Rio Perde Provisoriamente o seu Rebolado

Semba

O sistema Samba de bicicletas de aluguel no Rio de Janeiro, teve seu primeiro revés desde a sua implementação. Em apenas 72 horas foram furtadas diversas bicicletas e danificadas estações. Por conta disso o sistema foi totalmente suspenso, para que seja feita uma restruturação que garanta a integridade das estações e bicicletas.

Em nota oficial, a empresa responsável deixou claro que o tempo fora do ar será acrescido aos planos em vigor, para que os usuários não sejam prejudicados.

Como tecnologia social, bicicletas de aluguel requerem a rápida interação entre o poder público, a iniciativa privada e a população. As estações estão lá para serem usadas e o processo de inserção do sistema na dinâmica urbana teve seu primeiro trauma. Alguns cidadãos se sentem excluídos por não participarem da cidade como um todo, não terem acesso aos serviços disponíveis aos “incluídos”. Uma das consequências dessa batalha silenciosa é a degradação de espaços e equipamentos urbanos. Por conta disso, as bicicletas permanentemente expostas, acabaram sendo vítimas da “cidade partida”.

O problema de segurança pública no Rio de Janeiro não será resolvido pelas bicicletas, nem tão pouco é causado por elas. No entanto, através da inclusão social que meios de transporte ativos promovem nas cidades podem ser construídos atalhos para uma cidade mais socialmente justa e inclusiva. Especificamente em relação ao sistem SAMBA, a empresa responsável e a administração municipal precisam estar cientes da importância de mobilizar os frequentadores dos espaços ao redor das estações, moradores ou não, de que aquele equipamento lhes pode ser útil e está acessível. Para isso, a integração com o Riocard (cartão pré-pago do sistema de ônibus) tem de ser feita o quanto antes. Além disso, a prefeitura precisa escolher locais mais felizes para as estações, por vezes isoladas em canteiros centrais e áreas de baixa circulação de pessoas, o que facilita a ação de criminosos e vândalos.

Compromissos Internacionais

Fim de Tarde no Rio

Líderes do mundo todo estão em Copenhague essa semana para discutir compromissos na 15ª Conferência das Partes (COP15). Muitos impasses, discussões, propostas e mesas de debate visam traçar um caminho. Apesar da natureza global do evento, muitos representantes de cidades estão presentes.

O Rio de Janeiro esteve na mesa que tratou sobre como as cidades podem acelerar o desenvolvivemto verde nas cidades. Os impactos negativos do transporte são um importante componente das mudanças climáticas, natural portanto que os prefeitos tomem atitudes para diminuir o impacto do ir e vir de seus cidadãos. O carioca tem tido o prazer de cada vez mais receber incentivos para pedalar mais. São bicicletários, infraestrutura de circulação e principalmente, a presença constante da bicicleta na agenda política da cidade.

Compromissos, quanto mais públicos se tornam, mais tendem a serem cumpridos. Em conversa com o I-Ce, a Transporte Ativo sugeriu que a mesa a cargo deles em Copenhague contasse com a participação do governo da cidade do Rio de Janeiro. A presença em um evento pode parecer pouco, mas ajuda a reforçar compromissos e ajudar para que metas sejam cumpridas. Dessa maneira, de maneira simples e direta, conseguimos aproximar pessoas e seguir no rumo de solidificar a bicicleta como componente cada dia mais importante na política urbana carioca.

O vice-prefeito e secretário do Meio Ambiente Carlos Alberto Muniz, foi a Copenhague representando o prefeito Eduardo Paes. Esteve ao lado dos líderes da Cidade do México, Lion e Amsterdã para afirmar que o Rio pretende dobrar o total da malha cicloviária para 340km. O número impressiona e fará do Rio de Janeiro a cidade com a maior infraestrutura pra bicicletas na América Latina.

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Copenhague e o Futuro do Planeta

O século XX foi o ápice da expansão industrial desenfreada de um mundo sem limites. Nossas cidades foram modificadas para se adequarem a circulação de um bem material privado que necessitava cada vez mais de espaço público. Os impactos negativos dos excessos são sentidos todos os dias em consequência do consumo desenfreado de energia e materiais. Os combustíveis fósseis que fazem girar a roda da economia mundial são os mesmos que sujam o ar das cidades e alteram o balanço climático global.

O mundo está reunido em Copenhague na Dinamarca para atingir um consenso sobre maneiras de reduzir as emissões de gases do efeito estufa causadas por atividades humanas: da flatulência de vacas no campo ao escapamento de veículos motorizados, passando pela energia de termoelétricas e o lixo que produzimos. As soluções são acima de tudo políticas e os meios já estão dados, basta a mobilização de agir em direção a novos rumos. Os mesmos definidos pelo relatório Brundtland e “Nosso Futuro Comum”.

Mas não basta a retórica de um “desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. São necessárias ações que favoreçam atitudes sustentáveis por parte da população garantindo a todos o atendimento as suas necessidades básicas, sem que isso implique em impactos negativos ao meio ambiente que inviabilizem a existência humana.

Comunidades densas, onde o ser humano é prioridade, são certamente o caminho para o futuro e o que tem sido desenhado cada vez mais no século XXI. Afinal quando passarmos a pensar no ser humano e em suas necessidades principais, será mais fácil respeitar o ciclo de vida do planeta como um todo. As metas e acordos portanto terão de ser apenas os meios, e não fins em si mesmos para atingirmos um nível adequado de equílibrio entre a satisfação das necessidades humanas e as do Planeta.

Transporte Não Motorizado

Transporte Não Motorizado

O Código de Trânsito Brasileiro menciona “veículos não motorizados” e o termo é costumeiramente aceito por planejadores urbanos e até mesmo promotores de meios de transporte ativos. Mas a terminologia deixa clara a importância de um sobre o outro. Algo que é o “não” tem uma relação de dependência com aquilo que é por si só.

Nós, frágeis criaturas, somos antes de mais nada seres que caminham. Foi assim que ganhamos o mundo e nos diferenciamos das outras espécies do planeta. Consolidado o caminhar, seguimos nosso caminho pelos mares afora, utilizando a força dos músculos que remam ou dos ventos que sopram. Muito recentemente surgiram os motores e as locomotivas a vapor foram as primeiras a alcançarem grandes velocidades em terra.

Apesar de todas as evoluções os conversores mecânicos de energia em movimento serviram apenas para facilitar o transporte de grandes volumes de pessoas e carga a velocidades nunca antes imaginadas. Continuamos sendo criaturas desprovidas de motor. A humanidade no século XX se iludiu em acreditar-se superior as forças da natureza e buscou distancia da nossa fragilidade. Grandes e poderosas máquinas motorizadas dominaram o cenário urbano e ganharam um protagonismo que é ruim para todos.

Retomar a essência das cidades como espaço para as pessoas passará também por colocar o que é mais importante primeiro. E o mais importante são os pedestres, ciclistas, patinadores, skatistas; transportes ativos enfim. Sinônimos existem: transportes inteligentes, à propulsão humana, etc… Já os “veículos não motorizados” continuarão sendo apenas aqueles que tiveram motor e hoje não tem mais.

Águas e Asfalto

Água e Asfalto

Nossas cidades foram construídas em aço, concreto e asfalto, mas tudo tem seu custo e assim como água e óleo não se misturam, chuva e impermeabilização excessiva não se dão muito bem. O calor tropical representa grande desconforto para o microclima urbano nos dias mais quentes, no entanto o maior terror são as chuvas torrenciais. Apesar de não termos monções, chuva acima do esperado são normais no Brasil.

Do caos sempre pode brotar o questionamento. Do excesso de asfalto, podem surgir plantas, árvores e espaços públicos de qualidade. Nossas cidades são construções coletivas e portanto políticas. Muitas realidades nasceram utópicas e viraram status quo. As “cidades jardim” falharam na promessa de mais qualidade de vida em um misto de meio urbano e rural. Cidades que fazem sentido são densas e intensas, onde a mobilidade é racional e há proximidade.

Já é passada a hora de “des-asfaltar” nossas cidades, possibilitando que a natureza tenha mais espaço e a água possa seguir seu fluxo incontrolável. Humanos, frágeis habitantes dos zoológicos de pedra agradecem.

O vídeo mostra a iniciativa do projeto Depave.org de Portland nos EUA. No lugar de um estacionamento asfaltado sem graça, uma área para a natureza e o convívio das pessoas.