Seis razões porque as bicicletas de carga são uma grande ideia

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Foto: Chris Bruntlett

Tradução e adaptação do artigo: 6 reasons why cargo bikes are the next big thing, de Chris Bruntlett and Melissa Bruntlett publicado originalmente em grist.org

Há cinco anos sem automóvel, os canadenses Chris e Melissa começaram a experimentar diversas maneiras de usar a bicicleta na cidade, inclusive o hábito de viajar com toda família usando a bicicleta como modo de transporte. Nesse contexto, nada tem sido tão transformador como a compra de uma bicicleta de carga. Com ela é possível não só levar as crianças, mas também as compras, os alimentos, eletrodomésticos e, até mesmo, a árvore de Natal da família.

Chris e Melissa moram em Vancouver, cidade que oferece estrutura cicloviária. Nos últimos cinco anos, a experiência de pedalar pela cidade os fez pensar sobre como o uso de bicicletas de carga poderia mudar a vida de outras pessoas, especialmente em cidades que estão investindo no desenvolvimento de infraestrutura para bicicletas. Com isso em mente, reuniram uma lista com seis motivos que apontam para uma grande revolução nos modos de transporte a partir da popularização das bicicletas de carga.

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Foto: Mikael Colville-Andersen

  1. Bicicletas de carga: Os novos caminhões de entrega
Um estudo realizado em 2013 pelo Cyclelogistics estimou que 51% de todas as viagens motorizadas para transporte de bens poderiam ser efetivamente realizadas por bicicletas de carga. Diante desse cenário, a DHL, empresa de logística que atua em diversos países, substitui 10% da frota holandesa (33 vans) por bicicletas de carga. Com essa ação, cerca de 152 toneladas de CO2 deixaram de ser lançados na atmosfera gerando uma economia de 485 mil dólares por ano. Dá pra pensar o quanto mais segura e agradável seria uma cidade se 10% dos caminhões de entrega fossem substituídos por bicicletas?

 

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Foto: Melissa Bruntlett

  1. A minivan da próxima geração
Com duas crianças, as bicicletas de carga se mostram como uma excelente opção de deslocamento na cidade, podendo, em muitos casos, dispensar o uso de um carro da família. Com uma bicicleta de carga não é preciso gastar com combustível, seguro e a baixa manutenção pode, muitas vezes, ser realizada pelo próprio dono. Na experiência de Chris e Melissa, a bicicleta de carga se mostra mais eficiente do que um reboque para levar uma criança pequena. “Basta colocar seus sapatos, sentar as crianças no bagageiro e começar a pedalar. As vezes, encontrar estacionamento seguro pode ser um desafio, mas algumas cidades estão começando a oferecer soluções criativas, e com certeza, é muito mais barato do que estacionar um carro”, explicam.

 

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Foto: Mo

  1. Eles já não custam tão caro
Encontrar uma boa bicicleta de carga não é uma tarefa fácil e o preço alto é uma barreira para muitas pessoas. Todavia, o mercado está oferecendo uma variedade cada vez maior de modelos e preços. Uma boa bicicleta de carga pode custar caro, mas nem se compara ao preço e custos de manutenção de um automóvel como oficina, estacionamento e combustível. Em alguns países como o Canadá, e cidades como Munique, é possível alugar bicicletas de carga através de um sistema de compartilhamento como o Spinlister, que tem funcionamento semelhante ao do Airbnb, que vincula pessoas com bicicletas para alugar, incluindo bicicletas de carga, com interessados em locações. Essa pode ser a solução para quem pretende usar esporadicamente uma bicicleta de carga.

 

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Foto: Butchers and Bicycles

  1. A melhor maneira de viajar
Uma bicicleta de carga pode proporcionar uma experiência incrível para conhecer lugares como Copenhague, quem nunca desejou conhecer a cidade como um morador local? Mas se estiver com duas crianças pequenas, o que fazer? Existem modelos de bicicleta de carga específicos para o transporte de crianças, elas vão bem acomodadas dentro de um grande cesto e podem desfrutar da viagem e aprender mais sobre as cidades ao redor do mundo.

 

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Foto: Elly Blue

  1. Refeições em rodas
Os truck foods, caminhões que vendem comida,  tem seus dias de fama,  são  considerados uma alternativa mais barata aos restaurantes tradicionais. Agora, a próxima tendência na venda de alimentos de rua é a bicicleta, ela consegue superá-los em todos os níveis. Diversos novos negócios sob duas rodas estão surgindo em todos os lugares – seja para vender café, cerveja, pizza, sorvetes e produtos frescos direto do produtor. Com custo inicial baixo, um pequeno empreendedor pode entrar no mercado e começar a ganhar dinheiro imediatamente. Um sonho para novos empresários.

 

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Foto: Will Vanlue

  1. A bicicleta de carga como veículo de emergência

Bicicletas de carga oferecem resposta rápida em situações de emergência, guerra ou até mesmo colapsos climáticos. Em 2012, quando o furacão Sandy devastou a costa leste dos Estados Unidos e outros países como a Jamaica, Cuba, Bahamas, Haiti, República Dominicana, fotos de pessoas usando bicicletas para fugir de áreas atingidas circularam a Internet. Em antecipação ao “Big One”, o possível terremoto que poderá destruir a Costa do Pacífico, cidades canadenses como Portland e Victoria, estão organizando ensaios com a população sobre como usar bicicletas de carga para buscar suprimentos médicos, alimentos, água e até mesmo pessoas feridas. A revolução das bicicletas de carga está chegando! Agora tudo o que precisamos são de políticas públicas para incentivar seu uso, como o desenvolvimento de infraestrutura segura para o deslocamento de quem prefere ir de bicicleta.

O Contexto brasileiro

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Foto: Fábio Nazareth

O uso de bicicletas de carga no Brasil está praticamente relacionado ao comércio, que há tempos já descobriu que, no cenário urbano, elas são muito mais eficientes e economicamente mais rentáveis do que outros modos de transporte. Nesse contexto, os triciclos de carga, muito usados por lojas que vendem colchões, gelo e material de contrução, conseguem transporter cargas com volumes maiores e mais pesadas do que a capacidade de uma motocicleta e ainda não disputam vagas de estacionamento.
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Foto: Zé Lobo

O que ainda falta por aqui é o cidadão comum, usuário de bicicletas ou não, despertar o interesse no uso de bicicletas de carga no ambiente familiar. Entretanto, já é possível perceber novos modelos de bicicletas de carga rodando pelas cidades. Algumas pessoas estão incorporando as bicicletas de carga em suas rotinas, como idas ao supermercado, à feira e no transporte de crianças no trajeto de casa para escola.
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Roupas, estilo e bicicleta

Com exceção das pedaladas peladas, em geral todos pedalamos vestidos. E no dia a dia dos pedais, existem uma série de fatores esquecidos para as roupas usadas pelos ciclistas.

Há o esporte do ciclismo, com roupas de tecidos sintéticos para lidar com o suor e grudadas no corpo para diminuir a resistência do vento. Mas na cidade, nos deslocamentos pendulares entre casa e trabalho, as vestimentas de atleta nem sempre são a melhor opção. Afinal, um short com espuma acolchoada nos fundilhos e elástico nas coxas não é exatamente a melhor opção para passar 8 horas em uma cadeira de escritório.

De maneira espontânea, os ciclistas buscam estilos de vestir adequados ao uso que fazem da bicicleta e no cotidiano, isso significa roupas adequadas para pedalar, mas não só para ficar no selim. Timidamente as marcas que definem estilos e produzem roupas buscam se adequar a essa demanda.

 

Camiseta Polo e a moda do esporte

Foi o grande tenista René Lacoste, o “Crocodilo”, que inventou e popularizou as camisetas de manga curta, gola alta e três botões. Foi no entanto a adoção da peça de roupa pelos atletas do polo que popularizou a “roupa para jogar tênis”.

Lacoste imaginou uma roupa que fosse confortável e elegante para sua prática esportiva, atualizando a vestimenta sisuda utilizada anteriormente e que era desconfortável para as raquetadas.

As especificidades do ciclismo de alto rendimento tornam menos viável a popularização das roupas dos atletas no uso cotidiano. Ainda assim, a cultura da bicicleta tende a avançar sobre mais barreiras quando a roupa que se utiliza para pedalar for também vestimenta cotidiana para quem está longe dos pedais.

A bicicleta como acessório de estilo

Por hora a bicicleta ainda é em geral utilizada como acessório de estilo, um ícone em campanhas de marketing de roupas. Certamente há benefícios de ter a bicicleta como uma peça “da moda”, mas são poucos. Nos milhares de “conceitos” e apelos para o consumo, as magrelas tendem a ser apenas mais um ruído. Passam a imagem de liberdade, modernidade e acabam por ser apenas excentricidade da vida urbana.

Há de chegar o tempo em que a utilidade da bicicleta e das vestimentas confortátveis para pedalar sejam populares para além da imagem em campanhas publicitárias. Roupas mais duráveis, com costuras reforçadas, adequadas para quem está ao ar livre e em movimento são acima de tudo uma necessidade dos tempos atuais.

Até lá, seguiremos com a bicicleta como símbolo “trendsetter”, como na bela campanha com ciclistas urbanos da Levi’s:

 

Leia mais:

Jeans & pedal
Levi’s lança no Brasil sua linha Commuter 2015, projetada para ciclistas urbanos

Ficam proibidos os capacetes para ciclistas

Será que promover o capacete é promover a segurança?

Será que promover o capacete é promover a segurança?

O capacete para ciclistas é e deveria continuar a ser uma opção pessoal de cada ciclista. Mas infelizmente a fé de alguns contamina a percepção e faz com que diversos ciclistas acreditem que é possível promover o uso da bicicleta e ao mesmo tempo os capacetes de isopor para os ciclistas.

Por isso é fundamental que seja extinto o capacete de qualquer peça publicitaria em favor da bicicleta. Alguns motivos:

  1. Não retrata a realidade, afinal nas contagens de ciclistas realizadas Brasil afora, nem 1% dos ciclistas hoje nas ruas usam.
  2. Estigmatiza a bicicleta e o ciclista, afinal se a promoção ao uso da bicicleta é sempre focada no capacete, quem não usa (a maioria dos ciclistas brasileiros) é colocado de fora do modelo divulgado.
  3. O vínculo entre bicicleta e capacete reforçado em peças publicitárias comunica ao público não ciclista que a bicicleta é perigosa e por isso precisa de equipamentos de proteção.
  4. O capacete carrega a noção de que pedalar é coisa de atleta (que normalmente usa capacete).
  5. A presença do capacete na publicidade ajuda a culpabilizar os ciclistas “sem equipamentos de proteção” nas ruas.

Fica portanto o marketing e a promoção ao uso do capacete como função exclusiva dos fabricantes de capacete e não dos que esperam que nossas ruas estejam cada vez mais repletas de ciclistas. Sem distinção de equipamentos.

Ps.: 

Aos amantes do capacete que aqui expressaram suas opiniões pessoais.

Indicamos dois links da European Cyclists Federation (Federação Européia de Ciclistas) – ECF, sobre o assunto:

Porque o capacetes não são eficientes na redução de ferimentos em ciclistas” (em inglês).

Porque a Federação Européia de ciclistas defende o capacete como opção individual e é contra a promoção do medo na publicidade de capacetes (em inglês).

Quem é o ciclista brasileiro

Projeto transite – http://catarse.me/pt/transite.

Tem muita gente que pedala Brasil afora. A frota de bicicletas passa das dezenas de milhões, mas toda magrela precisa de um ciclista. Conhecer esses ciclistas será a missão do Felipe Baenninger no projeto Transite.

E o registro dos ciclistas brasileiros vai virar um livro, mas o projeto só se concretiza com o apoio prévio, é o financiamento coletivo em prol da arte em bicicleta. Fica lançado o convite para que todos colaborem e ajudem ao Felipe nessa aventura exploratória.