Ferramentas Urbanas

Cidades são construções humanas ao longo dos anos e que apesar do asfalto e concreto inertes, são dotadas de vida. E a vida urbana emana naturalmente dos habitantes. Apesar disso, o Planejamento Urbano ao longo do século XX buscou adequar espaços historicamente construídos para as pessoas a um novo elemento: A carruagem movida por um motor a explosão.

A máquina popularizada por Henry Ford pouco mudou desde 1908, mas as cidades ao redor do mundo sofreram enormes mudanças. Um complexo conjunto de peças desenhadas para transformar energia em movimento foi responsável por redesenhar as cidades ao longo de um século. E hoje um dispositivo que foi feito para ajudar as pessoas a se locomoverem, tem sido capaz de imobilizar cidades inteiras.

A bicicleta é filha da mesma revolução industrial que deu origem ao automóvel, ela também se beneficiou do modelo de produção fordista em larga escala. Mas um trunfo fundamental diferencia a bicicleta, ela converte energia humana em movimento. Trata-se de um incrível dispositivo acelerador de seres humanos. Metade do consumo de energia e 4 vezes mais veloz do que o primordial ato de caminhar.

O planejamento urbano do século XXI vem sendo construído desde os anos de 1970 na Europa. Cidades como Amsterdam e Copenhague foram pioneiras ao vislumbrar a impossibilidade de cidades pensadas para a circulação viária de automóveis. Não é concidência que a bicicleta tenha tanta importância nessas capitais. Essas máquinas simples e eficientes ao mesmo tempo colaboram na tarefa de levar pessoas de um lado a outro sem nunca deixar de lado a energia mais importante para a vida urbana.

Outra Boa Onda em Copacabana

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O bairro mais famoso do Brasil continua sendo cada dia mais ciclável. Em tempo recorde a prefeitura deu mais uma pedalada na revolução em curso na mobilidade do bairro, vitrine do país para o mundo. Foram implantados emblemáticos 1200 metros em uma ciclofaixa de mão dupla em toda a extensão da rua Xavier da Silveira. A medida tornou mais fácil e seguro o acesso desde a ciclovia da orla até a estação Cantagalo do Metrô com seus bicicletários internos, externos e bicicletas públicas.

Copacabana tem mais de 150 mil moradores e uma população flutuante que mal cabe nas calçadas. A densidade de serviços e residências cria um ambiente perfeito para o uso da bicicleta que cresce naturalmente. Em nome da qualidade de vida do bairro nada melhor do que investir no único modal de transporte individual possível para a região.

Ir e vir dentro de Copacabana está cada dia melhor para quem usa a bicicleta, mas outras ondas estão a caminho e trarão mais boas novidades. Para entender a revolução em curso vale ler o post “Melhor a Cada Por do Sol“.
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Uma Imagem de Futuro

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Um muro em São Paulo. Asas para o futuro.

Dentro dos grandes aglomerados urbanos de muitos caminhos possíveis, um novo olhar de futuro se faz necessário. Mais do que ver e tentar resolver problemas pontuais, nossas cidades precisam ser repensadas pelo que poderiam ser, uma construção plural de sonhos, ambições e cotidianos. Um espaço onde muitos garantem sua sobrevivência financeira, mas que sabe valorizar o bem estar coletivo acima de interesses individuais.

Repensar nossas cidades é mais do que um desejo de promoção a qualidade de vida, trata-se de uma necessidade real de sobrevivência. Os problemas e dificuldades de locomoção e abastecimento nos grandes centros provam isso diariamente. Sejam em quilômetros de congestionamentos motorizados ou a crescente distância percorrida pela água que abastece os moradores.

A vida humana nos grandes centros depende dos rumos construídos hoje. Cidades com ar limpo, fácil mobilidade e qualidade de vida para todos, não brotam espontâneamente. Precisam ser pensadas e planejadas com metas claras a serem cumpridas hoje, amanhã e nos anos que virão.

O primeiro passo precisa ser dado e ser claro, definir com clareza a cidade dos sonhos de cada um. E a partir dos sonhos coletivos dos moradores, construir a realidade possível no dia a dia.

Grande Fluxo, Baixo Impacto

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As contagens fotográficas feitas pela Transporte Ativo visam acima de tudo dar visibilidade as bicicletas. Durante as tradicionais 12 horas em fotos, estivemos agora na esquina das Ruas Figueiredo de Magalhães e Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Muitas bicicletas eram esperadas e muita gente pedalou por lá. Exatamente 1420 ciclistas computados em uma média de 118 por hora.

Os cliques foram constantes, mas a surpresa maior ficou na comparação com os dados da CET-Rio para o número de deslocamentos em automóvel.

No pico da manhã (para os automóveis) (de 8 às 9 horas)
– pessoas se deslocando por automóvel (considerando 1,4 pessoa por automóvel): 1364
– por bicicleta: 72
– relação ciclistas / automobilistas : 5%

No pico da tarde (para as bicicletas) (17 às 18 horas):
– pessoas se deslocando por automóvel (considerando 1,4 pessoa por automóvel): 1552
– por bicicleta: 192
– relação ciclistas / automobilistas :12%

Ficou muito claro o potencial para o uso da bicicleta. São duas ruas muito movimentadas com trânsito pesado de ônibus e automóveis e sem qualquer tratamento cicloviário. Mas a infraestrutura para as bicicletas está a caminho e 3 meses depois de sua instalação a Transporte Ativo estará de volta, máquinas fotográficas em punho.

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Mais:
– Leia o relatório da Contagem na Figueiredo. (PDF)
– Albúm de fotos.
– Conheça outras contagens fotográficas de ciclistas.

As Amarelinhas já Chegaram

Está funcionando desde Junho, na Universidade de Brasília, um sistema de bicicletas comunitárias gratuitas. O Projeto de Extensão que nasceu dentro da Faculdade de Educação Física da UnB, é inspirado nos moldes do “Plano das Bicicletas Brancas”, que aconteceu a década de 60, em Amsterdã e que culminou em grandes mudanças políticas e de relações interpessoais naquele lugar.

A idéia era bem simples: Fazer uma grande campanha de doação de bicicletas usadas, reformá-las, padronizá-las e soltar as magrelas livremente pelo campus, para uso de alunos e funcionários. Em torno dessa idéia, juntou-se um bom grupo de alunos e outros voluntários que não tem nenhuma relação com a Universidade.

Este ano, o Projeto Bicicleta Livre recebeu uma grande doação de bicicletas da ONG Rodas da Paz em parceria com a rádio Transamérica. As bicicletas foram captadas, numeradas e enviadas para uma sala de aula, onde atualmente funciona a oficina. Todos os sábados a partir das 10:00, os voluntários do projeto chegam e botam a mão a graxa.

O processo pode parecer simples: Desmontar, pintar e remontar as bicicletas, para em seguida, liberar para a utilização. E deveria mesmo ser bem simples, não fosse a escassez de peças e muitas vezes até mesmo de mão de obra para a manutenção, já que são os próprios voluntários que consertam as bicicletas sem a ajuda de nenhum mecânico profissional.
Mesmo com esses contratempos, o Bicicleta Livre segue firme na sua proposta e desde o seu lançamento, vem agregando mais e mais pessoas.

O Projeto Bicicleta Livre, impulsionado pela simplicidade e praticidade de seu sistema, prima pelo pioneirismo, afinal não existe no Brasil nenhum outro sistema similar em funcionamento. Atualmente mantém diálogos com alunos de outras universidades, como a UNICAMP e a USP, no sentido de trocar informações e experiências para que projetos similares sejam implementados também nessas universidades.

Além disso, o sucesso do projeto despertou grande interesse da comunidade acadêmica e apoio indiscriminado por parte da Reitoria.
Vale lembrar ainda que, desde o lançamento, as bicicletas se encontram completamente soltas pelo campus Darcy Ribeiro. O grande sucesso do projeto se reflete na consciência das pessoas: Apesar das dificuldades com a manutenção, nenhuma bicicleta sumiu e esse que num primeiro momento era motivo de grande preocupação, é agora motivo de orgulho para os voluntários do projeto.