Quando pedalar é um desafio

 

A bicicleta move-se facilmente, mas mesmo leve e simples, ela também tem inércia. E quebrar a inércia é realmente o único esforço memorável que se faz de bicicleta. Com exceção talvez daquela ladeira enorme, mas aí a história é outra.

Para colocar em movimento todos que tenham interesse em trazer alegria e liberdade para a rotina urbana, existe a campanha “De Bike Ao Trabalho”. O mote é simples, superar o que para quem está parado no trânsito é um desafio, pedalar para chegar no escritório.

É possível já esquentar os pedais e preparar o ambiente de trabalho para receber os ciclistas através do manual “De bicicleta ao trabalho”.

Na página da campanha, é possível se cadastrar e conhecer cada um dos desafios até que chegue o dia 9 de maio, quando a pedalada vai tomar conta das ruas, um ciclista de cada vez.

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A música da bicicleta

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Pedalar de olhos fechados é um experiência interessante, ainda que pouco recomendável. Mas mesmo com a visão apurada à frente, é possível trabalhar outros sentidos.

Toda bicicleta tem seu som, seja uma roda livre que gira enquanto não se pedala ou tantos outros. O chacoalar das peças nas imperfeições no asfalto, a campainha, a corrente que gira, o pedivela torcido que geme.

Com tantos sons, é possível fazer música, como o compositor abaixo:

Ou simplesmente imaginar-se de olhos fechados, tal e qual o passageiro de uma tandem, e ouvir sua bicicleta através de cada um dos seus barulhos.

Segurança, justiça e desenho urbano

As cidades brasileiras são em geral partidas. De um lado a população mais rica, estabelecida em moradias formais, com acesso aos serviços de infraestrutura, lazer e aquele conceito difuso chamado “qualidade de vida”. Do lado de fora das regiões ricas, vive a população mais pobre e que em geral não tem acesso a muito do que existe nas zonas nobres.

Em São Paulo essa cisão é marcada pelo centro expandido e as periferias. No Rio de Janeiro as diferenças se manifestam no embate entre o morro e o asfalto. Em ambos os casos, o poder aquisitivo define a cidade que as pessoas tem acesso. Ainda que no Rio elas possam estar extremamente próximas geograficamente.

Uma separação das cidadanias em “castas” é certamente um drama social que afeta não apenas as duas maiores cidades brasileiras, mas grandes cidades ao redor do mundo. Além disso, um olhar atento nas metrópoles sulamericanas mostra similaridades ao mesmo tempo que aponta caminhos.

Planejamento urbano na Colômbia

A imagem que ilustra esse post é da cidade de Medellín na Colômbia, constantemente citada nos noticiários brasileiros (e mundiais) nos anos 1990 por conta do poder e influência da violência.

Hoje Medellín, e também a capital Bogotá, são cantadas em slides e prosas em diversas conferências sobre mobilidade e planejamento urbano. Deixaram de ser reconhecidas como metrópoles violentas e passaram a ditar parâmetros no que se refere a transformações positivas nas cidades.

Ambas continuam inseridas em países com enormes desigualdades econômicas e sociais, mas deram os passos necessários para a criação de um modelo latinoamericano de humanização urbana.

Os caminhos para mudanças urbanas na América Latina

Sentados ao volante, com a visão do mundo através do parabrisa de seus automóveis, as elites metropolitanas brasileiras ainda encaram as cidades através de seus próprios problemas de mobilidade. As respostas estão do lado de fora, em calçadas, na prioridade ao transporte público, na necessária mistura entre pessoas com diferentes faixas de renda. Todos elementos de uma receita de cidade que seja justa para todos e exatamente por isso, mais segura.

As cidades brasileiras precisam encarar de frente a violência pouco visível nos embates urbanos, as que não aparecem nos noticiários televisivos. Assaltos, tiros e perseguições policiais certamente chamam bastante a atenção. Mas as sutilezas urbanas e o ordenamento das cidades são a sustentação dos crimes que aparecem na televisão.

Somente cidades cerzidas irão quebrar muros, trazer pessoas paras as ruas e qualificar o ambiente urbano para que ele possa ser usado por todos. Essa costura se faz pela humanização do trânsito (zonas 30 por exemplo), acesso a espaços públicos de qualidade, ou seja, a visão de que a infraestrutura deve servir às pessoas.

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Leia mais:

Uma cidade segura é uma cidade justa. – TheCityFixBrasil 

Alfabetismo urbano

Amor pela bicicleta - via Instagram Transporte Ativo

Amor pela bicicleta – via Instagram Transporte Ativo

As bicicletas, todas elas, tem sido fundamentais para redesenhar as cidades que imaginamos. Contribuem para mudar a visão de mundo que quem pedala, de quem ainda não pedala e principalmente de quem planeja e influi na organização urbana.

Um vídeo das viagens feitas pelas bicicletas públicas londrinas ajudam a marcar a importância de pedalar para a reinvenção urbana necessária.

Aos poucos as rotas mais populares são mais marcadas e definem as origens e destinos preferidos pelos usuários do sistema, mas as consequências vão além de um desenho animado. A popularização do uso da bicicleta é o atalho capaz de redefinir prioridades urbanas. Um caminho com diversas etapas, que começa através de atitudes individuais de quem opta por pedalar, passa pelas atitudes coletivas de quem promove o uso da bicicleta e chega até as políticas públicas.

O meio mais comum de locomoção nas cidades brasileiras é o caminhar, mas o desenho urbano é pensado para os cidadãos que utilizam motores para cumprir distâncias curtas, médias e longas. Reverter essa lógica, construída ao longo do século XX, é um trabalho necessário e em curso. Ainda assim, muitos dos que sofrem nos congestionamentos esperam uma solução para seu problema, sem saberem ao certo o que é necessário para apaziguar o sofrimento diário que compartilham com os condutores parados ao redor.

No dia-a-dia pedalar no trânsito urbano é deparar-se com episódios constantes desse analfabetismo funcional que atinge as pessoas presas atrás do volante. O principal fenômeno certamente é a acelerada para parar no próximo semáforo fechado. E tal qual a lebre e a tartaruga, o ciclista costuma seguir devagar e sempre e ultrapassar as tensões de quem não viu as cidades serem modificadas e construídas em função da mobilidade motorizada e reconhece apenas soluções vistas de dentro do carruagem de aço.

Em silêncio, o ciclista que ultrapassa, é ultrapassado e cruza mais uma vez até sumir no emaranhado das ruas é um lição de alfabetização urbana. Ensina em silêncio que a bicicleta é a ferramenta mais eficiente para os deslocamentos humanos. Como brinde, ainda fica o aprendizado de que mesmo planejadas para deslocomentos motorizados, as cidades acabaram por ser tornar espaços de livre trânsito apenas para quem ocupa pouco espaço.

As melhores iniciativas de promoção ao uso da bicicleta

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Boas iniciativas merecem sempre serem premiadas, por isso temos todo o orgulho de dar nome a iniciativas vencedores do prêmio “A Promoção da Mobilidade por Bicicleta no Brasil”, nas suas 3 categorias.

Prêmio Ação Educativa e de Sensibilização:
Vencedor: Vá de Bike – São Paulo
Menção Honrosa: Bike Anjo – São Paulo
Menção Honrosa: Amigo Motô – Ameciclo – Recife

Prêmio Levantamento de Dados e Pesquisas:
Vencedor: Yuriê Batista – Avaliação da Ciclabilidade das Cidades Brasileiras
Menção Honrosa: Pedala Manaus – Primeira Contagem de Ciclistas de Manaus
Menção Honrosa: Ameciclo – Pesquisa Mobilidade por bicicleta no Recife

Prêmio Empreendimento:
Vencedor: Bicicletaria Cultural – Curitiba
Menção Honrosa: Public Propaganda e Marketing – Palmas Tocantins
Menção Honrosa: Las Magrelas + o Gangorra – São Paulo

Os vencedores foram avaliados de acordo com a sua capacidade de promover o uso da bicicleta, originalidade, criatividade e impacto. Quanto aos inscritos, foram 12 na categoria “Ação e Sensibilização”, 4 na categoria “Dados e Pesquisa” e 9 na categoria “Empreendimento”.

Esse pequeno retrato mostra que estamos pedalando bem no que se refere a educar e sensibilizar a sociedade e que a bicicleta tem sido uma boa impulsionadora de novos e criativos negócios. Podemos ainda ver que se faz muito pouca pesquisa sobre nossos queridos veículos. Certamente a academia e as próprias organizações que promovem a bicicleta tem muito trabalho pela frente em levantar e apresentar dados consistentes que ajudem a deslanchar a nova mobilidade mais humana pela qual tanto trabalhos.

As cidades do futuro serão cidades amigas da bicicleta, pedalemos.