Tuas ladeiras e montes, tal-qual um postal

Relações possíveis & impossíveis entre o plano cicloviário e a barroquíssima Capital da Diáspora

*Lucas Jerzy Portela

A primeira fantasia de que Salvador não serve para andar de bicicleta é sua topografia. É uma cidade completamente barroca, pendurada no topo de cadeias de montanhas que não se comunicam naturalmente entre si. Foi assim pensada para ser uma fortaleza natural, quando era capital do Império Ultramarino Português. Pra quem nunca veio em Salvador, uma boa maneira de imaginá-la é como um Rio de Janeiro às avessas: um Rio que só ocupa o topo dos montes, que não são redondos e de pedra, mas de barro e em escarpa. Uma enorme Santa Tereza, cercada de mar por quase todos os lados (é uma península).

Suas ladeiras são de fato íngrimes demais para subir a pé (por vezes, até para os carros, que não conseguem passar da segunda marcha mesmo a trânsito livre), que dirá de bici. Não a toa, seu mais famoso cartão postal é um elevador urbano de 70m de altura. Elevadores urbanos seriam a grande solução de transporte para Salvador: no topo dos morros anda-se com prazer, por vezes em bairros arborizados como Graça, Vitória, Nazaré; nos vales, grandes vias expressas sem semáforos (os bairros se ligam, para os pedestres, topo a topo de morro, por belas passarelas de João Filgueiras Lima) permitem transporte de massa ou individual célere.

Com o calor úmido daqui, subir ladeira pedalando implica em chegar ao topo empapado de suor.

Eis que aí está o mito: a bicicleta serve sim como meio de transporte dentro dos bairros e nas avenidas de vale. A questão é que se precisa de dispositivos para guardá-las nos sopés de ladeira e nas duas entradas dos quatro (Planos Inclinados do Gonçalves, Liberdade, Pilar, e o legendário Elevador Lacerda) elevadores urbanos existentes no Centro Histórico – de modo que o ciclista possa guardar sua bicicleta e migrar para o ônibus, bonde, trem, etc. Ou então entrar nos elevadores urbanos (o problema é que são poucos, respondendo por uma área que hoje é 1/10 da cidade…) portando a magrela – que voltaria a ser pedalada no cume ou no vale, conforme o caso.

Para tal, caberia ao poder público municipal resolver a questão. Isto é: caberia aos ciclistas cobrar da Prefeitura a construção de bicicletários em terminais de trem e ônibus, e em certas instituições (universidades, shoppings centers). Planejamento cicloviário que vá além de local de estacionamento e de tráfego, mas que tenha em mente as peculiaridades barrocas de Salvador.

* Lucas Jerzy Portela é psicólogo, mantem o blog de crítica cultural O Último Baile dos Guermantes e é ex-namorado de arquiteto – o que acaba por ser um atributo importante para um cicloativista newbie.

Bó de bike, Salvadô?!

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Possiblidades e impossibildiade de um plano cicloviário na barroquíssima Capital da Diáspora

*Lucas Jerzy Portela

Tendo iniciado o uso de transporte cicloviário na cinquecentenária cidade de São Salvador da Bahia de Todos os Santos, este blog Transporte Ativo me pediu duas ou três palavras a respeito. O pedido partiu de uma pergunta feita no twitter: “há cicloativistas em Salvador?”. Ao que respondi: “Há, mas não no sentido de promovê-la como meio de transporte cotidiano, ou de integrar a bicicleta a outros meios de transporte como ônibus e elevadores urbanos – o que não quer dizer que não existam usuários de bicicleta como principal meio de transporte urbano diário”.

Pedir para que eu escreva sobre bicicletas em Salvador implica em duas peculiaridades. A primeira, em relação a mim: vindo da psicanálise, não posso pensar qualquer relação fora da pulsionalidade – isto é, dessa coisa que é possível e impossível ao mesmo tempo. A segunda, em relação ao objeto, à cidade em questão: sem dúvida, talvez seja a capital potencialmente menos ciclística do mundo! Mas não quer dizer que não possa haver transporte cicloviário aqui – uma impossibilidade não é, do ponto de vista de um psicanalista, uma impotência (assim o é para os neuróticos).

Em psicanálise se diz que, por causa das consequências psíquicas das diferenças anatômicas entre os sexos, não existe relação sexual: ela é impossível. No entanto as pessoas transam e se divertem – é onde está a relação possível (embora sempre falhada) entre os sexos. Penso que a relação dos citadinos com uma cidade se dá na mesma lógica: por causa da anatomia (geográfica) será sempre uma relação insatisfatória – e, por causa de sua historicidade, se pode gozar dela com certa felicidade.

No entanto, assim como a impossibilidade sexual não se coloca da mesma forma pra duas ou mais pessoas (cada um tem seu modo de fazer falhar o sexo), a impossibilidade que é a vivida em grandes aglomerados urbanos não é igual pra duas ou mais cidades. Assim como não se goza da mesma forma de duas cidades diferentes. De tal modo, a impossibilidade do uso de bicicleta em Salvador não é maior do que em outros lugares – é apenas de outra ordem.

* Lucas Jerzy Portela é psicólogo, mantem o blog de crítica cultural O Último Baile dos Guermantes e é ex-namorado de arquiteto – o que acaba por ser um atributo importante para um cicloativista newbie.

Palestra para ir Pedalando

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Ir ao trabalho, visitar a família, passear e até mesmo se alimentar são apenas algumas das atividades da sociedade contemporânea que demandam meios de transporte.

Direta ou indiretamente, precisamos da mobilidade urbana e dependemos do seu bom funcionamento para a melhoria da qualidade de vida nas cidades.

Ciente disso o Ciclo de Palestras Ambientais da Recicloteca convidou a Transporte Ativo para proferir uma palestra que abordará o tema e apresentará as ações desenvolvidas pela ONG, em especial pela promoção do uso da bicicleta como meio de transporte ecologicamente correto.

Palestrante: José Lobo

Data: 13 de agosto de 2009 (quinta-feira).

Horário: 19:00 hs.

Entrada: Franca

Obs: Durante esta palestra a Recicloteca estará arrecadando caixas de CDs usadas para doar ao artesão Wilson Martins.

Vagas Limitadas (30 participantes) – Inscrições Abertas!

Local / Informações / Inscrições:
Rua Paissandu, 362 – Laranjeiras – Rio de Janeiro
Tel: 2551-6215 / 2552-6393
E-mail

Veja AQUI como chegar na Recicloteca.

A Recicloteca oferece bicicletário gratuito, coberto e seguro!
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Palestra boa, bicicletário gratuito quinta no Rio de Janeiro

Pensamentos Acima do Guidão

Pedalar todos os dias muda a perspectiva de uma pessoa em relação ao espaço onde vive. As distâncias ficam menores quando se voa em cima de um fino colchão de ar e ao mesmo tempo o caminho é tão importante quanto o destino. Ver o próprio mundo montado no guidão de uma bicicleta é algo difícil de descrever para quem ainda não pedala e sentido de infinitas maneiras por cada ciclista.

Num convite informal pelo twitter, surgiu a idéia de ter um “texto convidado” do neociclista soteropolitano Lucas Jerzy Portela que mantém o blog “O Último Baile dos Guermantes“.

São Salvador da Bahia de Todos os Santos tem possibilidades e impossibilidades para o uso da bicicleta, tem maravilhas e erros urbanísticos. Uma cidade barroca que nas suas ruas históricas e nos bairros modernos mantém vivo o caminho traçado por diversas outras cidades ao redor do mundo.

Em inglês, um vídeo visto primeiro no Copenhagenize fala justamente sobre os pensamentos de uma ciclista ao pedalar em sua cidade. Começa mais ou menos assim:

Quando estou na cidade pedalando minha bicicleta, a adrenalina sobe quando começo a decolar
Os prédios se dobram, as luzes piscam em vermelho e verde
As pessoas pulam do nada, os ônibus cercam
São quando respostas começam a voar na minha cabeça
Para as perguntas que faço quando estou deitada na cama

Aos interessados em colaborar com as suas visões de cidade, deixem um comentário.