Bicicleta e a Cidadania

Seminário Campos

A Transporte Ativo estará presente no I Seminário “A Bicicleta e a Cidadania” que vai acontecer no Instituto Federal Fluminense (IFF) em Campos no norte do estado do Rio. As inscrições podem ser feitas no local no dia do evento.

Representando a TA, Zé Lobo vai participar da mesa sobre “A Cidade Saudável”. A presença da TA se encaixa perfeitamente no tema. Toda cidade que quer ter cidadãos mais saudáveis precisa investir para que mais deles optem por caminhar e pedalar mais vezes. A equação é simples, pessoas ativas, tem uma saúde melhor e mais pessoas com saúde melhor, compõem uma cidade saudável.

Mais informações no site do IFF.

Pedaladas Rotineiras

Contagem Rodolfo Dantas

04 de Junho de 2009 – 11:04

As contagens em Copacabana tem aumentado o banco de fotos da Transporte Ativo, mas principalmente nos ensinado sobre a regularidade e possibilitado conhecer os hábitos de alguns ciclistas que ficaram “famosos”. A feliz coincidência de rever em fotos os mesmos ciclistas mostra que a rota tem usuários rotineiros, sempre presentes.

Contagem Rodolfo Dantas

05 de Novembro de 2009 – 09:00

Contagem Rodolfo Dantas

04 de Junho de 2009 – 11:31

Por hora os números apontam que não houve grande variação no fluxo de ciclistas na Rodolfo Dantas antes e depois da implementação da sinalização da faixa compartilhada. Pode-se no entanto auferir que a segurança viária percebida pelos ciclistas melhorou ou manteve-se igual. Rotas de bairro são usadas em viagens mais curtas e o fluxo é majoritariamente local, as variações dos números tendem a aparecer em um prazo mais longo. Mas ao menos um ciclista passou a sorrir mais.
Contagem Rodolfo Dantas

05 de Novembro de 2009 – 09:15

Em breve o relatório completo. Ambas as contagens fazem parte de uma parceria entre a Transporte Ativo e o ITDP. Saiba mais sobre a primeira contagem na Rodolfo Dantas.

Um Plano Cicloviário em Lei

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São Paulo foi pioneira na consolidação de uma lei que dispunha sobre a criação de um sistema cicloviário. Uma maneira de o poder legislativo municipal exercer pressão em prol do uso da bicicleta na cidade. No entanto leis precisam também de adaptações a novas conjunturas e por conta disso foi redigida uma nova lei para melhorar a antiga.

O novo texto com as contribuições de melhorias foi protocolado na Câmara Municipal de São Paulo, recebeu a numeração de Projeto de Lei (PL) 655/2009, e traz algumas novidades complementando a criação do Sistema Cicloviário do Município de São Paulo como:

– Equiparação dos triciclos não motorizados a bicicleta;
– Permissão por lei de transporte de bicicletas dobráveis em trem, metro e ônibus;
– Convênios com municípios vizinhos na implantação de projetos de melhoramentos cicloviários criando ciclovias intermunicipais;
– Definição de instalação de paraciclos no formato “U” ao contrário, devido ao formato “grelha” danificar bicicletas;
-Ampliação de locais e estabelecimentos que devem prever áreas para estacionamentos de bicicletas;
– Criação do Conselho Municipal de Melhoramentos Cicloviários, composto pelos membros do atual Pró-Cliclista e sociedade civil organizada, de forma deliberativa;
– Estabelecimento de prazo para adequação da em 360 dias;
– Criação de penalidades em casos de inobservância da lei.

Mesmo já apresentado, o PL ainda está em debate e novas alterações poderão ser incorporadas antes da votação. Já está inclusive programada uma Audiência Pública onde a sociedade está convidada uma vez mais a debater e propor mudanças ao projeto.

São Paulo já tem quase 15 mil leis, praticamente uma por quilômetro de viário. Para que a nova lei do Plano Cicloviário não fique “na gaveta”, a participação e o debate do Projeto de Lei é fundamental, afinal o legislativo responde sempre a demandas populares. A voz dos ciclistas tem portanto uma boa oportunidade de ser ouvida.

O texto do PL foi posto em debate na última reunião da Comissão de Bicicletas da ANTP e os participantes já estão em contato com o Gabinete do Vereador Chico Macena para melhorar o que for possível. Fica o convite para os ciclistas, paulistanos ou não, para colaborar na melhoria da futura lei. Mais do que um simples PL, o texto tem sido reproduzido (no todo ou em parte) em outras cidades e tem potencial para sair da câmara da capital paulista e ajuda a definir melhores políticas cicloviárias pelo Brasil afora.

Um Número Mágico

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A velocidade média do trânsito motorizado nas grandes cidades diminui a olhos vistos. Trata-se de uma excelente oportunidade para promover a segurança viária e ao mesmo tempo colaborar para a fluidez de pessoas e veículos. Reduzir a velocidade máxima permitida é o caminho mais fácil. Velocidades menores geram menos colisões e também possibilitam compartilhar de maneira mais eficiente a via entre os diferentes modos de transporte. Além disso, velocidades máximas mais baixas implicam em menos acelerações e desacelerações bruscas o que também facilita a fluidez dos motorizados.

O código de trânsito brasileiro (CTB) estabelece que nas vias arteriais a velocidade média permitida deverá ser de 60km/h e nas coletoras de 40km/h. Além disso, diz também que esses limites poderão ser alterados pelo orgão ou entidade com circunscrição sobre a via. Um levantamento da CET-SP do começo da década de 1990 mediu as médias de velocidade em um eixo de vias coletoras e arteriais. Nas coletoras a média mais alta foi de 28,1 km/h em situação de “trânsito livre” e nas arteriais em situação análoga mediu-se 35,3 km/h. Naturalmente a média dos dias de semana em “mês útil” são bastante inferiores e melhoram um pouco durante as férias escolares.

A discrepância entre as máximas permitidas e as médias reais é enorme e comprova a tese de que limites mais baixos não irão alterar em nada a realidade dos deslocamentos. O jornal O Globo por conta da implementação das Zona 30 em Copacabana percorreu de carro as ruas que teriam o limite de velocidade reduzido e constatou que a nova máxima era compatível com a média alcançada. Trata-se de um outro elemento de promoção a segurança viária já que a proximidade entre a máxima permitida e a velocidade de deslocamento acaba por incentivar o motorista a respeitar o limite.

Inúmeras ruas e avenidas Brasil afora teriam muito a ganhar com um limite de velocidade reduzido. Uma maneira simples e efetiva de promover a segurança viária para todos e ao mesmo tempo garantir que os mais frágeis sejam expostos a menos riscos.

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Mais:

Variação da Velocidade Média no Trânsito de São Paulo – CET
CTB – CAPÍTULO III – DAS NORMAS GERAIS DE CIRCULAÇÃO E CONDUTA
Velocidade média dos carros em SP cai em um ano

A Invisibilidade da Diáspora

Relações possíveis e impossíveis entre um plano cicloviário e a barroquíssima Capital Reconvexa

Lucas Jerzy Portela*

A população cicloviária de Salvador é quase toda pobre, negra e periférica (lembrando que como o Rio de Janeiro, Salvador tem “periferias” no centro, inclusive entre bairros nobres – e não apenas na periferia propriamente dita, como em São Paulo ou Recife). Uma população que não faz idéia de que a bicicleta é um meio legítimo de transporte, sobre o qual incide algumas regras. Em geral ela sequer deduz intuitivamente estas regras, achando que o correto é andar na contra-mão dos carros, e que os refletores atrapalham ao invés de ajudar…

Isso se dá pela pobreza de capital linguístico em que se encontra (além da material), mas também pela posição de invisibilidade que ocupa. É comum o visitante de Salvador se surpreender: “onde estão os tão falados 80% de população negra?”. Estão invisíveis.

Se a bicicleta já é por si um veículo em diáspora e da diáspora, invisível, em Salvador ele se faz invisível exponencialmente, e duplamente diaspórico: é bicicleta de preto (isto é: pobre) – e de preto que não se autoriza a usá-la como outro veículo qualquer. É uma bicicleta que não se coloca apenas à margem – mas à margem da margem.

Claro está que isso vem de uma histórica segregação da população em relação a cidade. A reforma do Pelourinho, durante o carlismo, retirou de lá uma população identificada com o bairro – e mandou pra conjuntos habitacionais no subúrbio. E o Pelô virou um shopping pra gringo, que nem como Shopping funciona. Mais do que isso: antes, seis linhas de ônibus chegavam até sua principal entrada, a Praça da Sé. Hoje, apenas 4 vão até a Rua da Ajuda. A Sé foi lacrada para carros, mas isso não significa uma boa apropriação para os pedestres. Ao contrário, como Shopping, a principal via de acesso ao Pelô são estacionamentos, pagos, entrando pelos fundos – isto é, pelo Vale da Barroquinha.

A diferença é gritante se se compara com a única etapa da reforma já feita fora do carlismo, o Carmo e o Santo Antônio Além do Carmo – em que a população continua morando, e por conseguinte os índices de violência e pobreza são muito menores. Curiosamente, é um bairro pedestre, apesar de histórico é pouco turístico – e se usa bicicleta, não obstante seja no topo de uma montanha.

Não é sempre que a população pobre, e negra, de Salvador deixa de sentir a cidade como patrimônio seu legítimo e que deve usar sem vergonha – embora isto seja a regra. O Solar do Unhão, Museu de Arte Moderna da Bahia, com belíssima praia dentro e ao lado da favela da Gamboa de Baixo, é totalmente apropriado. Moleques mulatos vão a nado para o MAM, abusam dele como querem – e o amam e cuidam. Não se envergonham de lá estar de calção de banho, enquanto a alta burguesia toma café e ouve jazz. Fazem parte visível da paisagem – sem o que o MAM não teria a menor graça. Seria um MAM sem pôr-do-sol.

Oxalá esta venha a ser a regra – também para que as bicicletas, um dia, como os Tambores da Liberdade, e o Tapete de Turbantes dos Filhos de Gandhy, ocupem as ruas da SanFrancisco Nagô-Malê, da Lisboa Sudanesa revisited. A bike bem que poderia ser um atributo mágico de um novo Exú, em banda-larga, nascido do rum, do rumpi e do lé, lá no Terreiro do Afonjá. Larô-iê!

* Lucas Jerzy Portela é psicólogo, mantem o blog de crítica cultural O Último Baile dos Guermantes e é ex-namorado de arquiteto – o que acaba por ser um atributo importante para um cicloativista newbie.

Mais:
Bó de Bike, Salvadô
Tuas ladeiras e montes, tal-qual um postal