Um Milhão de Amigos

Diariamente aproximadamente 1,2 milhão de pessoas caminham pela Avenida Paulista. Executivos na hora do almoço, executivas apressadas equilibrando-se no salto alto. Mas não são só os ricos e bem vestidos que estão por lá. Trabalhadores de todos os tipos, estudantes e também turistas que passeiam pela avenida cartão postal.

A recente reforma aumentou em 15% o fluxo de pessoas nas calçadas. O conforto para os pedestres rendeu frutos, mais do que isso, abriu a avenida para novos usuários. Cadeirantes e deficientes visuais passaram a ter uma área totalmente acessível para circular. Skatistas e patinadores ganharam no cimento liso uma área de deslocamento e lazer não prevista. Ciclistas sentiram-se atraídos a pedalar na calçada, mas o enorme fluxo de pedestres desencoraja o uso dessa faixa compartilhada informal.

Melhorar a mais famosa das avenidas no entanto é um processo contínuo. Os acertos até agora obtidos podem e devem se espalhar para o restante da cidade. Quando inserida dentro do conceito de mobilidade urbana, a acessibilidade traz benefícios em qualidade de vida para todos. É sempre bom repetir o conceito de que quanto mais larga a calçada, maior é a democracia.

Os benefícios dessa democracia focada nos pedestres e cadeirantes se alastra para além dos beneficiários imediatos. Traz lucros diretos para o comércio, o turismo e valoriza a cidade perante seus cidadãos e o mundo.

Mais florida e iluminada: a nova Paulista – Estadão
Fluxo de pedestres na Paulista cresce 15% – Folha

Cidade que Queremos

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A cidade que os paulistanos querem, é uma cidade na qual elas possam se movimentar, ir e vir sem ficarem presas em meio ao mar de automóveis “estacionados”. É a cidade de São Paulo dos ciclistas apocalípticos de hoje. Afinal de bicicleta nunca se está “preso no trânsito”. No entanto, a percepção de cidade enquanto ciclista ainda é minoritária. A “inveja” que os motoristas sentem de saber que os ciclistas nunca ficam parados no trânsito ainda não é o suficiente para fazer aumentar exponencialmente da noite para o dia o número de ciclistas nas ruas. Mas felizmente eles vem aumentando, e muito.

Para que o discurso da promoção ao uso da bicicleta e dos transportes sustentáveis seja aceito como “senso comum” ainda há muito trabalho a ser feito. A cidade de Los Angeles é o maior exemplo do mundo de como num universo de recursos abundantes a mobilidade urbana não se resolve com mais investimentos no sistema viário. A cada ano a cidade californiana é sempre a campeã norte-americana de congestionamentos. Ao mesmo tempo Nova Iorque, tem a menor taxa de automóveis por habitante, um sistema de transporte de massa bem estruturado e para resolver os problemas de congestionamento motorizado tem promovido cada vez mais a bicicleta e a qualidade dos espaços públicos.

A cidade almejada pelos ciclistas precisa ser a cidade almejada pela população em geral. A pressão pela acessibilidade tornou nossas calçadas mais amigáveis para os pedestres. Da mesma forma, a promoção ao uso da bicicleta é capaz de promover a “acessibilidade” de nossas ruas, tornando-as aptas a outros fluxos e até mesmo outros usos. Precisa mudar a cidade, mudar a percepção de que cidade queremos.

Por hora investimentos no viário ainda são vistos como um “mau necessário“. No entanto, o político que tiver a coragem de ousar e trabalhar em prol de uma nova mobilidade, irá certamente receber um retorno político maior pelo ineditismo. Afinal em cima de cada bicicleta, vai um voto, se for uma criança, são dois votos. Pensando assim, uma cidade em que todos possam pedalar com conforto e segurança é uma cidade com mais eleitores felizes.

Mas não basta apenas pensar nas bicicletas. Seoul foi capaz de provar que um viaduto a menos é capaz de eleger um presidente. Os benefícios sociais e financeiros do investimento em qualidade de vida serão os que garantirão competitividade as cidades. E por consequência, viabilidade política para seus líderes democraticamente eleitos.

Planejar uma Cidade Global

O Brasil tem duas metrópoles globais. Rio de Janeiro e São Paulo são cidades cuja influência e importância vão além das fronteiras brasileiras e até mesmo Latino Americanas. No ranking urbano global (GaWC), São Paulo está entre as mais importantes dada a relevância dos negócios aqui conduzidos o que a coloca na condição de um importante nó na rede mundial das cidades. O Rio de Janeiro vem logo atrás.

Manter-se bem colocado no GaWC requer uma série de medidas e principalmente a visão dos seus administradores para que facilitem um ambiente favorável aos negócios sem inviabilizar a qualidade de vida da população desses grandes centros. As duas cidades no topo do ranking são unanimidades históricas que mantiveram desde o século XIX sua importância mundial. Londres e Nova Iorque, principalmente a primeira, inventaram o conceito de cidade global, mas para manterem seu papel de destaque, souberam se atualizar e acompanhar a marcha da história.

O progresso industrial do passado que fez explodir o tamanho das cidades deu lugar a uma nova abordagem do que é importante para que a metrópole não fique para trás no competitivo ambiente de negócios globalizados. Para não perderem competividade e principalmente produtividade, Londres e Nova Iorque tem dado muita ênfase ao transporte sustentável e ao espaço público. A qualidade de vida da população e a capacidade de “fazer mais negócios em menos tempo” são duas medidas que tem que ser encaradas de frente para que a cidade não perca importância econômica e política diante das demais cidades ao redor do globo.

São Paulo e Rio de Janeiro tem muito o que aprender com as duas mais importantes metrópoles mundiais. Em Londres e Nova Iorque o uso da bicicleta só faz crescer por meio de uma série de iniciativas da administração local. A mobilidade urbana cada vez mais irá diferenciar as cidades que ficarão presas no passado e as que irão seguir rumo ao futuro.

O Rio de Janeiro até hoje não se recuperou totalmente da perda política da transferência da capital federal para Brasília e do êxodo empresarial para São Paulo. Os atuais administradores de ambas as metrópoles precisam encarar a mobilidade com a devida seriedade e também como uma importante maneira de promover a sustentabilidade urbana. Precisam deixar de lado a velha mobilidade centrada no uso do transporte individual motorizado e dar prioridade absoluta para o transporte público e os descolamentos de pedestres e ciclistas. A palavra “progresso” mudou de sentido e esse novo significado está intimamente relacionado com a sustentabilidade ambiental.

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No Blog: Velha Mobilidade.
Confira na Wikipédia o conceito de Cidade Global.

O Verde Paulistano

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São Paulo é famosa pelo concreto, o asfalto e o pesado tráfego motorizado. Dentro dos limites do município no entanto há uma área rural e até mesmo áreas de proteção ambiental (APAs). Delas vem grande parte da água que o paulistano bebe e onde estão as árvores que colaboram para a qualidade do ar.

Para comemorar o aniversário das APAs de Bororé-Colônia e Capivari-Monos será realizada uma pedalada nesse domingo dia 21 de junho. O passeio começa às 9h com saída do CEU de Parelheiros.

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Esse passeio ciclístico será um evento gratuito que visa a sensibilizar a população local para as questões socioambientais nas Áreas de Proteção Ambiental Capivari-Monos e Bororé-Colônia, localizadas no extremo sul do município de São Paulo, em uma importante região de manancias de onde sai à água que abastece 30% da cidade de São Paulo. A região conta com remanescentes de Mata Atlântica onde ainda é possível encontrar rios e cachoeiras límpidos, além de diversos atrativos sócio-culturais como comunidades tradicionais indígenas e uma das poucas crateras conhecidas causadas devido ao impacto de um corpo celeste.

Seja a Mudança

Um texto curto escrito pelo colega Palmas na lista de discussão da bicicletada paulista:

Sou uma pessoa que tenho sobrando uma vontade tremenda de mudar o mundo para melhor e por livre e espontânea vontade, faço a doação, gratuitamente, de um pouco dessa boa vontade, transferindo desde já a você toda posse, ação e domínio para que seja a diferença que você quer ver no mundo, em vez de esperar que algum poder externo faça o trabalho por nós.

Fica o convite, sejamos um pouco como Ghandi que moldou seu mundo. Fica um outro exemplo em vídeo do Doutores da Alegria.