A bicicleta e a qualificação da pressa na vida moderna

DHAraras89

Campanhas e regulamentos de trânsito modernos e verdadeiramente focados na preservação da vida adotam diversas formas de acalmar os ânimos dos condutores de veículos motorizados nas ruas.
E a bicicleta? O que tem a ver com isso?
Como o veículo humanizado mais comum nas cidades o aumento do uso da bicicleta exerce um papel forte e natural na redução das velocidades praticadas por motoristas e motociclistas, sem a necessidade dos impopulares quebra-molas/lombadas e radares de velocidade.
Por outro lado, a falta de tempo é cada vez mais comum no nosso cotidiano e a bicicleta é, em várias situações, a forma mais rápida de se deslocar pelas cidades, especialmente as grandes, mas também nas cidades médias do Brasil.
Claro que ainda é preciso manter o senso de coletividade e não pedalar em uma velocidade relativamente alta nas calçadas, parques e afins. Pois aí você se torna o opressor, ameaçando a integridade de pedestres no espaço destinado para eles. Pensa bem! Não é porque algumas ruas tem trânsito hostil às bicicletas que você vai fugir para pedalar na calçada imitando a agressividade que motoristas praticam nas ruas para tornar a caminhada do pedestre menos segura.

Eis que surge e se consolida nas ruas um novo elemento, o veículo elétrico. Com poluição e ruído zero, baixíssimo custo de abastecimento e menor custo de manutenção que um motorizado a combustão, ainda que mais caros de se comprar. E, no caso dos ciclomotores e bicicletas elétricas, sem necessidade de emplacamento. Tudo isso embalado em um papel verde, bonito e brilhante de que é um veículo mais amigo do meio ambiente faz cada vez mais pessoas adotarem o elétrico. Girar a economia e atender os anseios dos consumidores é louvável, mas em meio  a tantas e boas intenções, é preciso considerar que a velocidade sempre seduziu mentes e corações.
E o elétrico, com sua forte aceleração tem conquistado cada vez mais o consciente e o sub-consciente dos seus condutores. Mas uma parcela dos humanos nascidos aqui (e o mesmo acontece em outras partes do mundo) deixa o bom senso e o espírito de coletividade em casa ou joga fora mesmo, e aí abusa. Nas ciclovias e ruas é crescente o conflito entre pedestres/ciclistas e ciclomotores elétricos conduzidos em velocidade incompatível. Aumentou a pressa e a vontade de correr, o elétrico atende a essa dupla ânsia por velocidade e o perigo é maior.
É claro que algo precisa mudar.
Com legislação e fiscalização diriam uns, com educação e conscientização diriam outros. Banir é um caminho obtuso, polêmico, adotado em algumas cidades, mas regulamentar tem sido o mais usual.
E aqui sugere-se um outro caminho.
Vamos qualificar nossa pressa, refletir sobre a relação da economia de tempo com aumento da insegurança. Até onde vale a pena correr (com elétricos ou não) para ganhar uns poucos minutos? O quanto de nossa pressa tem a ver com falhas de planejamento e organização antes de sair para algum compromisso? Sair atrasado e tentar compensar no trajeto é coerente e racional? Ou será que conduzimos rápido apenas por prazer/ satisfação com a velocidade?
Condutor de bicicleta, ou de ciclomotor elétrico, não precisa ter pressa pois será mais rápido que qualquer um no trânsito engarrafado. É um paradoxo, o veículo mais lento cumpre alguns trajetos mais rápido que os velozes a combustão. E se equilibrar a velocidade vai cumprir seu trajeto com muito mais tranquilidade, prazer e segurança, sem perder tempo. Saia mais cedo para ir mais devagar e chegar ao destino na hora desejada/marcada sem perder o tempo de aproveitar o espaço público de onde você mora, humanizando sua rua, seu bairro, sua cidade. Inverta a lógica da pressa para a lógica de qualificar seu tempo.

Vento e sorriso no rosto, mais calma na pilotagem e o trânsito vai ficar mais agradável e seguro por ação dos próprios condutores. Viva a sua cidade! Sem pressa e com gentileza!

Tem até música para embalar sua reflexão (letra abaixo):

Os curiosos atrapalham o trânsito
Gentileza é fundamental
Não adianta esquentar a cabeça
Não precisa avançar no sinal
Dando seta pra mudar de pista
Ou pra entrar na transversal
Pisca alerta pra encostar na guia
Pára brisa para o temporal
Já buzinou, espere, não insista,
Desencoste o seu do meu metal
Devagar pra contemplar a vista
Menos peso do pé no pedal
Não se deve atropelar um cachorro
Nem qualquer outro animal
Todo mundo tem direito à vida
Todo mundo tem direito igual
Todo mundo tem direito à vida
Todo mundo tem direito igual
Motoqueiro caminhão pedestre
Carro importado carro nacional
Mas tem que dirigir direito
Para não congestionar o local
Tanto faz você chegar primeiro
O primeiro foi seu ancestral
É melhor você chegar inteiro
Com seu venoso e seu arterial
A cidade é tanto do mendigo
Quanto do policial
Todo mundo tem direito à vida
Todo mundo tem direito igual
Todo mundo tem direito à vida
Todo mundo tem direito igual
Travesti trabalhador turista
Solitário família casal
Todo mundo tem direito à vida
Todo mundo tem direito igual
Sem ter medo de andar na rua
Porque a rua é o seu quintal
Todo mundo tem direito à vida
Todo mundo tem direito igual
Boa noite, tudo bem, bom dia,
Gentileza é fundamental
Todo mundo tem direito à vida
Todo mundo tem direito igual
Pisca alerta pra encostar na guia
Com licença, obrigado, até logo, tchau.
Todo mundo tem direito à vida
Todo mundo tem direito igual
Todo mundo tem direito à vida
Todo mundo tem direito igual
Todo mundo tem direito à vida
Todo mundo tem direito igual
Todo mundo tem direito à vida
Todo mundo tem direito igual

 

One thought on “A bicicleta e a qualificação da pressa na vida moderna

  1. Eu amo andar de bicicleta na minha cidade, porém não existem um plano diretor urbano para melhorar o uso misto de bicicletas e ônibus, eu sempre perco o horário de ônibus, mesmo consultando os horários de ônibus com antecedência, deveria ser lei permitir colocar a bicicleta na frente do ônibus ou a traz sei la rsrs.

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