Cidade que Queremos

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A cidade que os paulistanos querem, é uma cidade na qual elas possam se movimentar, ir e vir sem ficarem presas em meio ao mar de automóveis “estacionados”. É a cidade de São Paulo dos ciclistas apocalípticos de hoje. Afinal de bicicleta nunca se está “preso no trânsito”. No entanto, a percepção de cidade enquanto ciclista ainda é minoritária. A “inveja” que os motoristas sentem de saber que os ciclistas nunca ficam parados no trânsito ainda não é o suficiente para fazer aumentar exponencialmente da noite para o dia o número de ciclistas nas ruas. Mas felizmente eles vem aumentando, e muito.

Para que o discurso da promoção ao uso da bicicleta e dos transportes sustentáveis seja aceito como “senso comum” ainda há muito trabalho a ser feito. A cidade de Los Angeles é o maior exemplo do mundo de como num universo de recursos abundantes a mobilidade urbana não se resolve com mais investimentos no sistema viário. A cada ano a cidade californiana é sempre a campeã norte-americana de congestionamentos. Ao mesmo tempo Nova Iorque, tem a menor taxa de automóveis por habitante, um sistema de transporte de massa bem estruturado e para resolver os problemas de congestionamento motorizado tem promovido cada vez mais a bicicleta e a qualidade dos espaços públicos.

A cidade almejada pelos ciclistas precisa ser a cidade almejada pela população em geral. A pressão pela acessibilidade tornou nossas calçadas mais amigáveis para os pedestres. Da mesma forma, a promoção ao uso da bicicleta é capaz de promover a “acessibilidade” de nossas ruas, tornando-as aptas a outros fluxos e até mesmo outros usos. Precisa mudar a cidade, mudar a percepção de que cidade queremos.

Por hora investimentos no viário ainda são vistos como um “mau necessário“. No entanto, o político que tiver a coragem de ousar e trabalhar em prol de uma nova mobilidade, irá certamente receber um retorno político maior pelo ineditismo. Afinal em cima de cada bicicleta, vai um voto, se for uma criança, são dois votos. Pensando assim, uma cidade em que todos possam pedalar com conforto e segurança é uma cidade com mais eleitores felizes.

Mas não basta apenas pensar nas bicicletas. Seoul foi capaz de provar que um viaduto a menos é capaz de eleger um presidente. Os benefícios sociais e financeiros do investimento em qualidade de vida serão os que garantirão competitividade as cidades. E por consequência, viabilidade política para seus líderes democraticamente eleitos.

Planejar uma Cidade Global

O Brasil tem duas metrópoles globais. Rio de Janeiro e São Paulo são cidades cuja influência e importância vão além das fronteiras brasileiras e até mesmo Latino Americanas. No ranking urbano global (GaWC), São Paulo está entre as mais importantes dada a relevância dos negócios aqui conduzidos o que a coloca na condição de um importante nó na rede mundial das cidades. O Rio de Janeiro vem logo atrás.

Manter-se bem colocado no GaWC requer uma série de medidas e principalmente a visão dos seus administradores para que facilitem um ambiente favorável aos negócios sem inviabilizar a qualidade de vida da população desses grandes centros. As duas cidades no topo do ranking são unanimidades históricas que mantiveram desde o século XIX sua importância mundial. Londres e Nova Iorque, principalmente a primeira, inventaram o conceito de cidade global, mas para manterem seu papel de destaque, souberam se atualizar e acompanhar a marcha da história.

O progresso industrial do passado que fez explodir o tamanho das cidades deu lugar a uma nova abordagem do que é importante para que a metrópole não fique para trás no competitivo ambiente de negócios globalizados. Para não perderem competividade e principalmente produtividade, Londres e Nova Iorque tem dado muita ênfase ao transporte sustentável e ao espaço público. A qualidade de vida da população e a capacidade de “fazer mais negócios em menos tempo” são duas medidas que tem que ser encaradas de frente para que a cidade não perca importância econômica e política diante das demais cidades ao redor do globo.

São Paulo e Rio de Janeiro tem muito o que aprender com as duas mais importantes metrópoles mundiais. Em Londres e Nova Iorque o uso da bicicleta só faz crescer por meio de uma série de iniciativas da administração local. A mobilidade urbana cada vez mais irá diferenciar as cidades que ficarão presas no passado e as que irão seguir rumo ao futuro.

O Rio de Janeiro até hoje não se recuperou totalmente da perda política da transferência da capital federal para Brasília e do êxodo empresarial para São Paulo. Os atuais administradores de ambas as metrópoles precisam encarar a mobilidade com a devida seriedade e também como uma importante maneira de promover a sustentabilidade urbana. Precisam deixar de lado a velha mobilidade centrada no uso do transporte individual motorizado e dar prioridade absoluta para o transporte público e os descolamentos de pedestres e ciclistas. A palavra “progresso” mudou de sentido e esse novo significado está intimamente relacionado com a sustentabilidade ambiental.

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No Blog: Velha Mobilidade.
Confira na Wikipédia o conceito de Cidade Global.

Saúde das Cidades

ANTP Bicicleta

O Seminário Nacional de Política de Transporte Cicloviário da ANTP em Sorocaba serve para reforçar o intercâmbio e as trocas entre velhos conhecidos e ajudar a informar e formar novos planejadores e promotores da bicicleta.

Durante o primeiro dia as reflexões começaram pelo que já foi feito e será feito na cidade de Sorocaba. O prefeito Vitor Lippi, um médico, deu os motivos que achou válido para promover o uso das bicicletas e o incentivo as viagens a pé na cidade.

Valorizar um estilo da vida saudável é o melhor programa de saúde para a cidade. Cidadãos que se exercitam regularmente oneram menos o poder público com a menor necessidade por tratamentos hospitalares, remédios e atendimentos médicos em geral. O administrador precisa acima de tudo pensar na saúde dos cidadãos e não focar só no tratamento de doenças.

A bicicleta se insere facilmente no ideal de cidades mais saudáveis. Ela também cabe na pasta de esporte e lazer, na de transportes, na de meio ambiente e somando os efeitos, os benefícios se alastram para a área da saúde.

Em Sorocaba as ciclovias se somam as pistas de caminhada e a essa infraestrutura se somam passeios regulares de bicicleta e grupos de caminhada. O trânsito para uma cidade tem de ser encarado cada dia mais como um dos componentes. O ir e vir tem grande importância, mas se apenas o tráfego motorizado for levado em consideração a cidade perde qualidade de vida a cada dia. Já uma cidade que encara o ir e vir como uma necessidade humana e insere todos os tipos de deslocamentos torna-se pouco a pouco mais saudável e por consequencia, um lugar melhor para seus habitantes.

Assim em Copenhague como no Japão

Um olhar dinamarquês em Tóquio. A maravilha da propulsão humana na região metropolitana mais populosa do mundo. São pedestres e ciclistas para todos os lados mas sem deixar faltar o estilo despojado. O vídeo foi visto primeiro no Copenhaguen Cycle Chic, blog referência na promoção ao uso da bicicleta através da valorização da beleza e da moda sobre duas rodas a pedal.

Copenhagen Cycle Chic – Tokyo Nights – Turning Japanese from Colville Andersen on Vimeo.

O mundo todo está ficando um pouco mais japonês pelas bicicletas por todos os lados e ao mesmo tempo o Japão está ficando parecido com o resto do mundo com mais e mais ciclistas nas ruas. É a marcha inexorável da história.

Ouro Preto para Pedestres

Cidades históricas sofrem duplamente com automóveis. Além de congestionamento, poluição, isolamento das pessoas e devoração do espaço urbano, comum nas demais cidades, as ruas, casas e prédios das cidades históricas não foram projetados para suportar o abalo diário causado pelo trânsito de carros. Ao longo dos anos têm sido registrados vários casos de danos irreversíveis em paredes e alicerces.

Alguns centros históricos tombados, como Paraty e Olinda, já protegem o patrimônio arquitetônico, impondo restrições ao trânsito motorizado.

Ouro Preto vinha sofrendo com o excesso de carros e caminhões. Um de seus chafarizes foi destruído duas vezes. Esta tragédia fez a cidade acordar para o problema. Pouco depois, o trânsito de caminhões foi proibido no centro.

Agora, notícia do Portal Uai informa que a Prefeitura adotou medidas sérias para disciplinar o trânsito na cidade e impor restriçoes aos carros, inclusive devolvendo aos pedestres o espaço da Praça Tiradentes, com forte apoio da população. Foi construído um calçadão, que restituiu a amplidão da Praça e a beleza sem interferências do Museu dos Inconfidentes e o antigo Palácio dos Governadores.

Um decisão que merece muitos elogios e deve servir de exemplo para todas as cidades que querem proteger suas construções, humanizar suas ruas e proporcionar melhor qualidade de vida às pessoas.