O trânsito seguro de bicicletas

Bicicletas são veículos seguros por excelência capazes de manter velocidade graças ao esforço físico de seu condutor. Sendo essa dependência do ciclista seu maior trunfo.

É no entanto bastante comum ouvir comentários e dúvidas daqueles que por ventura ainda não pedalam quanto a segurança de se conduzir um bicicleta nas cidades. É uma pergunta difícil, que gera embaraço aos mais desatentos mas cuja resposta pode ser repetida com o mantra em relação a segurança intrínseca da bicicleta: sua limitação de velocidade de acordo com a capacidade do condutor.

Ainda assim, a segurança da bicicleta por si só, perde evidência em cidades com ruas e avenidas tomadas por veículos motorizados e altos níveis de estresse. O problema então deixa de ser a bicicleta e passa a ser o uso das ruas.

Nascida no século XIX, a bicicleta chegou ao século XXI firme, forte e capaz de desempenhar um papel que ficou esquecido em muitas cidades ao redor do mundo. O melhor meio de transporte em curtas distâncias e máquina mais eficiente jamais produzida pelo homem para a conversão de força muscular em movimento.

Para que o potencial da bicicleta seja devidamente compreendido e exercido, é preciso permitir que seus usuários desfrutem da segurança natural do veículo e essa segurança se constrói com intervenções diretas na pacificação da circulação urbana.

A lógica da velocidade motorizada em largas avenidas é um retumbante fracasso, tendo a degradação urbana e a inviabilização da circulação humana como consequências diretas. Discutir segurança dentro desse cenário tem de passar pelo debate e promoção de rotas seguras para deslocamentos humanos.

Nas cidades do século XX, foi introduzido um elemento novo, o automóvel. Para que ele pudesse circular em segurança, foi preciso confinar os pedestres nas calçadas e retirar todas as interferências das ruas. Nosso tempo é de reversão do uso do espaço urbano em favor das pessoas, e o caminho passa pela mudança do discurso em relação ao uso da bicicleta.

Candelária, rota de carga

Triciclos de Carga cruzam a Avenida Presidente Vargas

Dentro do projeto de ciclorrotas do centro do Rio de Janeiro, a quinta e última contagem foi realizada na terça-feira dia 11 de dezembro de 2012. O local dessa vez foi a Candelária, em plena Avenida Presidente Vargas na esquina com a Avenida Rio Branco.

Como já é tradição, alguns números saltam aos olhos. Enquanto na Praça XV do total de bicicletas que transitaram em 12 horas, 20,5% eram dobráveis, na Candelária impressionou o fluxo de triciclos de carga.

Triciclo de Carga e ônibus na avenida Rio Branco

Ao longo de 12 horas foram 305 triciclos, ou 48,7% do total de ciclistas que passaram no local. Outro detalhe que reforça a preponderância do transporte de carga no local é o horário de pico de trânsito de ciclistas. Entre às 11 horas e o meio-dia foram 70 ciclistas, bem acima da média do dia de 52 ciclistas por hora.

Alguns números da Contagem de ciclistas na Candelária:

627 ciclistas em 12 horas, média de 52 ciclistas por hora.

305 Triciclos 48.5%

619 homens 98.7%
8 mulheres, apenas 1.3% do total

Horário de Pico: 11 às 12 com 70 ciclistas
Horário de Vale: 18 às 19 com 23 ciclistas

Confira o relatório completo da Contagem de Ciclistas Candelária – Centro

Contagem de ciclistas na Praça XV

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A praça XV é destino pedestre, local de integração entre os dois lados da baía da Guanabara. Barcas e catamarãs partem e chegam diariamente. O grande fluxo são de pessoas vindas de Niterói e municípios vizinhos, com destino a seus locais de trabalho no centro do Rio.

Para conhecer e entender o fluxo de ciclistas nesse grande ponto de interligação de transportes da região metropolitana do Rio, a Tranporte Ativo, com o apoio de valentes voluntários realizou mais uma contagem de ciclistas. Parte do projeto das Ciclorrotas do Centro do Rio de Janeiro.

A contagem foi realizada na terça feira, dia 22 de novembro de 2012. O número de ciclistas foi baixo em relação a outros locais, mas um dado aponta uma tendência interessante, 20,5% do total de bicicletas eram dobráveis, um número muito acima da média de todas as outras contagens.

Esse retrato deixa evidente a importância da bicicleta como veículo de integração modal. Historicamente a dupla metrô-bicicleta dobrável é sempre eficiente nos desafios intermodais cariocas. Mas os DIs também nos ensinam que a bicicleta pública, quando presente, é ainda mais rápida e eficiente na integração com o metrô.

Ou seja, uma rede de estações de bicicletas públicas ao redor do centro certamente irá colaborar para uma maior utilização desse modal no total de viagens. Já que hoje a estação praça XV de bicicletas públicas ainda é isolada das demais estações.

Alguns números:

350 ciclistas em 12 horas, média de 29 ciclistas por hora.

72 Dobráveis 20.5%

241 homens 97.5%
9 mulheres, apenas 2.5% do total

Horário de Pico: 08 às 09 com 43 ciclistas
Horário de Vale: 10 às 11 com 14 ciclistas

Confira o relatório completo da Contagem de Ciclistas Praça XV – Centro

Ciclofaixas e ciclomodismo

A Prefeitura do Rio de Janeiro anunciou que irá lançar ciclovias operacionais aos domingos, será inicialmente um corredor isolado por cones dedicado ao trânsito de bicicletas. O plano é conectar o Parque do Aterro do Flamengo na Zona Sul, à Quinta da Boa Vista na Zona Norte.

É importante no entanto entender o nascimento desse tipo de infraestrutura. O termo “ciclovia operacional” é mais conhecido pelo apelido paulistano “ciclofaixas de lazer”. Criadas em agosto de 2009 pela Secretaria Municipal de Esportes, com o apoio de um patrocionador, de imediato esse parque ciclístico teve um sucesso estrondoso, se espalhou por São Paulo e pelo Brasil.

Inspiradas em parte nas “Ciclovias” de Bogotá na Colômbia, a versão paulistana tem dois grandes diferenciais, sinalização horizontal e vertical permanente e o fato de ser exclusiva para bicicletas.

A capital colombiana iniciou nos anos 1970 uma política de estímulo as atividades ao ar livre. Diversas avenidas durante algumas horas aos domingos e feriados tornaram-se exclusivas para a circulação de pessoas em transportes ativos. Bicicletas, patins, skates, patinetes, pessoas a pé, todos circulando livremente em um sentido das avenidas enquanto no sentido oposto o trânsito motorizado seguia seu fluxo. Muito parecido com o que acontece todos os domingos e feriados na orla carioca. As pistas junto ao mar somente para pedestres e transportes ativos (exceto a bicicleta, que contam com a ciclovia) e as pistas junto aos prédios com o fluxo motorizado em um único sentido.

Ao traduzir para a realidade carioca a iniciativa paulistana, o Rio de Janeiro visa promover o uso da bicicleta como veículo de lazer, uma estratégia válida na valorização da bicicleta, mas que também parece desconhecer o histórico da cidade. As ruas de lazer são um enorme sucesso, avenidas abertas para pessoas, independente do veículo, são transformadoras.

As ciclovias operacionais são um enorme sucesso de público Brasil afora, mas a sinalização permanente confunde e deseduca ciclistas e motoristas durante a maior parte do tempo em que a iniciativa não está em operação. Além disso, concede um privilégio aos ciclistas em detrimento de skatistas, patinadores e principalmente pedestres. Afinal basta uma caminhada na Avenida Paulista em um domingo para ter a alegria de ve-la repleta de bicicletas em circulação e a tristeza de ver que as calçadas seguem lotadas demais. Pedestres, skatistas e patinadores certamente preferem ruas de lazer.

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Gentilezas para ciclistas

Grandes obras geram transtornos no sistema viário de qualquer cidade. Com um pequeno incentivo é possível que a devida sinalização seja também feita para alertar aos ciclistas que no lugar da ciclovia, há um canteiro de obras e é preciso trafegar na calçada.

Inicialmente o ciclista ficou esquecido nas intervenções em curso no Leblon, no Rio de Janeiro. Mas a Transporte Ativo já lançou o alerta e em breve a sinalização será colocada para alertar os ciclistas dos desvios.

Simulação das obras com sinalização para o ciclista.

Simulação da circulação dos ciclistas na calçada.

Sinalização para condutores de veículos automotores.

Atualização, menos 48 horas após o envio das imagens pela Transporte Ativo, a sinalização foi instalada, sinal de respeito ao ciclista, que se repita em todas as obras que esbarrem em infraestrutura cicloviária.

Sinalização instalada.