Divulgando as bicicletas e triciclos de carga do Rio para o mundo

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A Transporte Ativo esteve presente no Congresso do TRB (Transportation Research Board), o maior congresso da pesquisa de transporte mundial, que aconteceu de 8 a 11 de janeiro em Washington DC. Os dados sobre as bicicletas e triciclos de carga do Rio de Janeiro, recolhidos em 2014 e 2015 num projeto da Transporte Ativo em parceria com o ITDP Brasil, foram a base para o trabalho apresentado no congresso, que conta com a participação de especialistas de transporte do mundo inteiro.

As bicicletas e triciclos de carga têm uma longa tradição no Rio de Janeiro. Em 1935, um artigo do Jornal de Esportes reportou que o C.R. Flamengo organizou a “Prova Popular de Tricycles,” que contou com a participação de dezenas de empresas e 73 concorrentes. Um artigo publicado 35 anos depois no Jornal do Brasil falou sobre o uso dos triciclos no Rio de Janeiro, diz que as empresas conseguiam reduzir os seus custos de entrega em até 80% com estes veículos.

Foto do Jornal do Brasil, 26 de maio de 1971

A pesquisa recolheu dados sobre o uso do uso da bicicleta para entrega de bens em nove centros comerciais do Rio: Santa Cruz, Campo Grande, Bangu, Madureira, Ilha do Governador, Centro, Copacabana, Tijuca e Taquara. O trabalho mostra que as bicicletas e triciclos de carga têm uma forte participação na lojística local, sobretudo nos bairros cariocas de Copacabana, Tijuca e Centro. Segundo a pesquisa, estas três áreas concentraram 89% das empresas que utilizam bicicletas e triciclos para entrega de bens, com 58%, 21%, e 10% dessas empresas, respectivamente.

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As áreas da pesquisa em sentido horário: Santa Cruz, Campo Grande, Bangu, Madureira, Ilha do Governador, Centro, Copacabana, Tijuca e Taquara

Houve um grande número de trabalhos no congresso TRB sobre as bicicletas, a quantidade de trabalhos sobre este modal cresceu muito nos últimos anos, mostrando que há cada vez mais interesse na bicicleta ao redor do mundo.

Carvelo* Camp 2016

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Carvelo Camp 2016, em Berna capital da Suiça, evento realizado pela organização local Mobility Academy que trabalha com desprivatização: shared mobility e desmotorização, embora aceitem elétricos.

Estivemos lá, representados pelo Bike Anjo JP Amaral, onde apresentamos as bicicletas de carga no Rio de Janeiro. O assunto é sempre uma surpresa empolgante para os europeus, que ficam entusiasmados com a diversidade do tema por aqui. As principais questões deles para o exemplo do Rio foram: Segurança viária; entrada de outros modelos de triciclos e bicicletas, principalmente elétricos; e se olimpíadas ajudaram em alguma coisa para as cargo-bikes no Rio.

Na cidade de Berna, assim como Paris e outras cidades europeias, existe um programa de incentivo para aquisição de cargobikes em empresas. A prefeitura local já substituiu 61,3% de sua frota de carros e caminhões por bicicletas cargueiras. Com o objetivo de elevar a divisão modal por bicicleta para 20% até 2030 eles tem o lema “Velo-Offensive” (bicicleta Ofensiva) e usam como estratégia participação popular, cultura da bicicleta especialmente com crianças e novas infraestruturas focadas em qualidade e não em quilometragem como costumamos encontrar por aqui.

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Cargo-bikes estão cada vez mais se integrando a empresas de tecnologia de última geração na área de logística, pois a bicicleta é o veículo que chega mais próximo da rapidez da internet, permitindo fornecer serviços de entrega para compras online em até 1 hora ou no mesmo dia. Cargo-bike sharing, sem estações, no estilo “Book and Ride” com a proposta de servir como experimentação para famílias e pequenos negócios e diversas novas empresas e modelos de bicicletas começam a surgir.

O conceito de e-cargo bikes (bicicletas de carga elétricas) vem para substituir carros, em especial para famílias com filhos. Palestrantes mencionaram por diversas vezes que o futuro é elétrico, mas o exemplo do Rio caiu muito bem para alertá-los que seria péssimo o Brasil ser elétrico, uma vez que a maioria das bicicletas de carga por aqui já são energia 100% limpa e sustentável.

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Enquanto que na Europa, a busca pela promoção do uso comercial de bicicletas de carga é um desafio em andamento. Lá elas ainda são um item ainda bastante familiar: em Copenhage 25% das residências tem uma cargo-bike. Já no Brasil elas são uma tradição para uso por pequenos comércios, com registros dos anos 30 no Rio de Janeiro e hoje os números são surpreendentes.

O nosso recado final no evento em Berna foi que a bicicleta de carga no Rio já é existente e uma ótima forma de trazer mais pessoas em bicicletas em bairros de alta densidade. No entanto, agora é necessário dar o devido reconhecimento e formalização a esse forte setor que contribui para a economia e sustentabilidade das cidades.

 

Para os que entendem alemão, a apresentação pode ser vista aqui.
Para os demais, os arquivos que deram origem a apresentação abaixo.

Estabelecimentos Comerciais com Entregas por Bicicleta em Copacabana;
Estabelecimentos Comerciais com Entregas por Bicicleta em 9 Bairros do Rio;
Os Benefícios dos Veículos de Carga à Propulsão Humana

 

*CarVelo: Car = Carga; Velo = Bicicleta

Encontro Internacional de Sistemas de Bicicletas Públicas

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Realizado nos dias 6 e 7 de outubro de 2016, o encontro promovido para celebrar os 5 anos de operação do Encicla, sistema de bicicletas públicas da cidade de Medellín. Contou com a presença de representantes do poder público de cidades como Cidade do México, Medellin, Bogotá, Rosário e Barcelona. Contou ainda com a presença dos operadores de bicicletas públicas da Europa e Estados Unidos, como PBSC (Londres, Nova York, Chicago, etc.), JCDecaux (Paris), NextBike (Alemanha, Austria, etc.), Serttel (Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, etc.), Social Bicycles – SoBi (Estados Unidos) e Bike Santiago (Chile).

Durante os dois dias, operadores e os representantes do poder público trouxeram suas experiências na implantação e operação dos sistemas em suas cidades, suas características, erros e acertos, bem como desafios encontrados no campo técnico-operacional, jurídico, institucional, financeiro e tecnológico.

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A presença de grandes operadores de sistemas de bicicletas públicas da Europa e Estados Unidos no evento, bem como dos representantes do poder público de importantes cidades garantiu um debate rico de conhecimento, com altíssimo nível de compreensão sobre o tema, seus desafios e soluções e a forte expansão e estudos para implantação em grande parte do mundo.

Entre os temas mais debatidos, a questão do financiamento ganhou grande destaque, onde foram apresentadas experiências de modelos que são financiados pelo poder público ou contam com financiamento privado integral ou parcialmente, seus modelos de gestão, metodologias para implantação, eficiência e principalmente, experiências que demonstram a maior qualidade no nível de serviço oferecido ao público.

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Debateu-se ainda o futuros dos sistemas de bicicletas públicas, novas soluções tecnológicas que já começam a aparecer no horizonte e que certamente estarão marcando presença nas cidades do futuro, como bicicletas eletro-assistidas, sistemas mistos de estações self-service, estações hub ou que dispensam totalmente qualquer infra-estrutura de mobiliário para estações, modelos de soluções que já começam a ser implantadas em algumas cidades e devem ganhar cada vez mais espaço no futuro.

A evolução natural dos sistemas de bicicletas públicas é que eles não parem de expandir e que seu financiamento deverá ser cada vez mais diversificado e que os serviços tendam a possuir um marco regulatório como serviço público de transporte que não sejam totalmente dependentes da vontade política da cidade, nem da vontade privada do patrocinador ou financiador privado, sendo modelo de transporte sustentável que terá papel de destaque nas cidades do século XXI.

Rio pós Olímpico

Em outubro de 2009, teve inicio a corrida olímpica carioca. Seriam sete anos para preparar a casa para a festa!

Agora, em outubro de 2016 a festa passou, foi maravilhosa e com certeza um marco na história da cidade que apesar de seguir com algumas de suas mazelas centenárias mudou muito, e para melhor! As ambições que iam além do evento esportivo, visavam melhorar os transportes públicos na cidade, além de promover esporte e saúde.

O evento consolidou o Rio no cenário internacional como cidade que, apesar das dificuldades locais e do País, consegue superar tudo e encantar o mundo!

Atletas, organização, imprensa, visitantes e cariocas viveram intensamente esses dois meses de Olimpíadas e Paralimpiadas. E agora seguimos com a história pós-olímpica e seus tão falados legados.

Em alguns bairros, como o centro e a Barra da Tijuca nasceu uma nova cidade, baseada na ampliação de sistemas de transporte de massa. Metrô e BRT uniram as “cidades” da Zona Sul e da Barra. O percurso de Ipanema até a Barra que antes demorava duas horas ou mais, hoje leva 15 minutos, ou 35 a partir do Centro. Chegando à Barra, há integração de verdade com o BRT, roletas unificadas, sem pisar na rua, e em menos de dez minutos se chega ao Barra Shopping ou ao Terminal Alvorada.

A região chamada ‘Porto Maravilha” realmente se transformou, de área degradada, suja, escura e perigosa para ponto turístico mega visitado. No caminho havia a promessa de que tudo seria integrado à infraestrutura para as bicicletas.  Mas esse sonho se perdeu. A malha cicloviária da cidade mais que dobrou no período de preparação, com alguns trechos muito convidativos como a ligação quase direta entre a ciclovia do aterro, a Orla Conde e o Boulevard Olímpico. Aliás, já é possível ir da Praia de Botafogo até a Rodoviária Novo Rio, de bicicleta, por ciclovias e calçadões sem precisar colocar os pés no chão num trajeto de 12 km. Uma via expressa para ciclistas e pedestres mas com uma bela vista, segurança, tranqüilidade e praticidade. Um convite ao uso da bicicleta como meio de transporte, agregando a mais nova paisagem urbana carioca como um prêmio a quem pratica a sustentabilidade nos transportes.

A mente motorizada dos que planejaram os transportes durante os jogos e depois, desperdiçou parte das oportunidades ciclísticas do evento e da cidade. Mas a população, as delegações e comissões técnicas se encarregaram de mostrar a eles o potencial das bicicletas, fazendo do evento uma grande festa ciclística com uma verdadeira invasão pelas regiões olímpicas do Rio.

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Quem planejou, esqueceu que muitos atletas teriam de se deslocar por uma distância menor do que 5 quilômetros, a partir da Vila Olímpica e nos outros clusters olímpicos, viagens curtas e facilmente pedaláveis.

No horizonte do Rio 2016, pairavam excelentes legados. A cidade ganhou muito com a inserção de novos BRTs, nova linha de metrô, VLT no Centro Histórico, ambos melhoraram tempos de viagem e a qualidade de vida do Carioca. Mas ainda falta para que a conexão das bicicletas com estes modos de alta capacidade mais eficientes. Uma política que vinha sendo feita cada vez mais no Rio de Janeiro se perdeu durante os preparativos olímpicos e agora depende da retomada da transformação do Rio em uma cidade com mobilidade mais humana.

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Para conhecer melhor a trajetória dessa história, visite os links abaixo:

Outubro 2009:
Rio 2016 – Impulso para os Transportes.
Agosto 2016:
Cariocas, preparem-se para as Olimpíadas.
Faça como os Holandeses!
Medalha de Ouro para as Bicicletas.

Dez anos de Pioneirismos, Desafios e Conquistas.

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Neste mês de setembro, faz dez anos que a Transporte Ativo realizou o primeiro Desafio Intermodal deste século no Brasil, a primeira Vaga Viva e a “tradução” dos nomes para o português. O Desafio Intermodal veio do Inglês/Canadense Commuter Challenge. A Vaga Viva foi inspirada no americano Parking Day, trocadilho que em português não tinha o mesmo efeito. O nome veio de uma sugestão do Willian Cruz do ‘Vá de Bike’ de colocarmos na esquina uma placa dizendo “hoje, nesta rua, uma vaga ganhou vida”.

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Ruas verdes já eram realizadas em Belo Horizonte pela organização Rua Viva, mas as vagas vieram com a ideia do grupo reBar de São Francisco – Califórnia, que no ano anterior lançou a iniciativa que conhecemos, rebatizamos e realizamos. O Parking Day cresceu mundo afora e no Brasil também, virou Parklet, passou de ativismo a politica pública e vem ganhando cidades no mundo e no Brasil. O Parking Day e as Vagas Vivas seguem seu caminho abrindo novas portas e janelas. É muito gratificante ver que aquela ideia que acreditamos vingou, se espalhou e hoje acontece com frequência por aí.

O Desafio Intermodal também se difundiu bastante. Hoje segue sozinho, anualmente, em mais de 20 cidades brasileiras. Gera e apresenta resultados que os que pedalam já sabiam, mas surpreendem a todos os outros.

No Rio, o Dia mundial sem Carros também começou como uma inciativa da sociedade civil, cresceu, a Cidade aderiu como evento oficial, mas nos últimos anos vem acontecendo de forma bem tímida. O Dia Mundial sem Carro mais marcante em terras cariocas foi aquele de 2007, inesquecível para os que participaram.

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Nestes dez anos, muita coisa mudou, muito do que imaginávamos lá atrás já existe hoje, ou seja mudanças são possíveis! O caminho é longo, pois ainda há muito a ser feito, mas as forças se renovam, novos grupos e novas ideias surgem, como a que a Ameciclo realizou neste dia 22 de setembro, sinalizando resultados de contagens de ciclistas nas próprias ruas e avenidas onde foram realizadas.

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Que venham novos pioneirismos, novos desafios e novas conquistas, os ciclistas tem feito por onde, chegaremos lá!