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Mas foi apenas uma bicicleta que parou. A ciclista Márcia Prado, que estava na bicicleta continuou sua luta. Agora levada a campo por amigos, novos e antigos, que seguem pedalando na cidade de São Paulo e agindo para que pedalar seja uma atividade mais fácil e segura para cada vez mais paulistanos.
A Rota Cicloviária Márcia Prado faz parte desse esforço dos amigos para honrar a ciclista.
Aos poucos, em ritmo constante, que se estendeu por toda a manhã até o início da tarde, 900 ciclistas foram do planalto até a baixada em meio ao verde do Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo Itutinga Pilões. Não foi uma massa unida, mas um fluxo disperso de novos e velhos amigos. O esforço foi considerável e cada um terá sua própria história para contar sobre um mesmo dia em que todos se uniram pelo desejo de pedalar serra abaixo.
Mesmo com a altimetria favorável, houveram muitas subidas, altos e baixos entre a estação Grajaú da CPTM, início da futura rota Cicloturística Márcia Prado, e a cidade de Santos. O caminho traduz um grande desejo dos ciclistas, acessar ao litoral paulistano de maneira segura e sem a ajuda de motores, algo que oficialmente ainda não é permitido e que através da presença massiva dos 900 ciclistas nesse evento teste confirmou que a demanda existe e que muitos podem ser os benefícios.
Nossas cidades foram construídas em aço, concreto e asfalto, mas tudo tem seu custo e assim como água e óleo não se misturam, chuva e impermeabilização excessiva não se dão muito bem. O calor tropical representa grande desconforto para o microclima urbano nos dias mais quentes, no entanto o maior terror são as chuvas torrenciais. Apesar de não termos monções, chuva acima do esperado são normais no Brasil.
Do caos sempre pode brotar o questionamento. Do excesso de asfalto, podem surgir plantas, árvores e espaços públicos de qualidade. Nossas cidades são construções coletivas e portanto políticas. Muitas realidades nasceram utópicas e viraram status quo. As “cidades jardim” falharam na promessa de mais qualidade de vida em um misto de meio urbano e rural. Cidades que fazem sentido são densas e intensas, onde a mobilidade é racional e há proximidade.
Já é passada a hora de “des-asfaltar” nossas cidades, possibilitando que a natureza tenha mais espaço e a água possa seguir seu fluxo incontrolável. Humanos, frágeis habitantes dos zoológicos de pedra agradecem.
O vídeo mostra a iniciativa do projeto Depave.org de Portland nos EUA. No lugar de um estacionamento asfaltado sem graça, uma área para a natureza e o convívio das pessoas.
Explicar fatos e relatar a realidade estará sempre aquém do vivenciar. E a bicicletada é definitivamente um evento que não pode ser traduzido em imagens ou textos. A Bicicletada Paulistana de Novembro teve seu ápice na invasão pacífica de um novo shopping. Em desacordo com a legislação municipal vigente, o centro comercial não foi inaugurado com o bicicletário.
Antes da bicicletada, uma única ciclista e a Folha Online não conseguiram estacionar uma única bicicleta. Para deixar a mensagem ainda mais clara, a massa de mais de 200 ciclistas adentrou o estacionamento em ritmo de festa, cantou clássicos hinos e novos gritos de guerra e voltou as ruas. Pairou o mistério nos seguranças, sem entender aquele movimento sem líderes e que da mesma forma que entrou, saiu. Mas o poder da massa ficou claro e espera-se que novos centros comerciais não mais sejam inaugurados sem respeitar a legislação em favor dos ciclistas.
A vida é um caminho sem volta e a rota pedalada nunca mais é a mesma depois que passamos por ela. Assim foi com o ainda estudante Osvaldo Stella. Cruzar a Transamazônica em uma bicicleta foi a solução para a “alma desesperada” dele. A estrada mudou-lhe a vida e ensinou muito a quem achava que sabia tudo, mesmo sendo jovem.
Ser ciclista é definitivamente ver além do que a vida cotidiana pode retratar. A bicicleta é o melhor veículo para conhecer não só o mundo como a si mesmo. O horizonte que se expande em longas jornadas não é só o que se vê do lado de fora, mas também o que está dentro de cada um.
Nas palavras de Osvaldo: “Quanto mais longe você avança, mais longe você fica do começo e mais difícil é de voltar.”
Confira a história de Osvaldo Stella contada na conferência TEDxSP. Pouco mais de 15 minutos da engenharia até a Amazônia.