Bicicletas e micropolítica

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Ciclofaixa de Moema em São Paulo – Foto Vá de Bike

O uso da bicicleta como meio de transporte é tendência mundial, inexorável. Mas isso é ponto pacífico e há um longo caminho até tornar nossas cidades amigas da bicicleta.

Durante anos São Paulo investiu uma enorme quantia de recursos financeiros em grandes obras viárias, uma iniciativa que atendeu à demanda por espaço público para o deslocamento de automóveis e que por fim acabou por minar a eficiência urbana da cidade. As perdas econômicas geradas pelos congestionamentos aos poucos sufocam a cidade além de destruir a qualidade de vida.

As bicicletas são parte da solução para a (i)mobilidade paulistana, assim sendo após anos de muitos planos e poucas obras a cidade recomeçou a partir de 2008 a investir, timidamente, em iniciativas que beneficiem os ciclistas. Mas é como tentar trocar a roda da bicicleta sem parar de pedalar. É preciso aprender a melhor maneira de planejar e executar o planejamento cicloviário em uma cidade que é viciada no uso do automóvel.

O caso de Moema e as primeiras ciclofaixas permanentes de São Paulo foi um exemplo fundamental de como é importante a união de diversos atores da sociedade civil e do poder público para construir consensos e transformar o espaço urbano. A conjuntura no bairro era de conflito entre moradores, comerciantes e a autoridade de trânsito, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). O conflito no entanto pouco tinha a ver com as bicicletas e mais com a perda de espaço no viário para o estacionamento de automóveis. O fluxo de pessoas dirigindo seus carros e a necessidade dos moradores de pernoitarem seus automóveis na rua por falta de espaço nos prédios é uma demanda local que foi duramente atingida.

Em meio a um universo de moradores e comerciantes descontentes a ciclofaixa foi implementada e por pouco não entrou no balaio de gato na batalha entre a CET e a população de Moema. Felizmente através da participação de indivíduos e entidades em favor da mobilidade em bicicleta a Associação de Moradores e Amigos de Moema (AMAM) buscou aliar-se aos ciclistas na tentativa de dialogar e apresentar suas demandas para a autoridade de trânsito.

Pode parecer conflitante que moradores e comerciantes em busca da retomada do espaço público para o estacionamento de veículos particulares possam se aliar à ciclistas em favor de mais e melhor infraestrutura cicloviária, mas essa união representa um passo fundamental para a construção de uma São Paulo mais humana e democrática.

A agenda comum a todos os cidadãos em São Paulo é a mesma, diminuição da insegurança viária (principalmente para os mais frágeis), melhoria na acessibilidade urbana para todos e por fim, um planejamento que permita fazer o desenvolvimento urbano de maneira mais democrática.

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Reunião entre ciclistas e a AMAM. Foto: Willian CruzVá de Bike.

Para atingir todos esses resultados, é preciso agir nas pequenas e grandes esferas de poder. Unir moradores e comerciantes em torno de um discurso que vá além do uso do espaço público por veículos particulares e promova novas opções de deslocamento em calçadas de qualidade, com transporte público de fácil acesso e claro com espaço seguro para a circulação de bicicletas.

O exemplo a seguir é do que aconteceu na Holanda quando a sociedade civil resolveu garantir seus direitos e a segurança de suas crianças em detrimento da priorização da circulação de automóveis.

A economia da bicicleta

A expansão do setor de bicicletas na economia britânica ganhou as manchetes esta semana com um relatório de 24 páginas da London School of Economics que colocou a bicicleta no centro das atenções. Martti Tulenheimo, da Federação Europeia de Ciclistas comenta a notícia.

Os benefícios econômicos da bicicleta, dos quais temos falado já algum tempo, finalmente chegou às manchetes. O guru da indústria de bicicletas, Carlton Reid, da Bike Biz, divulgou que o setor de bicicletas em Londres está vivendo um boom econômico, assim como noticiou a BBC, The Guardian, Bike Europe e uma série de outras agências de notícias. David Suzuki também foi no mesmo barco com um artigo sobre como as bicicletas geram benefícios econômicos.

Como defensores da bicicleta, estamos falando de uma “economia da bicicleta” há algum tempo. Para mim, o achado mais valioso deste estudo recente é ter identificado como andar de bicicleta ajuda a economia, pela poupança que faz, especialmente num momento em que a UE está gritando por medidas de austeridade. O relatório aponta para essa poupança muito claramente ao afirmar que ciclistas proporcionam uma poupança de £2 bilhões ao reduzirem os dias presumidos de licença médica na próxima década.

Talvez eu esteja afirmando o óbvio, mas deixe-me dizer novamente: andar de bicicleta = tempo e dinheiro economizados; ao passo que uma cultura dominada pelo automóvel = enorme desperdício de dinheiro e tempo jogados fora nos congestionamentos. Os custos de saúde devido a um estilo de vida sedentário e a construção de infraestruturas rodoviárias são extremamente caros para as sociedades.

Escrevendo sobre o assunto, Bikeradar disse muito ponderadamente que: “Um aumento de somente 20 por cento nos níveis atuais de uso da bicicleta até 2015 poderia salvar 207 milhões de libras com redução de congestionamentos e 71 milhões de libras diminuindo a poluição. Afirma-se também que há um potencial econômico inexplorado, de cerca de 516 milhões de libras, de pessoas esperando para começar a pedalar, com barreiras que precisam ser quebradas, como segurança das ruas e autoconfiança. É essencial agora que a indústria ponha foco na conversão de muitos ciclistas ocasionais, inativos ou de lazer em usuários regulares e frequentes da bicicleta como meio de transporte.”

Assim, investir em infraestrutura para bicicletas com certeza traz benefícios rentáveis. De fato, a economia da bicicleta é um fenômeno que a Holanda já tem explorado em benefício próprio há anos. De acordo com um relatório recente, € 100 milhões serão investidos em vias para bicicletas, o que levará a futuros lucros anuais de pelo menos € 144 milhões em redução no tempo de deslocamento, melhor saúde e benefícios ambientais. Em outras palavras, os holandeses sabem que estão sentados em uma mina de ouro. O Reino Unido está começando a acordar para este fato. E quanto ao resto do mundo?

Chega de conversa. É hora de você fazer sua lição de casa, e navegar pela lista de estudos sobre os benefícios econômicos da bicicleta, cuidadosamente reunidos por Bike Portland.

Texto traduzido do original publicado pela ECF.

Mais bicicletas de carga

A pesquisa efetuada pela Transporte Ativo mostrou uma realidade que chamou a atenção da cidade, com notícias de destaque na seção de Economia dO Globo, no Globo Zona Sul e Bairros.com

bicicleta de carga

Paralelamente ao levantamento feito em Copacabana, foi realizada uma pesquisa por amostragem em estabelecimentos que fazem entregas por bicicleta e triciclos nos bairros de Copacabana, Tijuca, Taquara e Santa Cruz.

Estes dados adicionais foram acrescentados como Anexo 1 ao relatório inicial.

Os itens I a IV do Anexo mostram os dados compilados em gráficos e sintetizam como agem e pensam os gerentes e entregadores dos estabelecimentos pesquisados.

Para eles, a principal vantagem da bicicleta é sua agilidade (44%), logo em seguida a capacidade de carga (24%) e o baixo custo (24%).
Mais da metade das entregas carregam até 70kg, mas em 4% das viagens os ciclistas carregam mais de 250kg.
56% dos entregadores disseram que nunca houve acidentes com eles. Mas em 8% das respostas positivas, os acidentes foram graves.
Por isto, segundo os próprios entregadores, as medidas necessárias para dar mais segurança dividem-se em dois grandes grupos: por um lado, construir ciclovias (47%); por outro lado, educar os motoristas (39%) e reduzir a velocidade dos carros (10%).

O item V é um comparativo das contagens de bicicleta já realizadas em Copacabana e o mapa do bairro no item VI foi feito a partir das visitas da pesquisa principal.

A pesquisa faz parte da exposição As cidades somos nós, que acontece no Centro Cultural Correios até 13 de março.

Entregas por bicicleta

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Com o objetivo de levantar dados e informações até agora desconhecidas da população e da administração da cidade, a Transporte Ativo, em parceria com o ITDP, realizou no bairro de Copacabana, durante os meses de dezembro de 2010 e janeiro de 2011, um levantamento de todos os estabelecimentos comerciais no bairro que fazem entregas por bicicletas, quantas entregas por dia e qual tipo de bicicleta usado.

Os dados são surpreendentes e propiciam informação suficiente para mensurar os benefícios deste tipo de entregas para a cidade, o trânsito e o meio ambiente.

O relatório completo, que está sendo publicado hoje, pode ser baixado aqui e faz parte da exposição As cidades somos nós.

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Clique na imagem para ver o folheto.

Manual Circuitos de Cicloturismo

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O Cicloturismo é uma atividade em crescimento em todo o mundo, atraindo cada vez mais praticantes.

Tendo em vista que muitas cidades possuem atrativos para o cicloturismo, um conjunto de organizações acaba de lançar um manual de incentivo e orientação para que municípios brasileiros possam promover Circuitos de Cicloturismo em suas regiões.

Saiba mais sobre a iniciativa direto no Blog da Rede Catarinense de Mobilidade Sutentável, Bici-SC.