Estréia de uma Ciclovia

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Foto Danilo Tanaka

À convite do Jornal do Brasil a Transporte Ativo percorreu a orla carioca apontando erros e acertos da malha cicloviária da cidade. Aproveitamos também para conhecer in loco a mais nova ciclovia da cidade. Que foi apresentada aqui.

O resultado foi publicado com grande destaque no domingo, 7 de janeiro. Baixe aqui em pdf.

Vale também entrar em contato com o jornal para que mais reportagens sejam escritas sobre o tema “bicicleta”. Com diversos incentivos, tende a aumentar a sensibilização dos meios de comunicação e da população quanto a importância do transporte sustentável para a construção de cidades mais humanas.

Não basta mostrar as mazelas urbanas, é de fundamental importância que seja dado o devido destaque as soluções possíveis e que já estão em curso. Nesse âmbito, cada bicicleta a mais no trânsito representa muito mais do que um ciclista-cidadão feliz. É um símbolo de que devagar se chega longe e que existe uma demanda reprimida para os transportes à propulsão humana nas cidades.

Espaço Compartilhado

Mônica Campos*

Durante muitas décadas o sistema de tráfego urbano deveria organizar a circulação dos diversos modos de transporte estabelecendo uma série de regras postuladas por códigos de trânsito e implantando no cenário urbano um sistema de comunicação visual que orientasse as ações das pessoas ao se deslocar. Tanto para pedestres quanto para veículos, o sistema determinava através de placas de sinalização, sinais de trânsito, e também desníveis (calçada) onde deveria ser o lugar de cada um e como cada um deveria se “comportar” em seu lugar, para que houvesse segurança.

A inquestionável “separação” entre os diversos modos de deslocamento em nome da tão necessária segurança começou a ser colocada em cheque pelo holandês Hans Monderman em um novo conceito conhecido como Shared Space ou Espaço Compartilhado.

Engenheiro de tráfego e atuante na área de urbanismo desde 1969, Monderman iniciou suas reflexões a cerca desse tema há mais de 30 anos quando na Holanda havia 15 milhões de habitantes e se registravam 3,4 mil acidentes por ano. O governo holandês descontente pelas inúmeras tentativas de solucionar os problemas ocorridos pelos conflitos viários convidou Monderman para elaborar um projeto que acabasse com o grande número de acidentes ocorridos.

A sugestão do “compartilhamento do espaço” passou da sugestão à prática na cidade holandesa de Drachten. A idéia do engenheiro de tráfego Hans Monderman foi aplicada em apenas uma quadra, pavimentada com pequenos tijolos. Nenhuma faixa de demarcação e divisão de pistas para veículos ou de travessia de pedestres, semáforo, quebra-molas, indicação de velocidade ou um guarda para disciplinar o fluxo. Suprimiu-se também a calçada.

Embora se tratasse de uma via cujo volume de veículos circulantes era de 20.000 veículos/dia (via de trânsito pesado), Monderman conseguiu reduzir quase a zero o número de acidentes nas áreas em que o projeto foi implantado.

Na verdade o sucesso dessa nova filosofia de projeto urbano se deve à comunicação pelo olhar. Quando os motoristas param de consultar a toda hora a sinalização e se concentram no ato de dirigir, monitorando com seu olhar o que acontece em sua volta, acabam tornando mais seguro o ambiente por onde circulam. O princípio de tudo é o respeito ao ser humano, onde o pedestre tem sempre a preferência.

O objetivo dessa nova filosofia seria “integrar” as diversas formas de deslocamento ao invés de separá-las por meio de regras, placas de sinalização, semáforos, desníveis (calçadas). Nessa nova ótica, o espaço público seria devolvido ao ser humano, ator principal nos layouts dessas áreas de convívio.

O advento do carro fez com que o ato de pensar o tráfego adquirisse uma influência dominante deste modo de transporte sobre o uso e projetos de espaços públicos. Os espaços públicos passaram a se tornar locais destinados unicamente à movimentação e ao tráfego de veículos motorizados, refletindo em seus projetos viários a preocupação com a fluidez dos mesmos e com o desejo de limitar os perigos relacionados à segurança. O papel do homem, como usuário do espaço, foi reduzido ao de participante do trânsito. O êxito do Espaço Compartilhado é reverter estes papéis.

Implantado inicialmente na cidade em Drachten, o conceito será também aplicado no período de 2004 a 2008 em mais sete cidades na forma de projeto piloto. A iniciativa ficou a cargo do Programa da Comunidade Européia chamado INTERREG III. As cidades beneficiadas são: Bohmte (Alemanha), Ejby (Dinamarca), Emmen, Fryslân e Haren (Holanda), Ipswich (Reino Unido) e Ostende (Bélgica).

Frases de Monderman:
“Quanto mais organizado o comportamento do tráfego, mais sujeito a infrações. As pessoas têm que se organizar sozinhas, sem as autoridades”

“Quando há separação, as pessoas pensam, esse espaço é meu. Sendo compartilhado, têm a consciência de dividir o espaço”

“É uma evolução do conceito de preferência. Em vez de isolar a bicicleta em ciclovias, fazer com que ela tenha preferência em relação aos automóveis e, por sua vez, dêem preferência aos pedestres”.

Mônica Campos é Arquiteta Urbanista, mestre em Engenharia de Transportes e escreveu esse texto especialmente para o blog da Transporte Ativo.

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Imagens da Cidade de Roma – Exemplos de Espaços Compartilhados

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Cidade dos Ciclistas

Ainda sobre países nórdicos, a prefeitura de Copenhague na Dinamarca tem um excelente vídeo divulgando sua política de mobilidade, erros, acertos e desafios.

Uma história de envolvimento com a bicicleta de quase 100 anos para que hoje a população possa simplesmente usufruir de uma cidade mais humana.

No entanto nem sempre a relação entre Copenhangue e as bicicletas foi boa. Nos início dos anos 60 o automóvel particular era soberano. Uma decisão dos governantes mudou a cidade progressivamente de 1962 aos dias de hoje. Investimentos contínuos em mais e melhores áreas para as pessoas em detrimento de espaços para veículos motorizados foram a tônica.

Importantes corredores comerciais foram sendo convertidos em áreas para pedestres ao mesmo tempo em que foram impostas restrições ao estacionamento de veículos motorizados. Inicialmente contra a idéia, os comerciantes mudaram de idéia já que os negócios prosperaram. As boas práticas aos poucos se espalharam pela cidade.

Em mais de 40 anos, os habitantes puderam ver sua cidade melhorar, um pouco a cada dia, todos os dias.


O vídeo está em sua versão original em inglês e tem 22 minutos de duração.

Cidades Amigas da Bicicleta” é de certa forma complementar e trata desse e outros exemplos similares no mundo.

Mais sobre a questão urbana de Copenhague.