Perdendo tempo com capacetes


O texto a seguir é tradução do artigo de Ceri Woolsgrove, publicado pela Federação dos Ciclistas Europeus – ECF, em 20/10/2011


O Ministro dos Transportes da Alemanha, Peter Ramsauer, disse que, se o índice de uso de capacete não começar a ficar acima dos 50%, ele vai pensar em instituir uma lei que torne o capacete obrigatório na Alemanha. Embora a coligação do partido FDP não concorde, ele acha que os menores devem ser obrigados a usar capacetes.

“Se a taxa de uso de capacetes, que hoje está em 9%, não aumentar significativamente para bem mais de 50% nos próximos anos, certamente temos que introduzir uma lei do capacete”, Ramsauer disse em uma entrevista em Berlim. O ministro disse que 450 ciclistas foram mortos no ano passado na Alemanha, metade deles por causa de lesões na cabeça. Ele disse que muitas dessas mortes poderiam ter sido evitadas se os ciclistas estivessem de capacete.

Infelizmente é uma estatística quase impossível de comprovar. Capacetes conseguem mesmo eliminar ferimentos fatais na cabeça naqueles que se envolvem num acidentes de verdade? Como é que capacetes protegem de carros em alta velocidade? Estes são números que não temos e realmente precisamos descobrir. Mas, até aqui, o que nós sabemos? Sabemos que os países que introduziram leis tornando o capacete obrigatório simplesmente não reduziram nem ferimentos na cabeça nem acidentes; na verdade há bons motivos para argumentar que houve um aumento de lesões na cabeça (por exemplo, o caso clássico da Austrália em 1992).

Em certo sentido, parece estranho que leis do capacete obrigatório poderiam realmente aumentar ferimentos na cabeça! Mas o que aconteceria aos 90% dos ciclistas, que não usam capacete, se forem forçados a usar um capacete? Eles ainda andariam de bicicleta? Quão seguras parecerão as ruas aos olhos de quem quer começar a andar de bicicleta, se todos forem obrigados a usar capacetes e houver bem poucos ciclistas nas ruas ao redor? É um tanto quanto intimidador para qualquer ciclista iniciante. E menos bicicletas nas ruas certamente significa menos infraestrutura, e, portanto, ruas menos seguras, pois sabemos que quanto menos ciclistas nas ruas, menos seguras elas são (o princípio da “segurança pela quantidade”). Mais igualdade, mais segurança.

Qual é o lugar mais seguro para andar de bicicleta na Europa? Aqui está a pista: eles adoram laranja, tem o maior número de ciclistas e raramente se vê um capacete. Andar de bicicleta é uma coisa normal, uma atividade diária e segura.

Uma lei obrigando uso do capacete pode parecer de baixo custo, mas é uma gambiarra, e estamos convencidos de que seria muito onerosa se adotada e colocaria na contramão tudo o que se sabe sobre segurança cicloviária. Eu juro que se passássemos todo esse tempo falando de infraestrutura para bicicletas ou características de segurança dos carros e caminhões ou educação do motorista ou planejamento urbano etc etc, do mesmo modo que gastamos tempo discutindo capacetes, poderíamos estar muito perto de eliminar mortes de ciclistas de uma vez por todas, de modo linear e generalizado.

Estamos convencidos de que uma lei do capacete obrigatório tornaria as ruas mais perigosas e com menos ciclistas. Isto é o que se ganha. Perderíamos todas as calorias a serem queimadas, todos os corações cada vez mais fortes e todas aquelas pernas fortes trabalhando para conter as emissões poluentes de nossos carros!

Por fim, uma estatística. Na Europa:
• Há 6,4 mortes de pedestres por 100 milhões de kms trafegados;
• Há 5,4 mortes de ciclistas por 100 milhões de kms trafegados

Vamos levar as coisas a sério e acabar de vez com as mortes de ciclistas. Mas é preciso lembrar que ciclistas enfrentam riscos semelhantes aos pedestres e não devemos obrigar nem um nem outro a usar equipamentos de proteção em suas atividades corriqueiras e cotidianas.

Amar ao pedestre sobre todas as coisas

Para os sábios e entendidos de nossa nação, os pedestres estão acima de todos. Mas a palavra maior que orienta o trânsito brasileiro não parece devidamente respeitada. São descriminados em juízo os pequenos, que temem a face de um ser inorgânico semovente.

Caminhamos todos, rumo ao topo. Maior e mais alto tornou-se o povo e as cidades fortificadas se despiram dos elementos de guerra em nome da paz. Santificado foi o pedestre, incólume acima de todas as coisas e assim foi escrito:

os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres.

Código de Trânsito Brasileiro – Art. 29, § 2º.

Aos homens de pouca fé, no entanto, o direito da máquina ainda parece prevalecer e visam atribuir ao ser inorgânico semovente caráter de divindade. Erro crasso, sem dúvida. Frágeis e sem nenhum objeto que lhes resguarde a vida, o pedestre é criatura sagrada no trânsito.

O que foi redigido ainda tem um longo caminho para que seja cumprido. As velocidades do fluxo motorizado tem de ser adequadas à segurança do pedestres, as rotas seguras de travessia tem de estar presentes e naturalmente os caminhos desempedidos nas calçadas também. Até que a fluidez de quem vai a pé seja devidamente priorizada, haverá consequências em que a vítima vai ser sempre o pedestre.

Corrigir distorções que penalizam os pedestres é portanto o caminho inicial e fundamental para que a mobilidade das pessoas esteja acima de todas as outras.

A manutenção do Samba!


No início de agosto, quem chegava às estações das Bicicletas Públicas Cariocas SAMBA – Pedala Rio encontrava placas como esta, onde antes havia uma estação.
Clique na imagem, ou aqui, para ampliar a foto e ler o texto na íntegra.
Agora, novas estações começam a ser vistas em diferentes bairros da Zona Sul da cidade, na cor laranja, ainda sem nenhum texto explicativo e embrulhadas em plástico bolha.
Enquanto se aguarda pela volta dos serviços, que trarão mais mobilidade e segurança para a cidade, os cariocas vão utilizando as novas estações de diferentes formas.
Que venha o SAMBA!

Bicicletas em Laranjeiras

Única via de ligação entre o Largo do Machado e o Cosme Velho, a Rua das Laranjeiras, tem trânsito intenso. Mas um desses fluxos passa quase desapercebido. Ao longo da via, centenas de ciclistas que compartilham com o trânsito motorizado, um espaço estreito no viário. Para dar forma aos números e Transporte Ativo e os parceiros Amigos do Cosme Velho, Cidades em Transição, Convivência Verde e Site Bairro das Laranjeiras foram a campo.

Em 12 horas, em um único ponto da rua das Laranjeiras foram exatas 978 bicicletas um número que certamente tende a aumentar com a implantação de infraestrutura segura para a circulação de ciclistas e é isso que clamam todos os envolvidos na pesquisa. Afinal, mais bicicletas na rua implica em menos congestionamentos, mais espaço para a circulação do transporte público e um trânsito mais seguro para todos, principalmente os pedestres. A presença de mais bicicletas ao mesmo tempo que permite mais fluidez, reduz a velocidade do trânsito motorizado.

Os dados completos estão disponíveis no relatório que pode ser baixado aqui. Cópias já foram enviadas as autoridades e com base nos números, iremos pressionar para que o ciclista tenha mais incentivos a pedalar pelas ruas de Laranjeiras.

Bicicletas Públicas em Barcelona Salvam 12 Vidas Por Ano

 

O sistema de bicicletas públicas de Barcelona, o “Bicing”, salva 12 vidas por ano e economiza 9.000 toneladas de CO2 (gás de efeito estufa), segundo um estudo do “Centro de Investigación en Epidemiología Ambiental (CREAL) de Barcelona”.

“É evidente que as políticas de transporte, que promovem a atividade física, são um bom meio para melhorar a saúde da população e reduzir os gastos em saúde pública”, declara Dr. David Rojas-Rueda, pesquisador do CREAL e principal autor deste estudo.

Os resultados, publicados no British Medical Journal, se baseiam num estudo de impacto na saúde do Bicing, o sistema de bicicletas públicas de Barcelona, que hoje conta com umas 6000 bicicletas, 420 estações e 120.000 usuários.

De fato, estes serviços são cada vez mais populares na Europa, e mais de 70 cidades já contam com ele (Entre elas: Berlim, Londres, Oslo, Paris e Servilha). O maior sistema, na Europa, é o de Paris, que conta com 20.000 bicicletas e mais de 1.200 estações.