A música da bicicleta

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Pedalar de olhos fechados é um experiência interessante, ainda que pouco recomendável. Mas mesmo com a visão apurada à frente, é possível trabalhar outros sentidos.

Toda bicicleta tem seu som, seja uma roda livre que gira enquanto não se pedala ou tantos outros. O chacoalar das peças nas imperfeições no asfalto, a campainha, a corrente que gira, o pedivela torcido que geme.

Com tantos sons, é possível fazer música, como o compositor abaixo:

Ou simplesmente imaginar-se de olhos fechados, tal e qual o passageiro de uma tandem, e ouvir sua bicicleta através de cada um dos seus barulhos.

Dez anos de Transporte Ativo

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Foi em 22 de dezembro de 2003 que a Transporte Ativo foi oficialmente fundada. Lá se vão exatos 10 anos de muito mais pessoas em mais bicicletas mais vezes. Uma trajetória que obviamente nos orgulha, mas que não foi pedalada sozinha.

Foram muitos quilômetros em patins, skates, bicicletas e a pé na construção de cidades mais humanas e mais legais para quem nelas vive.

Tem sido um belo percurso, sem data para acabar. Afinal, quando estamos em bicicleta, a jornada vale mais que o destino.

Por isso, nesses 10 anos, agradecemos a todos que estiveram conosco em algum momento. Os que pedalaram conosco, debateram, trocaram idéias, ou simplesmente ajudaram a levar os transportes ativos para um outro patamar no dia a dia das cidades.

Cidades amigáveis

Rua aberta para pessoas no centro histórico de Manaus

Rua aberta para pessoas no centro histórico de Manaus

E a mobilidade por bicicletas avança no país inteiro. Semana passada estivemos em dois eventos um em Sorocoba e outro em Manaus.

O 2º Encontro Cidades Amigáveis, realiazado em Sorocaba teve como foco principal cidades mais humanas e mais próximas das pessoas. As bicicletas naturalmente tiveram destaque especial. Uma mesa redonda formada por Goura Nataraj da Cicloiguaçu de Curitiba, Thiago Benicchio da Ciclocidade SP e Zé Lobo da Transporte Ativo.

O bate-papo girou em torno de como funcionam suas organizações e os resultados que aos poucos alcançam, tudo isso após uma bela dissertação da Natália Garcia e mediação de Alexandre Pelegi, assessor de comunicação da ANTP.

Ficou claro que as cidades amigáveis, tem nas bicicletas um grande aliado, Sorocaba já sabe disso e vem se destacando ano após ano em sua decisão de fazer das bicicletas parte do dia a dia da cidade.

Do interior de São Paulo para a Amazônia. Manaus, é uma cidade cercada de verde mas com os mesmos problemas de lixo e trânsito de qualquer grande metrópole brasileira.

A capital amazonense foi palco do 2ª Fórum da Bicicleta de Manaus, organizado pelo Pedala Manaus. Ficou claro que a cidade apesar de longe não fica pra trás no que diz respeito a participação cidadã em prol da mobilidade por bicicletas.

O Pedala Manaus vem fazendo um trabalho de deixar muita gente nas demais regiões do país de queixo caído com a eficiência e clareza de objetivos. Além de realizarem um belo evento que pela segunda vez apresenta à cidade as possibilidades das bicicletas, tem no dia a dia tido uma excelente relação de troca com o poder público.

Para esta edição do Fórum levaram três vertentes da promoção ao uso da bicicleta para falar aos manauaras, o projetista Antonio Miranda, Renata Falzoni, dispensa apresentações e Zé Lobo da Transporte Ativo. Cada um em seu estilo procurou apresentar tudo que a bicicleta tem a oferecer às cidades.

Em ambos os eventos e cidades, com formatos e perfil geográfico totalmente distintos um ponto em comum, Os benefícios que as bicicletas podem trazer para as cidades modernas e as do futuro.

A maior conferência sobre bicicletas

O VeloCity 2013 foi o maior de todos até hoje. Mais de 1300 participantes com uma diversidade gigantesca de perfis, nacionalidades, idéias, soluções, resultados, apresentações. Viena foi o palco que uniu o “mundo da mobilidade por bicicletas”. Do ativista ao prefeito, do usuário ao fabricante/projetista.

O grande destaque foram as políticas de redução de velocidade dos motorizados nas ruas. O tema nunca havia sido abordado de forma tão ampla rendeu as palestras e plenárias mais aplaudidas do evento. 30Km/h, um número mágico para a mobilidade urbana.

Foi também o ano da logística ou “cyclelogistcs”, tema amplamente abordado, uma das tendências mais fortes que o evento apresentou. Com orgulho estávamos lá com a pesquisa realizada há dois anos em Copacabana e que teve resultados surpreendentes. Do “quintal de casa”, uma pesquisa vencedora do prêmio Visionary Award.

O tema de 2013 foi “The Sound of Cycling, urban cycling cultures”, buscava mostrar as diferentes culturas da bicicleta que interagem e promovem cada vez mais seu uso, isso em pleno berço da música clássica em um ambiente onde cultura e música estão no ar e nas ruas.

Já o clima entre os participantes do evento era aquela sensação de ter muita gente boa ao redor do mundo vibrando na mesma sintonia. Uma sensação de que sim, um mundo mais amigo da bicicleta é possível. E claro, que cada vez mais as cidades e países tem investido na bicicleta e decretado o fim da velha mobilidade.

É apenas uma questão de tempo e de como acelerar o processo.

Litoral que Pedala

Em outubro de 2012 a micro empresária Gabriela Binatti e seu companheiro Roberto Dias fizeram uma mudança na vida, partiram da cidade maravilhosa para viver na tranquila e histórica cidade de São Francisco do Sul, situada ao norte de Santa Catarina.

O trajeto foi realizado de bicicleta. foram cerca 1000 km percorridos em 20 dias, num ritmo de viagem tranquilo que permitiu ao casal observar, além da linda paisagem do litoral brasileiro, o quanto a cultura de bicicleta esta disseminada em nosso país, basta abrirmos os olhos para enxergar.

A saída do Rio foi através da integração trem+bicicleta, disponível aos finais de semana. Em direção ao sul, pela BR-101, diversas ciclovias na orla das cidades e na própria rodovia.

As cidades com ciclovias na orla foram: Angra dos Reis, Paraty, Ubatuba, Guaratuba, São Sebastião, Santos, Guarujá, Peruíbe e Pontal do Sul. Já as cidades onde foi possível pedalar em ciclovias na rodovia foram: Caraguatatuba, Ubatuba e São Sebastião.

Ciclovia na rodovia em Caraguatatuba

Além das ciclovias e ciclofaixas presentes no caminho, o dois puderam contar com sinalização sobre a presença de ciclistas nas vias em praticamente todo o percurso.

Via do litoral sul paranaense, entre Pontal do Sul e Guaratuba

Que Copenhagen o que, Santos é aqui!
O litoral de Santos foi o que mais chamou a atenção do casal, com uma extensa ciclovia ao longo da orla e nas principais vias que cortam a cidade e excelente sinalização para ciclistas, pedestres e motoristas, além da balsa gratuita e exclusiva para os ciclistas e suas bicicletas movidas a pedaladas.

O alto fluxo de ciclistas nas vias exclusivas nos horários de pico é um problema para os usuários, pois estas já se encontram saturadas, tamanho o número de ciclistas que por lá circulam diariamente, certamente falta ampliar a malha cicloviária da baixada santista. Para atender à demanda e expandir o uso da bicicleta.

Nas balsas em todo litoral de São Paulo, exceto na travessia de Cananéia para a Ilha do Cardoso, os pedestres e ciclistas tem embarque gratuito garantido e são muito bem tratados pelos que fornecem tal serviço.

Balsa exclusiva para ciclistas na Travessia Guaruja-Santos

O padrão europeu das cidades movidas a bicicleta ainda esta longe da nossa realidade, mas basta um olhar um pouco mais observador para percebermos o quanto a cultura de bicicleta esta presente no nosso cotidiano, o que falta é reconhecer e valorizar.

Nem só de ciclovias se faz um ciclista

Além da infraestrutura da qual puderam usufruir por muitos momentos do trajeto, o respeito dos motoristas e a acolhida dos moradores sentida pelos ciclistas são imensuráveis. Por incrível que pareça e por mais que a mídia em geral tenha o costume de disseminar apenas “acidentes”, fatalidades e atrocidades ocorridas no trânsito entre ciclistas e veículos motorizados, os dois são enfáticos, há sim muito respeito entre ciclistas e motoristas no trânsito brasileiro.

Mais informações sobre a jornada do casal podem ser vistas na Hospedaria da Bicicleta.

Como diz o mestre: Pedalemos!