Um perfil de quem usa a bicicleta no Brasil

Estão disponíveis os primeiros dados da pesquisa “Perfil do Ciclista” que irá traçar um panorama de quem utiliza a bicicleta como meio de transporte no Brasil. Ainda preliminares, os dados já dão um grande panorama sobre quem já pedala e nos ajuda com pistas para que mais pessoas escolham pedalar.

A maioria dos ciclistas brasileiros entrevistados tem entre 25-34 anos, concluiu o ensino médio, recebe até 2 salários mínimos, pedala até 30 minutos no seu deslocamento principal, não se envolveu em incidentes de trânsito recentemente e, principalmente, gosta de pedalar. A  bicicleta é o principal meio de deslocamento das pessoas ouvidas que pedalam no mínimo 5 dias por semana de porta a porta, sem integrar com qualquer outro meio de transporte.

– Confira os resultados preliminares da pesquisa nacional do perfil do ciclista 2015.

Rio de Janeiro, cidade que ama pedalar

Dos dados preliminares do Rio de Janeiro, o que salta aos olhos é a frequência com que as pessoas entrevistadas pedalam. Cerca de 81,2%  utiliza a bicicleta no mínimo 5 vezes por semana. Desse total 37,20%  pedala de domingo à domingo, 27% utiliza 5 vezes por semana e 17% pedala 6 dias por semana.

RJ-preliminares-frequencia

As pessoas que usam a bicicleta no Rio são em sua maioria jovens entre 25-34 anos (27,7%). Já 21,9%  tem entre 35-44 anos e 19,4% 15 a 24 anos.

Em relação à renda 59,8% recebe até 3 salários mínimos. Sendo 30,7% entre 1 e 2 S.M., 16,2% de 2 a 3 S.M. e 12,9% até um salário.

A integração modal é mais representativa do que na média nacional, com 34,5% das pessoas utilizando a bicicleta somada a outro meio de transporte.

Na variável tempo, 83,6% utiliza a bicicleta para deslocamentos de até 30 minutos. Sendo 56,6% mais de 10 e menos de 30 min. e 27% pedala no máximo 10 min. em sua viagem mais frequente.

RJ-preliminares-tempo

São Paulo vive revolução cicloviária que precisa alcançar a periferia

Um olhar específico sobre as cidades mostra a diversidade local e também algumas consistências em relação aos dados nacionais. Nos dados preliminares de São Paulo, chama a atenção o desejo por mais infraestrutura e como o aumento da malha cicloviária impulsionou o uso da bicicleta. O levantamento conduzido pela Ciclocidade já nos traz reflexões que estão além dos números.

Como forma de melhorar seus deslocamentos diários, 50% dos entrevistados sugerem a implantação de mais vias exclusivas para ciclistas na cidade. Já dos entrevistados que disseram nunca usar ciclovias em suas viagens, 80% estão na periferia.

Sobre quando a bicicleta começou a ser usada como meio de transporte, dois extremos se destacam entre as respostas: 29% dos entrevistados pedalam há mais de 5 anos, enquanto 19% há menos de 6 meses. O alto número de “novatos” pode se dever à influência da expansão da malha cicloviária na cidade – nas áreas central e intermediária, praticamente 40% dos ciclistas começou a pedalar há menos de um ano.

Com relação à renda, quase 40% dos ciclistas da capital paulista ganham entre 0 (sem renda) e 2 salários mínimos (R$ 1.576).

Com relação a faixa etária, também quase 40% dos ciclistas têm entre 25 e 34 anos. Ciclistas entre 35 a 44 anos compõem a segunda faixa etária mais presente, com cerca de 27%.

Mais de 70% dos ciclistas afirmam usar a bicicleta pelo menos 5 vezes por semana, indicando que a bicicleta é, de fato, o principal meio de transporte para muitos paulistanos. Este resultado se repete entre homens e mulheres.
SP-preliminares-frequencia

O tempo dos deslocamentos em São Paulo mostram a distribuição espacial da cidade das longas distâncias. Ainda que 54,2% pedalem entre 10 e 30 minutos, 29,2 % pedala entre 30 min e uma hora. A longa distância entre os locais de moradia e os de emprego e estudo é certamente o maior drama paulistano, mais um que a bicicleta ajuda a contornar.

SP-preliminares-tempo

Em breve iremos publicar também os dados preliminares das outras cidades.

Faça o download das planilhas:

Saiba mais:

Quem são os ciclistas brasileiros
Quase 75% dos ciclistas de São Paulo pedalam em área sem ciclovia
Maioria dos ciclistas do Rio são de baixa renda

Comprovado: infraestrutura gera demanda

ciclofaixa-laranjeiras-contagem-01

Contagem realizada pela Transporte Ativo comprova que a infraestrutura cicloviária em implementação em Laranjeiras será um indutor de demanda por mais viagens em bicicleta na região. A ciclovia ainda nem está pronto e o movimento já é grande, vai aumentar muito ainda.

Foram 12 horas de contagem automática, realizada no dia 3 de setembro em trecho já dotado de ciclofaixa. O resultado foi surpreendente, 975 ciclistas, confira o relatório em PDF.

Com as obras da infraestrura cicloviária ainda em andamento o volume de ciclistas foi maior que o encontrado nas contagens realizadas recentemente, com a mesma metodologia, nas já consolidadas ciclofaixas das ruas Figueiredo de Magalhães e Toneleros em Copacabana.

 

grafico-contagens-automaticas_set_2015

A rua das Laranjeiras é grande via principal que liga o Cosme Velho ao Largo do Machado ponto central para quem vem e vai em direção ao Flamengo, Botafogo e Catete. O longo eixo viário Laranjeiras-Cosme Velho concentra todo o tráfego de ônibus, bicicletas, carros, motos e pedestres em um espaço limitado. De acordo com as possibilidades, a infraestrutura em implantação vai da via compartilhada à ciclovia.

No trecho onde foi feita a contagem, a implantação de uma ciclofaixa de mão dupla em substituição as vagas de automóveis transformou a dinâmica da via, facilitando os deslocamentos em bicicleta e aumentando a segurança viária.

ciclofaixa-laranjeiras-contagem-03

O trecho estudado tem uma importante função de conexão, ligando às ciclorotas de Cosme Velho até o terminal de Cosme Velho; à Ciclovia Fluminense (para Botafogo); à ciclofaixa até o Largo de Machado (a ser implantada no próximo mês) e a partir do Largo do Machado conectando à ciclovia de Aterro de Flamengo. Foi apenas a primeira contagem de bicicletas automática feita no local e será repetida após a implantação completa das obras cicloviárias e depois anualmente.

Com a rede completa, aos poucos a tendência é a humanização dos fluxos com o compartilhamento nas vias incentivando a convivência segura entre pessoas, estejam elas na condução de veículos motorizados ou pedalando.

ciclofaixa-laranjeiras-contagem-02

Saiba mais:
Bicicletas e ciclovias, da sala de aula para a rua
Equipamento utilizado para a contagem de ciclistas.
Resultado das outras contagens citadas:

Na França bicicleta pode circular no contrafluxo

O Code de la Route, o Código de Trânsito da França, foi alterado como parte do plano nacional de incentivo ao uso da bicicleta. A premissa é garantir que lógica de circulação de quem pedala seja incorporada à legislação do país. Afinal, toda regra é uma construção social.

Com iniciativas piloto realizadas em diversas cidades francesas desde 2012, ciclistas poderão circular no contrafluxo em todas as ruas com limite de velocidade igual ou menor que 30 km/h de acordo com novas regras de trânsito adotadas nacionalmente. A contramão fica liberada a não ser em caso de proibição expressa.

Ciclistas também não precisarão mais seguir pelo bordo da pista, poderão utilizar o centro da pista. A idéia não é irritar motoristas, mas garantir a segurança de quem pedala contra a desatenção de quem por ventura abre a porta do automóvel.

Além disso, a bicicleta também pode circular livremente em zonas de pedestres (calçadões, por exemplo) em ambos os sentidos a não ser que expressamente desautorizado pela autoridade local.

A adaptação gradual do Code de la Route foi promessa do ministro dos Transportes Alain Vidal como prosseguimento do “Plano de Ação para a mobilidade ativa” (Pama) lançado pelo seu antecessor no começo de 2015. O plano e as alterações no Código de Trânsito francês fazem parte do apoio do governo federal para que as comunidades locais possam promover cada vez mais o uso da bicicleta. O anúncio das mudanças legais foi feito em junho durante o VeloCity 2015 em Nantes, elas foram promulgadas no mês seguinte e passam a valer no dia 01 de janeiro de 2016.

Porque ciclistas circulam na contra-mão

Pessoas que pedalam regularmanente sabem que mão e contra-mão de direção são regras estabelecidas para a segurança e conveniência dos condutores de veículos motorizados. Pedestres e também ciclistas, buscam sempre o caminho mais curto e seguro possível.

Desde 2012 diversas cidades francesas vem permitindo e sinalizando a circulação de bicicletas no contra-fluxo e tal medida comprovou que não aumentam as ocorrências de trânsito, pelo contrário, a medida agiliza a circulação de ciclistas e dá mais comodidade. O governo francês apenas adotou como norma um uso das ruas comum por parte de quem pedala e com isso incentivou ainda mais o uso da bicicleta.

Ao questionar a lógica dos sentidos de direção, os órgãos de trânsito na França puderam caminhar em direção a humanização do viário no país. Afinal, limites de velocidade motorizada menores favorecem aquilo que é a utopia viária, a convivência nas ruas com base na atenção às pessoas. Menos placas, menos lógica rodoviária nos espaços urbanos e mais olho no olho e atenção aos mais frágeis.

Leia mais:

Francia autoriza circular en contrasentido

Quem são os ciclistas brasileiros

Foto: Carlos Aranha

Foto: Carlos Aranha

A Transporte Ativo, em parceria com outras 9 organizações em defesa da bicicleta, está realizando um levantamento do perfil dos ciclistas brasileiros. O objetivo é entender o que motivou as pessoas a começarem a pedalar e o que as faz seguir em frente. Com base na pesquisa, será possível  direcionar com maior eficiência os esforços de promoção ao uso da bicicleta

A iniciativa faz parte da “Parceria Nacional pela Mobilidade por Bicicleta” que busca mapear o Brasil que pedala. Serão levantadas idade, renda, motivação para usar a bicicleta, o tempo médio do principal trajeto feito em bicicleta, para onde é esse trajeto, se ela é combinada com outros meios de transporte. Além disso, as organizações parceiras poderão escolher até 4 perguntas específicas para suas cidades.

A quantidade de entrevistados varia de acordo com o tamanho da população, em São Paulo serão 1.784 questionários aplicados por 9 pesquisadores. E em todas as cidades o levantamento será feito nas áreas centrais, intermediárias e periféricas  em pontos que já possuem infraestrutura cicloviária, pontos que ainda não possuem e os chamados “pontos de intermodalidade”, nos quais a bicicleta se relaciona com outros modais de transporte.

Relatos de uma pesquisa de campo em bicicleta

Mais do que dados a serem planilhados, a pesquisa acaba mergulhando em histórias. São ciclistas já idosos que nem ao menos lembram quando pedalaram pela primeira vez ou histórias de neófitos desbravando a cidade com prazer e vento no rosto.

Para enxergar um pouco do que não será tabulado, Marina Harkot, pesquisadora pela Ciclocidade em São Paulo compartilhou duas histórias de pessoas que usam a bicicleta na mais populosa cidade brasileira.

esse é o Julião. ele mora na rua há tanto tempo que já nem lembra mais até que série estudou. faz de tudo um pouco e acha que a melhor coisa da bicicleta é conseguir carregar suas poucas posses de cima pra baixo, pela cidade inteira. pedala desde sempre, não consegue pensar em um período de tempo exato.
quando pedi pra tirar uma foto sua, demorou uns 5 minutos pra se arrumar – tirou o boné, soltou os cabelos e se escondeu atrás dos óculos escuros. pediu para ver a foto, achou que tinha ficado escura e disse que era pra eu “comprar um celular melhorzinho”. foi embora tão sorrateiramente quanto chegou – e nem me deu tempo para agradecer a conversa e dizer o quanto que gente como ele me faz sentir viva.

O triciclo de Lineu, por Marina Harkot

O triciclo de Lineu, por Marina Harkot

o dono desse triciclo é o Lineu. ele tem ataxia cerebelar – uma doença degenerativa – e começou a usar a bicicleta para recuperar massa muscular (disse que hoje em dia tem “até bunda de novo”).
Lineu deixa uma cadeira de rodas “estacionada” no bicicletário da estação Sé e usa o triciclo pra rodar por aí – visita a família na Freguesia do Ó pedalando desde a Barra Funda, em duas horas de caminho.
quando chega na Sé, troca o triciclo pela cadeira de rodas e segue de metrô para a Leste, onde mora. amanhã está de volta aqui pelo centro.

Cada pessoa em bicicleta merece sempre os maiores incentivos. Por vezes ouvir suas histórias já representa um carinhoso agradecimento. Fica o convite para que as pesquisadoras e pesquisadores Brasil afora compartilhem conosco seus relatos e seus personagem.

Por mais pessoas felizes em bicicleta.

Saiba mais:

A “Parceria Nacional pela Mobilidade por Bicicleta” é uma iniciativa da Transporte Ativo, com patrocinio do Banco Itaú e parceria com as organizações Ciclocidade (São Paulo), Mobicidade (Porto Alegre), BH em Ciclo (Belo Horizonte), Rodas da Paz (Brasília), Ameciclo (Recife), Bike Anjo Salvador, Ciclourbano (Aracaju), Pedala Manaus, Mobilidade NiteróiPROURBObservatório das Metrópoles , ITDP Brasil.

Um contador automático de ciclistas

contador_automatico_de_ciclistas_Copacabana

O levantamento de dados, principalmente o de fluxos de ciclistas é iniciativa preciosa para definir políticas públicas e promover o uso da bicicleta. Em uma parceria com o Banco Itaú, a Transporte Ativo tem seu próprio contador automático e que já está nas ruas.

Copacabana, berço das infraestruturas cariocas para bicicletas

IMG_5167

Pioneira com a Ciclovia da Orla e também com as redes internas de bairros com suas Zonas 30. Primeiras contagens fotográficas, manuais e automáticas da cidade, recebeu os primeiros bike box do Rio e tem a maior frota de bicicletas em serviço do Rio de Janeiro.

Com tantos motivos, a Transporte Ativo iniciou na quinta feira, dia 6 de agosto de 2015, uma série histórica de contagens de ciclistas no bairro, com o objetivo mensurar as mudanças a cada ano a partir de agora. Os dados levantados serão entregues às Secretarias de Transporte, Meio Ambiente, Urbanismo e CET-Rio, permitindo assim uma melhor avaliação da área, para que melhorias e ajustes na infraestrutura cicloviária possam ser efetuadas a cada oportunidade.

Contagem automática Vs. Contagem Manual

IMG_5175

Pelo contador automático passaram 852 ciclistas em 12 horas, uma queda em relação aos totais anteriores. Em 2009 (ainda sem ciclofaixa) foram
1420 ciclistas na esquina das ruas Figueiredo de Magalhães e Nossa Senhora de Copacabana. Destes 1061 na Figueiredo, em dois diferentes quarteirões e o resto seguiu pela Nossa Senhora.

Já em 2013 (com um ano de ciclofaixa) foram 1535 ciclistas no cruzamento sendo 1222 em dois quarteirões da Figueiredo e os demais cruzando pela Nossa Senhora.
Os dois quarteirões citados são: entre Domingos Ferreira e NS Copa e entre NS Copa e Barata Ribeiro (que julgo ser mais movimentado que o anterior)

O total 852 ciclistas contados automaticamente foi coletado em apenas um quarteirão, entre as ruas Domingos Ferreira e Nossa Senhora, além disso, foram computados apenas quem utilizou a ciclofaixa, quem seguiu pela calçada e pelo outro lado da rua, não foi computado ao contrário das contagens manuais.

A diferença portanto é que de maneira automática passamos a contar uma parte do fluxo cicloviário que faz uso de uma infraestrutura. Uma nova técnica requer um novo histórico e assim será, com o contador circulando pela cidade.

O equipamento foi totalmente aprovado, foram 25 minutos pra montagem e 15 pra desmontar. Todo o equipamento cabe em uma maleta e pesa apenas 17kg, mas requer uma bicicleta de carga para ser transportado, dadas suas dimensões.

Saiba mais:

Relatório completo da contagem automática de ciclistas na rua Figueiredo de Magalhães em Copacabana