Capacete ou turbante

Na Austrália o uso de capacetes é obrigatório para ciclistas. Sem amparo em pesquisas científicas, mas baseado na cultura do medo, os legisladores australianos aprovaram há alguns anos esse tipo de legislação.

Só houveram malefícios, o principal deles a diminuição do uso da bicicleta. Além é claro de propagar a noção de que a bicicleta em si é um veículo perigoso, e que cabe ao ciclista se proteger do trânsito. Quando toda legislação de trânsito sensata, a brasileira inclusive, apregoa que a responsabilidade pela incolumidade dos veículos mais vulneráveis e dos pedestres cabe aos veículos maiores.

Mas um novo elemento entrou em debate no estado de Queensland. Em nome da liberdade religiosa, fiéis sikhs podem abrir mão do boné de isopor e utilizarem seus turbantes enquanto pedalam sem ficarem sujeitos a uma multa de 100 dólares australianos.

Agora, um ciclista com um simples turbante, que nada mais é do que um pedaço de tecido, está desobrigado de usar o capacete. Fica claro com isso que a função do capacete não é para a “segurança do cidadão” ou uma questão de “saúde pública”, mas sim um capricho legislativo que reforça o medo nas ruas e o falso paradigma do automóvel como veículo dono do espaço de circulação viário.

Leia a notícia em inglês: Queensland govt exempt Sikhs from wearing helmet while riding bicycle

Fórum Internacional de Mobilidade Urbana

Nos dias 03 e 04 de abril de 2013, a Transporte Ativo esteve presente no Fórum Internacional de Mobilidade Urbana que aconteceu no Hotel Majestic em Florianópolis, Santa Catarina.

O Fórum contou com a participação de Gil Peñalosa do 8-80 Cities, do Canadá, e Ton Daggers da rede Cities for Mobility, da Holanda, além de outros especialistas e representantes de empresas do ramo.

Ambos os dias foram repletos de palestras onde foram relatados exemplos e estudos de caso sobre mobilidade urbana em diferentes localidades. Também foram realizadas apresentações sobre variadas soluções de transporte de massa aplicadas em diversos lugares do mundo e novas possibilidades para velhas e já conhecidas tecnologias, como monotrilhos e teleféricos.

A mobilidade por bicicletas foi tema central da palestra proferida pelo holandês Ton Raggers que apresentou e defendeu a utilização das bicicletas PEDELC, as “elétricas de pedal assistido” como são conhecidas aqui no Brasil, para a promoção e difusão da bicicleta como meio de transporte de cargas e pessoas. Tratou também da importância da bicicleta como parte de um sistema de transporte público, falou sobre as rodovias para bicicletas e encerrou sua explanação concluindo que é necessário treinamento e capacitação, dos técnicos e decisores públicos, para implantação de um cenário favorável a mobilidade por bicicleta nas cidades.

A bicicleta como alternativa

Metro_bicicleta

O metrô do Rio de Janeiro está em expansão em direção à Barra, as obras já impactam diretamente a circulação no Leblon. Como forma de diminuir os impactos, a Prefeitura e o consórcio responsável pelas obras estão com uma campanha nas ruas para encorajar o uso da bicicleta como alternativa.

Pelos custos e prazos, as infraestruturas metroviárias representam um enorme impacto nas cidades, mas a presença do transporte sobre trilhos ao redor da cidade representa um enorme ganho depois que as obras são concluídas.

De acordo com o consórcio responsável:

A campanha procura não só amenizar os transtornos com as obras, mas deixar um legado importante para a cidade, com menos poluição e mais mobilidade.

Afinal, quem descobre a bicicleta, tende a se acostumar com sua eficiência para os deslocamentos urbanos e a cada ciclista a mais nas ruas, o ganho maior é da cidade.

Por outro lado, a campanha também foi alvo de críticas por conta do texto do cartaz que busca incentivar o uso do transporte público e traz a imagem de um ônibus.

De acordo com Ivan Acciolly, que compartilhou a foto do cartaz, há um grave erro no texto, de se referir ao transporte público por ônibus como alternativa ao metrô. Com isso, dá-se a entender que o metrô não é transporte público.

Essa e outras polêmicas ainda renderão muito assunto. Mas até que os trilhos estejam assentados nos subterrâneos cariocas, o melhor mesmo é seguir tranquilamente de bicicleta pela superficie.

Transporte ativo e planejamento urbano

A vida urbana é a organização humana padrão dos nossos tempos. Não é novidade morarmos em cidades, a novidade é morarmos tantos em cidades.

Da pressão por espaço urbano, surge uma cidade que deverá buscar novas e melhores maneiras de se adequar a necessidade de seus moradores. E é sobre o planejamento urbano para essa nova cidade que fala o vídeo acima. E não é coincidência que o autor do vídeo menciona os transportes ativos, nossa maneira preferida de definir todos que dependem do próprio esforço para se locomoverem.

Visto primeiro no Bicyclop.

O trânsito seguro de bicicletas

Bicicletas são veículos seguros por excelência capazes de manter velocidade graças ao esforço físico de seu condutor. Sendo essa dependência do ciclista seu maior trunfo.

É no entanto bastante comum ouvir comentários e dúvidas daqueles que por ventura ainda não pedalam quanto a segurança de se conduzir um bicicleta nas cidades. É uma pergunta difícil, que gera embaraço aos mais desatentos mas cuja resposta pode ser repetida com o mantra em relação a segurança intrínseca da bicicleta: sua limitação de velocidade de acordo com a capacidade do condutor.

Ainda assim, a segurança da bicicleta por si só, perde evidência em cidades com ruas e avenidas tomadas por veículos motorizados e altos níveis de estresse. O problema então deixa de ser a bicicleta e passa a ser o uso das ruas.

Nascida no século XIX, a bicicleta chegou ao século XXI firme, forte e capaz de desempenhar um papel que ficou esquecido em muitas cidades ao redor do mundo. O melhor meio de transporte em curtas distâncias e máquina mais eficiente jamais produzida pelo homem para a conversão de força muscular em movimento.

Para que o potencial da bicicleta seja devidamente compreendido e exercido, é preciso permitir que seus usuários desfrutem da segurança natural do veículo e essa segurança se constrói com intervenções diretas na pacificação da circulação urbana.

A lógica da velocidade motorizada em largas avenidas é um retumbante fracasso, tendo a degradação urbana e a inviabilização da circulação humana como consequências diretas. Discutir segurança dentro desse cenário tem de passar pelo debate e promoção de rotas seguras para deslocamentos humanos.

Nas cidades do século XX, foi introduzido um elemento novo, o automóvel. Para que ele pudesse circular em segurança, foi preciso confinar os pedestres nas calçadas e retirar todas as interferências das ruas. Nosso tempo é de reversão do uso do espaço urbano em favor das pessoas, e o caminho passa pela mudança do discurso em relação ao uso da bicicleta.