Cicloliberdade em Números

O sistema de bicicletas públicas em Paris vai completar 2 anos, os números indicam um estrondoso sucesso. Ao olhar friamente os números, é possível diagnosticar algumas tendências e caminhos.

– 53 milhões de viagens

– 36.5 com passes anuais

– 16.5 milhões com passes semanais ou diários

– Os terminais de Vélib já emitiram 7 milhões de bilhetes

– Aumentou o uso integrado com o sistema de transporte público

– Estações estão sendo aumentadas em pontos com grande demanda

– Há o monitoramento contínuo e a realização de melhorias nas bicicletas, estações, na distribuição e no software.

– Aumento na manutenção e redistribuição noturnas

– As principais bandeiras de cartão de crédito são aceitas (Visa, MasterCard, Europay, American Express e JCB)

– As estações passaram a contar com instruções completas em inglês, espanhol, alemão além de francês (por vezes ainda necessário)

– Quando não há vagas ou bicicletas em uma estação, pressione 5 depois 6 no terminal. Será mostrada a disponibilidade de vagas e de bicicletas nas estações mais próximas.

– Tem Vélib no iPhone

Novas comunas ao redor de Paris passaram a contar com o sistema

– 17 já tem estações Vélib abertas entre abril e Junho

– 136.556 viagens nas novas áreas

– O programa tem ramificações em 30 comunas ao redor de Paris (algumas são cidades com leis próprias)

Para mais informações em francês http://velib.centraldoc.com/newsletter/

Sustentabilidade Urbana

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Cada momento histórico tem seus erros e acertos, mas todos eles tendem a ficar sempre no passado. Muito se fala e se luta em nome do conceito de sustentabilidade. Nossas cidades precisam ser capazes de manter o equilíbrio para que possamos ter um estilo de vida urbano que seja compatível com o meio ambiente.

O crescimento das cidades foi baseado na expansão do concreto, aço e asfalto durante o século XX. As consequências são visíveis em qualquer grande cidade. As perdas econômicas podem apenas ser estimadas e são imensas. Cidades nasceram para facilitar trocas, sejam elas financeiras ou não. As oportunidades concentradas nas metrópoles continuando atraindo até hoje um grande fluxo migratório. No entanto faz-se necessário planejar e antever caminhos para o futuro,
investimentos precisam ser feitos, mas não podem continuar obedecendo a mesma lógica do passado.

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Três peças da mobilidade urbana. Transporte sobre trilhos, planejamento cicloviário e transporte individual motorizado.

O conceito de sustentabilidade precisa caminhar ao lado da diversidade. Quem vive e circula pelas cidade precisa de opções em seus deslocamentos e naturalmente opções de moradia também. A aprendizagem histórica nos trouxe até aqui, mas não podemos insistir no que não pode ser sustentado indefinidamente. Precisamos aprender com nossas cidades e olhar para os acertos vindos de fora ou de dentro. Só assim será possível vivermos em cidades nas próximas décadas.

Novos Rumos em Copacabana

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As novas rotas cicloviárias de Copacabana são apenas um projeto piloto, mas os poucos quarteirões no bairro representam muito mais. A pintura no asfalto serve para informar da presença das bicicletas nas ruas e de seu direito de estar ali. Servem também para incentivar os ciclistas a se concentrarem nesses caminhos reforçando o conceito de “segurança pela quantidade.

Durante a inauguração, o prefeito Eduardo Paes aproveitou para pedalar um SAMBA ao lado do secretário estadual de Transportes Julio Lopes. Como não poderia deixar de ser, Paes se empolgou com o sistema. Essa empolgação, espera-se, será traduzida numa futura expansão para além das 50 estações inicialmente previstas. A praticidade e deficiência das bicicletas públicas as tornam excelentes aliadas do transporte público, mas para o efetivo sucesso, o número de estações e a proximidade delas tem de ser grande.

O futuro da cidade do Rio de Janeiro se desenha cada dia mais sobre duas rodas. Complementares ao transporte público e acima de tudo, indutoras da promoção a qualidade de vida urbana.

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Saiba mais:
Princesinha do Mar, Rainha das Bicicletas
Melhor a cada Por do Sol
Primeiros Vestígios
Infraestrutura como Incentivo

Reportagem na Tv Globo, que infelizmente utilizada o termo “ciclofaixa”, uma definição incorreta para o que foi implantado.

Cidade que Queremos

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A cidade que os paulistanos querem, é uma cidade na qual elas possam se movimentar, ir e vir sem ficarem presas em meio ao mar de automóveis “estacionados”. É a cidade de São Paulo dos ciclistas apocalípticos de hoje. Afinal de bicicleta nunca se está “preso no trânsito”. No entanto, a percepção de cidade enquanto ciclista ainda é minoritária. A “inveja” que os motoristas sentem de saber que os ciclistas nunca ficam parados no trânsito ainda não é o suficiente para fazer aumentar exponencialmente da noite para o dia o número de ciclistas nas ruas. Mas felizmente eles vem aumentando, e muito.

Para que o discurso da promoção ao uso da bicicleta e dos transportes sustentáveis seja aceito como “senso comum” ainda há muito trabalho a ser feito. A cidade de Los Angeles é o maior exemplo do mundo de como num universo de recursos abundantes a mobilidade urbana não se resolve com mais investimentos no sistema viário. A cada ano a cidade californiana é sempre a campeã norte-americana de congestionamentos. Ao mesmo tempo Nova Iorque, tem a menor taxa de automóveis por habitante, um sistema de transporte de massa bem estruturado e para resolver os problemas de congestionamento motorizado tem promovido cada vez mais a bicicleta e a qualidade dos espaços públicos.

A cidade almejada pelos ciclistas precisa ser a cidade almejada pela população em geral. A pressão pela acessibilidade tornou nossas calçadas mais amigáveis para os pedestres. Da mesma forma, a promoção ao uso da bicicleta é capaz de promover a “acessibilidade” de nossas ruas, tornando-as aptas a outros fluxos e até mesmo outros usos. Precisa mudar a cidade, mudar a percepção de que cidade queremos.

Por hora investimentos no viário ainda são vistos como um “mau necessário“. No entanto, o político que tiver a coragem de ousar e trabalhar em prol de uma nova mobilidade, irá certamente receber um retorno político maior pelo ineditismo. Afinal em cima de cada bicicleta, vai um voto, se for uma criança, são dois votos. Pensando assim, uma cidade em que todos possam pedalar com conforto e segurança é uma cidade com mais eleitores felizes.

Mas não basta apenas pensar nas bicicletas. Seoul foi capaz de provar que um viaduto a menos é capaz de eleger um presidente. Os benefícios sociais e financeiros do investimento em qualidade de vida serão os que garantirão competitividade as cidades. E por consequência, viabilidade política para seus líderes democraticamente eleitos.

Planejar uma Cidade Global

O Brasil tem duas metrópoles globais. Rio de Janeiro e São Paulo são cidades cuja influência e importância vão além das fronteiras brasileiras e até mesmo Latino Americanas. No ranking urbano global (GaWC), São Paulo está entre as mais importantes dada a relevância dos negócios aqui conduzidos o que a coloca na condição de um importante nó na rede mundial das cidades. O Rio de Janeiro vem logo atrás.

Manter-se bem colocado no GaWC requer uma série de medidas e principalmente a visão dos seus administradores para que facilitem um ambiente favorável aos negócios sem inviabilizar a qualidade de vida da população desses grandes centros. As duas cidades no topo do ranking são unanimidades históricas que mantiveram desde o século XIX sua importância mundial. Londres e Nova Iorque, principalmente a primeira, inventaram o conceito de cidade global, mas para manterem seu papel de destaque, souberam se atualizar e acompanhar a marcha da história.

O progresso industrial do passado que fez explodir o tamanho das cidades deu lugar a uma nova abordagem do que é importante para que a metrópole não fique para trás no competitivo ambiente de negócios globalizados. Para não perderem competividade e principalmente produtividade, Londres e Nova Iorque tem dado muita ênfase ao transporte sustentável e ao espaço público. A qualidade de vida da população e a capacidade de “fazer mais negócios em menos tempo” são duas medidas que tem que ser encaradas de frente para que a cidade não perca importância econômica e política diante das demais cidades ao redor do globo.

São Paulo e Rio de Janeiro tem muito o que aprender com as duas mais importantes metrópoles mundiais. Em Londres e Nova Iorque o uso da bicicleta só faz crescer por meio de uma série de iniciativas da administração local. A mobilidade urbana cada vez mais irá diferenciar as cidades que ficarão presas no passado e as que irão seguir rumo ao futuro.

O Rio de Janeiro até hoje não se recuperou totalmente da perda política da transferência da capital federal para Brasília e do êxodo empresarial para São Paulo. Os atuais administradores de ambas as metrópoles precisam encarar a mobilidade com a devida seriedade e também como uma importante maneira de promover a sustentabilidade urbana. Precisam deixar de lado a velha mobilidade centrada no uso do transporte individual motorizado e dar prioridade absoluta para o transporte público e os descolamentos de pedestres e ciclistas. A palavra “progresso” mudou de sentido e esse novo significado está intimamente relacionado com a sustentabilidade ambiental.

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No Blog: Velha Mobilidade.
Confira na Wikipédia o conceito de Cidade Global.