Viver em cidades, especialmente em grandes cidades, expõe as pessoas a desafios constantes. Muita gente junta é algo inviável para o nosso limitado cérebro primata lidar com facilidade.
Dentro dos espaços possíveis para os citadinos, existe o espaço das perversões. Sem entrar profundamente em conceitos psicanalíticos, nossas cidades hoje vivem a loucura de estruturas perversas que inviabilizam a sanidade mental da população.
A fuga mais comum, e exatamente por isso mais perversa, é a busca por soluções individuais para problemas coletivos. A velha premissa de comprar (à vista ou parcelado) o conforto da (i)mobilidade individual motorizada.
Quando ampliada para a sociedade como um todo, essa perversão retroalimenta cidades que produzem dinheiro e riqueza, mas asfixiam a presença humana. Certamente São Paulo é o melhor exemplo brasileiro desse comportamento.
Felizmente existe espaço para um desvio de comportamento de outra natureza. O prazer, quase sádico, do ciclista em se esgueirar por meio do mar de carros travados no congestionamento.
Aos poucos esse prazer (tende) a se tornar um desejo por mudança na estrutura das cidades. Readequando, principalmente o fluxo, para as reais necessidades humanas.
Para que o ciclo-sadismo não tome conta de quem pedala, é sempre bom variar o meio de transporte. Propor-se ônibus e trens com seus itinerários fixos e paradas delimitadas. Ou até a lenta e reflexiva caminhada, lentamente apreciando os dramas e alegrias da realidade urbana.
Recentemente no entanto uma nova atitude tem se aberto aos cidadãos, experimentar as cidades em bicicletas compartilhadas. Pontos fixos para pegar e deixar as bicicletas, trajetos livres e por fim uma caminhada em terreno conhecido até a porta de casa, do escritório ou de qualquer destino que não esteja em frente a uma estação de bicicleta pública.
Essa perversão certamente está presente na campanha em relógios nas ruas de São Paulo que convida os motoristas presos em seus carros a experimentarem uma outra cidade possível hoje. A cidade em que um serviço de mobilidade abra portas para outra mobilidades possíveis. Longe do conforto perversivo da (i)mobilidade individual e mais ligada à independência e o conforto de ter nos deslocamentos um serviço.
A campanha de marketing em prol das bicicletas do Itaú (que patrocina esse blog e outros projetos da Transporte Ativo):
Pena que após 30minutos essas bicicletas alugadas custem os olhos da cara.
30min de bicicleta são, tranquilamente, 5km. Tempo suficiente para viagens de média distancia bastante resolutivas. Para periodos maiores, o que implicaria deslocamento porta a porta, sugere-se ter uma bicicleta propria.
Bicicletas publicas, diferente de car-sharing, são para estimular a posse (enquanto car-sharing desestimula a compra de automoveis).
Em Salvador, o tempo é de 45min e isso é um problema: o padrão de 30min é realmente bastante eficaz.