Democracia e quatro rodinhas

A riqueza de uma cidade também se mede pela qualidade e diversidade de seus espaços públicos. Pobre seria a filosofia sem a ágora nas cidades gregas, fraco seria o samba sem as ruas da Lapa carioca, cinza seriam as artes plásticas francesas sem o burburinho noturno de Montmarte.

O ano é 1974 em uma ladeira ao lado de uma praça na cidade de São Paulo. Pessoas tomam a rua para a prática do que viria a ser o segundo esporte mais popular no Brasil, o skate. Quatro rodinhas numa prancha de madeira, o espírito do surfe para quem vive longe do mar. As imagens do vídeo acima, prestes a completar 40 anos, são registro histórico da cultura do skate, mas por pressão de um grupo de moradores a área está sendo modificada para inviabilizar a circulação das quatro rodinhas. Perderá a cidade mais um microcosmo de uma cultura.

A subprefeitura da região está fazendo obras no local visando fazer a “acalmia de tráfego”, ou em inglês, o “skate traffic calming”. No lugar do asfalto, faixas de paralelepípedo cuja única função é inviabilizar a circulação dos skatistas, acostumado a descer essas mesmas ladeiras há décadas.

Pode até parecer um pequeno detalhe, apenas mais uma intervenção urbana em uma cidade com pequenos e grandes conflitos por espaço de circulação e contemplação. Mas São Paulo é carente de ar livre, tanto que por aqui até viaduto torna-se importante área de lazer. Dentro dessa lógica, a perda de qualquer espaço público onde pessoas se unam para socializar de maneira livre e gratuita é uma grande perda para a cidade.

Talvez a presença dos praticantes do skate não fosse interessante para os moradores, mas certamente menos interessante é a total ausência de vida nas ruas. É no silêncio e na escuridão de ruas ermas que se prolifera a insegurança urbana, aquela que faz vítimas de assaltos e também aquela que incentiva mais e mais pessoas a ficarem em casa ou em espaços coletivos fechados, murados.

O conflito entre interesses particulares e coletivos, entre circulação e contemplação em São Paulo seguirá por muitos anos, mas é de fundamental importância que os eternos adolescentes do skate e os que querem a ordem e o silêncio nas ruas consigam uma convivência harmônica. Afinal se hoje acabou uma ladeira para a prática de surfe sobre rodas, amanhã será uma praça vazia sem crianças brincando, sem idosos jogando dominó. Assim aos poucos a rua será tomada por interesses menos nobres dos que se aproveitam dos vazios urbanos para a prática criminosa.

Para além disso, da criatividade jovem é que nasce a evolução humana. Também nos anos 1970, um grupo de garotos na Califórnia passou a invadir piscinas particulares vazias para voar nas ondas fixas de asfalto. Esses “pequenos deliquentes” hoje fazem parte da bilionária indústria dos “esportes radicais”, como mostra o documentário Dogtown & Z Boys.

Saiba mais:
‘Pico’ de skatistas há 40 anos, ladeira recebe paralelepípedos – Folha.com
Prefeitura inicia obra na Praça Joanópolis para impedir a prática do skate – Espn.com.br
A privatização da rua – blog ZONA 10

Conservação à pedal

Foto: Divulgação/SECONSERVA

Uma novidade ciclística já está cruzando as ruas e ciclovias do Rio de Janeiro. Desde o começo de março, para agilizar o trabalho de manutenção do calçamento de pedras portuguesas em praças e na orla, a Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos (SECONSERVA) colocou à disposição dos calceteiros um triciclo de carga.

Os calceteiros são aqueles profissionais que tem a missão de zelar e manter a qualidade do piso de pedras portuguesas, um patrimônio carioca, mas que requer um grande esforço para ficar sempre em perfeitas condições de circulação.

Nas próximas semanas os calceteiros, e agora, triciclistas, poderão ser vistos trabalhando na orla do Leblon, na Lagoa Rodrigo de Freitas, na altura do Posto 6 em Copacabana e nas praças General Osório, em Ipanema e Santos Dumont, na Gávea.

Além dos aspectos óbvios de economia de custos e sustentabilidade ambiental, a realização do serviço de manutenção de calçadas através do uso de triciclos é acima de tudo a opção mais inteligente. Afinal está sempre no último quilômetro o maior custo de deslocamento de produtos. Ao levar consigo os equipamentos e materiais necessários para o trabalho, os calceteiros tem facilidade nos deslocamentos, sem depender de um veículo de carga grande.

Com informações da assessoria de imprensa da SECONSERVA.

Uma maquete viva do Rio de Janeiro

Através da distorção de uma lente fotográfica o Rio de Janeiro se transformou em maquete, o carnaval na avenida uma dança no tempo e espaço.

Muita coisa mudou, mas a verdade é que o Rio de Janeiro continua sendo. Parabéns aos cariocas de nascimento, adoção e coração e que os cidadãos sejam capazes de honrar a grandeza com que a natureza honrou a cidade.

Aquele abraço!

Uma fonte para inspiração

Prédios modernos, ruas e avenidas, monumentos, museus, paisagens. Uma cidade tem tudo isso, mas é mais que o somatório de infraestruras. A verdadeira riqueza urbana é produzida por seus habitantes e vai além daquilo que se produz em fábricas. Atualmente o maior produto em circulação nas cidades são serviços. Idéias produzidas por mentes criativas nessa nova economia tem portanto mais valor do que a produção fabril.

Dentro dessa ótica, uma cidade no sul dos Estados Unidos buscou uma forma inovadora de se destacar dentre milhões ao redor do mundo. Local de moradia de dois tipógrafos, Chattanooga no Tenesse passou a contar com uma fonte tipográfica única que poderá ser usada livremente pelos órgãos governamentais e empresas locais.

A idéia é dar uma unidade visual à Chattanooga mais em acordo com a imagem propagada nos últimos anos pela cidade, que já foi uma das comunidades mais sujas do mundo nos anos de 1960.

A revitalização da região ribeirinha e um projeto de atração de artistas foram o motor da inovação e requalificação urbana até agora. A fonte exclusiva é mais um passo para tranformar essa cidade de 167 mil habitantes em um pólo da indústria criativa, aquela que depende da criatividade humana para prosperar.

Certamente um exemplo para cidades brasileiras, principalmente para São Paulo, que hoje está imersa na encruzilhada da (i)mobilidade urbana. Ainda que nem sempre tenha sido assim, capital paulista em 1907:

A cidade é uma das maiores e mais atraentes do Brasil, sendo notável por seus belos edifícios públicos, parques bem conservados e lindos bairros.

Os últimos 100 anos foram duros com São Paulo, a riqueza produzida na cidade serviu para uma expansão urbana desenfreada focada na mobilidade individual motorizada. As consequências estão estampadas diariamente no noticiário, congestionamento, poluição e perda da qualidade de vida.

Quebrar o ciclo vicioso de degradação urbana não é tarefa fácil, mas é o único caminho a ser seguido para que uma cidade possa atrair pessoas e gerar riquezas, um dos papéis milenares das ocupações urbanas.

Com informações da revista Good.is sobre Chattanooga e do Cidade para Pessoas sobre São Paulo.

Visões de uma mesma São Paulo

Megalópole sulamericana, centro financeiro do Brasil e outras diversas expressões buscam traduzir o que é hoje a velha Vila de Piratininga. A São Paulo que nasceu de um barracão de taipa entre os rios Tietê, Tamanduateí e Anhangabaú e onde 458 anos depois habitam 11 milhões de seres humanos.

Como comemoração de aniversário da cidade, o site Catraca Livre convidou paulistanos de coração e nascimento à enviarem vídeos com suas visões sobre o que é São Paulo. Foram escolhidos 10 finalistas e dentre eles um será premiado com uma câmera fotográfica profissional. A escolha do vencedor é feita pelo voto popular.

Dentre os dez, apresentamos 3 com visões distintas de uma cidade cuja maior riqueza é a efervescência e a impermanência, ainda que ao custo da destruição de sua história arquitetônica. Afinal, dos rios que marcavam as fronteiras iniciais da cidade um foi soterrado e os outros dois canalizados. Já o barracão de taipa é hoje apenas uma parede perdida em meio ao Pateo do Colégio, construído no mesmo local.

Julio Brunet Rocha

Fabio Adriano Nikolaus – Cinema de Rua

Cristiane Schmidt