Bicicleta e Ecologia

O Aquecimento Global e novas formas de energia têm sido temas recorrentes na agenda mundial. No entanto o problema ambiental que tanto se noticia precisa ser encarado de uma maneira menos pontual. Não haverá solução mágica sem que se pense no conjunto de situações que nos trouxeram ao atual estágio. O que não significa que devamos retroceder à idade da pedra.

Usar a bicicleta e estimular outros a faze-lo no atual contexto não é simplesmente ser “ecologicamente correto”, trata-se de uma inserção numa nova necessidade da espécie humana. Cada vez mais nos tornamos dependentes de recursos naturais distantes para nossa própria sobrevivência, quanto melhor soubermos usar o que já temos à disposição, mais equilibrada será a sobrevivência do “bicho homem”.

Não temos outra opção que não seguir à frente. Tanto a bicicleta, quanto a vida não tem marcha a ré. Além disso, o que nos mantém vivos é a mesma força que mantém de pé a bicicleta, o constante movimento.

Integração Interestadual

A missão: levar a bicicleta BTT que estava quebrando um galho no Rio de volta para São Paulo.

O que a princípio poderia ser uma tarefa bem simples, trouxe uma sombra de dúvida: como chegar até a rodoviária Novo Rio pedalando, uma vez que não cabe em táxi (caber, até cabe, mas dá um trabalhão) e o metrô do Rio, infelizmente, só aceita bicicletas aos domingos e feriados? E chegando lá, me deixariam embarcar com a bicicleta no ônibus para Sampa?

Após algumas dicas pelo telefone, dei uma olhada no Bikely para ter uma noção de onde passava o caminho. Pus a mochila nas costas e segui pela ciclovia da Lagoa, curtindo a paisagem. Porém, do Humaitá pra frente, era terreno ciclístico desconhecido. Ainda sem costume com o comportamento do trânsito carioca, fui com cautela. Redescobrindo parte da paisagem da cidade em cima de meu selim, passei ainda por Botafogo, Laranjeiras, Catete, Glória, Lapa, Centro até chegar na enorme Avenida Presidente Vargas, único trecho de pedal não tão prazeroso, dado o grande movimento.

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Percurso Leblon – Rodoviária Novo Rio no Bikely.com

Cheguei numa boa na rodoviária depois de 50 minutos de pedal. Empurrei a bici pelo saguão em direção ao guichês destino São Paulo e o vendedor de passagens gritava e gesticulava do guichê: “Primeiro ônibus pra São Paulo, saindo agora. Preço promocional!”. Encostei com a bicicleta e perguntei se havia algum problema para embarcar. Disse que não. Para meu espanto, embarquei a bicicleta tranquilamente, apesar dos relatos de muitos cicloturistas que tiveram problemas no embarque das magrelas em ônibus.

Por esse motivo, o Clube de Cicloturismo do Brasil está coletando assinaturas para a definitiva regulamentação do transporte das magrelas em ônibus intermunicipais. Coloquei minha companheira de pé dentro do bagageiro, presa por um extensor de borracha.

Seis horas, um filme e alguns cochilos depois, desembarquei com a bici na rodoviária do Tietê às 22 horas. Novamente a única opção para chegar em casa na Avenida Paulista era pedalar. Nunca tinha pedalado por aquela região, mas decidi cruzar a Marginal Tietê e farejar o melhor caminho. Para meu espanto, foi praticamente uma linha reta só, cruzando a Móoca e o Centro para chegar na Paulista apenas 20 minutos depois.

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Percurso Rodoviária Tietê – Av. Paulista no Bikely.com

Cheguei em casa com a grata sensação de satisfação pela missão cumprida com louvor e o prazer de pedalar.

Seminário em Santos

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A bicicleta na mobilidade urbana será o tema de um seminário em Santos. A Transporte Ativo irá participar das mesas do Terceiro Setor com a apresentação: “Mobilizando para o uso da bicicleta”.

Sob coordenação da Comissão de Bicicletas da ANTP, será realizado nos dias 19 e 20 de abril de 2007, em Santos, o seminário nacional “A Bicicleta e a Mobilidade Urbana no Brasil”. No evento, será lançado mais um volume da série Cadernos Técnicos – ANTP/BNDES, com o título “Bicicletas nas Cidades Brasileiras”.

As cinco sessões de debate focalizarão os temas: Uso da bicicleta no Brasil – situação atual e perspectivas; Segurança para a circulação de bicicletas; Infra-estrutura para bicicletas; Bicicleta e qualidade de vida e Bicicleta e o Terceiro Setor. O programa inclui ainda visitas técnicas aos sistemas cicloviários de Santos e de Praia Grande.

  • Veja como se inscrever para este seminário
  • Mais informações
  • O Não Transporte

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    Foto Zé Lobo

    Uma tese apresentada em maio de 1989 no VII Congresso Brasileiro de Transporte Público continua atual. As idéias partiram da Comissão de Circulação e Urbanismo da Associação Nacional de Transporte Público – ANTP, a tese: “Não Transporte: a reconquista do espaço tempo social”.

    A tese defendia a idéia da redução das viagens motorizadas como solução para o deslocamento sustentável. Ao invés de vias ociosas nos horários de pico no contrafluxo, defendiam-se as mãos horárias, isto é, nos horários de pico, vias de mão dupla teriam todas as pistas funcionando num único sentido, acabando com a ociosidade no contrafluxo. Defendiam-se bairros com mais autonomia nas atividades de trabalho e cotidianas, através da descentralização de unidades públicas, industriais e comerciais, evitando assim o deslocamento das pessoas para outros bairros em busca destes serviços. Mostrava-se que o deslocamento a pé e de bicicleta poderiam ser tratados com a mesma seriedade de uma via de automóvel com planejamento, iluminação, orientação, e estar adequadamente pavimentada, sem buracos e com piso de qualidade. Defendia-se que o transporte coletivo podia ter serviços de qualidade no atendimento aos usuários, reduzindo o tempo de viagem com faixas e vias exclusivas, diversificando os serviços para atender os vários públicos. Além disso, apresentaram a idéia de um reordenamento profundo do espaço urbano através de políticas que obrigassem a ocupação dos espaços vazios em áreas infraestruturadas que estivessem retidos pela especulação imobiliária.

    Passados 18 anos após o lançamento dessa primeira semente podemos ver o quão atual ela ainda é. Ao longo desse tempo, a Comissão de Circulação e Urbanismo escreveu outras teses complementares dando prosseguimento à proposta do não transporte. Atualmente, o conceito recebe também o nome de mobilidade sustentável, e ainda precisa percorrer um longo caminho para tornar-se hegemônica no nosso país.

    Defender hoje a tese do não transporte significa introduzir o conceito do tempo no uso da cidade, o que é essencial à apropriação social do espaço de mobilidade. Dessa forma, ter pedestres, ônibus, carros e bicicletas compartilhando o tempo e o espaço na cidade, não se torna um sonho impossível. A rua poderia ser usada pelos pedestres e veículos. O tráfego de bicicleta seria demarcado apenas por um desenho na via. Isso já ocorre em cidades européias, onde também as vias de automóveis têm seu leito reduzido para ceder espaço às bicicletas, ou se compartilha o espaço entre todas as formas de deslocamento.

    Uma revolução de valores acontece quando a calçada atravessa a rua e o carro é obrigado a pedir licença ao pedestre. As crianças podem voltar a ser crianças, os velhos e paraplégicos podem seguir como cidadãos seu ritmo próprio, e a grama deixar de ser estacionamento de automóveis.

    > A matéria apresentada baseou-se em artigo publicado na Revista dos Transportes Públicos – ANTP – Ano 23 – 2001 – 2º Semestre – “Não Transporte, 10 anos depois Resultados do trabalho da Comissão de Circulação e Urbanismo da ANTP” escrito pelo Vice-presidente da Associação Nacional de Transporte Público, presidente da Comissão de Circulação e Urbanismo e presidente do Instituto Ruaviva – Sr.Nazareno Stanislau Affonso.

    Boulevard Ciclístico

    A palavra francesa Boulevard designa as amplas avenidas implementadas com um paisagismo refinado e diversas pistas de rolamento.

    Nos EUA o termo foi associado a bicicleta e se traduz em ruas mais estreitas para os automóveis que com isso devem trafegar em velocidade compatível com o trânsito não motorizado. A idéia de um “Boulevard Ciclístico” une ao mesmo tempo o conceito de “Ciclo-Rede” ao ideais de “Traffic Calming”. Ao invés de simplesmente construir infra-estrutura segregada para o deslocamento das bicicletas, o que se implementou foi a integração aos demais componentes do trânsito, sempre em rotas compartilhadas, sinalizadas e com facilidades exclusivas para pedestres e ciclistas.

    Vale conferir os exemplos em vídeo (em inglês).

    Portland:

    Berkley:

    • Mais informações:

    > A “Bicycle Transportation Alliance” de Portland defende a idéia:
    Bicycle Boulevards Campaign
    E tem uma série de textos sobre o tema.
    BTA Blog – Boulevards

    > A Escola de Bicicleta resume o conceito de Ciclo-Rede

    > Traffic Calming