Para quem são feitas as ruas

O que nossas ruas são hoje, é resultado de decisões tomadas no passado. O que faremos com o espaço público de circulação em nossas cidades é tarefa para o presente.

No mês de fevereiro, esteve no Rio de Janeiro, à convite do ITDP, o arquiteto Michael King. Ele falou sobre as mortes no trânsito, e foi enfático ao declarar que para reduzir o número de mortos, tem de haver reduções no limite de velocidade do trânsito motorizado. Um pequeno diálogo imaginário ajuda a ilustrar a idéia.

– Você deixaria seu filho de 7 anos atravessar a rua para ir a escola? Então: quais as medidas que precisam ser tomadas para permitir que uma criança de 7 anos possa atravessar a rua?

– Projetar conversões que se adaptam a caminhões proporcionam que automoveis possam fazer o giro a 43km/h. É esta a velocidade que gostaríamos que um automóvel realizasse uma curva em qualquer lugar?

Outras questões ficaram no ar: Porque nos cruzamentos da cidade do Rio de Janeiro as travessias de pedestres estão recuadas da esquina se os pedestres não fazem desvios?

Como parte do workshop, King visitou, com diversos técnicos da prefeitura do Rio, a Lapa e os arredores da Central do Brasil, lugares com um enorme fluxo de pedestres. Espera-se que trabalhadores e boêmios sejam beneficiados.

Com informações do site do ITDP (em inglês) e do blog Urbanismo e Transporte.

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Esporte e o futuro das cidades

Roterdã é uma grande metrópole européia, com mais de 6,7 milhões de habitantes na sua região metropolitana, ainda assim, o centro da cidade tem ao redor de 500 mil habitantes desde 1925. Foi cidade que se reinventou e superou diversidades ambientais e a guerra que colocou tudo abaixo em 1940.

No entanto o passado pertence aos livros de história e uma cidade só se mantém ao longo do tempo quando seus administradores também sabem manter os olhos no futuro. A bicicleta não é só moda passageira, mas representa a qualidade de vida das cidades que irão manter sua relevância econômica e política.

A largada do Tour de France, ou le Grand Départ é o tema por trás de um vídeo promocional para promover Roterdã. A bicicleta e seus diversos usos em uma cidade que irá ser tomada pelas velozes máquinas do asfalto em uma prova competitiva de importância mundial.

Os atletas internacionais tornam-se menores diante das pedaladas cotidianas, que definem o caminho que de toda uma cidade em direção ao futuro que almeja.

Via Copenhagenize.

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Onde se fabricam ciclistas

Foi inaugurada a maior ciclovia paulistana, 14km ao longo da margem do rio Pinheiros. Entre a água e os trilhos do trem, a pintura vermelha é bem visível para os milhares de helicópteros que sobrevoam a cidade. Por isso e pelos ciclistas que já circulam a nova pista é iconica. Cartão postal de um ângulo desconhecido da cidade e que engloba a bicicleta, personagem de crescente importância na paulicéia.

Críticas foram feitas. Na inauguração, são apenas 2 acessos, um em cada extremo do trajeto. É pouco, muito pouco e praticamente inviabiliza o uso da pista como meio de transporte. O horário restrito pela falta de iluminação é outro ponto, só será possível pedalar entre as 6 da manhã até as 18 horas. Mas felizmente são novos problemas que estão exatamente uma pedalada a frente.

Já no primeiro fim de semana, os ciclistas tomaram as pistas, carentes de espaços para desfrutar a cidade. Serão esses ciclistas e a repercurssão positiva na mídia que farão com que esse espaço seja ampliado, os acessos construídos e a malha cicloviária da cidade aumente para cada vez mais melhorar a circulação de quem já pedala e de quem quer pedalar.

Reverter o curso da urbanização centrada no automóvel particular é um trabalho complexo. E tal e qual manobrar um navio transatlântico, é preciso que o capitão dite o rumo e os tripulantes visualizem e sonhem com o novo destino. Construir cidades para pessoas passa por angariar apoio político e uma opinião pública favorável.

São Paulo deve muito aos que já conquistam as ruas diariamente pedalando, mas a cidade precisa aprender a “fabricar” mais ciclistas e espaços de qualidade para a circulação de bicicletas é uma excelente maneira de atingir o objetivo. Tudo para que, devagar e sempre, cumpra sua verdadeira função, habitat artificial das frágeis criaturas humanas.

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Bicicletas para todos

A bicicleta felizmente está na moda, não custa repetir. Mas isso ainda é pouco, muito pouco. Ainda há uma grave divisão entre os usuários da bicicleta e principalmente na percepção em relação as magrelas.

Veículo dos pobres, excêntricos ou esportistas, a bicicleta ainda tem um longo caminho a percorrer, para ganhar escala no que sempre foi, o melhor meio de transporte urbano para distâncias médias e curtas.

O discurso “cicloativista” tende a ser messiânico, acredita em salvação e redenção. Como os evangélicos acreditam que não são pecadores porque foram lavados pelo sangue de Jesus. Ou tem sabor marxista, intelectuais orgânicos ou engajados, portadores predestinados da missão revolucionária sagrada de mudar o sistema político-social em nome de uma nova ordem mundial.

Com isto, podemos conseguir 2 ou 20 adeptos. Convencer vereadores a votarem “políticas cicloviárias municipais”. E construir “rotas cicláveis” a toque de caixa. Em que isto vai mudar a vida do Sr. Modesto?

Falta perguntar ao homem-de-gravata-que-vai-chegar-atrasado-no-trabalho e à mulher-de-calça-branca-que-leva-os-filhos-ao-colégio se eles querem ser redimidos ou se querem salvar o mundo. Talvez eles queiram apenas chegar aos lugares da forma que lhes for mais conveniente.

Para sensibilizarmos este cidadão mediano, precisamos saber como ele pensa, quais são suas ambições, aspirações e medos. Ainda não sabemos conversar com o “pobre” que usa a bicicleta hoje, mas assim que melhorar de vida um pouquinho, compra uma moto ou um carro usado. Tão pouco sabemos conversar com o cidadão classe média, convencê-lo a usar bicicleta assim como usa escova de dentes, sem fazer dele um ativista, sem levantar bandeiras do anti-consumismo e do ecologismo, batismo de iniciação na excentricidade.

Construir cidades para pessoas e com mais bicicletas é um caminho longo, com muito diálogo e pressão política, mas acima de tudo valorizando o que é mais importante em qualquer planejamento, a condição humana e nossas fragilidades diante do mundo e das máquinas complexas que criamos. Não somos assim tão diferentes de qualquer outro animal social, seguimos líderes, agimos em bando e sozinhos, somos fracos e medrosos.

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Pai e filhos indo pra escola de bicicleta

Em uma escola, ainda no começo do ano letivo, entra na sala o professor e acontece o seguinte diálogo:

– O professor vem sempre para a escola de bicicleta?
– Sim eu vou para todos os lugares de bicicleta. – responde o professor, feliz e surpreso dos alunos terem reparado.
Até que vem a resposta:
– Então o professor é pobre?
– (Silêncio constrangedor).

A percepção corrente de que riqueza se traduz em bens materiais atinge com força as crianças, mas não precisa ser fato consumado. O professor dessa pequena história não soube o que responder, mas a quantidade de boas respostas possíveis é tão grande quanto o universo de bicicletas.

Para quem pedala todos os dias, chega a ser intrigante e soa repetitivo ouvir questionamentos sobre o uso da bicicleta. Para ajudar e sensibilizar alunos em relação a importância e ao valor das bicicletas para as pessoas e as cidades, a Transporte Ativo disponibiliza uma apresentação feita em um colégio particular no Rio de Janeiro. Nela, imagens e vídeos mostram a bicicleta como ícone de luxo, mas principalmente seu potencial para cidades e pessoas melhores no futuro.

– Baixe em pdf a apresentação “A Bicicleta, passado, presente e futuro“.

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