Uma Ponte, Uma Cidade

Em uma única ponte cicloamigável em Portland, aproximandamente 7 mil ciclistas por dia, ou 20% de todo o tráfego na ponte em apenas 10% do espaço. Trata-se do reflexo de que algo muito certo está sendo feito naquela cidade e que cada dia mais as bicicletas se tornam parte da paisagem e principalmente, do planejamento urbano.

Definitivamente um exemplo a ser seguido e mais uma prova de que uma cidade que pensa e promove o uso das bicicletas garante mais qualidade de vida para toda a população.

Um pouco mais de informação sobre segurança viária para ciclistas: “Improving Bicycle Safety in Portland“. Um documento de 2007 produzido pela autoridade de trânsito local.

O Papel dos Ônibus

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Apesar da eficiência em transportar grandes volumes de passageiros, os trens costumam ser responsáveis por menos viagens do que os ônibus. Seja em Londres ou em São Paulo. A dinâmica da cidade e o planejamento urbano das últimas décadas acabaram por favorecer o transporte sobre pneus.

No entanto o mesmo asfalto por onde passam os ônibus, fica congestionado com um volume crescente de veículos motorizados particulares. A perda para a cidade é evidente, já que um transporte público lento e superlotado acaba levando mais pessoas a optar pelo transporte individual motorizado. Um círculo vicioso que pode e deve ser quebrado.

Uma solução encampada por Curitiba nos anos 1970 e que ganhou o mundo já está no papel na cidade de São Paulo. Tendo sido posto em prática em algumas partes da capital. São os chamados corredores exclusivos de ônibus, ou Bus Rapid Transit (BRT) como ficaram famosos ao redor do mundo os ônibus em canaletas exclusivas de Curitiba.

Priorizar o transporte público para grandes distâncias e integra-lo as bicicletas é sem sombra de dúvidas o melhor caminho para a construção da sustentabilidade urbana. Planejamento Cicloviário é a solução para inserir a bicicleta nas cidades e os corredores de ônibus são a melhor maneira de racionalizar o transporte motorizado sobre pneus. Tudo sempre na lógica de custos menores e resultados maiores, onde a meta maior é a qualidade de vida da população.

Saiba Mais:
O corredor de Ônibus na Berrini (ecologiaurbana)
Ônibus mais rápido que automóvel (Jornal Destak)

Encruzilhada Urbana

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Foto André Pasqualini.

Um acostamento a beira da Marginal Pinheiros acabou gerando grande repercussão e um debate dentro da esfera municipal e entre os cicloativistas. A discussão foi além da transformação de uma faixa de acostamento da via expressa em faixa de rolamento.

Vias expressas são locais inadequados para o compartilhamento entre ciclistas e o restante do tráfego, mas para os “apocalípticos” o acostamento acabava sendo o único caminho. E como tem sido notório, o número de ciclistas que pedalam “apesar de qualquer condição desfavorável” tem aumentado constamente em São Paulo.

A evidência da presença crescente das bicicletas nas ruas e a notória imobilidade urbana que acomete São Paulo aos poucos colocam a cidade diante de uma escolha que remete a mesma encruzilhada macroeconomica mundial. Qual o tipo de desenvolvimento que podemos e queremos ter?

Economicamente o automóvel a a indústria automobilística tiveram um importante papel para a geração de riqueza para o Brasil e principalmente para a região metropolitana de São Paulo. Hoje o mesmo dinheiro que fez e faz girar a economia na cidade é responsável pelos congestionamentos que imobilizam a população, independente do meio de transporte escolhido.

Bogotá nos provou que mais do que dinheiro, o desenvolvimento urbano precisa de vontade política para traçar seus rumos. São Paulo e seus administradores precisam decidir se seguem rumo a promoção da qualidade de vida e da mobilidade sustentável ou se irá continuar a ser privilegiada a “Velha Mobilidade” e os efeitos negativos que conhecemos.

Saiba Mais:
Carta Aberta aos Secretários de Transporte e Meio Ambiente da cidade de São Paulo.

A Importância dos Apocalípticos

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Os dados completos da pesquisa de Origem e Destino em São Paulo (Especial no Estadão) foram divulgados na semana passada. Através dele, ficou comprovado o enorme crescimento da bicicleta como meio de transporte principal de milhares de paulistanos irem e voltarem do trabalho.

Os motivos para o uso da bicicleta são os mais diversos, mas cada ciclista que ganha as ruas evidencia o quanto a cidade precisa pensar e planejar uma nova mobilidade.

O trânsito e o simples “ir e vir” na maior cidade brasileira se tornaram dramas cotidianos que atingem a todas as camadas da população. E nas palavras de Enrique Peñalosa, a mobilidade é um problema que não se resolve com mais dinheiro. Quanto mais rica é uma sociedade melhor tende a ser seu sistema de saúde, mas o mesmo não se aplica a mobilidade de sua população. Investimentos milionários em infraestrutura viária acabam não sendo a melhor solução.

A melhoria da qualidade de vida e da mobilidade dos cidadãos é do interesse de todos mas em São Paulo tem ganho força cada dia mais a união de ciclistas que utilizam as magrelas para ir e vir por toda a cidade. Apesar das deficiências estruturais, das dificuldades enfrentadas pedalar tem feito parte de cada dia mais paulistanos. Eles e elas são os “apocalípticos”, aqueles que já contabilizaram os ganhos que a bicicleta traz para suas vidas e ganharam as ruas em cima do selim.

Todo grupo minoritário deseja ser ouvido e respeitado. Por hora os ciclistas paulistanos ainda são poucos, mas uma ruidosa minoria que ao pedalar no dia a dia reforça que a cidade é possível. Eles e elas mostram que agir em prol da bicicleta é agir olhando para um grupo que hoje é pequeno, mas cujo crescimento leva a um horizonte de melhoria na qualidade das cidades.

Um grande cidade com mais ciclistas é automaticamente uma cidade melhor para todos. Pedalar é arejar o ambiente urbano. É pensar a cidade pela sua maior riqueza, o contato com outros seres humanos. É valorizar o contato das pessoas com os espaços construídos sejam parques, praças, belos prédios ou o horizonte.

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– Mais no Blog:
Apocalípticos e Integrados
Formas de Ação

Buenos Aires, Europa Sulamericana

Buenos Aires apresenta características marcadamente européias. Uma mistura de Barcelona, Madri e Paris. Os prédios, as amplas avenidas, os parques. Até mesmo os portenhos são fisicamente mais europeus do que a população brasileira.

O perfil histórico é complexo mas estão lá os traços europeus no urbanismo, na fisionomia das pessoas e em suas roupas. Mas nada disso é “puro” ou simples mimetismo. Só a presença de imigrantes italianos e espanhóis em um mesmo território já traria características únicas. Mas a mistura com os nativos e entre os imigrantes aconteceu. Ainda que tenha sido bastante diferente da que ocorreu no Brasil.

Talvez o caracter tão europeu da população seja o motivo da melancolia Argentina, dos tangos, da rebuscada arquitetura. A necessidade de aproveitar o sol nos parques no outono também é comum na Europa. E aí está a interseção entre o urbanismo portenho e o caráter majoritariamente europeu dos seus habitantes.

Buenos Aires é uma cidade que tem espaços públicos de grande valor. Um cidade que se desenvolveu ao longo dos anos e hoje é o centro da segunda maior região metropolitana da América do Sul. Mas ao mesmo tempo soube preservar espaços de qualidade para as pessoas.

Não são só os parques que impressionam, mas as amplas avenidas e o traçado das tranquilas e arborizadas ruas secundárias. A cidade durante anos foi capaz de preservar um caráter fundamental de uma grande metrópole, ser um local agradável de estar e de circular.

O Brasil, maior pais do continente, tem duas cidades de nível mundial. No entanto em diversos aspectos tanto São Paulo, quanto o Rio de Janeiro tem muito a aprender com Buenos Aires. A construção das “cidades globais sulamericanas” é certamente fundamental para fortalecer aos países e também ao Mercosul.

Toda e qualquer cidade de projeção mundial precisa ser um ambiente que possibilite a realização de negócios, mas precisam acima de tudo serem lugares em que se possa circular e que seja agradável viver, trabalhar, ou visitar.