Medo não muda nada

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Contagem Túnel Velho

Sobre a “Cultura do Medo“, livros foram escritos, teses, mestrados doutorados. Mas ciclistas apocalípticos que pedalam em condições longe da ideal sempre acabam ouvindo a mesma pergunta:

– Mas você não tem medo?

Quem nunca ouviu essa pergunta, ou a sua variante: “Mas não é perigoso?”, que atire o primeiro pedivela. Mas não vale escrever mais um livro sobre isso. A única resposta possível é a mais óbvia:

– A percepção do medo é sempre subjetiva e quanto mais bicicletas nas ruas, mais seguro para todos.

Liberdade é um exercício cotidiano praticado individualmente. O exemplo da primeira foto que ilustra esse post é de uma imagem corriqueira no Rio de Janeiro, registrada durante uma contagem fotográfica no túnel Velho em Copacabana. Pode parecer perigoso, mas o risco real e a percepção dele ao longo dos anos é que mudou. As bicicletas continuam bem parecidas.

Por exemplo, na outra boca do túnel:

túnel Velho - 1927
Foto de Augusto Malta – via: foi um RIO que passou

Entre os mais de 80 anos que separam as duas imagens nossas cidades mudaram para pior. As bicicletas são uma das ferramentas para as mudanças positivas e para usá-las mais, o mito do medo precisa ser derrotado. Para isso não adiantam estatísticas que comprovem a acidentalidade de veículos automotores ou pedestres. Precisamos apenas de mais vida nas ruas.

Primeiro mudam os cidadãos, com o tempo muda a infraestrutura das cidades. Pedalemos!

Outra leitura:
Fear is the mind killer – Cyclelicio.us

Relacionados:
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Valores democráticos nas ruas

7 thoughts on “Medo não muda nada

  1. Note que na época da foto do Augusto Malta o vilão eram os bondes, que eram famosos pelos atropelamentos pois não freavam rapidamente em emergências. Hoje em dia é pior, pois os ônibus tem freio mas não tem trilhos…

  2. Tenho colhido a forte impressão, ao longo de anos de conversas com companheiros pedalantes, que os ciclistas em sua imensa maioria vivem uma paranóia que, se por um lado é exagerada, por outro é uma resposta a ameaças reais, a situações de risco – para as quais os próprios ciclistas contribuem significativamente.

    Não sinto medo ao pedalar 20 ou mais km diários em uma grande e caótica cidade brasileira. Sinto desconforto, e um pouco de asco (pelo ruído e fumaça), às vezes, mas medo, quase nunca.

    Creio que isso não vem de graça. Somos co-autores da realidade na qual estamos inseridos.

    Gostaria de compartilhar esta visão na forma de uma oficina prática, mas não sei por onde começar, nem se haveria interesse. Muitos ciclistas estão tão habituados ao papel de vítimas que nem conseguem começar a repensar isso.

    [ ] fraterno

    a

    —–

  3. Para sair às ruas de bike tive que controlar o meu próprio medo, o medo da minha família e todo o mundo que falava comigo. Com certeza esse é um impecilho para que a bike tenha novos adeptos nos trajetos urbanos.

    Temos exemplos todos os dias de acidentes envolvendo todos os tipos de veículos cujas maiores causas são a imprudência e a desatenção. Casos como o atropelamento dos ciclistas em Poa servem para aumentar ainda mais o pânico…

    Quase um ano circulando por Curitiba de bike e eu ainda tenho momentos de medo. Mas nunca deixei que isso me impedisse de ir a algum lugar. Acho que isso é o mais importante!

  4. Não sei onde vocês vivem, mas em são paulo não dá pouco medo não, dá é MUITO MEDO. Sempre andei de bike e acho difícil alguém não sentir medo ao dividir espaço com um monte de aço sendo guiado por outra pessoa a uma velocidade muito maior que a sua. É lógico que dá medo, duvido mesmo que alguém não sinta medo ao entrar num túnel com um ônibus do lado… Vi fotos neste blog que mostram uma realidade muito diferente da que ENFRENTO todos os dias em SP com minha bike. Imagens mostrando ruas perfeitas, com faixas pra ciclistas e pouquíssimos carros.. Aí é facil não ter medo! Quero ver nego não ter medo no meio da 23 de maio em horário de rush! Trânsito em SP é uma guerra, quer ache isso bonito ou não. Temos que mudar esta realidade, mas enquanto isso nao acontece, medo é importantíssimo para te manter vivo! Por isso eu digo: tenha medo sim! A mudança nunca vai acontecer se o poder público não agir junto com a gente. Se não existir espaço para bicicleta, pode esquecer aquele paraíso ali mostrado nas fotos do blog… Aquilo não tem nada a ver com a nossa realidade aqui. Andar no meio dos carros da um puta cagaço sim, mas isso não vai me impedir de fazer a minha parte para mim e para o ambiente. Pra andar de bike aqui tem que ser muuuuito guerreiro acima de tudo, não é para qualquer um mesmo. Já fui pro chão inúmeras vezes e OBVIAMENTE tenho medo de ir de novo sempre que um babaca aparece acelerando como idiota no meu retrovisor.

  5. Quem não pratica algum meio de transporte e vê acidentes fatais de usuário desse meio de transporte na mídia vai provavelmente categorizar esse meio de transporte de inseguro, independentemente do fato de ser seguro ou não. Eu acho que é mais ou menos isso que acontece. A maioria das pessoas não praticam e em função dos únicos conhecimentos que têm, eles extrapolam e acabam acreditando que é perigoso. Parece que essa categorização deve ser difícil de reverter.

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