Uma homenagem

A bicicleta Branca de Brasília

Pedro Davidson estudava biologia e pedalava por Brasília. Foi morto por um motorista em excesso de velocidade, que havia ingerido álcool, trafegou em local proibido e não prestou socorro. No julgamento em primeira instância o júri aceitou a acusação de homicídio com dolo eventual. O motorista foi condenado a cumprir pena de 6 anos em regime semi-aberto.

A jurisprudência de crimes de trânsito no Brasil ainda é complicada e prevalece o entendimento de dolo eventual. A tese é polêmica e também um entrave para que motoristas que tiram vidas sejam punidos com mais rigor.

Nesse contexto é importante a união da comunidade ciclística de Brasília em torno do caso de Pedro. Através da perspectiva daqueles que utilizam a bicicleta no trânsito será possível espalhar a noção de que do lado de fora dos veículos motorizados as vidas são muito frágeis e qualquer risco é grande demais. Por hora esse discurso ainda não ecoou nos tribunais.

Mas é chegado o tempo da bicicleta e com mais ciclistas nas ruas, mais motoristas serão também ciclistas e mais bicicletas serão vistas. Nas palavras de Bob Dylan:

“(…)
Porque a roda ainda gira
e não há como saber para quem
Ela está apontando.
Porque o perdedor agora
Será mais tarde vencedor
Porque os tempos estão a mudar.

(…)

A antiga estrada
Rapidamente envelhece”.

Enquanto se constroem as novas, que Brasília não tenha mais nenhuma bicicleta branca.

Saiba mais:
Resultado do júri popular – assassino do ciclista Pedro Davison
Motorista é condenado a cumprir pena de 6 anos

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Encruzilhada Urbana
Provocações Brancas

A importância das universidades

As universidades possuem papel decisivo no mundo da nova mobilidade que se aproxima.

Embora estejam imersas numa crise de identidade, causada pela mercantilização do ensino, pela educação sem fronteiras criada pelas novas tecnologias e pelas exigências do desenvolvimento sustentável, dentro da universidade encontramos ambiente propício para construção de uma visão crítica da sociedade que vivemos.

O tripé ensino, pesquisa e extensão, interdisciplinar e transdiciplinar, tem todas as condições de abrir caminhos e mostrar soluções. Desde a Conferência da Terra (Rio, 1992), até Kyoto, passando pela Agenda 21, e certamente em Copenhague, as universidades foram e estão sendo chamadas a exercer seu papel de liderança no desenvolvimento sustentável.

participantes da mesa redonda: Yuriê Batista, Prof. José Augusto, Prof. Paulo César, Denir e Profa. Maria Rosa
Foi esta a visão que a Transporte Ativo apresentou na mesa-redonda realizada na Universidade de Brasília, no dia 2.out. O debate ocorreu como parte da programação da Semana de Extensão e teve como tema “O papel da UnB na mobilidade do DF”.

É de dentro das universidades que saem engenheiros, arquitetos e professores. Com eles é que contamos para uma revisão de conceitos e nova visão da cidade. Além do mais, a vida interna no campus, mesmo sofrendo pressão direta da sociedade com a qual se interliga, é ambiente propício para práticas inovadoras necessárias como reciclagem, prédios verdes, restrição a automóveis e prioridade aos meios de transporte limpos e sustentáveis.

A Ciclovia está Limpa, Obrigado!

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A ciclovia Varjão-Paranoá, construída no canteiro central da rodovia DF-005, faz parte do conjunto de obras cicloviárias do programa Pedala-DF. A ciclovia não estava prevista inicialmente na duplicação da DF-005, por isto a obra padece de alguns pequenos defeitos, sendo o mais grave deles a existência de pontos de acúmulo de água das chuvas e deslizamento dos aterros laterais.

Em agosto de 2008, a Transporte Ativo fez um mutirão de limpeza que retirou muita terra solta, pedras e barro endurecido da pista. Após o período de chuvas, a ciclovia voltou a ficar suja nos mesmos pontos críticos. A Transporte Ativo convocou novo mutirão para o dia 16 de agosto, domingo, exatamente um ano depois do anterior. Mandamos convite para a comunidade ciclística de Brasília, na internet, e também para a imprensa.


convite para o mutirão em 2009

veja a imagem a ampliada

 

Um dia antes do evento, ficamos sabendo que o Governo do DF se antecipou e fez uma limpeza geral na ciclovia. Fomos conferir no local – e por via das dúvidas levamos pás, enxadas e vassouras. A ciclovia do Varjão recebeu mesmo um belo tratamento de limpeza. Não só foram tiradas terra e pedras, mas também foi cortado o mato que invadia a ciclovia em vários pontos.

Não sabemos de qual órgão partiu a decisão de limpar a ciclovia. Nenhuma notícia foi colocada no portal de notícias do GDF. Nenhuma notícia saiu na mídia candanga. Então fazemos aqui nosso agradecimento público: em nome de todos os ciclistas e pedestres que usam aquela via todos os dias, muito obrigado pela limpeza! Seja governo ou sociedade, todos precisamos manter a ciclovia, que foi construída para incentivar o uso da bicicleta com facilidade e em boas condições de trânsito.
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Os voluntários Simone, Mara, Renato e Denir, que fomos prontos para pegar no pesado, aproveitamos a manhã de domingo para uma boa pedalada, agradáveis momentos de bate-papo e um lanche com muffins e barras de cereal.

Confira relato com fotos que mostram a situação antes e depois da limpeza.

Cidades e Prostitutas

Além de sua inigualável eficiência nas cidades, a bicicleta é um veículo de qualidades únicas. Aproximam pessoas e resgatam nossa dimensão humana. No dia 23 de junho, o jornal Correio Braziliense publicou reportagem sobre uma boa ação realizada por donas de casa junto a prostitutas no entorno do DF. Chamou atenção este trecho:

Ana Maria, Marta Regina e Francisca Michele se uniram a outras mães de família para formar o grupo Guerreiras de Fátima. Realizam um trabalho social com o intuito de ajudar a quem precisa. E desde a última semana iniciaram um plano ousado: cadastrar todas as prostitutas da cidade para fazer exames ginecologicos no posto de saúde. […] Francisca e Ana saem de casa a pé para bater de porta em porta e registrar as mulheres. Elas usavam duas bicicletas, que quebraram.

Decidimos ajudar nesta ação social, doando bicicletas para substituir as quebradas. Contamos com a colaboração da Nilvanete Ferreira da Costa e do Alessandro Uccello, funcionários do Banco Central que doaram as bicicletas. A revisão mecânica ficou por conta da Transporte Ativo.

Bicicletas doadas

A viagem de entrega foi no dia 16 de julho. Saindo de Brasília foram 40 km até Águas Lindas para encontrar Ana e Michelle e presentea-las com as bicicletas.

Michelle, Denir e Ana, recebendo as bicicletas

Ficaram muito empolgadas ao receber o presente. Saímos pelo interior do Hospital Bom Jesus, para mostrar o trabalho que fazem, e a todo mundo elas anunciavam que estavam ganhando bicicletas novas naquele dia. Ao longo da manhã, contaram sua história de vida. A ação social delas não se restringe às prostitutas. Ajudam mães solteiras, idosos, pessoas carentes.

pedalando com bicicletas novas

Na despedida, ao vê-las pedalando para casa, ficou a certeza de que a bicicleta pode ir muito além de um equipamento de esporte, lazer ou um meio de transporte. De certa forma, nossas cidades estão prostituídas por interesses fáceis, pelo poder do dinheiro para a satisfação de uma minoria. Encontrar pessoas como a Ana, a Michelle e suas amigas da Associação Guerreiras de Fátima reforça a certeza de que é possível agir para o bem em situações de extrema adversidade. Bicicletas podem salvar cidades e prostitutas. Ou como resumiu a Ana com um largo sorriso no rosto: “bicicleta é só o ouro”.

Guerreiras de Fátima

  • a ação social está precisando de um triciclo para carregar cestas básicas, doações e outros volumes grandes. Se você puder colaborar, por favor entre em contato
  • Bicicletas no Banco Central

    bici_BC

    O uso da bicicleta pelos servidores do Banco Central, em Brasília, aumentou bastante nos últimos anos.

    Por meio de uma rede informal de comunicação entre colegas da instituição, o uso da bicicleta tem sido discutido e difundido. Havia um bicicletário tipo “escorredor de prato”, muito inadequado, preferíamos amarrar as bicicletas na grade. Juntamos forças e começamos a pressionar a administração predial do BC para reformar o bicicletário antigo.

    Reclama daqui, conversa dali, conseguimos inserir a reforma do bicicletário dentro da reforma geral do estacionamento externo do Banco. Por uma conspiração do destino, o engenheiro à frente das obras no BC é ciclista e topou o desafio. Faz uns dois anos que estamos nesta lida, que passou por processo de licitação, discussão do melhor modelo, demora da empresa contratada para entregar os suportes…

    O novo bicicletário foi matéria de capa na intranet do Banco Central.
    LD_tela_400

    Este bicicletário foi uma sucessão de força, persistência, sorte e oportunidades. Sempre na base do pensamento positivo e atitudes positivas. Atualmente é um dos melhores do DF, o primeiro que usou o suporte em U invertido. Foram instalados 3 conjuntos de suportes: 2 no estacionamento do Banco e um conjunto aberto ao público, no canteiro central em frente ao Edifício-Sede.

    A novidade foi divulgada por um vídeo muito interessante, feito pela TV Bacen, e que pode ser conferido clicando aqui.