Pedalar requer equilíbrio e devolve alegria

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Alguns dos participantes do Workshop – Promoção ao uso da bicicleta no Brasil – 2014

Em 2013 convidamos organizações de todo o Brasil que promovem o uso da bicicleta a trocar informações e conhecerem mais sobre como a Transporte Ativo trabalha e nossos resultados nesses mais de 10 anos de atividade. Após as avaliações desse primeiro Workshop – Promoção ao uso da Bicicleta no Brasil, fizemos uma segunda edição com foco na administração e captação de recursos para organizações que agem pedalam por cidades melhores.

No primeiro dia falaram os especialista na administração e captação de recursos, ninguém com envolvimento com a bicicleta. No segundo dia as organizações selecionadas e as convidadas mostraram como administram e captam recursos. Além da TA, tivemos a Ciclocidade, Bike Anjo, CicloIguaçu e Mobilicidade. Para concluir o dia foi a vez de falar de ciclorrotas colaborativas. Foram apresentados os exemplos do Rio, Belo Horizonte, Curitiba, Aracaju, São Paulo e Vitória.

O terceiro e último dia foi dedicado a uma “visita técnica”, a famosa pedalada para conhecer na prática como estão sendo implementadas as ciclorrotas cariocas. E teve ainda o complemento de uma roda de conversa sobre empreendedorismo relacionado a bicicleta.

As grandes distâncias entre as cidades brasileiras por vezes nos deixa esquecer que somos parte de um mesmo país. A oportunidade de encontros pessoais entre ciclistas ajuda a inspirar e ver na prática que as dificuldades são parecidas e que o aprendizado de cada um pode ser facilmente adaptado e implementado por outros. Após o workshop em 2013 foram diversas contagens de ciclistas Brasil afora. Que 2014 possa ser o ano de organizações em prol da bicicleta mais bem administradas e com capacidade de captar recursos.

Fortalecer quem trabalha em prol de cidades mais amigas da bicicleta é do interesse de todos que pedalam e um trabalho que precisa de apoio mútuo (o tal equilíbrio). A alegria é garantida.

Leia mais sobre o Workshop e o prêmio:
Workshop reuniu ciclistas no Rio de Janeiro para discutir a mobilidade por bicicleta no país | Vá de Bike
Desconstruir o pensamento faz bem! | Bike é Legal
Potencializar o uso das bicicletas é a solução | Ciclo Urbano

Bicicleta e microeconomia

 

O prêmio – A Promoção da Mobilidade por Bicicleta no Brasil tem como objetivo valorizar quem faz da paixão pelas duas rodas movidas a pedal ação inspiradora que transforma o ambiente urbano.

Exatamente por isso, ao organizar o prêmio e o workshop de mesmo nome, fizemos a opção por fornecedores locais e quando essa solução não era possível, empresas comprometidas com a bicicleta.

Justamente na pequena escala que a bicicleta transforma as cidades, através de atividades econômicas de impacto local que, pequenas e simples, são as que mais geram empregos, além de serem mais próximas física e simbolicamente de quem faz uso dos produtos e serviços que comercializam.

Na escala global da economia, pessoas tornaram-se coisas e a busca pela maior margem de lucro acaba por gerar impactos negativos muitas vezes invisíveis. Desde o trabalho escravo naquela roupa de marca, até a comida repleta de agrotóxicos. Exatamente pela sua simplicidade e transparência, a bicicleta é uma subversão econômica nas cidades que ecoa muito além dos pedais.

Serviços de entrega que utilizam a bicicleta geram o menor impacto no último quilômetro da logística urbana. Além disso, negócios locais em pequena escala tendem a ser mais transparentes já que a relação de consumo se dá diretamente com os proprietários.

Os bonés que daremos aos premiados são das LaBuena lá de Porto Alegre, as bebidas são do Mercado Bastião Carioca que faz entregas de triciclo. As comidinhas serão entregues a pé e os lanches são da Alface do Rio.

Saiba mais sobre o prêmio e o workshop.

Ciclo rotas chegam à Londres

Este mês, o projeto Ciclo Rotas Centro teve a honra de ser apresentado numa conferência na London School of Economics and Political Science. Veja como foi:

No evento Urban data: From fetish object to social object, oito participantes de vários países do mundo mostraram projetos que se utilizaram de dados geoespaciais para realizar mudanças concretas. A Transporte Ativo participou do evento, através de seu representante Arlindo Pereira, com o Ciclo Rotas Centro, projeto realizado em parceria com o ITDP Brasil e o Studio-X, que contou com a participação de mais de 50 ciclistas e criou uma rede de infraestrutura cicloviária para o Centro do Rio, que já teve 3km de ciclofaixas implementados.

A apresentação está em inglês; caso queira ver em português, confira Ze Lobo apresentando o projeto no Studio-X:

Ciclista também quando viaja, aproveita e conhece a cultura da bicicleta em outros países. Natural portanto que o Arlindo conte em primeira mão como é pedalar em Londres. Mas isso fica para o próximo post. 😉

Há motivo para otimismo nas ruas do Rio

Foto: Dandarah Jordão

Foto: Dandarah Jordão

Em meio aos preparativos e expectativas para Copa do Mundo e Olimpíadas uma transformação em curso nas ruas do Rio tem o potencial de deixar marcas para o futuro do Rio de Janeiro. As pressões pela melhoria do transporte público e a expansão da malha metroviária estão longe de serem atendidas. E antes das mudanças grandiosas com obras vultosas, a bicicleta foi capaz de entrar na agenda de transformação urbana pela sutileza.

O Rio de Janeiro sonha em ser metrópole mundial. O metro quadrado absurdamente caro já tornou esse lado perverso das grandes cidades mundiais uma realidade. As pressões e dificuldades para que a população se adapte estão postas nas ruas, avenidas e nas expansões urbanas mais vistosas. Novamente a bicicleta surge, sutil. Toda cidade “de classe mundial”, capaz de influenciar o futuro urbano do planeta adotou a bicicleta. Nos sonhos cariocas portanto, impossível não promover as pedaladas.

No embate entre sutileza e grandes obras, há muito debate necessário a ser travado. Mas é preciso sempre lembrar que gratuita e acessível para todos, a bicicleta é aquela ferramenta sutil anti-gentrificação. Veículo que precisa da diversidade de gente, de negócios e moradias. A cidade da bicicleta, aquelas de classe mundial e tudo o mais, integra melhor seus moradores ao tecido urbano com moradias e empregos próximos e claro, uma população com uma renda suficiente para ser capaz de arcar com os custos de moradia.

A invasão das bicicletas no centro do Rio de Janeiro traz consigo uma meio de subverter uma cidade sonhada somente para quem pode pagar (caro) por ela.

Por mais afeto nas ruas

Houve um tempo em que as pessoas estavam acima das máquinas nas cidades.

Ao que tudo indica, depois de décadas desumanas nas ruas há um pouco de amor que se prolifera no leito do asfalto e em todos os intervalos entre o concreto dos prédios, viadutos e túneis.

É preciso um olhar atento para descobrir por onde caminha subversão urbana em curso. Quem prestar atenção irá ver ela vem através do amor pela bicicleta.

Em cidades desumanas é preciso uma máquina para explorar as rachaduras de um ambiente construído para veículos motorizados. Confinados e desvalorizados, os cidadãos que por ventura estejam a pé carecem de união pela paixão de caminhar para unirem-se na transformação urbana que lhes seria benéfica.

Certamente a desvalorização ampla do caminhar impôs uma estrutura urbana que é simplesmente inviável para o pedestrianismo. Por conta disso, a bicicleta tornou-se o veículo perfeito para defender a humanização de espaços urbanos. Só um veículo industrial que potencializa a força humana seria capaz de quebrar resistências e encurtar distâncias. Distâncias que foram pensadas para serem percorridas por pessoas em máquinas transformaram em desnecessário o esforço humano.

De zero ao próximo semáforo vermelho em poucos segundos é a rotina de desamor que se acostumaram os habitantes das cidades. Pela força nada irá convencer um condutor de um motorizado a mudar de atitude ou se quer rever comportamentos. Mas a suprema ironia da eficiente bicicleta em meio aos excessos do congestionamento é mensagem clara, que mesmo assim não basta. Uma única bicicleta circulando em meio ao trânsito motorizado é a imagem de um cidadão fora do contexto social vigente.

Pela necessidade de serem o trânsito que nasceu o movimento da Massa Crítica e das bicicletadas. Foi o momento em que paixão pela bicicleta começou a se misturar com ativismo político em prol da bicicleta. Muitos queriam apenas pedalar, outros já viam o potencial político transformador que a bicicleta imprimia nas cidades em seu simples girar pelas ruas. A mistura entre amantes de um objeto e ativistas é capaz de levar a transformação urbana até certo ponto.

A partir de determinados obstáculos, não é mais possível apenas unir-se em bando e pedalar tranquilo entre amigos. É preciso influir diretamente na organização espacial das cidades. Uma atuação política real que represente de maneira clara para todas as pessoas da cidade a real função da bicicleta. Que a torne mais que um objeto, uma ferramenta de subversão urbana capaz de simplesmente colocar os deslocamentos em função das pessoas em detrimento das máquinas.

Quando a bicicleta se torna uma opção para todos, a infraestrutura urbana tende a se comprimir para uma escala mais humana e as distâncias podem ser percorridas de diversas maneiras. O veículo motorizado particular deixa portanto de ser a opção mais encorajada e torna-se apenas mais uma.

Viveremos para ver e celebraremos.

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Ciclovia no centro do Rio – Foto: Studio-X Rio