Bicicleta e impactos econômicos locais

Bicicletas cargueiras em Ipanema

Originalmente publicado por Joe Peach em thisbigcity.net

Em tempos de crise econômica global governos em todo o mundo estão tentando todos os tipos de truques para manter as coisas funcionando, com diveros níveis de sucesso (ou diferentes níveis de insucesso, dependendo de seu grau de otimismo). Mas infraestrutura para bicicletas poderiam beneficiar as cidades, fornecendo uma maneira relativamente barata de melhorar a economia urbana?

O transporte é vital para manter a economia em movimento. Quando o governo de coalizão do Reino Unido chegou ao poder em 2010, havia uma preocupação sobre a possibilidade do projeto London Crossrail – uma rede de trilhos subterrânea para ligar a periferia de Londres e o centro da cidade – continuaria a ser desenvolvido. Agora ele está sendo anunciado como uma oportunidade para o crescimento econômico. Se a redes de trens pode impulsionar a economia de uma cidade, poderia uma rede para bicicletas impulsionar a economia das comunidades por onde elas passam?

Certamente custa muito menos implementá-las. Ciclovias têm sido elogiadas por oferecer “vias expressas pelo preço de calçadas” às pessoas e, mesmo que os custos relativamente acessíveis das redes para bicicletas sejam vantajosos para incentivar sua construção e manutenção, há outros benefícios de longo prazo para a economia.

A forma como um sistema de transportes urbanos opera tem um impacto sobre a forma como as pessoas circulam em suas cidades. Devido ao esforço físico no uso da bicicleta, viagens curtas são mais comuns​​, e trazem benefícios econômicos locais:

Quando as pessoas caminham ou andam de bicicleta, elas estão mais propensas a fazerem compras em lojas que ficam perto de onde vivem, ao invés de dirigirem por toda a cidade – Richard Campbell e Margaret Wittgens.

Um estudo australiano tenta quantificar esse pensamento. Baseado em dados de mais de 1.000 entrevistados, Alison Lee constatou que, apesar de ciclistas gastarem menos, em média, melhorias nas redes para bicicletas ainda trazem benefícios ao varejo. Lee sugere que, substituindo uma vaga de estacionamento para carros por seis estacionamentos de bicicletas, o gasto que um ciclista faz, e que na média é menor, poderia ser multiplicado, oferecendo oportunidades de receita melhor para as empresas nas proximidades. É claro, esta simples equação matemática, enquanto teoricamente verdadeira, pressupõe demanda suficiente para manter o estacionamento de bicicletas devidamente cheio.

Apesar disso, as descobertas de Lee são notavelmente semelhantes a um estudo da cidade holandesa de Utrecht, que concluiu que, embora consumidores ciclistas gastem menos por transação, eles fazem mais visitas e, como um grupo, gastam mais. Este não é o único exemplo. Um estudo alemão encontrou resultados semelhantes, chamando os ciclistas de “melhores consumidores” porque eles fizeram onze viagens por mês em comparação a sete para os motoristas. E os suíços estão nisso também: uma investigação sobre rentabilidade do espaço de estacionamento descobriu que cada metro quadrado de estacionamento de bicicletas gera 7500 euros em comparação com 6625 euros gerados pelos automóveis. Isto parece confirmar a lógica básica – sem espaço suficiente para cargas, os ciclistas estão propensos a gastar menos e comprar mais vezes.

Pesquisa sobre os benefícios econômicos locais que não sejam sobre varejo também sugeriu benefícios. Em um estudo de 2011 Heidi Garret-Peltier observou 58 projetos de redes para bicicletas em 11 estados dos EUA, levando em conta infraestruturas “na rua”, tais como ciclovias e ruas compartilhada; quanto “fora das ruas”, tais como trilhas adjacentes às estradas ou vias ferroviárias convertidas; e equipamentos para bicicletas, tais como sinalização, sinais, e estacionamentos. Garret-Peltier descobriu que os projetos de construção de infraestrutura para bicicletas criam uma média de 11,4 empregos para cada US$ 1 milhão investido comparados aos 7,8 empregos para a construção de estradas (confirmando seu estudo anterior, específico para Baltimore, que indica que os projetos para construção de redes para bicicletas geram entre 11,7 e 14,4 empregos por milhão de dólares).

Garret-Peltier concluiu sua pesquisa afirmando que “quando confrontado com uma decisão de se incluir ou não os pedestres e/ou instalações de bicicleta em projetos de infraestrutura de transporte, os técnicos de planejamento devem fazê-lo, não só por causa da segurança, ganho ambiental e benefícios para a saúde mas também porque esses projetos podem criar empregos locais. ”

Evidentemente, a cultura, infraestrutura e forma urbana de cada cidade são diferentes. Como resultado, o efeito econômico de desenvolvimento de redes para bicicletas sem dúvida diferem de uma cidade para outra. Mas com numerosos estudos de diferentes cidades em todo o mundo repetidas vezes sugerindo benefícios econômicos positivos em escala local, as redes urbanas para bicicletas poderiam fornecer às nossas cidades um impulso econômico muito necessário e sustentável.

Mobilidade para cidades saudáveis

De 18 a 21 de outubro, aconteceu no Rio de Janeiro o 18º Congresso da ANTP, evento voltado ao transporte público, repleto de soluções, pesquisas e boas praticas. Muito do mundo motorizado estava lá e apresentava soluções mais limpas como veículos híbridos e elétricos, mas ainda muito ligados a lógica de transportes do século passado.  Em meio a isso lá estavam duas seções sobre Transporte Não Motorizado, pelo título da seção podemos ver que os meios de transporte mais eficientes e antigos foram colocados de forma subalterna aos modais motorizados. De qualquer forma já é um grande passo, um evento deste tipo e porte dando espaço às bicicletas e pedestres.

A Transporte Ativo esteve presente, na seção técnica 27, onde além de coordenarmos a mesa, apresentamos dois artigos. Um em parceria com a prefeitura do Rio entitulado  A importância do GT Ciclovias para a consolidação da malha cicloviária da Cidade do Rio de Janeiro. E outro em parceria com a Clinton Climate Initiative, ITDP e Jonas Hagen,  Os Benefícios dos Veículos de Carga à Propulsão Humana: Cidades Podem Alcançar Menores Emissões e Maior Segurança. Confira os artigos clicando em seus títulos.

Mais bicicletas de carga

A pesquisa efetuada pela Transporte Ativo mostrou uma realidade que chamou a atenção da cidade, com notícias de destaque na seção de Economia dO Globo, no Globo Zona Sul e Bairros.com

bicicleta de carga

Paralelamente ao levantamento feito em Copacabana, foi realizada uma pesquisa por amostragem em estabelecimentos que fazem entregas por bicicleta e triciclos nos bairros de Copacabana, Tijuca, Taquara e Santa Cruz.

Estes dados adicionais foram acrescentados como Anexo 1 ao relatório inicial.

Os itens I a IV do Anexo mostram os dados compilados em gráficos e sintetizam como agem e pensam os gerentes e entregadores dos estabelecimentos pesquisados.

Para eles, a principal vantagem da bicicleta é sua agilidade (44%), logo em seguida a capacidade de carga (24%) e o baixo custo (24%).
Mais da metade das entregas carregam até 70kg, mas em 4% das viagens os ciclistas carregam mais de 250kg.
56% dos entregadores disseram que nunca houve acidentes com eles. Mas em 8% das respostas positivas, os acidentes foram graves.
Por isto, segundo os próprios entregadores, as medidas necessárias para dar mais segurança dividem-se em dois grandes grupos: por um lado, construir ciclovias (47%); por outro lado, educar os motoristas (39%) e reduzir a velocidade dos carros (10%).

O item V é um comparativo das contagens de bicicleta já realizadas em Copacabana e o mapa do bairro no item VI foi feito a partir das visitas da pesquisa principal.

A pesquisa faz parte da exposição As cidades somos nós, que acontece no Centro Cultural Correios até 13 de março.

Entregas por bicicleta

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Com o objetivo de levantar dados e informações até agora desconhecidas da população e da administração da cidade, a Transporte Ativo, em parceria com o ITDP, realizou no bairro de Copacabana, durante os meses de dezembro de 2010 e janeiro de 2011, um levantamento de todos os estabelecimentos comerciais no bairro que fazem entregas por bicicletas, quantas entregas por dia e qual tipo de bicicleta usado.

Os dados são surpreendentes e propiciam informação suficiente para mensurar os benefícios deste tipo de entregas para a cidade, o trânsito e o meio ambiente.

O relatório completo, que está sendo publicado hoje, pode ser baixado aqui e faz parte da exposição As cidades somos nós.

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Clique na imagem para ver o folheto.