Visão Zero

O conceito de “Visão Zero” é antes de mais nada uma nova abordagem ética do trânsito motorizado. Foi aprovado pelo parlamento sueco em 1997 e pregava que:

“Nunca pode ser eticamente aceitável que alguém morra ou fique gravemente ferido enquanto se desloca pelo sistema rodoviário de transporte.” Dentro dessa ótica, o zero não é um número a ser alcançado em uma data específica, mas uma visão da segurança do sistema que ajuda a construir estratégias e estabelecer metas.

Ao contrário da visão em voga até então, a Visão Zero estabelece que a responsabilidade é partilhada entre quem desenha as vias e quem as utiliza. E sempre que houverem fatalidades, algo tem de ser feito para que o fato não se repita. “A vida nunca pode ser trocada por outro benefício dentro da sociedade”.

Dentro dessa lógica, não basta estabelecer a letra em lei para como o motorista deve conduzir, mas é preciso fazer com que o desenho da via facilite uma conduta segura pelos usuários. Curvas de alta velocidade e longas retas dentro das cidades, expondo os mais frágeis ao risco são os exemplos mais claros de como o desenho do viário contribui para a insegurança do sistema.

Sempre a cada fim de semana prolongado a mídia reporta os números, dezenas de milhares de vítimas em nossas estradas, acompanhados da variação em relação ao mesmo período do ano anterior. Mesmo com o prejuízo ao país na casa dos bilhões, ainda falta uma abordagem sistêmica que facilite o comportamento correto da maioria dos motoristas e expurgue os infratores.

A Visão Zero dos suecos por ser um modelo ético, pode ser aplicado em qualquer país ou cidade. Basta que haja a vontade política de privilegiar a vida e a saúde das pessoas acima de outras variáveis. Fazendo com que o trânsito cumpra seu propósito, sem propiciar que as ruas sejam tratadas como pistas de autorama.

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Mais:
Vision Zero – An ethical approach to safety and mobility

Portenhos e suas Bicicletas

Buenos Aires tem características que facilitam enormemente o uso intenso da bicicleta por seus cidadãos, sem importar idade, classe social ou qualquer condição prévia. Naturalmente sem que nada, ou quase nada tenha sido feito em termos de infraestrutura, os ciclistas ganham as ruas em um número cada dia maior. E claro o indicador de que muitas mulheres já pedalam ajudam a mostrar que não se trata de uma minoria de corajosos e desbravadoras homens jovens e destemidos.

Infelizmente as novas Bicisendas, recentemente implementadas, conseguiram desagradar a motoristas e ciclistas. Um indício claro de que as cidades brasileiras não estão sozinhas na necessidade de construir um novo vocabulário urbano que traga a bicicleta para o papel de protagonista nas cidades.

Desagradar motoristas penalizados por não terem mais onde estacionar motoristas é fácil. Mas quando os ciclistas optam por não utilizar uma nova infraestrutura, é sinal de que o planejamento deve ser refeito. Ao invés de buscar traçar rotas isoladas (as ciclovias) longe de grandes avenidas, seria mais racional incentivar o trânsito compartilhado e deixar as pistas segregadas para as grandes avenidas. Vias que levam o termo “grande” a um novo horizonte.

Confira abaixo uma matéria do jornal La Nacion sobre as novas bicisendas:

Quebra-Cabeças pós crise

Em outubro de 1973 o mundo inteiro descobriu que a dependência pelo petróleo era inimiga da economia. Foi a primeira crise, um baque que desacelerou o mundo macro-economicamente e forçou a buscas por alternativas. Mas são justamente os momentos de crise que ressaltam grandes oportunidades e principalmente novos caminhos.

Vale pinçar, dentre as diversas medidas de mitigação das crises do petróleo (houve logo depois a de 1979), dois países que são hoje exemplos para o mundo, por motivos distintos, Brasil e Dinamarca. Um nórtico e rico e o gigante latino americano em seu momento “Ame-o ou deixo-o”.

O Brasil do final dos anos 60 e início dos anos 70 era uma versão latina da China atual. Franca expansão econômica das “indústrias de base”. O milagre durou pouco, mas o ideario de “aumentar o bolo” ainda continua vivo na política econômica tupiniquim.

Com o primeiro choque do petróleo, o governo brasileiro voltou-se para o etanol a base de cana-de-açúcar como alternativa viável para abastecer a frota de automóveis nacionais que precisava continuar chegando ao mercado. Importar o petróleo tornou-se proibitivo, mas não só no Brasil.

Mesmo a rica Dinamarca passou por dificuldades com a crise. Mas as alternativas foram bem diferentes das adotadas no país tropical. O frio nórdico e a extensão territorial não abriam caminho para biocombustíveis. A solução foi diversificar as fontes geradoras de eletricidade para poder garantir o abastecimento dos aquecedores domésticos no inverno. Para os deslocamentos das pessoas, o país redescobriu a bicicleta. Veículo que facilita cidades mais densas e que por ser individual, é alternativa racional ao automóvel particular em curtas distâncias. Afinal, no espaço urbano a maior parte das viagens são curtas o suficiente para serem percorridas a pedal.

No século XXI os biocombustíveis são a moda e as bicicletas presença obrigatória para o bom planejamento urbano. Mas a ousadia dinamarquesa só tem sido efetivamente valorizada nos últimos anos. Planejar cidades que incentivem pessoas a pedalarem mais vezes e mais longe é algo que gera um círculo virtuoso de impacto local e global. Em Copenhague as pessoas simplesmente pedalam por ser a bicicleta uma excelente alternativa, mas foi uma decisão política tomada décadas atrás que construiu as facilidades.

A escolha de facilidades é portanto um excelente orientador para cidades e países. Aos militares brasileiros interessava incentivar a expansão industrial centrada na produção de automóveis. Os dinamarqueses ensinaram a viabilidade econômica de fazer mais, com menos. Os cidadãos e as cidades só tem a agradecer até hoje.

Parafraseando Jan Gehl em relação aos quase 40 anos da revolução ciclística dinamarquesa: o pode ser feito no Brasil para que a cada dia acordemos em cidades um pouquinho melhores do que ontem?

Lições de Copenhague

De Olho no Futuro

O grande acordo da COP15 em Copenhague fracassou. Os líderes das nações ricas e pobres não chegaram a um consenso e nenhum tratado foi assinado. No entanto, medidas benéficas saíram da Cúpula do Clima dos Prefeitos (Mayor Climate Summit). Diversas autoridades municipais presentes reforçaram que o uso da bicicleta pode e deve fazer parte de políticas de diminuição das emissões de CO2 nas cidades. Afinal os transportes motorizados são o principal poluidor urbano. Tanto em escala local, quanto global.

O vice-prefeito do Rio de Janeiro, Carlos Alberto Muniz, contou durante a cúpula que a cidade irá aumentar a infraestrutura para a bicicleta dos atuais 150km para 300km, além de reduzir limites de velocidade dos motorizados e expandir o sistema de bicicletas públicas. Muniz reforçou a importância de promover a acessibilidade a lugares pobres e promover o uso da bicicleta por todos os cariocas. Além disso, haverão parcerias público-privadas para que investimentos em áreas comerciais sejam pensados para as bicicletas.

A conferência em Copenhague acabou, mas a cidade continua sendo exemplo para o mundo e muitas outras podem seguir esses passos e ajudar seus países a diminuirem os impactos negativos sobre o clima no planeta. Afinal, pensar em cidades para as pessoas implica repensar um conceito fundamental: a quem servirá o progresso no futuro? Máquinas, concreto e aço tiveram seu tempo. Espera-se que o século XXI seja o tempo da vida em geral, a começar pela qualidade de vida dos humanos.

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Mais sobre os compromissos assumidos em Copenhague.
Com informações da página oficial do I-CE.

A Bicicleta Elétrica

A bicicleta é basicamente a mesma desde o século XIX, as dificuldades são notáveis para trazer algo de verdadeiramente novo a máquina mais perfeita de transformação de energia em movimento. Atrás da moda das bicicletas que tem varrido o mundo, uma pequena marola tem vindo atrás com as “bicicletas elétricas”. Veículos de propulsão mista, essas mobiletes sem barulho tem ganho espaço face a necessidade de diminuição dos impactos dos transportes na poluição local e global.

No entanto, uma bicicleta com acelerador na manopla deixa automaticamente de ser uma bicicleta e passa a ser outra coisa. Uma moto extremamente leve e com motor elétrico? Uma scooter que aceita ser pedalada? Uma moto com alforges de íon-lítio que plugam na tomada? As opções são muitas, mas nenhuma delas define uma bicicleta.

Em uma tentativa de promover a mobilidade sustentável cientistas desenvolveram a bicicleta eletro-assistida com sistema de recuperação de energia. O nome é longo, mas define uma bici com uma roda traseira bem pesada e imãs dentro do cubo. Quando o ciclista freia e durante as pedaladas, o sistema armazena energia e devolve quando o ciclista precisar. Tudo sem baterias ou cabos.

Certamente temos aí um uso inteligente para a alta tecnologia e bicicletas. Tudo é controlado pelo iPhone que também traz informações sobre performance, quilometragem, condições de trânsito, poluição, usos do espaço, etc. A idéia é que os usuários da bicicleta eletro-assistida possam também informar aos planejadores urbanos suas rotas preferidas e pontos de interesse. Tudo não passa de um protótipo, mas vale pela tentativa de dar um empurrãozinho para as magrelas mundo afora.

Saiba mais sobre a “Roda de Copenhague” no site e confira o teaser do projeto em inglês: