O futuro chegou

 

No Brasil ainda estamos superando o carnaval, mas é sempre bom lembrar que, mundo afora, a festa de Momo não tem espaço nas ruas ou nas mentes. Natural portanto que surjam novidades que irão dominar o mundo e apontar o futuro quando por aqui ainda estamos em meio a blocos e desfiles carnavalescos.

Abaixo um vídeo com a lenda viva do skate Tony Hawk e outros nomes das artes e da música em que é apresentado o skate flutuante do filme “De Volta para o Futuro II”.

Um olhar atento já percebe que o “produto” é claramente uma encenação, o que faz com que seja esperada alguma explicação posterior sobre os motivos de tal campanha na internet. É interessante no entanto pensar o que era o futuro de 30 anos atrás em relação ao presente que temos hoje. Afinal, a categoria de “ficção científica” é sempre um retrato perfeito do presente com eventuais antecipações sobre a realidade que está por vir.

O mundo dos anos 1980 tinha ainda mais fé no tal “progresso tecnológico” do que ainda temos hoje. O discurso de que vivemos em um planeta de recursos naturais finitos ainda está fora do senso comum e as pessoas realmente acreditavam na remota possibilidade da ultra-tecnologia na casa de todos. Talvez não com carros e skates voadores em meio a paisagem urbana, mas certamente numa onipresença da tecnologia.

Muita coisa mudou nos últimos 30 anos, mas continuamos sendo humanos, com necessidades humanas. Respirar, acesso a água e comida, abrigo, amor etc. Talvez nessa sanha pelas mais complexas soluções dependentes de tecnologia, esquecemos que somos apenas animais que habitam um ecossistema planetário. Em sua maioria vivendo dentro de gigantescas colméias de concreto. Felizmente o futuro da desumanização começa a ceder espaço, no presente, para tecnologias métodos e meios de vida mais humanizados.

O futuro talvez nos traga algo muito mais especial que skates voadores, televisores com ultra interatividade e chamadas em vídeo. Hoje conseguimos imaginar um tempo com mais participação cidadã e por isso mais democrático. Um futuro em que as necessidades dos mais frágeis (nas ruas e no mundo) sejam respeitadas e assim todos possam ter de volta a garantia de abrigo e segurança que ficou esquecida em nome do espaço que tecnologias sonhadas em pleno século XX e que não se mostraram de grande valor nesse novo milênio.

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Um poucos mais sobre essa trollada midiática do skate:
Why Are All These Celebrities Participating In An Epic Fake Hoverboard Troll?

Mas para imaginar um outro futuro, vale a leitura do Nowtopia.

A importância dos cruzamentos

 

Em cada esquina está o maior risco que um condutor, ciclista ou pedestre enfrenta nas cidades. São nos cruzamentos entre ruas e avenidas que as mais graves ocorrências de trânsito acontecem. As vítimas em geral são os mais frágeis, mas nem sempre a carcaça de aço de veículos motorizados representa defesa suficiente.

Com essa lógica em mente arquitetos da Universidade George Mason projetaram “cruzamentos protegidos”, uma adequação para as esquinas típicas nas cidades norte-americanas e como eles podem ser modificados para se adequarem aos cidadãos em bicicleta. O mais importante no projeto no entanto talvez não seja exatamente a solução de arquitetura, mas sim a necessidade de adaptação dos espaços de circulação nas cidades as pessoas que por ela circulam.

 

Ainda é comum vermos ruas de bairro que se prolongam ao infinito (ou ao menos até o próximo cruzamento) sem qualquer barreira física ou até mesmo visual. Reordenar cruzamentos é uma maneira de lembrar as pessoas que por ventura estejam ao volante que existem pessoas do lado de fora e que a cada esquina, elas tem a oportunidade e os incentivos para cruzarem. As ruas do mundo precisam de mais atenção para as pessoas que estão nelas e ao redor delas. As soluções de projeto serão implementadas no seu devido tempo, até lá é preciso imaginá-las.

Para isso, vale assistir o vídeo demonstrativo (em inglês) que conta melhor o conceito de “cruzamentos protegidos”.

Protected Intersections For Bicyclists from Nick Falbo on Vimeo.

Um bairro para pessoas

Simulação do Túnel Major Rubens Vaz

Simulação do Túnel Major Rubens Vaz

Quem pedalava em Copacabana sempre soube que o bairro era perfeito para os deslocamentos em bicicleta. Um microcosmo em que tudo estava disponível a apenas algumas pedaladas. O mercado, a farmácia, a escola, o escritório, a praia e o metrô. Uma pequena cidade autossuficiente em muita coisa e com fácil acesso a outras vizinhanças.

Natural portanto que em meio a tantas ruas sem espaço para mais carros o morador do bairro e também os prestadores de serviço saberem que a bicicleta era a melhor solução. Para facilitar a vida de quem mora e circula pela bairro apresentamos ainda em 2008 um plano cicloviário para Copacabana. Ruas com velocidade máxima de 30km/h, número mágico que facilita a fluidez e segurança das pessoas.

Do papel a idéia ganhou as ruas em forma de plano piloto que se espalhou pela cidade. Agora a conquista se consolida e Copacabana será mais do que um exemplo piloto, mas uma implementação real de como podem ser os bairros cariocas do futuro. Afinal, o projeto piloto de anos atrás já chegou a outras regiões do Rio de Janeiro.

Simulação do BikeBox na Rua Hilário de Gouveia esquina com Nossa Senhora de Copacabana

Simulação do BikeBox na Rua Hilário de Gouveia esquina com Nossa Senhora de Copacabana

Mais do que um plano que sai do papel, as Zonas 30 de Copacabana são o símbolo máximo de respeito a circulação das pessoas. Serão consideradas parte da malha cicloviária, afinal a sinalização irá deixar claro a todos que os veículos automotores serão permitidos e cidadãos em bicicleta serão os convidados especiais. e

Rua Toneleros com Rua Anita Garibaldi

Simulação de travessia na Rua Toneleros com Rua Anita Garibaldi

Exemplo de mobilidade em bicicleta, Munique na Alemanha tem grande parte dos seus 1.700 km de infraestrutura para bicicletas como Zonas 30, assim como Viena na Austria e diversas outras cidades. As Zonas 30 são o acesso a porta das pessoas, ruas residenciais que recebem tratamento especial para garantir a mobilidade sem destruir a vizinhança.

A esperança é que Copacabana passe a ser o bairro mais completo do país quando se fala em infraestrutura ciclística e sirva de inspiração para todo o Rio de Janeiro e por consequência o Brasil.

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Dez anos de Transporte Ativo

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Foi em 22 de dezembro de 2003 que a Transporte Ativo foi oficialmente fundada. Lá se vão exatos 10 anos de muito mais pessoas em mais bicicletas mais vezes. Uma trajetória que obviamente nos orgulha, mas que não foi pedalada sozinha.

Foram muitos quilômetros em patins, skates, bicicletas e a pé na construção de cidades mais humanas e mais legais para quem nelas vive.

Tem sido um belo percurso, sem data para acabar. Afinal, quando estamos em bicicleta, a jornada vale mais que o destino.

Por isso, nesses 10 anos, agradecemos a todos que estiveram conosco em algum momento. Os que pedalaram conosco, debateram, trocaram idéias, ou simplesmente ajudaram a levar os transportes ativos para um outro patamar no dia a dia das cidades.

O Campeonato Carioca de Cargueiras

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Inspirada nas Svajerløb dinamarquesas, será realizada em maio de 2014 a primeira corrida de entregadores em bicicleta da América Latina. O Campeonato Carioca de Cargueiras.

Desde já está lançada a pergunta, quem será o Rei do Rio?

A pedalada vai ser viking. Afinal foi em 1942 que os malemolentes entregadores dinamarqueses tiveram o seu primeiro campeonato. Um evento que valorizou os que faziam fluir a cidade e que aconteceu até a popularização das vans de entrega nos anos 1960.

A idéia da corrida reapareceu em Copenhague em 2009 e, claro, foi sucesso e diversão nas ruas.

Copacabana tem uma massa invisível de ciclistas, os heróis do proletariado. São os responsáveis por mais de 11.000 entregas diárias feitas em bicicletas e triciclos. Todos eles estão em uma situação parecida aos que pedalavam em Copenhague nos anos 1940.

Mais de 70 anos depois da primeira Svajerløb, valorizar as pessoas que utilizam a bicicleta, essa invenção com mais de 125 de bons serviços prestados, é um passo em busca de inclusão social, e também um evento irado.

No Rio de Janeiro vão haver prêmios para os entregadores mais bem colocados, mas a vitória será de todos esses heróis invisíveis que transportam de tudo pelas ruas.

 

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