Destaques
Mapa Cicloviário Carioca
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Dados disconexos são problema, assim era a infraestrutura cicloviária do Rio de Janeiro. Não havia um mapa único que pudesse ajudar os ciclistas cariocas. Esse problema foi resolvido. Agora quem quer pedalar no Rio de Janeiro já pode ter acesso pela internet ou através de qualquer dispositivo móvel ao mapa completo da rede de ciclovias e mais. Basta acessar . Os usuários de aparelhos com sistema Android aqui podem baixar gratuitamente o aplicativo Rio em Bicicleta.

O Mapa Cicloviário Unificado do Rio de Janeiro indica os principais pontos de interesse de quem pedala: ciclovias, ciclofaixas, faixas compartilhadas, vias compartilhadas, via proibidas, estações de aluguel de bicicleta, bicicletários, lojas e oficinas, bombas de ar e até chuveiros.
Para facilitar o entendimento, foi escrito também um Manual do Usuário (pdf). Nele estão descritas as convenções e procedimentos utilizados para a navegação. Já para facilitar a replicação desse mapa, ou similares, Brasil afora, foi disponibilizado também um guia para a inserção de dados, através desse documento, eventuais colaboradores poderão atualizar o mapa sozinhos. Todas as alterações serão posteriormente verificadas e autorizadas pelos moderadores do mapa. A idéia é que com o passar do tempo, outras cidades sejam incluídas e tenhamos uma mapa cicloviário brasileiro.
Agradecimentos aos envolvidos: Arlindo Pereira, Giuseppe Zani, João Lacerda, Marcos Cavalcanti, Marcos Serrão, Rodrigo Abreu e Zé Lobo. Quem quiser colaborar, saiba mais. A idéia é que esse mapa esteja em constante construção e seja sempre completo.
Mais do que um simples mapa para ciclistas, essa iniciativa segue o exemplo de idéias similares já utilizadas para formatar e disponibilizar informações sobre transporte público, o que em inglês seria chamado de “Open Transit“. Dito de outra forma, é a publicação de dados em um formato que possa ser utilizado livremente por programadores e usuários. Medida que ainda engantinha no Brasil, conforme demonstra a iniciativa do cruzalinhas, de São Paulo.
Faça um jornalista se apaixonar pela bicicleta
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A relação entre quem busca promover a bicicleta e a mídia nem sempre flui da melhor maneira. Há muitas vezes um ruído de comunicação e as famosas “pautas prontas” em que jornalistas saem a caça de “especialistas” para poder confirmar uma ideia pré-concebida. Em relação aos ciclistas, nem sempre somos capazes de construir um discurso claro e adequado ao veículo e à pauta. Pior ainda, os “cicloativistas” ultimamente tem sido depreciados por colunistas da grande imprensa.
Um texto da Federação Européia de Ciclistas traz alguns pontos fundamentais que são válidos também aqui no Brasil. A inspiração para o artigo vem de uma campanha iniciada pelo tradicional (e conservador) periódico inglês The Times. Após o atropelamento de um de seus jornalistas, eles iniciaram uma campanha em prol da bicicleta em Londres e, claro, em defesa da segurança viária. Um ato infeliz muito perto do dia a dia do jornal motivou a uma mudança radical de posição, mas não precisa ser assim. Afinal o que menos precisamos é vincular a bicicleta a tragédias, mortes e às páginas policiais.
Pautar a mídia em favor da bicicleta não é fácil, afinal a quantidade de programas policialescos e a repercussão dos crimes de trânsito acaba alimentando um círculo vicioso de más notícias. De qualquer forma, alguns passos podem ajudar a promover a bicicleta de uma maneira positiva e deixar os jornalistas apaixonados por esse veículo, de duas rodas.
Torne a Bicicleta atraente
Mikael Colville-Andersen pode até ser acusado de ter um plano complexo de seduzir jornalistas e atraí-los para as bicicletas. O modus operandi é bastante simples. Tudo começou com uma bela foto de uma moça em roupas casuais parada em um semáforo qualquer em Copenhague. Dali nasceu o movimento “cycling chic”.
A estratégia certamente provou-se um sucesso, afinal todo mundo gosta de beleza e imagens bonitas de pessoas pedalando certamente ajudam a vender jornais e revistas.
Um outro exemplo na mesma linha são os desafios intermodais, uma iniciativa simples que mostra que no trânsito travado das grandes cidades a bicicleta é uma maneira atraente de se deslocar com velocidade.
Infraestrutura do tipo faça você mesmo
Antes das imagens de uma ciclofaixa cidadã feita no México, os cicloativistas paulistanos já estavam à solta munidos de stencils desenhando bicicletinhas no asfalto. O exemplo se espalhou, e os curitibanos que adaptaram a ideia no Paraná acabaram sendo multados por crime ambiental e hoje estão às voltas com a justiça tentando resolver a questão.
Já os pares mexicanos obtiveram grande êxito em chamar a atenção para a necessidade de infraestrutura segura para a circulação de bicicleta. Apesar de poder ter consequências negativas, infraestrutura cicloviária do tipo “faça você mesmo” costuma ser uma pauta positiva e que gera um debate social necessário.
Ciclistas Infiltrados
Com o aumento no número de ciclistas essa é uma tendência inexorável e que traz enormes frutos. Esses ciclistas invisíveis, carinhosamente chamados de infiltrados, estão em toda parte e dentro de uma redação jornalística são capazes de influenciar colegas que não pedalam a ver a bicicleta com bons olhos.
Talvez exatamente por isso o projeto Bikeanjo seja tão genial e tenha tido uma repercussão tão positiva junto à mídia brasileira. Ao invés de uma entrevista por telefone, ou um bate papo em alguma esquina, o bikeanjo sempre escolta o jornalista para conhecer a realidade das ruas. Nem todos tornam-se ciclistas no dia a dia, mas certamente o vento no rosto e a lembrança daqueles momentos de infância ajudam qualquer um a falar bem da bicicleta.
Esqueça os ciclistas
Esse ponto a princípio pode parecer até controverso, mas na tese defendida pelo consultor de mobilidade Gil Peñalosa ele acredita que “não devemos falar sobre ciclistas“.
“Imagine que uma cidade tem 2% dos cidadãos que são usuários da bicicleta e 60% utilizam o carro. As pessoas dirão que você está contra os 60%”, completa.
A adoção de Zonas 30, cada vez mais comuns na Europa, bem como no Rio de Janeiro, é uma iniciativa que beneficia antes de mais nada as pessoas. É a melhor forma de fazer com que nossas cidades tenham mais qualidade de vida, ao invés de serem um emaranhado de vias expressas. Uma iniciativa feita para beneficiar os ciclistas, mas que atinge de maneira positiva todos os cidadãos.
Tornar nossas cidades lugares melhores para pedalar talvez passe justamente por deixar de lado o “cicloativismo”, e pensar na qualidade de vida de nossas cidades. Afinal o confronto e o foco excessivo nas necessidades dos ciclistas é o que motiva colunistas de jornal a apelidarem os cicloativistas de “talibikers”, ou outros termos pejorativos.
Mais do que cidades para bicicletas, precisamos humanizar o ambiente urbano e um bom relacionamento entre jornalistas e nossa querida bicicleta é certamente um bom caminho.
Conservação à pedal
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Foto: Divulgação/SECONSERVA
Uma novidade ciclística já está cruzando as ruas e ciclovias do Rio de Janeiro. Desde o começo de março, para agilizar o trabalho de manutenção do calçamento de pedras portuguesas em praças e na orla, a Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos (SECONSERVA) colocou à disposição dos calceteiros um triciclo de carga.
Os calceteiros são aqueles profissionais que tem a missão de zelar e manter a qualidade do piso de pedras portuguesas, um patrimônio carioca, mas que requer um grande esforço para ficar sempre em perfeitas condições de circulação.
Nas próximas semanas os calceteiros, e agora, triciclistas, poderão ser vistos trabalhando na orla do Leblon, na Lagoa Rodrigo de Freitas, na altura do Posto 6 em Copacabana e nas praças General Osório, em Ipanema e Santos Dumont, na Gávea.
Além dos aspectos óbvios de economia de custos e sustentabilidade ambiental, a realização do serviço de manutenção de calçadas através do uso de triciclos é acima de tudo a opção mais inteligente. Afinal está sempre no último quilômetro o maior custo de deslocamento de produtos. Ao levar consigo os equipamentos e materiais necessários para o trabalho, os calceteiros tem facilidade nos deslocamentos, sem depender de um veículo de carga grande.
Mudar as cidades através do Design
Posted onAuthorJoão Lacerda1 Comment
Um convite à arquitetos, urbanistas, planejadores urbanos, engenheiros de tráfego, ciclistas, pedestres, patinadores e skatistas. Em sua nova palestra o consultor de mobilidade Urbana Mikael Colville-Andersen irá apresentar o conceito da “Cultura da Bicicleta através do Design“.
Imaginar as cidades do século XXI é deixar para trás a engenharia de tráfego, nascida no começo do século XX e que não foi capaz até hoje de equacionar uma solução para a mobilidade urbana. Mikael propõe deixar de lado a engenharia e substitui-la pelo design. No lugar da fluidez, os usos das ruas, ao invés de maior velocidade nas vias, mais qualidade de vida no espaço urbano.
O evento será realizado nessa quinta-feira às 18h30 no Centro de Arquitetura e Urbanismo (CAU) da Secretaria Municipal de Urbanismo.
MIKAEL COLVILLE-ANDERSEN – BICYCLE CULTURE BY DESIGN
15 DE MARÇO DE 2012 – 18h30
RUA SÃO CLEMENTE,117
BOTAFOGO, RIO DE JANEIRO
Abaixo o release oficial do evento:
A Cultura da Bicicleta através do Design – No seu trabalho com a Copenhagenize Consulting, Mikael Colville-Andersen descobriu que “Mobilidade Urbana” não é uma linguagem tão universal quanto pode parecer. Existem diversos agentes envolvidos no trabalho de criar cidades mais habitáveis, e no resgate da bicicleta como meio de transporte.
Nesta palestra, Mikael oferece uma abordagem linguistica universal, usando o Design como o denominador comum de tudo, desde o ativismo até a engenharia de trânsito. Será que o processo, de projetar infraestrutura para bicicletas, não deveria ser tão simples quanto projetar uma torradeira ou uma escovas de dentes? Utilizar princípios básicos do Design no planejamento e engenharia fazem com que seja mais fácil entender a infraestrutura e a cultura da bicicleta, além de prover uma rota mais direta para a sua implementação.
Mikael destaca a história do planejamento urbano e da engenharia de transito, e aponta para o momento onde tudo começou à dar errado. Quando, depois de 7000 anos de cidades com ruas dedicadas às pessoas, tudo foi virado de ponta cabeça, e os carros dominaram as ruas, às custas da habitabilidade das cidades. Ele fala sobre como o bio mimetismo pode ser útil no processo de re-engenharia
das nossas cidades, e como a bicicleta é a mais eficaz ferramenta de que dispomos para atingir o objetivo de cidades habitáveis.
A primeira impressão de Mikael Colville-Andersen sobre o Rio de Janeiro foi certamente impactante. O desenho das montanhas e uma cidade que tem um aeroporto conectado diretamente à uma ciclovia.
Bicicleta, veículo de transformação urbana
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O grande diferencial da bicicleta como meio de transporte urbano reside justamente no fato da bicicleta ser um veículo. Na lógica do planejamento urbano consolidado ao longo do século XX a prioridade aos poucos foi sendo reconstruída para comportar a circulação de veículos motorizados.
Reverter uma lógica presa à circulação veicular motorizada é um trabalho árduo e que requer diversas frentes. Talvez a melhor delas seja a bicicleta e a razão é bastante simples. Veículo movido pela força humana, uma bicicleta é uma versão mais eficiente de um pedestre. Apesar de mais veloz e com menor gasto energético, continua dentro da lógica humana, dada a fragilidade do conjunto ciclista+máquina.
A subversão da lógica urbana através da bicicleta nem sempre é entendida por aquele sujeito chamado de “Senso Comum”. Quando uma massa de ciclistas toma uma grande avenida, erroneamente julga-se que o trânsito foi impedido. Na realidade o que ocorre é um movimento cidadão de retomada do espaço de circulação viário que normalmente tem uso único. Em lugar do trânsito motorizado cotidiano, circula uma massa uniforme de pessoas em bicicletas, essa ocupação convencionou-se chamar de Massa Crítica, ou Bicicletada.
A Massa Crítica de São Francisco foi criada em 1992 e é filha da mesma ideologia dos movimentos anteriores de contestação do status quo. E aí reside a limitação de movimentos dessa natureza, costumam esvaziar-se com o tempo e em geral tem tendência autocentrada, nem sempre capazes de influenciar as mudanças sociais a que se propõem. O texto “Massa Crítica ou Falha Crítica” escrito por Mikael Colville-Andersen, e traduzido por nós, aprofunda o tema.
Inserida pela sutileza de ocupar pouco espaço e ser mais veloz que qualquer veículo motorizado nas cidades, a bicicleta também se insere pela força daqueles que de maneira anárquica celebram a rua como espaço público para comemoração, protesto e circulação, tudo ao mesmo tempo.
Grandes avenidas tomadas por bicicletas à perder de vista são sempre um espetáculo para os olhos e a alma. Revigora e possibilita sonhar com cidades melhores, e as pessoas que compõem essa massa sem líderes certamente querem transformar a utopia em realidade. Há no entanto um problema a ser equacionado para que os “cicloativistas” tornem-se efetivamente agentes da transformação urbana.
O valor de todo “movimento cicloativista” é principalmente de unir pessoas, fortalecer os vínculos humanos de uma minoria engajada em favor da bicicleta. Esse valor será ainda maior quanto menos reativa for a postura dos que defedem a bicicleta. Não basta protestar quando ciclistas são mortos no trânsito, tirar a roupa e sair pedalando chama a atenção da mídia, mas não muda a paisagem urbana. Cada “cicloativista” tem que ter uma postura de defensor do uso da bicicleta ser especialista em mobilidade urbana. Ter um discurso que seja apreendido e levado a sério por planejadores urbanos, técnicos nas prefeituras, jornalistas e a sociedade como um todo.
A inserção da bicicleta nas cidades é o primeiro ato, as pedaladas seguintes são as mais complexas, requerem menos festa e um esforço constante, articulação política e pressão na medida certa. Ao invés de reclamar com os jornais por matérias erradas e pela lentidão do poder público, é preciso pautar a imprensa e aliar-se ao poder público, sem ser cooptado. A rebeldia adolescente do “cicloativismo” tem o potencial de amadurecer e, com isto, mudar o espaço urbano. E tudo sem perder a alegria do vento no rosto e o sorriso aberto que faz lembrar as primeiras pedaladas na infância.



