Planejamento Cicloviário na Imprensa

Planejamento Cicloviário ainda é um conceito novo no Brasil. Muitas vezes a imprensa associa bicicleta à necessidade de ciclovias. No entanto para os ciclistas essa ligação não é direta e cada vez mais a mensagem consegue se espalhar.

Na reportagem veiculada na Rede Globo um excelente panorama da situação do ciclista em São Paulo:

  • Pedalar na capital paulista é driblar os congestionamentos e chegar antes;
  • Ciclistas são portanto pontuais;
  • Adotar a bicicleta é bom para a saúde do indivíduo e do planeta;
  • A falta de infraestrutura e de segurança viária são grandes problemas;
  • Integração com o transporte sobre trilhos ajuda a facilitar o uso das bicis como meio de transporte;
  • O maior desafio está na mudança da mentalidade dos motoristas;
  • Deve-se inserir a bicicleta como mais uma opção de transporte para a população;
  • Para melhorar a vida de quem pedala ou quer pedalar em São Paulo, vale o tripé: bicicletários, educação no trânsito, além de ciclovias e ciclofaixas.
  • Na Contramão da História?

    Bicicletas Estacionadas

    Improviso nas Ruas do Rio

    A nova administração municipal do Rio de Janeiro encampou uma campanha de inestimável valor para a sociedade. O lema desde o primeiro dia de governo é o “Choque de Ordem”. Uma série de ações tem mostrado ao carioca que há um novo governo e que a prefeitura irá privilegiar a organização da cidade.

    No entanto a medida que segue em seus esforços, podem haver erros. Um deles foi cometido com a apreensão de bicicletas estacionadas em postes nos bairros do Flamengo e do Catete. Segundo a Prefeitura elas pertenciam a estabelecimentos comerciais e obstruíam a calçada dificultando o trânsito de pedestres.

    Por mais bem intencionada que possa ser a medida de deixar livres as calçadas do Rio de Janeiro, cortar correntes e apreender bicicletas é uma medida que não só é polêmica, mas acima de tudo um enorme retrocesso na promoção da qualidade de vida na cidade. Bicicletas em todo o mundo são incentivadas e é desejo de qualquer prefeito no planeta ter uma cidade melhor. Certamente as magrelas fazem parte da melhoria na qualidade de vida urbana. Silenciosas, limpas e esguias, deslizam pelas ruas sem poluir e sem gerar engarrafamentos.

    Bicicletas nas calçadas são um problema, com certeza. No entanto a solução não passa pela remoção pura e simples da bicicleta, tratando-a como um “obstáculo”. Onde bicis demais tomam o espaço do pedestre, um bicicletário torna-se necessário. Estabelecimentos comerciais fazem entrega em bicicleta, parabéns. A Prefeitura deveria facilitar o contato para que eles solicitem a instalação de um bicicletário em local adequado junto a loja.

    Bicicletas na Rua

    Espaço adequado para o estacionamento de bicicletas

    O Rio de Janeiro tem muito a se beneficiar com a adesão cada vez maior dos cariocas as bicicletas, mas não se pode deixar de lado a mobilidade dos pedestres e a limpeza das calçadas. Bicicletários bem localizados e adequados são portanto a melhor solução para resolver um problema e ao mesmo tempo impulsionar a solução de outros.

    – Mais:
    Bicicletas Confiscadas – O Eco
    Prefeitura do Rio desestimula o uso da bicicleta – Vá de bike
    Sr. Prefeito do Rio, não ataque as bicicletas! – O Globo

    Barreiras Psicológicas

    Instalar bicicletários e construir ciclovias até pode incentivar pessoas a mudarem rotinas diárias, trocando o automóvel pela caminhada ou bicicleta. As cidades precisam disto, o planeta depende disto, a própria saúde física e mental das pessoas exige isto pra já, mas a grande barreira a ser vencida não está fora das pessoas, mas dentro delas.

    Mudar hábitos significa passar por 3 fases distintas:

    • adquirir conhecimento
    • mudar de atitude e
    • mudar de comportamento.

    Primeiro, as pessoas precisam ser convencidas racionalmente, com argumentos lógicos, explicações, números, conhecer os benefícios de andar a pé ou de bicicleta e os males causados pela dependência do automóvel. Isto é facílimo de fazer, há dezenas de estudos científicos comprovando os benefícios da bicicleta e da caminhada, e outro tanto de estatísticas oficiais apontando a rua sem saída entupida de automóveis e mortos atropelados.

    Depois, o conhecimento adquirido precisa mudar sua atitude perante o problema. Atitude pode ser definida como “aquilo que estamos dispostos a fazer”. No caso do trânsito, uma mudança de atitude pode ser percebida quando você disser ou pensar: não vou encontrar vagas, vou ficar no engarrafamento… bem que eu poderia ir de bicicleta. É uma disposição para agir de uma maneira e não de outra. Esta fase passa por caminhos psicológicos mais densos, que exigem uma percepção diferente da realidade. Hoje todo mundo tem uma atitude positiva com relação às bicicletas, até mesmo os governos e prefeituras.

    Ainda assim, parece ser tão difícil que as pessoas nas ruas e as pessoas dentro dos governos mudem seus hábitos e percepções e adotem a bicicleta como solução para sua vida e para nossas cidades. Na verdade, isto exige uma mudança de comportamento. Atitude é intenção; o comportamento é ação. Se mudar de atitude já exige certas escavações psicológicas, mudar comportamento é algo extremamente bem mais complexo e profundo. O ditado popular diz com sabedoria que “é grande a distância entre intenção e gesto”.

    As grandes tranformações fracassadas esbarram sempre em mudanças de comportamento, pois estas dependem da personalidade de cada pessoa, da imagem que cada um tem de si, dos estereótipos e das reações condicionadas, e dos sentimentos e emoções envolvidos no processo. Por exemplo, experimentar a sensação de liberdade e o prazer de pedalar é mais decisivo do que saber quantas toneladas de CO2 um carro lança no ar por mês. De outro lado, estereótipos como “bicicleta é para atleta” ou “de carro vou mais rápido” ou “não posso chegar suado no trabalho” são barreiras psicológicas quase intransponíveis se não forem confrontadas adequadamente. Ciclovias e bicicletários, por exemplo, não serão respostas satisfatórias para a necessária mudança de comportamento nestes casos.

    Esta mudança virá como crianças pequenas aprendendo a pedalar: a bicicleta está ajustada e a rua livre, alguém do lado dá incentivo, apoio e segurança, mas, sem vencer medos e bloqueios internos, toda tentativa de mudar será frustante.

    Estação Paraíso, Rio de Janeiro

    Há pouco mais de dois anos foi inaugurada a Estação Cantagalo do Metrô. Trata-se do último acesso a rede de trilhos antes do bairro de Ipanema. Desde antes da inauguração já se sabia que o local deveria ser integrado ao uso da bicicleta.

    Atualmente, com a recém inaugurada estação de bicicletas públicas, a Praça Eugênio Jardim, onde fica a Estação Cantagalo é uma espécie de paraíso para as bicicletas. Elas estão aos poucos tomando os espaços e refletem o uso crescente das magrelas. Excelente veículo para viagens curtas e perfeito para cruzar a cidade quando integradas ao transporte sobre trilhos.

    Iniciativa pública e empresas estão juntas fazendo a sua parte e trazendo melhorias a mobilidade urbana no Rio de Janeiro.

    Sinalização nos trens indicam que há um bicicletário,
    1_1_2_3_4_5_6_7

    Bicicletário gratuito dentro da estação,
    3_1_2_3_4

    Postes ao redor repletos de bicicletas,
    4_1_2_3_4

    Bicicletário externo SulAmérica em ambas as saídas,
    6

    e Bicicletas Públicas.

    Uma Polêmica Reversível

    O trânsito motorizado no eixo viário que liga a praia de Botafogo a Lagoa no Rio de Janeiro para por completo durante o pico de fim de tarde. Automóveis e ônibus movem-se lentamente. As motocicletas trafegam com enorme dificuldade. Apenas ciclistas são capazes de seguir devagar e sempre em meio ao enorme engarrafamento.

    Equacionar esse problema é desejo da administração municipal, dos moradores da região e de todos que passam por lá. Como medida para desafogar o trânsito a Prefeitura implantou uma faixa reversível com 530 metros de extensão no sentido Botafogo-Lagoa. A medida visa facilitar o escoamento de automóveis, mas já chegou coberta em polêmica.

    No primeiro dia um atropelamento, congestionamentos no sentido oposto e desaprovação por parte dos moradores. Faixas reversíveis são comuns na cidade. Funcionam no sentido centro pela manhã e na direção oposta durante o pico da tarde. Elas trouxeram benefícios para a fluidez motorizada, mas não ajudam a equacionar o problema dos congestionamentos na cidade.

    Para fazer o carioca ir e vir com mais facilidade, a Prefeitura precisa pensar além dos automóveis. A mobilidade deve estar ligada ao fluxo de pessoas, a capacidade de transportar cidadãos de casa até o trabalho de manhã e no retorno ao lar no fim do dia. Dentro dessa lógica, criar facilidades para o trânsito do carro particular irá apenas dificultar o cotidiano de todos.

    Moradores reclamam com razão dos transtornos trazidos pelo excesso de congestionamentos. São os que mais perdem em qualidade de vida por terem engarrafamentos gigantescos na porta de casa. Para garantir a qualidade de vida dos moradores da região e dos que precisam cruzar o bairro de Botafogo, a Prefeitura do Rio de Janeiro deve trabalhar em favor dos cidadãos, criando facilidades e opções para que as pessoas possam optar pelo transporte público, pela bicicleta ou até ir a pé.

    Faixas exclusivas para ônibus, calçadas melhores, e a inserção da bicicleta no trânsito irão beneficiar a todos e colocar o Rio de Janeiro no rumo certo para equacionar o problema dos congestionamentos.