. Novamente a única opção para chegar em casa na Avenida Paulista era pedalar. Nunca tinha pedalado por aquela região, mas decidi cruzar a Marginal Tietê e farejar o melhor caminho. Para meu espanto, foi praticamente uma linha reta só, cruzando a Móoca e o Centro para chegar na Paulista apenas 20 minutos depois.

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Percurso Rodoviária Tietê – Av. Paulista no Bikely.com

Cheguei em casa com a grata sensação de satisfação pela missão cumprida com louvor e o prazer de pedalar.

Pedestre é poesia

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Foto Mário Moreno

Ruas

Por que ruas tão largas?
Por que ruas tão retas?
Meu passo torto
foi regulado pelos becos tortos
de onde venho.
Não sei andar na vastidão simétrica
implacável
Cidade grande é isso?
Cidades são passagens sinuosas
de esconde-esconde
em que as casas aparecem-desaparecem
quando bem entendem

e todo mundo acha normal.
Aqui tudo é exposto
evidente
cintilante. Aqui
obrigam-me a nascer de novo, desarmado.

> Carlos Drummond de Andrade.

Catorze de março no Brasil é o dia Nacional da Poesia. Poeta também é o pedestre, que flana pelas ruas e calçadas em diversos ritmos. Fazendo de labirintos urbanos, caminhos.

Amore Pedestre
Um filme de 1914, de Marcel Fabre. Toda a história contada sem diálogos e somente com os pés e pernas.

Num contexto mais alargado, a poesia aparece também identificada com a própria arte, o que tem razão de ser já que qualquer arte é, também, uma forma de linguagem.

Poesia na Wikipedia