Um Plano Cicloviário em Lei

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São Paulo foi pioneira na consolidação de uma lei que dispunha sobre a criação de um sistema cicloviário. Uma maneira de o poder legislativo municipal exercer pressão em prol do uso da bicicleta na cidade. No entanto leis precisam também de adaptações a novas conjunturas e por conta disso foi redigida uma nova lei para melhorar a antiga.

O novo texto com as contribuições de melhorias foi protocolado na Câmara Municipal de São Paulo, recebeu a numeração de Projeto de Lei (PL) 655/2009, e traz algumas novidades complementando a criação do Sistema Cicloviário do Município de São Paulo como:

– Equiparação dos triciclos não motorizados a bicicleta;
– Permissão por lei de transporte de bicicletas dobráveis em trem, metro e ônibus;
– Convênios com municípios vizinhos na implantação de projetos de melhoramentos cicloviários criando ciclovias intermunicipais;
– Definição de instalação de paraciclos no formato “U” ao contrário, devido ao formato “grelha” danificar bicicletas;
-Ampliação de locais e estabelecimentos que devem prever áreas para estacionamentos de bicicletas;
– Criação do Conselho Municipal de Melhoramentos Cicloviários, composto pelos membros do atual Pró-Cliclista e sociedade civil organizada, de forma deliberativa;
– Estabelecimento de prazo para adequação da em 360 dias;
– Criação de penalidades em casos de inobservância da lei.

Mesmo já apresentado, o PL ainda está em debate e novas alterações poderão ser incorporadas antes da votação. Já está inclusive programada uma Audiência Pública onde a sociedade está convidada uma vez mais a debater e propor mudanças ao projeto.

São Paulo já tem quase 15 mil leis, praticamente uma por quilômetro de viário. Para que a nova lei do Plano Cicloviário não fique “na gaveta”, a participação e o debate do Projeto de Lei é fundamental, afinal o legislativo responde sempre a demandas populares. A voz dos ciclistas tem portanto uma boa oportunidade de ser ouvida.

O texto do PL foi posto em debate na última reunião da Comissão de Bicicletas da ANTP e os participantes já estão em contato com o Gabinete do Vereador Chico Macena para melhorar o que for possível. Fica o convite para os ciclistas, paulistanos ou não, para colaborar na melhoria da futura lei. Mais do que um simples PL, o texto tem sido reproduzido (no todo ou em parte) em outras cidades e tem potencial para sair da câmara da capital paulista e ajuda a definir melhores políticas cicloviárias pelo Brasil afora.

Propostas para o Clima Urbano

A conferência da ONU sobre mudanças climáticas irá começar no dia 07 de dezembro em Copenhague. Até lá os países debatem entre si e internamente qual será o papel que irão se comprometer a assinar quando chegarem na Dinamarca. O Brasil por hora está comprometido com a redução do desmatamento da Amazônia, maior gerador de emissões do país. No entanto os compromissos a serem firmados podem colaborar para desenhar um futuro de prosperidade ambiental para os brasileiros.

O modelo de desenvolvimento do século XX já se mostrou fadado ao insucesso e as nações mais ricas do mundo já começaram a rever diversos conceitos. Todas as grandes capitais européias já estão refazendo o desenho de futuro urbano, e o uso da bicicleta naturalmente não para de crescer e ser incentivado. Nessa disputa informal entre as cidades, Amsterdã e Copenhague saíram a frente no planejamento cicloviário. Ambas redescobriram a bicicleta nos anos 1970 e hoje oferecem excelentes condições para que seus cidadãos possam pedalar para todos os lugares.

Reduzir as emissões de CO2 dentro das cidades é uma meta a ser debatida e que implicará diversos ganhos. No contexto urbano a queima de combustíveis fósseis mostra suas desvantagens comparativas de maneira mais clara. Natural portanto que o transporte público e o uso da bicicleta sejam prioridade absoluta. Reduzir o uso de derivados de petróleo no transporte urbano ajuda a reduzir as emissões globais de dióxido de carbono além de melhorar a qualidade do ar nas cidades.

As esferas locais, estaduais e o governo federal no Brasil tem nas metas de redução das emissões de carbono uma maneira de se alinharem ao futuro que já está sendo traçado. Os erros cometidos no século XX nas cidades mais ricas do planeta não precisam ser repetidos por nós para chegarmos a conclusão de que as melhores cidades do futuro serão aquelas em que todos podem ir e vir sem impactar negativamente o clima global, nem poluir o ar que respiram.

Mais cedo ou mais tarde o Brasil terá de se alinhar a “nova economia de baixo carbono” e o quanto antes for iniciada a transição, maiores serão os benefícios e menores os custos.

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Mais:
Política Estadual sobre Mudanças Climáticas (AM)
Política de Mudança do Clima no Município de São Paulo
Projeto de Lei da Política Estadual sobre Mudanças Climáticas (SP)
Rich cities: Don’t repeat our mistakes – Cop15.dk
Brasil não deve ter meta de emissão de CO2 – estadao.com.br

Abaixo um vídeo da Campanha TicTac sobre as cidades:

22 Pessoas, 2 Cachorros e o Clima from Leão Filmes on Vimeo.

E o rio Pinheiros continua sendo…

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Vai haver uma ciclovia na margem do rio Pinheiros em São Paulo e os ciclistas foram chamados a conhecer o trajeto e um projeto arquitetônico para a área. Apesar da baixa qualidade da água a paisagem ao redor do rio é bonita, esquecida depois das pistas de alta velocidade e do trem as águas fluem banhando capivaras. Passam por pontes, estações de oxigenação, pela Usina da Traição. Passam e seguem.

O asfalto a beira do rio, perfeito para a fluidez de bicicletas está liso entre a usina da traição, na altura da estação Vila Olímpia, até Jurubatuba. Por isso será esse o primeiro trecho a ser inaugurado. São aproximadamente 14 quilômetros hoje utilizados como via de manutenção dos equipamentos públicos no rio. O pequeno volume de tráfego motorizado, alguns caminhões, caminhonetes e automóveis de funcionários constrasta com o engarrafamento constante nas pistas da Marginal Pinheiros. Na mesma margem do mesmo rio, diferentes usos do asfalto, trânsito motorizado intenso, enquanto mais próximo do leito do rio os ciclistas terão contato mais direto com os problemas e belezas do rio. Serão potencialmente os maiores fiscais para a melhoria da qualidade da água.

Cabe ressaltar que os planos para a ciclovia as margens do rio Pinheiros não é idéia nova e persiste um grande problema, os acessos. Ciclovias totalmente segregadas costumam ser promovidas como oasis para a segurança viária dos ciclistas. No entanto os acessos, cruzamentos e entroncamentos são os locais de problemas e conflitos. Na ciclovia do rio Pinheiros esse conflito é ainda mais dramático. Cercado por água, trilhos e diversas pistas de uma via expressa a ciclovia tem nos acessos mais do que um calcanhar de Aquiles, uma perna inteira. Serão inicialmente apenas dois acessos já prontos que serão adaptados. Um na vila Olímpia por uma passarela de serviço e outro em Jurubatuba.

Uma das demandas dos ciclistas em relação a essa nova via expressa para bicicletas (a mais longa a ser implantada em São Paulo) é justamente como inserir o fluxo de bicicletas nessa via segregada. A maneira como o espaço segregado para os ciclistas irá dialogar com o resto do tecido urbano é ponto chave para o sucesso do projeto. A cidade (e os ciclistas) seriam beneficiados se passos fossem dados em relação a equacionar o fluxo de pedestres (e de bicicletas) em todos as pontes do rio Pinheiros. Além disso, o positivo investimento em infraestrutura cicloviária deve vir junto de campanhas educativas pela segurança viária para além da ciclovia.

O Rio de Janeiro e as ciclovias na beira da orla são um bom exemplo da necessidade de compatibilizar infraestrutura e campanhas educativas. Ciclistas precisam saber como se portar em uma via exclusiva para eles e ao mesmo tempo (e mais importante), o motorista precisa saber que o fluxo de bicicletas vai além das ciclovias e tem direito e prioridade no uso de todas as ruas da cidade. Na cidade maravilhosa o fluxo de bicicletas só agora começa a ganhar nas ruas o respeito previsto em lei.

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Documento aberto de sugestões de ciclistas para a obra.

Mais no Vá de bike:
Sugestões para a ciclovia da Marginal Pinheiros
Futura ciclovia da Marginal Pinheiros em vídeo
Como foi a reunião sobre a ciclovia da Marginal Pinheiros

Pedalear al trabajo

capa do guia

Como parte das celebrações do Dia Mundial Sem Carros, estamos publicando hoje o guia Pedalear al Trabajo.

É a versão em espanhol do Guia De bicicleta para o trabalho , que foi lançado em setembro do ano passado.

A tradução é fruto de meses de trabalho e colaboração entre a Transporte Ativo, o Mountain Bike BH e a Ciudad Viva. E resultou do interesse demonstrado pelos integrantes do Bicycle Partnership Program (BPP), no encontro internacional organizado pelo I-Ce, em Quito, no final de 2008.

A tradução foi feita pela Juliana Sá (MountainBike BH) e revisada pela Magadalena Morel (Ciudad Viva), a quem agradecemos bastante pela dedicação, empenho e voluntariado.

Mais que Uma Praça

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Um objeto físico tem pouco valor, diante daquilo que representa. Ao longo dos anos a defesa do uso da bicicleta na cidade de São Paulo tem sido uma bandeira cada vez mais hasteada por quem já pedala. E de um grupo pequeno que cresceu e se modificou, a bicicletada é hoje voz a ser ouvida. Ganhou respeito, credibilidade, é chamada de movimento, convidada a dar palestras e entrevistas. Mas na verdade nem existe.

O que sempre existiu e irá continuar a existir são ciclistas cada vez mais engajados e que fazem novos amigos, ajudam a colocar mais pessoas para pedalar e vão longe. Sem esses ciclistas a praça ainda não teria nome nem teria o grande e nobre propósito de reunir centenas de pessoas toda última sexta-feira do mês. Faça chuva ou faça lua, ao por do sol ou noite escura, os ciclistas estarão na praça que é deles por merecimento e agora está sinalizado.

Carnaval de 2006 o (ainda) pequeno grupo que formava a bicicletada paulistana fez festa para inaugurar uma praça oficialmente sem nome. O espaço ganhou placas improvisadas que imitavam as oficiais. Elas foram retiradas e na bicicletada de julho foram penduradas mais uma vez (veja o video). Ficaram por lá mais um tempo, o nome da praça virou lei, mas a sinalização não veio com a mesma celeridade dos ciclistas. Mas ontem, foram fincadas em cimento fresquinho reluzentes placas. Dessa vez vieram para ficar, instaladas pelo EMURB. Os ciclistas agradecem e certamente irão comemorar pedalando.

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Mais no apocalipse motorizado:
Três Carnavais
Revitalização da Praça do Ciclista na 46a Bicicletada